ARTIGO ORIGINAL
Comparação entre o método Reequilíbrio Toracoabdominal e
a fisioterapia respiratória convencional em recém-nascidos com taquipneia
transitória: um ensaio clínico randomizado
Comparison between Thoracic-abdominal Rebalance Method and conventional
respiratory physiotherapy in neonates with transient tachypnea: a randomized
clinical trial
Miriana Carvalho de
Oliveira, Ft.*, Cristina Ortiz Sobrinho, D.Sc.**,
Marco Orsini, D.Sc.***
*Mestranda em Saúde Materno Infantil, Universidade Federal
Fluminense (UFF), Hospital das Clínicas de Teresópolis Constantino Ottaviano,
Teresópolis/RJ, Preceptora do estágio curricular do curso de graduação em
Fisioterapia do Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO),
Teresópolis/RJ, **Médica, Professora Associada I do Programa de Mestrado
Profissional em Saúde Materno-Infantil, UFF, Niterói/RJ, ***Médico, Professor do Mestrado Profissional em Ciências
Aplicadas à Saúde, Universidade Severino Sombra, Vassouras/RJ e Mestrado e
Doutorado em Ciências da Reabilitação, UNISUAM/RJ
Resumo
Introdução: Recém-nascidos acometidos pela taquipneia
transitória do recém-nascido (TTRN) cursam com desequilíbrio da biomecânica
toracoabdominal e desconforto respiratório e necessitam de cuidados especiais.
A fisioterapia respiratória convencional em recém-nascidos tem efeitos
adversos, podendo ser o método reequilíbrio toracoabdominal (RTA) uma
alternativa terapêutica. Objetivo:
Comparar a fisioterapia respiratória convencional com o método RTA em
recém-nascidos com TTRN. Métodos:
Ensaio clínico intervencional, comparativo e randomizado. 49 recém-nascidos
foram divididos em dois grupos: fisioterapia respiratória convencional (n=20) e
RTA (n=29). Parâmetros fisiológicos (frequência respiratória, frequência
cardíaca, saturação de pulso de oxigênio, temperatura axila), dor, estado
comportamental, desconforto respiratório e desequilíbrio da biomecânica
respiratória foram avaliados antes e após os manuseios. Resultados: A mediana da idade gestacional foi 38 semanas e a do
peso de nascimento 2.940 g. Após os manuseios, não houve diferença entre os
grupos quanto à dor (p=0,63), o estado comportamental (p=0,11) e os parâmetros
fisiológicos (frequência respiratória, p=0,18; frequência cardíaca, p=0,82; SpO2, p=0,74; temperatura axila, p=0,29). O
método RTA mostrou-se superior a fisioterapia respiratória convencional na
melhora da biomecânica respiratória (elevação do esterno, p=0,01; elevação dos
ombros, p=0,02) e do desconforto respiratório (p=0,009). Conclusão: O método RTA mostrou-se seguro e superior à fisioterapia
respiratória convencional em recém-nascidos com TTRN.
Palavras-chave: recém-nascido, taquipneia transitória do
recém-nascido, modalidades de fisioterapia.
Abstract
Introduction: Newborn infants who are affected by transient tachypnea of the newborn
(TTNB) have an imbalance of thoracoabdominal
biomechanics and respiratory distress and so, require special care. The
conventional respiratory physiotherapy in newborns has adverse effects, and the
Thoracic-Abdominal Rebalance (TAR) method may be a therapeutic alternative. Objective: To compare conventional
respiratory physiotherapy and TAR method in newborns with TTNB. Methods: Randomized, comparative,
interventional clinical trial. 49 newborn infants divided into two groups:
conventional respiratory physiotherapy (n=20) and TAR method (n=29).
Physiological parameters (respiratory rate, heart rate, pulse oxygen saturation
(SpO2), axilla temperature), pain, behavioral status, respiratory
discomfort, and imbalance of respiratory biomechanics were evaluated before and
after handling. Results: The median
of gestational age of 38 weeks, and birthweight was 2,940 g. After the
interventions, we did not observe difference between the groups regarding pain
(p=0.63), behavioral status (p=0.11) and physiological parameters (respiratory
rate, p=0.18; heart rate, p=0.82; SpO2, p=0.74 and axilla
temperature, p=0.29). The TAR method was better than conventional respiratory
physiotherapy in improvement of respiratory biomechanics (sternum elevation,
p=0.01, elevation of the shoulders, p=0.02) and respiratory distress (p=0.009).
Conclusion: The TAR method proved to
be safe and superior to conventional respiratory physiotherapy in newborn
infants with TTNB.
Key-words: newborn, transient tachypnea of the newborn, physical therapy
modalities.
A
taxa de mortalidade infantil decresceu significativamente nas últimas décadas,
particularmente em países desenvolvidos. Grande parte desse decréscimo deveu-se
à diminuição da mortalidade neonatal, por avanços farmacológicos e
tecnológicos, tanto nas salas de parto quanto nas unidades neonatais, agregando
qualidade à assistência ao recém-nascido (RN) [1]. Nesse sentido, a
fisioterapia respiratória neonatal tem contribuído de forma substancial para a
qualificação do cuidado neonatal.
Sabe-se
que o RN apresenta particularidades anatômicas e funcionais que merecem
destaque, como a configuração arredondada e não elíptica e a elevada
complacência da caixa torácica, que resultam em arcos costais horizontalizados,
alterando a relação comprimento-tensão entre os músculos intercostais e o
diafragma, reduzindo-lhes desta forma a eficiência mecânica [2,3]. Esses
fatores podem resultar em movimentos paradoxais da parede torácica durante a
inspiração, reduzindo a eficiência do movimento do diafragma, além de aumentar
o trabalho desse músculo e torná-lo inapto em situações de aumento de demanda
ventilatória, podendo levar a subsequente fadiga [4-6].
A
Taquipneia Transitória do Recém-Nascido (TTRN), que ocorre devido ao retardo da
absorção do líquido pulmonar, pode aumentar a demanda ventilatória e cursar com
desconforto respiratório (DR) de graus variados nos primeiros dias de vida
[7-9]. Nessa circunstância, a intervenção fisioterapêutica pode auxiliar no
controle da doença, minimizando o DR [4].
A
fisioterapia respiratória convencional pode apresentar possíveis riscos para os
RN como: lesões orgânicas, como o aumento do consumo de oxigênio, fraturas de
costelas, hemorragia subperiostal, hemorragia peri-intraventricular
e porencefalia encefaloclástica [10-12].
O
método Reequilíbrio Toracoabdominal (RTA) favorece a depuração de secreção, a
ventilação alveolar e a recuperação do RN o mais precocemente possível [10,13].
Tendo como base conceitual a normalização do tônus, comprimento e força
musculares, restabelecendo o equilíbrio de forças inspiratórias e expiratórias,
o método RTA pode ser particularmente útil na terapia destes RN [10]. Contudo,
este método ainda não foi suficientemente estudado, em especial em RN com TTRN.
Assim,
o objetivo deste estudo foi comparar os efeitos da fisioterapia respiratória
convencional com os do método RTA, nos parâmetros cardiorrespiratórios, no
estado comportamental, na dor, na biomecânica respiratória e no grau de DR em
RN com diagnóstico de TTRN internados em Unidade Intermediária Neonatal (UIN).
Desenho e local do estudo
Ensaio
clínico intervencional comparativo randomizado realizado na Unidade
Intermediaria Neonatal do Hospital das Clínicas de Teresópolis Constantino
Ottaviano (HCTCO), na cidade de Teresópolis (Rio de Janeiro), no período de
setembro de 2015 a outubro de 2016. A unidade é composta por 5
leitos neonatais.
Aspectos éticos
Este
estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário
Serra dos Órgãos – UNIFESO/RJ (CAAE: 45519415.1.0000.5247) e encontra-se
registrado no Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos - ReBec
(RBR-2FFV9G). A participação no estudo foi precedida pela
obtenção do termo de consentimento livre e esclarecido assinado por um dos pais
ou responsáveis legais do RN.
População do estudo
A
população do estudo constituiu-se de RN nos primeiros três dias de vida, com
diagnóstico clínico e/ou radiológico de TTRN realizado pela equipe médica
assistente. Foram excluídos do estudo RN com quadro de taquipneia, cuja
etiologia fosse relacionada a alterações do Sistema Nervoso Central (SNC),
malformações cardíacas, alterações hematológicas ou presença de qualquer
malformação congênita diagnosticada previamente ao estudo.
O
tamanho da amostra calculado estimando 95% de confiança, 54% de diferença entre
os grupos e 6% de ocorrência do evento foi de 47 pacientes.
Grupos de estudo
Os
RN atendidos foram divididos em dois grupos, através de sorteio realizado
imediatamente antes da intervenção: 1) grupo de Fisioterapia Respiratória
Convencional; 2) grupo do Método RTA. A randomização dos RN aconteceu através
de procedimento de aleatorização simples, na qual todos tiveram a priori, a
mesma probabilidade de pertencer a qualquer um dos grupos. Assim, 29 RN foram
tratados com o método RTA e 20 RN com a fisioterapia respiratória convencional.
Protocolo do estudo
Foi
preenchida uma ficha de coleta de dados com a
identificação e o diagnóstico
clínico do RN. Também foram registradas nesta ficha as
avaliações, realizadas
antes e após as intervenções
fisioterapêuticas, dos parâmetros fisiológicos
(frequência respiratória – FR; frequência
cardíaca – FC, saturação de pulso de
oxigênio – SpO2, temperatura axila - Tax),
do estado comportamental (Escala de Avaliação Comportamental Neonatal de
Brazelton - EACNB) [3], da dor (Escala de Dor no Recém-Nascido e no Lactente -
NIPS) [10], da biomecânica respiratória (elevação de ombros, elevação de
esterno, retração de escápulas e hiperextensão cervical) [14] e do desconforto
respiratório (Boletim de Silverman Andersen - BSA e o Escore de Downes – ED)
[3].
Foram
consideradas variáveis desfecho a avaliação após as intervenções
fisioterapêuticas da biomecânica respiratória e do grau de DR, avaliado pelo
BSA e pelo ED, de forma global e dos itens. A avaliação dos itens teve como
objetivo aumentar a capacidade de detectar possíveis diferenças nos resultados
das técnicas.
Todos
os RN foram submetidos a apenas uma sessão de
intervenção fisioterapêutica,
realizada pelo mesmo fisioterapeuta. As técnicas da fisioterapia
convencional
utilizadas no estudo foram: terapia expiratória manual passiva
(TEMP),
compressão torácica expiratória,
vibração torácica ou técnica de
expiração
lenta prolongada (ELPr) [17]. O protocolo de manuseio
do método RTA aplicado foi o seguinte: apoio abdominal inferior, apoio
tóraco-abdominal, apoio íleo-costal e ajuda inspiratória [16]. Foram realizados
no estudo todos os manuseios citados.
O
protocolo do estudo foi composto por três etapas:
A
intervenção e as avaliações foram realizadas por um único profissional
fisioterapeuta.
Análise estatística
A
análise estatística foi realizada com o auxílio do software Stata 8.0 (StataCorp LP). A
distribuição dos dados da amostra não seguiu o padrão normal, segundo o método
de Kolmogorov-Smirnove pela análise de histogramas; desta forma, foram
utilizados testes não paramétricos. Os dados foram analisados quanto à
frequência e medidas de tendência central. Foram aplicados os testes
estatísticos de Mann-Whitney para variáveis contínuas e Qui-quadrado para
frequências, entre os grupos. Comparou-se o grupo de Fisioterapia Respiratória
Convencional com o grupo do Método RTA antes e após as intervenções, para os
desfechos de interesse. Para maior controle, foram comparados dados de dor,
parâmetros cardiorrespiratórios e do estado comportamental entre os grupos,
pois diferenças destes poderiam interferir no desempenho das técnicas
analisadas. Em todos os testes foram consideradas diferenças estatisticamente
significativas sempre que p < 0,05.
A
amostra foi constituída por 49 RN (29 tratados com o método RTA e 20 com a
fisioterapia respiratória convencional), com IG mediana de 38 semanas e mediana
de peso de nascimento de 2.940 g. Não houve predomínio de gênero, sendo 49%
feminino e 51% masculino. Não houve diferenças entre os grupos quanto à idade
gestacional (IG), o gênero e o peso de nascimento.
A
comparação entre os grupos para os parâmetros fisiológicos antes e após os
manuseios encontra-se demonstrada na Tabela I, não tendo sido observadas diferenças
entre os grupos.
Tabela I - Parâmetros
fisiológicos antes e após as intervenções com fisioterapia respiratória
convencional ou método RTA.
FR = Frequência
respiratória; FC = Frequência cardíaca; *teste de Mann-Whitney. Os valores
estão representados como mediana (valor mínimo-valor máximo).
Na
ausculta pulmonar, os RN durante a avaliação, apresentaram murmúrio vesicular
audível universalmente em 100% dos casos, não havendo diferença entre os grupos
estudados. No que tange a ausculta pulmonar após o manuseio, o murmúrio
vesicular manteve-se audível universalmente em 100% dos casos, não havendo
diferença entre os grupos.
A
mediana da classificação do estado comportamental para ambos os grupos, antes e
depois dos manuseios foi 2 para ambos os grupos (de
acordo com EACNB, sono leve), sem diferença estatisticamente significativa
entre os grupos (p=0,11 antes e depois das intervenções).
Em
relação ao escore total da NIPS, inicialmente a mediana foi 3,
o que sugere que os RN não apresentavam dor. Após as intervenções, os RN
apresentaram mediana igual a 2. Portanto, nem a
fisioterapia respiratória convencional, nem o método RTA acarretou dor. Não
foram observadas diferenças estatisticamente significativas antes (p=0,63) e
após (p=0,63) as intervenções.
Com
relação aos parâmetros de biomecânica respiratória, houve diferença
estatisticamente significativa entre os grupos antes das intervenções com
relação à elevação do esterno. No grupo da fisioterapia respiratória convencional
houve maior frequência de elevação leve e no grupo do método RTA, elevações
moderada ou grave foram mais frequentes, revelando maior desequilíbrio da
biomecânica respiratória neste grupo. Esta diferença perdeu importância
estatística após as intervenções. Após os manuseios, houve diferenças entre os
grupos quanto ao grau de elevação dos ombros e a frequência da elevação do
esterno. A elevação dos dois ombros foi mais frequente no grupo da fisioterapia
respiratória convencional (94,5%) do que grupo do Método RTA (65,5%) (p =
0,02). A elevação do esterno foi mais frequente no grupo de fisioterapia
respiratória convencional (95%) do que no grupo do Método RTA (65%) (p = 0,01)
(Tabela II).
Tabela II - Parâmetros
de biomecânica respiratória antes e após as intervenções com fisioterapia
respiratória convencional ou método RTA.
Tipo de elevação de
ombro: 1-direito, 2-esquerdo, 3-ambos; grau de intensidade: 1-leve, 2-moderada,
3-grave. # teste do qui-quadrado.
Antes
dos manuseios, a mediana do escore total do BSA foi 4
para o grupo da fisioterapia convencional e 4 para o grupo do método RTA
(p=0,07). Após os manuseios, a mediana do grupo a fisioterapia respiratória
convencional foi 2 a do grupo do método RTA foi 0
(p=0,009). Antes dos manuseios foram observadas diferenças nos itens: tórax
inferior (com maior frequência da acentuada no grupo de fisioterapia
respiratória convencional e da visível no do Método RTA), tiragem xifoide (com
maior frequência da acentuada no grupo de fisioterapia respiratória
convencional e da visível no do Método RTA) e gemido/ronco (com maior
frequência de audível sem e com estetoscópio no grupo de fisioterapia
respiratória convencional). Após os manuseios foi observada diferença nos itens
tórax superior (mais sincronizado no grupo do Método RTA), tórax inferior
(maior frequência de não ocorre no grupo do Método RTA e de visível no de
fisioterapia respiratória convencional) e tiragem xifoide (maior frequência de
não ocorre no grupo do Método RTA e de visível no de fisioterapia respiratória
convencional). Estes resultados podem ser vistos na Tabela III.
Tabela III - Boletim
de Silvermann Andersen (BSA) antes e após as intervenções com fisioterapia
respiratória convencional ou método RTA.
tórax superior = 0-
sincronizado, 1- retardo na inspiração, 2- serra; tórax inferior = 0-sem
tiragem, 1- apenas visível, 2- acentuada; tiragem xifoide = 0- não ocorre, 1-
apenas visível, 2- acentuada; adejamento nasal = 0 – ausente, 1 – apenas
visível; gemido/ronco = 0 – ausente, 1- somente audível com estetoscópio, 2 –
audível sem estetoscópio. #teste do qui-quadrado.
A
pontuação global do ED antes dos manuseios entre os grupos revelou mediana 3 em ambos os grupos, sem diferença estatisticamente
significativa entre eles (p=0,47). Após os manuseios a pontuação mediana do
grupo da fisioterapia respiratória convencional foi 1
e do grupo do Método RTA foi 1, sem diferença estatisticamente significativa
entre eles (p=0,08). Com relação aos itens avaliados no ED, antes da
intervenção foi observada diferença entre os grupos nos itens frequência
respiratória (maior no grupo de fisioterapia respiratória convencional) e
gemido (mais frequente no grupo de fisioterapia respiratória convencional).
Após as intervenções (Tabela IV), são observadas diferenças somente no item da
frequência respiratória (melhor no grupo do Método RTA do que no da
fisioterapia respiratória convencional).
Tabela IV - Escore
de Downes (ED) antes e após as intervenções com fisioterapia respiratória
convencional ou método RTA.
FR = 0 - <60/min, 1 - 60-80/min, 2- >80/min; Cianose = 0- ausente;
entrada de ar = 0- normal, 1- suave, 2- turbulenta; gemido = 0- ausente, 1-
audível com estetoscópio, 2- audível sem estetoscópio; retração = 0- ausente,1-
leve, 2- Moderada; #teste do qui-quadrado.
A
primeira consideração a ser feita é em relação a
escassez de estudos para comparação, levando os autores do presente estudo a
discutir e refletir sobre os seus resultados. A segunda, que todos os resultados
obtidos com o presente estudo versam sobre a comparação do método RTA com as
técnicas de fisioterapia convencional aplicadas (uma
técnica comparada à outra).
A
taquipneia, as distorções torácicas, a fraqueza dos músculos abdominais e o uso
excessivo da musculatura acessória são comuns ao RN e estas características
devem ser levadas em consideração na interpretação dos resultados. A avaliação
abrangente do RN em relação a parâmetros respiratórios e posturais permite a
detecção de desvios e tomada de decisão terapêutica apropriada.
A
presença de componentes de bloqueio respiratório tende a tornar o RN mais
secretivo e incoordenado [4,16,17]. O RN apresenta
alterações da biomecânica como: hipotonia, padrão extensor, alterações de
alinhamento, extensor de pescoço encurtado, controle de cabeça imaturo, fixação
da cintura escapular, ombros elevados, dificuldade de organiza a postura em
decúbito dorsal, dificuldade em trazer as mãos em linha média, membros
superiores em extensão, membros inferiores em abdução com rotação externa e imaturidade
neurológica [18].
Desta
forma, avaliamos parâmetros da biomecânica respiratória; antes das intervenções
e ambos os grupos apresentavam alterações. O grupo 2
apresentava pior desequilíbrio, sendo mais frequentes elevações de esterno
moderada a grave. Após as intervenções não houve diferença entre os grupos, e
em ambos os grupos nenhuma criança apresentava elevação de esterno grave e a
maioria apresentava elevação de esterno leve. Esta comparação sugere que a
aplicação do Método RTA teve um resultado mais positivo quando comparado à
fisioterapia respiratória convencional, para a redução do grau de elevação do
esterno na amostra estudada.
Após
os manuseios, também observamos pior elevação dos ombros no grupo da
fisioterapia respiratória convencional. Dos pacientes submetidos ao RTA, 24,2%
deixaram de ter elevação de ambos os ombros, resultado bastante satisfatório. É
possível que o método RTA, direcionado a minimizar o
esforço respiratório através de manuseios contínuos para a melhoria da área de
justaposição entre o diafragma e costelas, com apoios abdominais, e melhora da
expansibilidade torácica, com ajuda inspiratória, facilite o sinergismo entre
tórax e abdômen, o aumento do tônus e da força dos músculos respiratórios
[4,16], diferente da fisioterapia respiratória convencional, cujas técnicas são
realizadas isoladamente, sem ser de forma contínua, e com foco na
fisiopatologia da doença, sem objetivar o sinergismo muscular respiratório.
O
BSA é usado na prática por profissionais especialistas em Unidades de Terapia
Intensiva Neonatal para a avaliação do RNPT e dos sinais de DR durante o
período de internação. Um estudo realizado em 2008 [19], com crianças menores
de 2 anos (n=24), que utilizou o BSA como ferramenta
para avaliar o DR, demonstrou diferença estatisticamente significativa no grupo
que recebeu vibração quando comparado a outras técnicas de higiene brônquica
(tapotagem + drenagem postural e aspiração). Houve redução no BSA e na FC, 15
minutos após a intervenção, nos 3 grupos estudados
(técnica de vibrocompressão, tapotagem associadas à drenagem postural e à
técnica de aspiração traqueal), evidenciando benefícios com as técnicas
aplicadas. O presente estudo, também encontrou melhora do grau de DR avaliado
pelo BSA após as intervenções fisioterapêuticas, em especial no grupo do método
RTA, com diferença estatisticamente significativa em relação ao grupo de
fisioterapia respiratória convencional. O método RTA foi superior a fisioterapia respiratória convencional no que diz respeito
à redução do escore total do BSA. Em RN prematuros, o método RTA reduziu a
frequência respiratória e o desconforto respiratório avaliado pelo BSA [5].
Na
análise dos itens que compõem o BSA, foi possível observar em tórax superior,
tórax inferior e tiragem xifoide, diferença estatisticamente significativa
entre os grupos. Foram observados escores menores para esses parâmetros no
grupo do Método RTA em comparação ao de fisioterapia respiratória convencional,
revelando mais uma vez a superioridade do método no manejo terapêutico dos
sinais de DR. O presente estudo é inédito na análise dos subitens do BSA.
Assim, não foi encontrada literatura científica para comparar esta resposta.
A
análise da gravidade da insuficiência respiratória é de suma importância para a
abordagem inicial e sequencial do RN com DR. O uso de parâmetros objetivos para
esta avaliação, como proposto por Downes et al., desde 1970
[20], permite a análise qualitativa da evolução do DR. Diferente do BSA, o ED
inclui a avaliação da cor da pele, ruídos respiratórios e frequência cardíaca.
No presente estudo, os RN foram avaliados antes das intervenções. Embora a
comparação global após os manuseios não tenha revelado diferença estatisticamente
significativa entre os grupos, a análise por itens do ED revelou diferença no
parâmetro FR. 18 RN (de 29) no grupo do Método RTA deixaram de apresentar
taquipneia, em comparação com 0 RN (de 20) do grupo de
fisioterapia convencional, revelando novamente uma superioridade do método.
Além disso, embora houvesse diferença entre os grupos no ED antes dos manuseios
para o item gemido, após os manuseios esta diferença desapareceu. O estudo de
Roussenq et al. [5] não aplicou o ED, não permitindo
comparação com o presente estudo. Como a avaliação global pelo ED não revelou
diferenças entre os grupos após os manuseios enquanto o BSA identificou haver
diferenças, sugerimos que o BSA seja mais sensível na avaliação do DR e sua
resposta à intervenção fisioterapêutica no RN com TTRN.
Foi
aplicada a escala NIPS, que considera mudanças em parâmetros comportamentais e
fisiológicos, válida e útil para avaliar a dor no RN em resposta a estímulos
dolorosos [21-23]. Um ensaio clínico comparou os efeitos da fisioterapia
respiratória convencional e do método RTA na dor do RN, com auxílio das escalas
NIPS, Perfil de Dor do Prematuro (Premature
Infant Pain Profile – PIPP) e Sistema de Codificação Facial Neonatal (Neonatal Facial Coding System – NFCS)
não encontraram a presença de dor [24]. Corroborando este achado, Roussenq et al. [5] que aplicaram o método RTA em prematuros, não
observaram alteração na escala NIPS. Estes resultados não diferem do presente
estudo; onde também não se observou mudanças na avaliação da dor com a NIPS em
RN com TTRN submetidos tanto a fisioterapia respiratória convencional quanto ao
método RTA.
Um
estudo publicado em 2010 [25] avaliou 13 RNPT, com média de IG 32.5 semanas e
peso de nascimento 1.830 g. A aplicação da técnica de vibração torácica em RNPT
sem suporte ventilatório, não encontrou diferenças significativas antes e após
aplicação da mesma nos parâmetros cardiorrespiratórios. No presente estudo, de
acordo com os dados dos parâmetros basais antes do manuseio, não houve diferença
estatística entre os grupos para as variáveis avaliadas (FR, FC, SpO2, Tax e ausculta pulmonar), embora no grupo
RTA a mediana de FR tenha sido um pouco maior. Após os manuseios o grupo do RTA
apresentou FR menor em comparação à fisioterapia convencional, porém mesmo
assim, não houve diferença estatística entre os grupos. Este resultado sugere
que os manuseios não tenham ocasionado nenhuma repercussão nestes parâmetros,
ou seja, que tenha sido mantida a estabilidade clínica, independente da técnica
aplicada.
Outro
estudo, publicado em 2013 [5], também avaliou o efeito dos manuseios do método
RTA em parâmetros cardiorrespiratórios, em sinais clínicos de esforço
respiratório, no comportamento e na dor de RN prematuros com baixo peso
internados em Unidade de Terapia Intensiva. No qual utilizaram a análise do
comportamento do RN pela escala de Prechtl e Beinteman (EPB). Essa escala
avalia 5 estados comportamentais. No presente estudo a
avaliação realizada foi a escala de Brazelton da
habilidade do RN em resposta aos eventos do ambiente. Antes do manuseio os RN
apresentaram Brazelton 2 (sono leve) e após os
manuseios permaneceram com a mesma classificação. Portanto não houve diferença
entre os estados comportamentais entre os grupos nem antes e nem após os
manuseios, sugerindo que estes não tenham interferido no comportamento do RN. A
avaliação da dor e de comportamento é de grande relevância nos estudos em
Neonatologia.
Este
trabalho sugere que em RN com TTRN a aplicação do método RTA seja melhor do que
a fisioterapia convencional, no que tange à melhora da biomecânica
respiratória, da FR e do DR. Além de trazer mais benefícios, o método RTA não
causa dor, recomendando-se o seu uso em RN com TTRN.
Agradecemos
a toda equipe da UIN do Hospital das Clínicas de Teresópolis Constantino
Ottaviano (HCTCO), pelo auxilio durante a execução do estudo.