ARTIGO
ORIGINAL
Laserpuntura na
neuropatia periférica: efeitos na dor e qualidade de vida
Laserpuncture in peripheral
neuropathy: effects on pain and quality of life
Andressa Franzin*, Tamara Gonçalves Amaral*, Daiane Marques
Ferreira, Ft.**, Josie Resende Torres da Silva, Ft., D.Sc.***, Andréia Maria Silva, Ft., D.Sc.***, Carolina Kosour, Ft., D.Sc.****, Luciana Maria dos Reis, Ft., D.Sc.***
*Acadêmica
do curso de Fisioterapia da UNIFAL, Alfenas/MG, **Aluna do Programa de
Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação da UNIFAL, Alfenas/MG, ***Docente do
curso de Fisioterapia da UNIFAL, Alfenas/MG, ****Docente do curso de
Fisioterapia da UNIFAL, Alfenas/MG e Professora colaboradora na Disciplina de
Fisiologia e Metabologia Cirúrgica, Departamento de Cirurgia da Faculdade de
Ciências Médicas UNICAMP, Campinas/SP
Recebido em 26 de
setembro de 2017; aceito em 29 de agosto de 2018.
Endereço
para correspondência:
Luciana Maria dos Reis, Av. Jovino Fernandes Sales, 2600, Prédio A, 37130-000
Alfenas MG, E-mail: reislucianamaria@gmail.com; Andressa Franzin:
dre_fran@hotmail.com; Tamara Gonçalves Amaral: tamara_goncallves@hotmail.com;
Daiane Marques: daiane_987@hotmail.com; Josie Resende Torres da Silva:
resendejt@yahoo.com.br; Carolina Kosour: carolina.kosour@unifal-mg.edu.br
Resumo
Introdução: A laserpuntura é utilizada para analgesia, embora os
protocolos para aplicação na dor neuropática permaneçam contraditórios. Objetivo: Avaliar o efeito da laserpuntura na modulação da dor neuropática, impacto na
qualidade de vida e processo inflamatório local. Material e métodos: Cinco pacientes com diagnóstico de lesão
nervosa periférica e dor neuropática associada receberam aplicação do laser AlGaInP, 658 nm,
10 mW, 9 J/cm2, em acupontos específicos,
durante 15 sessões, 3 vezes na semana, por 50 minutos. A avaliação pré e pós-intervenção foi realizada pela Escala Visual
Analógica, questionário para dor (McGill),
questionário de qualidade de vida (SF-36), Índice de incapacidade de Oswestry e termografia. Resultados: Foi observada redução da
média da pontuação na Escala Visual Analógica em 3 de
5 pacientes e redução da média de dor após 15 sessões. A avaliação pelo McGill mostrou redução nas dimensões afetivo, avaliativo e
total. No questionário SF-36 foi observada melhora das dimensões Capacidade
Funcional e Limitação por Aspectos Emocionais. No Índice de Oswestry
observou-se redução da média da porcentagem e na termografia
não houve diferença nos valores pré e
pós-intervenção. Conclusão: Estes
resultados sugerem eficácia da laserpuntura na
redução da dor e melhora da qualidade de vida em pacientes com dor neuropática
decorrente de lesão nervosa periférica.
Palavras-chave: dor, laser,
Fisioterapia.
Abstract
Introduction: Laserpuncture is used for analgesia,
although the protocols for use in neuropathic pain remain contradictory. Objective: To evaluate the effect of laserpuncture in modulating neuropathic pain, impact on
quality of life and local inflammatory process. Methods: Five patients with peripheral nerve injury and neuropathic
pain associated application received AlGaInP laser,
658 nm, 10 mW, 9 J/cm2 at specific acupoints for 15 sessions, 3 times a week for 50 minutes.
The pre- and post-intervention were performed by Visual Analogue Scale,
questionnaire for pain (McGill), quality of life questionnaire (SF-36), Oswestry disability index and thermography. Results: A significant reduction in
Visual Analogue Scale score average was observed in 3 of 5 patients in addition
to an overall reduction of average pain after 15 sessions. The evaluation by
McGill showed reduction in affective, evaluative and overall dimensions. In the
SF-36 questionnaire was observed an increase of the dimensions Functional
Capacity and Emotional Aspects. In Oswestry Index a
reduction was observed in the average percentage and in the thermography no
difference was noticed in pre and post-intervention. Conclusion: These results suggest effectiveness of laser
acupuncture in reducing pain and improving quality of life in patients with
neuropathic pain due to peripheral nerve injury.
Key-words: pain, laser
therapy, Physiotherapy.
A dor foi conceituada
pela primeira vez em 1986 pela IASP (International Association for the Study of Pain),
sendo caracterizada como sensação sensorial e emocional
desagradável, relacionada à lesão tecidual presente ou descrita como tal
[1,2].
De forma particular,
lesões no sistema nervoso central ou periférico geram dor característica
denominada dor neuropática [3]. A dor neuropática está
entre as síndromes dolorosas crônicas mais frequentes, gerando piora na
qualidade de vida e no estado geral de saúde nos indivíduos acometidos. Tem
etiologia diversa e é classificada de acordo com a localização da lesão em
periférica ou central [4].
O mecanismo mais
aceito para explicar a dor neuropática é a geração ectópica de impulsos
nervosos às fibras de pequeno calibre do tipo C e A delta. Após a lesão do
nervo, ocorre alteração na distribuição e conformação de canais de sódio que
promovem aumento da excitabilidade axonal das fibras
finas nociceptivas [3].
Uma vez que o
diagnóstico da dor neuropática é feito, o tratamento inicialmente indicado é
farmacológico, sendo basicamente composto de antidepressivos com inibição da recaptação de noradrenalina e serotonina, anestésicos
locais, opioides, anticonvulsivantes e outras
categorias de antidepressivos. Geralmente este tratamento é complexo e a
resposta à medicação indicada nem sempre é satisfatória [3,5].
Tratamentos não-farmacológicos, utilizados pela fisioterapia, também são
indicados na redução da dor crônica. Dentre os recursos disponíveis que podem
ser usados na redução da dor neuropática está a aplicação do laser de baixa
intensidade, no local da dor ou em pontos específicos da acupuntura [6]. Há
evidências, em pesquisas clínicas e experimentais, de que a aplicação do laser
de baixa intensidade melhora a função do nervo, eleva o metabolismo dos
neurônios e aumenta a capacidade de produção da mielina. Pelo fato desta
técnica não ser invasiva, a habilidade de irradiar nervos lesados sem
intervenções cirúrgicas é vantajosa [7].
A acupuntura é uma
terapia da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), utilizada como um modo de
acessar o Sistema Nervoso Central (SNC) pela estimulação neural periférica,
promovendo reajustes das funções cerebrais, hormonais, neurais, imunitárias e
viscerais. Isso resulta no controle das funções orgânicas, endócrinas,
analgesia e ativação dos processos regenerativos [8].
Esta técnica pode ser
realizada em determinados pontos situados na superfície da pele denominados acupontos, regiões em que há grande concentração de
terminações nervosas sensoriais, e estão em relação íntima com nervos, vasos
sanguíneos, tendões, periósteos e cápsulas articulares [9,10]. Cada acuponto possui diâmetro de 0,1 a 5 cm, porém é área de
condutividade elétrica amplamente aumentada comparada às áreas da pele ao redor
[11]. Diversos recursos podem ser utilizados para estimulação dos acupontos, sendo bem explorados atualmente os efeitos da laserterapia [12].
A laserpuntura
é uma alternativa para a realização da acupuntura podendo ser utilizada quando
essa técnica não é possível, em casos como de pacientes que apresentam distúrbios
de coagulação, e em uso de anticoagulantes que não devem receber tratamento de
acupuntura. É um método não invasivo, indolor, e de curta duração de aplicação
[13,14].
No tratamento da dor,
a laserpuntura induz efeitos fotobioquímicos,
sem causar alterações significativas na estrutura do tecido, promove a síntese
de prostaglandinas e transporte do ácido araquidônico em células endoteliais de
músculos lisos o que aumenta a dilatação dos vasos sanguíneos e reduz a
inflamação [15,16].
Observa-se crescente
número de pesquisas em relação aos mecanismos analgésicos da laserpuntura, porém existem poucos relatos na literatura de
protocolos de tratamento na abordagem de pacientes com dor neuropática. Neste
contexto, o objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito da laserpuntura na modulação da dor neuropática e no processo
inflamatório local, bem como no seu impacto na qualidade de vida.
Trata-se de um estudo
clínico, prospectivo, com amostra composta por cinco pacientes com diagnóstico
de dor neuropática na região lombar, irradiada para membros inferiores, de
ambos os sexos, com idade variando de 32 a 59 anos (DP ± 12,37) com “bom” nível
de cognição avaliado pelo Mini Exame de Estado Mental (MEEM), encaminhados à
Clínica de Fisioterapia da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL). Foram
excluídos indivíduos com doenças neurológicas associadas. O estudo foi aprovado
pelo Comitê de Ética da UNIFAL (protocolo: 39342014.3.0000.5142) e todos os
pacientes concordaram em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE).
Procedimentos
de avaliação
Os pacientes foram
avaliados e reavaliados em condições de pré e
pós-tratamento pela Escala Visual Analógica (EVA), Questionário para dor McGill, Questionário de qualidade de vida SF-36, Índice de
incapacidade de Oswestry e Termografia.
A Escala Visual
Analógica (EVA) é usada para avaliar a intensidade da dor no paciente. Consiste
em uma escala de 0 a 10 pontos, onde 0 indica
“ausência de dor” e 10 “a pior dor possível” [17]. Neste estudo a EVA foi
utilizada antes e após cada sessão.
O Questionário para
dor McGill é o instrumento mais utilizado para se
avaliar outras características da dor crônica, além da intensidade. Foi
elaborado para fornecer medidas quantitativas da dor, com base em descrições
verbais que permitem comunicação das qualidades sensoriais, afetivas e
avaliativas da dor. Tem índices de validade e confiabilidade estabelecidos e
poder discriminativo entre os diversos componentes da dor [18]. O questionário
ainda possui escala de intensidade (0 a 10), diagrama corporal para
representação do local da dor e a caracterização de aspectos como periodicidade
e duração da queixa dolorosa [19].
O questionário SF-36,
utilizado para avaliar a qualidade de vida, é composto por 11 questões e 36
itens que englobam oito componentes (domínios ou dimensões), representados por
capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral da saúde, vitalidade,
aspectos sociais, aspectos emocionais, saúde mental e uma questão comparativa
sobre a percepção atual da saúde e há um ano. O indivíduo recebe um escore em
cada domínio, que varia de “0” a “100”, sendo “0” o pior escore e “100” o
melhor [20].
O índice de Oswestry é baseado em um instrumento que indica a
incapacidade em consequência de alteração discal, sendo composto por questões
que abordam o sintoma álgico no repouso e no movimento e repercussão da doença
nas atividades da vida diária, classificado pelos escores. O índice de incapacidade
de Oswestry permite determinar a intensidade da dor e
a incapacidade funcional nos pacientes nas últimas 6
semanas antes do teste [21].
A Termografia
foi utilizada para avaliar a temperatura no local de referência de dor em cada
indivíduo estudado, com intuito de investigar a presença de possível processo
inflamatório local. Para a avaliação termográfica foi utilizada uma câmera de
infravermelho da marca Flir Systems® e para análise dos dados foi
utilizado o software Flir Tools. A sala foi previamente
climatizada a 21°C por 20 minutos. Os pacientes aguardaram por 15 minutos, em
repouso antes da obtenção da imagem [22], permanecendo, posteriormente, em
posição ortostática para obtenção da imagem.
A câmera foi
posicionada verticalmente e ajustada no local de referência de dor de cada
voluntário. As imagens termográficas da região anterior, posterior e lateral
foram obtidas no plano frontal, com distância aproximada de 3,9 m do paciente e
utilizando emissividade de 0,98.
Protocolo
de intervenção
A intervenção foi
realizada com aplicação de laserpuntura, durante 15
sessões, por 3 vezes na semana, com duração de 50 min
cada. A laserpuntura foi realizada de forma
bilateral. Os acupontos foram devidamente marcados
antes da aplicação do laser com caneta dermográfica.
O tempo estimulação em cada acuponto foi de
aproximadamente 2 minutos. Foi utilizado o Laser (marca: HTM, modelo: Compact), diodo vermelho (AlGaInP), 658 nm, emissão
contínua, potência nominal de 10 mW, com uma dose de 9 J/cm2.
Os pontos
selecionados foram: IG4 (Hegu):
na região radial da mão, entre os ossos metacarpais I
e II, mais próximo do segundo, aproximadamente na metade do metacarpal
II, na saliência muscular quando se faz abdução do polegar; IG11 (Quchi): Depressão
na extremidade da prega de flexão do cotovelo ou a meia distância entre
epicôndilo lateral com o cotovelo em flexão de 90 graus; B24 (Qihaishu): 1,5 polegadas lateral à linha mediana, horizontalmente à margem
inferior do processo espinhoso da vértebra lombar III; B25 (Dachanshu): 1,5
polegada lateral à linha mediana, horizontalmente à margem inferior do processo
espinhoso da vértebra lombar IV; B26 (Guanyanshu): 1,5 polegada lateral à linha mediana,
horizontalmente à margem inferior do processo espinhoso da vértebra lombar V;
B54 (Weizhong):
no centro da fossa poplítea, numa depressão das partes moles na prega de flexão
do joelho, entre os tendões dos músculos bíceps femoral e semitedíneo;
B57 (Chenggshan):
Depressão formada pela sutura lamboide no músculo gastrocnêmio, mapis nítida com os
calcanhares levantados, sobre a linha que une o tendão de calcâneo; B60 (Kunlun): na face lateral do tornozelo,
meia distância entre a proeminência do maléolo lateral da fíbula e o tendão de
calcâneo; HuatuoJiaji
(Jiaji): 0,3
a 0,5 polegada lateral à linha média posterior da extremidade inferior do
processo espinhosos das vértebras lombares.
Análise
estatística
Para análise dos
resultados, realizou-se o teste de homogeneidade Shapiro-Wilk.
Para os dados com distribuição normal utilizou-se o Teste t pareado, e para os
dados não paramétricos utilizou-se Wilcoxon. Os dados
foram representados por Média e erro padrão da média, considerando-se os
valores de p < 0,05 significativos.
Escala
Visual Analógica (EVA)
Na EVA, a avaliação
individual mostrou redução da média da pontuação geral obtida nas 15 sessões em
três pacientes (0,02; 0,03 e 0,03), não sendo observada diferença nos demais
(Fig. 1A). A avaliação por sessão mostrou redução não significativa do limiar
de dor após intervenção (Fig. 1B).
Figura
1 - (A) Pontuação obtida pela EVA em quinze
sessões por paciente (Pac) e
(B) limiar de dor em cada sessão. Os valores representam a Média ± EPM. *
p<0,05
Questionário
McGill
No questionário McGill foi observada redução nas dimensões afetivo (p =
0,04), avaliativo (p = 0,03) e total (p = 0,04), não sendo observada diferença
nas demais dimensões do questionário (Fig. 2).
Figura
2 - Escore obtido em cada dimensão do
questionário McGill. Os valores representam a Média ±
EPM. *p<0,05.
Questionário
de qualidade de vida SF-36
No questionário de
qualidade de vida (SF-36), foi observado aumento nas dimensões relacionadas à
Capacidade Funcional (p=0,04) e Limitação por Aspectos Emocionais (p=0,04), não
sendo observada diferença nas demais dimensões (Fig. 3).
CF = capacidade
funcional; LAF = limitações por aspectos físicos; Dor = dor; EGS = estado geral
de saúde; VIT: vitalidade; AS = aspectos sociais; LAE = limitações por aspectos
emocionais; SM = saúde mental.
Figura
3 -
Escore obtido em cada dimensão do questionário SF-36. Os valores representam a
Média ± EPM. * p<0,05.
Índice
de incapacidade de Oswestry
No índice de
incapacidade de Oswestry foi observada redução dos
valores médios dos escores (em %) no pós-tratamento (p = 0,006), quando
comparado aos valores pré (Fig. 4).
Figura
4 - Valores em porcentagem do Questionário
Funcional de Oswestry (IFO). Os dados representam *
p<0,05.
Termografia
Nos dados referentes
à termografia não foi observada diferença nos valores
pré e pós-intervenção nos diferentes ângulos
avaliados (Tabela I).
Tabela
I - Dados da Termografia
em diferentes ângulos de avaliação nos períodos pré e
pós-intervenção.
EPM = Erro Padrão da
Média; D = Direito; E = Esquerdo
Neste estudo foi
observada redução da dor em 3 dos 5 pacientes tratados
com laserpuntura. Embora tenha sido observada redução
da média de dor nos demais pacientes, esta diminuição não se mostrou
significativa. Tal resultado pode ser decorrente de fatores relacionados às
atividades de vida diária e aumento do esforço físico, relatados pelos próprios
pacientes, após terem percebido melhora do quadro álgico no decorrer do
tratamento. Na avaliação realizada em cada sessão verificou-se redução da dor
no período pós-intervenção quando comparado aos valores iniciais, embora não
tenha apresentado significância estatística.
Estes dados
corroboram os encontrados em outro estudo que analisou a eficácia da laserpuntura em reduzir a dor e melhorar a função
(capacidade funcional) em pacientes com dor lombar crônica inespecífica. Nesse
estudo, os pacientes foram divididos em grupo tratamento e grupo placebo. A
intervenção ativa foi realizada com diodo de laser de 830 nm
(infravermelho, Ga-Al-As), 10 mW,
0,2 J de modo pontual. Ao final, os autores observaram redução nas medidas da
dor (avaliadas pela EVA) após a 5ª e a 10ºª sessões de tratamento, porém não
houve diferença significativa entre os grupos [23].
Outros estudos têm
sido realizados com o intuito de avaliar o efeito do laser de baixa intensidade
na modulação da dor, entretanto observa-se a necessidade de maior exploração sobre o tema para melhor
padronização dos parâmetros utilizados e período de aplicação deste recurso. Em
estudo realizado com 50 pacientes portadores de polineuropatia
diabética sensoriomotora foi analisado o efeito do
laser (905 nm, 0-60 mW) na
modulação da dor avaliada pela EVA. O laser foi aplicado em região dolorosa
plantar ou no dorso dos pés por cinco minutos, com duas sessões semanais. Estes
pacientes foram divididos e tratados em 2 grupos. Nas
primeiras 2 semanas ambos os grupos realizaram o
placebo e ao final desta fase observaram redução nas médias dos escores de dor.
Nas 4 semanas seguintes, um grupo realizou tratamento
com laser e o outro grupo permaneceu com o placebo e ao final desta segunda
fase (após 6 semanas de estudo) observou-se que os escores da EVA do grupo
placebo permaneceram inalterados, porém houve redução dos escores no grupo
tratamento. Ainda ao final dessa fase, os pacientes passaram por um período sem
tratamento por mais 2 semanas, não sendo observado
aumento significativo dos escores nos 2 grupos [24].
Outro estudo
realizado com 9 pacientes com síndrome de fibromialgia
submetidas ao tratamento com laserterapia de baixa
intensidade (Arsenieto de Gálio e Alumínio, 830 nm, 30 mW, 5 J/cm2) nos tender points dolorosos à palpação digital, diariamente, por 10
sessões os autores observaram melhora no valor da EVA pós-intervenção em todas
as pacientes avaliadas [25].
No presente estudo, a
avaliação pelo questionário McGill demonstrou que na
avaliação pré-intervenção, os pacientes relataram
descritores para a dor em todas as categorias do questionário, porém na avaliação
pós-tratamento, foi observada redução no número de descritores relatados, com
significância para as categorias afetivo e avaliativo e
consequentemente no total. Estes dados são semelhantes aos encontrados
em outra pesquisa em que pacientes com fibromialgia foram submetidos à
aplicação do diodo emissor de luz (LED) no comprimento de onda de 850 nm, nas regiões dolorosas e no ponto de acupuntura C7, 2 vezes por semana, durante 4 semanas, totalizando 8
sessões. As pacientes avaliadas contemplaram todas as categorias na pré-intervenção sendo, na categoria sensitiva: latejante,
pontada, fisgada, queimação, ferroada, doída e sensível, agulhadas e finas; na
categoria afetiva: todas as pacientes descreveram a dor como exaustiva,
sufocante e a maioria escolheu os descritores apavorante, atormentadora e
enlouquecedora. Na categoria avaliativa: desgastante, e na categoria
miscelânea: irradiante, repuxante e gelada, enquanto
que metade relatou como torturante. Porém, os autores não relataram se houve ou
não redução no número de descritores ao final do tratamento [26].
No presente estudo,
as diferenças significativas encontradas no questionário SF-36 foram nas variáveis capacidade funcional (p = 0,04) e limitações por
aspectos emocionais (p = 0,04). Outra pesquisa em que foi utilizado o
questionário SF-36, para avaliar a qualidade de vida em pacientes com
fibromialgia, verificou diferenças significantes do escore geral (p = 0,018) e
nas variáveis “dor” (p = 0,032) e “estado geral de saúde” (p = 0,027), demonstrando
uma possível melhora das pacientes tratadas com 10 sessões consecutivas de laserterapia com 830 nm e
dosimetria de 5 J/cm² aplicado apenas nos tender points dolorosos à palpação
digital [25].
Neste estudo, os
resultados avaliados pelo índice de incapacidade de Oswestry
foram positivos, notando-se redução dos valores percentuais médios na avaliação
pós-tratamento quando comparada à avaliação pré-intervenção.
Estes dados opõem-se aos encontrados em outro estudo que verificou a eficácia
do laser acupuntura (Ga-Al-As, 830 nm, 10 mW, 0,2 J) em reduzir a dor
e melhorar a função em pacientes com dor lombar crônica inespecífica. Os
pacientes foram divididos em grupo tratamento e grupo placebo. Ao final, os
autores inferiram que embora tenha havido melhora global da incapacidade,
avaliados pelo índice de Oswestry, após o tratamento,
não houve diferença significativa entre o grupo de intervenção e o placebo
[23].
Outra pesquisa foi
realizada para determinar se a laserpuntura
infravermelha pode ter um efeito específico na redução da dor e incapacidade no
tratamento de dor crônica lombar. Os pacientes foram divididos em 3 grupos de tratamento: placebo (0 joules/ponto), baixa dose
(0,2 J/ponto) e alta dose (0,8 joules/ponto) e acompanhados em 1 e 6 semanas, e
6 e 12 meses de pós-tratamento. Ao final observou-se que não houve diferença
entre os grupos placebo e laser em 6 semanas para dor
ou incapacidade, porém houve redução significativa na dor e na incapacidade em
todos os grupos, na sexta semana [27].
Neste estudo, com a
avaliação termográfica não foram encontradas diferenças nas médias de
temperatura em nenhuma das posições analisadas. Sabe-se que a termografia é uma ferramenta muito utilizada por ser útil
em fazer diagnósticos e avaliações baseados em queixas subjetivas de sintomas
relatados pelos pacientes. Ela detecta a luz infravermelha emitida pelo corpo
para visualizar mudanças de calor devido a anomalias no fluxo de sangue da
superfície de áreas doentes. É sabido que a termografia
tem boa sensibilidade no diagnóstico de dor neuropática [28].
Resultados diferentes
foram observados em uma pesquisa que avaliou os efeitos da temperatura das mãos
durante a acupuntura com a utilização da termografia
infravermelha em 50 voluntários que nunca haviam sido tratados com acupuntura.
A intervenção foi dividida em quatro conjuntos, 1: agulhamento no acuponto Hegu (LI 4), 2:
falsa acupuntura (em regiões da pele não relacionadas com acupontos),
3: agulhamento cutâneo e 4: agulhamento
muscular. Foi observado que a agulhagem cutânea não alterou a temperatura média
e a muscular resultou em diminuição de temperatura. Contrapondo-se ao fato de
que a inserção da agulha no acuponto Hegu produziu aumento da temperatura.
Outro estudo foi
realizado com o objetivo de determinar se a termografia
de cristal líquido pode fornecer informações úteis para avaliação de pacientes
com dor lombar. Foram 22 voluntários universitários saudáveis que não tinham
história prévia de dor lombar e 62 pacientes hospitalizados por lombalgia. Os
pacientes hospitalizados foram divididos em quatro grupos de acordo com seus
diagnósticos na alta: 1) pacientes com lesões discogênicas
degenerativas, 2) pacientes que adquiriram lesões, 3) lesões congênitas e de
desenvolvimento, 4) dor lombar resultante de causas desconhecidas. O exame foi
realizado em uma sala mantida a 23ºC e todos os indivíduos foram
climatizados por 20 min. A imagem foi captada entre o processo espinhoso de T11
até a junção sacrococcígea. Não foram encontradas diferenças significativas nas
médias das temperaturas entre o grupo controle (32,4 ± 0,5ºC) e o grupo de
pacientes. No entanto, os gradientes de temperatura encontrados nos pacientes
com lesões discogênicas (3,1 ± 0,6ºC) e lesões
adquiridas (3,1 ± 1,0ºC) foram significativamente maiores do que aqueles dos
sujeitos sem dor (2,5 ± 0,5ºC) [29].
Não foram encontrados
artigos na literatura correlacionando a aplicação do laser em pacientes com dor
neuropática e o uso da termografia na avaliação
destes pacientes.
Diante do exposto, sugerem-se
novos estudos com a utilização do laser com enfoque na laserpuntura
no tratamento das neuropatias periféricas abrangendo número maior de pacientes,
grupo controle, variação do tipo de laser e dos parâmetros utilizados para
melhor compreensão do efeito deste recurso neste tipo de dor.
Com base nos
resultados apresentados neste estudo, sugere-se que a utilização da laserpuntura pode ser eficaz na redução da dor neuropática
e da incapacidade, contribuindo para melhora na qualidade de vida dos
pacientes.