ARTIGO ORIGINAL
Queda e medo de morrer
em idosos residentes na comunidade
Fall and fear of dying in elderly community residents
Lucinelia Matias Santos*, Kleyton Trindade Santos, Ft. M.Sc.**,
Leonardo da Silva Lima*, Karla Cavalcante Silva de Morais, Ft. M.Sc.**, Luciana Araújo dos Reis, Ft. D.Sc.**,
Andressa Porto Dutra*
*Discente do curso de
Fisioterapia da Faculdade Independente do Nordeste (FAINOR), Vitória da
Conquista/BA, **Docente da Faculdade Independente do Nordeste (FAINOR), Vitória
da Conquista/BA
Recebido em 14 de
dezembro de 2018; aceito em 15 de março de 2020.
Correspondência: Kleyton
Trindade Santos, Rua Edson Porto, 242, 45340-000 Itiruçu BA
Kleyton Trindade Santos:
kleyton_santos@hotmail.com
Lucinelia Matias Santos:
lucineliamatias.santos@hotmail.com
Leonardo da Silva Lima:
leooliima4@gmail.com
Andressa Porto Dutra:
dessinha_pdutra@hotmail.com
Luciana Araújo dos Reis:
lucianareis@fainor.com.br
Karla Cavalcante Silva
de Morais: karlinhakau@hotmail.com
Resumo
O envelhecimento
populacional torna-se um fenômeno mundial, ocorrendo em larga escala, fazendo
com que seja necessária atenção com os cuidados a saúde dos idosos,
proporcionando um prolongamento com a qualidade. O objetivo é verificar a
associação entre queda e medo de morrer em idosos residentes em comunidades.
Trata-se de um estudo transversal, descritivo e analítico, de caráter
quantitativo, realizado com 44 idosos cadastrados em uma Unidade Básica de
Saúde, no município de Vitória da Conquista/BA. Foi aplicado um questionário
sociodemográfico, acrescido da escala Fall risk score de Downton para a
avaliação do risco e prevalência de quedas e do Whoqol-
Old para avaliar o tema “medo de morrer”. Os dados
foram tabulados no programa estatístico SPSS 21.0, sendo calculadas as
frequências relativas e absolutas de todas as variáveis de interesse. Em
relação à ocorrência de quedas constatou-se que a prevalência foi de 15,9%. Ao
observar o domínio Morte ou morrer do Whoqol-Old
notou-se que os idosos caidores apresentaram-se com
score médio inferior (19,64) aos idosos que não sofreram quedas (29,68).
Conclui-se que a ocorrência de queda gera um aumento do medo da morte entre os
idosos, levando a redução da sua independência, autonomia e consequentemente a
qualidade de vida.
Palavras-chave: envelhecimento,
queda, morte.
Abstract
Population
aging becomes a worldwide phenomenon, occurring on a large scale, making it necessary
to pay attention to the health care of the elderly, providing an extension with
quality. The objective of this study was to verify the association between fall
and fear of dying in elderly residents in communities. It is a cross-sectional,
descriptive and analytical study of a quantitative character, carried out with
44 elderly people enrolled in a Basic Health Unit in the city of Vitória da
Conquista, Bahia. A sociodemographic questionnaire was applied, along with
Downton's Fall risk score scale for the assessment of the risk and prevalence
of falls, and the Whoqol-old to evaluate the
"fear of dying" theme. The data were tabulated in the statistical
program SPSS 21.0, and the relative and absolute frequencies of all the
variables of interest were calculated. The prevalence of occurrence of falls
was 15.9%. When observing the death or dying domain of Whoqol-Old,
it was observed that the elderly that falls frequently presented a lower mean
score (19.64) for the elderly who did not suffer falls (29.68). It is concluded
that the occurrence of fall causes an increase in the fear of death among the
elderly, leading to a reduction in their independence, autonomy and
consequently quality of life.
Keywords: aging, fall, death.
O envelhecimento é um
processo natural, no qual ocorrem várias alterações fisiológicas, gerando
alterações físicas e psicológicas e transformações nas variáveis
proprioceptivas, apresentando assim uma diminuição na sensibilidade desses
indivíduos, alteração na coordenação motora, um maior tempo de resposta dos
músculos efetores, perda de equilíbrio e menor destreza nos movimentos,
resultando em uma diminuição da qualidade de vida dessa população [1].
Atualmente, o
envelhecimento é um fenômeno muito discutido e investigado na sociedade, por
conta do aumento da longevidade e a maior expectativa de vida, resultando em um
crescimento da população idosa. Estimasse que em 2025 o número de idosos chegue
a cercar de 32 milhões de indivíduos, com isso aumentando atenção e os
cuidados, para a promoção e prevenção de saúde desses idosos [2].
O idoso apresenta uma
grande possibilidade de quedas durante o processo do envelhecimento levando
algumas alterações do organismo como a incapacidade funcional. A queda pode ser
causada por um trauma ao realizar um deslocamento involuntário do corpo levando
a um déficit de correção do equilíbrio em tempo hábil na posição inicial da
marcha, causada por motivos multifatoriais gerando uma estabilidade [3].
As quedas são as causas
de mais relevâncias na saúde pública, e é a segunda causa de morte ocasionada
por lesões, podendo ser acidentais ou não intencionais. Cerca de 30% dos idosos
com idade superior a 65 anos caem a cada ano, e para aqueles com idade acima de
80 anos esse número é de 50%. Geralmente as quedas são classificadas em três
categorias como intrínseco, extrínsecos e comportamentais [4].
As quedas vêm sendo um
divisor de água na qualidade de vida da população idosa, pois interferem de
forma direta no convívio social e familiar, já que causam fraturas e medo de
cair, podendo assim evoluir para uma limitação progressiva da participação nas
atividades cotidiana, levando a um quadro de morbidade, depressão, isolamento e
mortalidade diminuindo assim a capacidade funcional [2].
Segundo Cordeiro,
Pinheiro, Correio [5], a morte é uma fase irreversível na vida que está ligada
ao envelhecimento humano; quanto maior a idade, mais propício está o indivíduo
a doenças e a morte. Com isso os idosos buscam uma morte natural sem dor, sem
sofrimento, pois a morte se destaca como sofrimento e tristeza entre os idosos,
com isso a sociedade dita condutas que devem ser seguidas como prática de boa
qualidade de vida, uma ótima saúde, felicidade, riqueza para que tenha uma
morte tranquila [5].
O medo de morrer é um
sentimento inexplicável entre a sociedade. É uma realidade comum entre os
indivíduos, já que a morte é vista como a destruição do corpo e da alma tendo
em vista a realidade de cada um. Para alguns idosos, a morte está ligada a
idade e ao envelhecer, já que com o envelhecimento o indivíduo fica mais
vulnerável a patologias, e a fatores emocionais, estado depressivo o que
aceleram a sua deterioração física e mental, causando diminuição da capacidade
funcional e diminuição da qualidade de vida, levando esse idoso a morte [6].
A qualidade de vida é a
forma de estabelecer a autonomia e bem-estar da pessoa que inclui uma série de
aspectos como a capacidade funcional, sendo um conceito subjetivo que mostra o
bem-estar que o idoso apresenta com si mesmo, como felicidade, amor, prazer, e
realização pessoal, além dos parâmetros objetivos que está relacionada com as
satisfações das necessidades básicas que envolvem o grau de desenvolvimento
econômico e social da sociedade [7].
Diante do exposto, este
trabalho é de grande relevância para identificar os riscos de queda e a
interferência no domínio morte ou morrer da qualidade de vida em idosos
residentes, servindo como estratégia preventiva no envelhecimento. Sendo assim,
este estudo tem por objetivo verificar a associação entre queda e medo de
morrer em idosos residentes em comunidades.
Trata-se de um estudo
transversal, descritivo e analítico, de caráter quantitativo, vinculado à
pesquisa intitulada “Quedas e fatores associados em idosos”, realizada em uma
Unidade de Saúde da Família, no município de Vitória da Conquista/BA.
Atualmente a cidade
conta com 7 Unidades Básicas de Saúde tradicionais que ofertam serviços básicos
e gratuitos para a população. A escolha da Unidade de Saúde ao quais os
pesquisadores se reportaram para investigação se deu através de sorteio, a fim
de minimizar possíveis vieses de direcionamento da pesquisa.
A população do estudo
foi representada por 44 idosos, cadastrados na Unidade Básica de Saúde selecionada
pelos pesquisadores para realização da coleta, que atenderam os critérios de
inclusão adotados: participaram apenas os idosos que obtiveram estado cognitivo
preservado, testado a partir da aplicação prévia do mini-exame
da saúde mental (Mini-Mental) [8]. Foram excluídos do
estudo aqueles idosos que foram incapazes de compreender as perguntas, mesmo
que apresentassem um estado cognitivo adequado de acordo com o Mini-Mental.
Para investigação dos
dados foi utilizado um questionário, composto por variáveis sociodemográficas, Mini Exame do Estado Mental [8], escala Fall
Risk Score de Downton [9], para a avaliação do risco
e prevalência de quedas, além do Whoqol-old [10] para
avaliar o tema “medo de morrer”.
A variável “medo de
morrer” foi extraída do domínio “Morte e morrer” do Whoqol-old
[10], que trata da forma pela qual os idosos lidam com a morte, considerando o medo
de morrer, a temeridade de como ela vai acontecer e do quanto pode ser
controlada. Menores pontuações nesse domínio representam maior medo da morte.
A coleta ocorreu em uma
única etapa. Os pesquisadores abordavam os idosos na Unidade Básica de Saúde e
aplicavam o questionário enquanto eles aguardavam para realização de consultas
ou outros procedimentos.
A pesquisa seguiu todos
os princípios da resolução 466/12 e contou com a aprovação do Comitê de Ética
em Pesquisa da Fainor, com o parecer consubstanciado
de número de CAAE: 62170516.4.0000.5578 e com o número do parecer: 1859525.
Os dados da pesquisa
foram tabulados e analisados no programa estatístico SPSS 22.0, onde foram
calculadas as frequências relativas e absolutas de todas as variáveis de
interesse.
A estatística
inferencial utilizada foi o teste e U de Mannn-Whitney
(dados com distribuição não normal), após verificar a normalidade dos dados por
meio do teste Shapiro-Wilk. O nível de significância adotado em todas as
análises foi de 5% (α = 0,05).
A tabela I apresenta as
características descritivas da população estudada, assim como a prevalência de
quedas. Nota-se que as mulheres representam aproximadamente 2/3 da população,
e, em relação à escolaridade, verifica-se que a grande maioria possui uma
escolaridade baixa. Destaca-se também o fato de quase metade da população não
apresentar renda. Em relação às quedas observamos que aproximadamente 16% dos
idosos sofreram ao menos uma queda no último ano. As demais informações são
apresentadas abaixo.
Tabela I - Características
sociodemográficas da amostra. Vitória da Conquista/BA, Brasil, 2017.
Fonte: Dados da pesquisa
A tabela II apresenta
informações sobre o domínio Morte ou morrer do questionário Whoqol-Old.
É possível perceber ao analisar este ponto da qualidade de vida, que os idosos caidores apresentaram-se com score médio inferior aos
idosos não caidores. Entretanto nota-se que ao
proceder com as análises não foi possível encontrar associação positiva entre
as variáveis.
Tabela II - Qualidade de vida
em idosos caidores e não caidores.
Vitória da Conquista/BA, Brasil 2017.
Fonte: Dados da
pesquisa.
No presente estudo foi
possível observar que a maioria da população entrevistada é predominantemente
do sexo feminino (63,6%). Esse achado pode ser explicado, dentre outros
motivos, pelo local de coleta de dados escolhido, pois se sabe que as mulheres
procuram mais as Unidades de Saúde do que o homem, principalmente na população
idosa. Segundo Levorato et al. [11], o homem
não procura as unidades de saúde pelo simples fato de vê-la como um ambiente de
fragilidade e não de prevenção, levando o mesmo a procurar o serviço apenas em
casos extremamente graves [11].
Outro dado interessante
foi observado em relação à escolaridade, onde no presente estudo identificou-se
um baixo nível entre a população pesquisada (apenas 25% tinham pelo menos o
ensino médio completo). Esses índices são preocupantes, uma vez que se sabe que
a dificuldade para acesso à educação e informação contribui diretamente para
redução ao acesso aos cuidados e serviço de saúde diminuindo a qualidade de
vida desses indivíduos [12].
Em relação às quedas,
foi possível observar que 15,9% dos idosos tiveram pelo menos um episódio no
último ano. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 30% dos idosos com faixa
etária de 65 anos sofrem de queda a cada ano, aumentando para 50% entre
indivíduo com idade acima de 80 anos [13].
Sabemos que com o
envelhecimento o corpo passa por diversas alterações, que são causadas pelo
processo de senescência e surgimento de patologias, ou até mesmo por fatores
ambientais, fazendo com que aumente a prevalência de quedas nessa população,
que resultará em complicações diversas, podendo afetar aspectos relacionados à
qualidade de vida [14].
É de extrema
importância a investigação das quedas, pois trazem diversos prejuízos psíquicos
e funcionais para o idoso, que vão desde uma dificuldade de locomoção, a uma
dependência funcional, um medo de cair novamente, hospitalizações contínuas,
entre outros fatores, que muitas vezes desencadeia o ciclo da morte [15].
Ao comparar o evento
queda e o domínio medo de morrer da qualidade de vida, foi possível verificar
que os idosos caidores apresentaram menores médias em
comparação aos idosos não caidores (19,64% e 29,68%,
respectivamente), demonstrando que a presença de quedas faz com que os
indivíduos desenvolvam um medo de morrer aumentado, e diminua consecutivamente
sua qualidade de vida nesse aspecto.
Santos et al. [7]
abordam que o idoso ao cair pela primeira vez, muitas vezes desenvolve um medo
de cair posteriormente, levando uma diminuição da qualidade de vida e um
isolamento na sociedade, que indiretamente repercute em um medo de morrer. Além
de que, a queda ainda se mostra como um fator agravante por acelerar a
deterioração física e mental desse idoso, o que contribui também para o medo de
morrer.
É sabido que esse
domínio morte e morrer refere-se a ansiedade do idosos com o medo de morrer, o
anseio de poder prever a sua morte monitorizando a sua vida na questão falecer,
o pavor de sentir agonia ao morrer, leva esse idoso a uma baixa qualidade de
vida atingindo o psicológico desse individuo com isso esses idosos tenham uma
prevalência maior de futuras quedas.
No presente estudo,
observou-se que o medo de morrer entre os idosos caidores
é um dos fatores importantes no risco de queda. Estes dados corroboram o estudo
de Rosa et al. [16] que afirma que a queda traz consequências graves
para a vida desses indivíduos. Este medo está associado à fragilidade e à
vulnerabilidade, pois essa condição está diretamente ligada a hospitalização,
ansiedade, diminuição da capacidade atingindo o psicológico desse individuo,
autonomia, interação social, realização de atividades de vida diária,
depressão, diminuição da qualidade de vida levando a morte desse idoso.
O estudo apresenta
algumas limitações, tais como a quantidade limitada da amostra, devido à adesão
dos idosos da Unidade de Saúde à pesquisa, além do caráter transversal que
impede gerar relações melhores de causalidade. Entretanto os dados
apresentados, reforçado pela literatura atual demonstram que os achados são de
extrema importância, principalmente no âmbito preventivo das quedas, evitando
aparecimento de eventos que se relacionem, ou seja, influenciados pela sua
ocorrência [17].
É possível concluir que
a presença de quedas na população idosa faz com que o domínio medo de morrer da
qualidade de vida seja piorado, se comparado com os indivíduos que não caíram.