OPINIÃO
Avaliação
fisioterapêutica do paciente oncológico hospitalizado
Fabrício Edler
Macagnan, D.Sc.*, Rafael Ailton Fattori, Ft.**, Jordan
Boeira dos Santos, Ft.**, Carine Lumi, Ft.**, Priscila De Toni, Ft.**, Adriana
Kessler, D.Sc.***
*Professor
do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de
Porto Alegre (UFCSPA), Tutor no programa de Residência Multiprofissional
Integrada em Saúde (REMIS) com ênfase em Onco-Hematologia na Irmandade Santa
Casa de Misericórdia de Porto Alegre (ISCMPA), **Fisioterapeuta, Residente no
Programa REMIS/UFCSPA com ênfase em Onco-Hematologia, ***Professor do
Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de
Porto Alegre (UFCSPA),Tutor no programa de Residência
Multiprofissional Integrada em Saúde (REMIS) com ênfase em Onco-Hematologia na
Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (ISCMPA)
Endereço
para correspondência:
Fabrício Edler Macagnan, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto
Alegre (UFCSPA), Departamento de Fisioterapia, sala 300B, Rua Sarmento Leite,
245, Centro Histórico, 90050-170 Porto Alegre RS, E-mail:
fabriciom@ufcspa.edu.br; Rafael Ailton Fattori: rafael.fattori@hotmail.com;
Jordan Boeira: jordan.boeir@hotmail.com; Carine Lumi carinelumi@gmail.com;
Priscila De Toni: prisci-detoni@hotmail.com; Adriana Kessler adrianak@ufcspa.edu.br
O atendimento
fisioterapêutico do paciente oncológico é uma tarefa que desafia o
conhecimento, principalmente quando se trata em ambiente hospitalar. Recursos
tecnológicos de alta complexidade são essenciais tanto para o diagnóstico
quanto para o manejo clínico desses pacientes que apresentam grande diversidade
de repercussões fisiopatológica, exigindo raciocínio ágil e embasamento teórico
sólido e atualizado. Do ponto de vista motor, mais especificamente no âmbito da
funcionalidade, a variabilidade de apresentações clinicamente possíveis de
serem encontradas neste ambiente é praticamente impossível de ser descrita ou
mesmo estimada. Levando em consideração as possíveis combinações entre
problemas neuromusculares, musculoesqueléticos, cardiopulmonares há inúmeras
possibilidades de prejuízo funcional. É perfeitamente plausível presumir que as
alterações da funcionalidade sejam tão variadas que a probabilidade de
encontrar padrões definidos seja muito pequena.
Ainda assim, como se
não bastasse a enorme complexidade envolvida no atendimento hospitalar, o
fisioterapeuta é exigido ao máximo de sua capacidade tendo que acompanhar um
grande número de casos ao longo da jornada diária de trabalho. Descontando o
tempo dispendido no deslocamento, acesso às informações do prontuário, cuidados
com o controle e prevenção de infecções e posterior registro da evolução do
tratamento fisioterapêutico, sobra pouco tempo de contato efetivo com o doente.
Nas enfermarias onde há alta rotatividade (unidades pós-operatórias), o tempo
de internação menor acaba por reduzir o tempo de contato com o paciente.
Desta maneira, fica
claro perceber a necessidade da fluidez de raciocínio clínico e alto poder de
discernimento investigativo para encontrar com precisão e rapidez a relação de
nexo causal entre os processos fisiopatológicos e as disfunções orgânicas
envolvidas com a limitação do movimento humano. Diante desse panorama, surgem
algumas questões importantes: 1) Como avançar de forma efetiva no tratamento da
funcionalidade dos pacientes hospitalizados? 2) Como
avaliar as reais necessidades funcionais? 3) Com tão
pouco tempo para avaliar as demandas dos doentes, como definir e desenvolver
adequadamente as condutas terapêuticas mais pertinentes? 4)
O que esperar do planejamento da reabilitação funcional?
O que se vê hoje em
dia vai na contramão do processo de qualificação da
atuação fisioterapêutica. Na verdade, o constante detrimento da qualidade em
prol da quantidade de atendimentos, pouco valoriza o processo da reabilitação
funcional que, geralmente, conta com escassos recursos físicos/tecnológicos
além de ser extremamente mal remunerado. Os gestores dos serviços de fisioterapia
hospitalar normalmente precisam administrar, com muita eficiência, os altos
gastos envolvidos nos encargos trabalhistas, operando muitas vezes com déficit
financeiro e muita insatisfação da equipe. Fatalmente, essa indesejada
realidade, tanto estrutural quanto funcional, acaba reduzindo o interesse dos
fisioterapeutas em trabalhar no ambiente hospitalar.
Na tentativa de
melhorar o processo de avaliação e, dessa forma, a estruturação do programa de
reabilitação do paciente oncológico hospitalizado é perfeitamente cabível a
utilização de instrumentos que facilitem a comunicação entre teoria e prática.
Em função disso, estamos propondo um modelo de avaliação de estruturas e
funções corporais que elenca as principais informações clínicas envolvidas nas
síndromes paraneoplásicas assim como os principais efeitos adversos
relacionados aos diferentes tratamentos oncológicos (quimioterapia,
hormonioterapia, radioterapia e cirurgia). Esperamos que essa proposta de
avaliação física funcional em oncologia (AFFO) possa contribuir no processo de
avaliação (AV) e reavaliação (R) fisioterapêutica com vistas a fomentar avanço
no processo de reabilitação funcional do paciente oncológico hospitalizado.