ARTIGO
ORIGINAL
Análise
eletromiográfica dos músculos estabilizadores da
escápula durante os exercícios push up e bench press
em atletas universitários com e sem síndrome do impacto do ombro
Electromyographic analysis of scapula stabilizers muscles during the push up and bench
press exercises in university athletes with and without shoulder impingement
syndrome
Luana Boroto*, William Dhein, M.Sc.**, Marcelo La Torre***
*Graduanda
em Fisioterapia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS),
**Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos),
***Docente do curso de Fisioterapia e Educação Física da Universidade do Vale
do Rio dos Sinos (UNISINOS)
Recebido em 21 de
novembro de 2017; aceito em 28 de setembro de 2018.
Endereço
para correspondência:
Marcelo La Torre, Rua Edmundo Bastian, 333/801,
Cristo Redentor, 91040050 Porto Alegre RS, E-mail: marcelotorre@unisinos.br;
Luana Boroto: luanaboroto@hotmail.com; William Dhein: willdhein@gmail.com
Resumo
Introdução: Exercícios em
cadeia cinética fechada são comumente empregados na reabilitação da Síndrome do
Impacto do Ombro (SIO), condição dolorosa comum em atletas que pode estar
relacionada ao desequilíbrio muscular entre os estabilizadores da escápula. Objetivo: Comparar a atividade eletromiográfica dos músculos estabilizadores da escápula
durante a realização dos exercícios push up e bench press em atletas com e sem SIO. Material e métodos: 10 atletas divididos em dois grupos (com e sem
SIO) realizaram o movimento de push up e bench press. Foram adquiridos dados EMG do trapézio superior
(TS), trapézio médio (TM), trapézio inferior (TI) e serrátil
anterior (SA). O sinal foi normalizado pela contração isométrica voluntária
máxima e apresentado em percentual da CIVM. As comparações foram realizadas por
meio da ANOVA One Way. Resultados: Não houve diferença entre os grupos no bench press. No push up foi
possível observar uma maior atividade eletromiográfica
dos músculos TI e SA nos atletas sem SIO. Em ambos os grupos o músculo SA
obteve maior atividade eletromiográfica no bench press. Conclusão: Os resultados evidenciaram
uma maior atividade eletromiográfica do TI e SA no push up nos atletas sem SIO. Já
no bench press não
houve diferença na atividade EMG entre grupos.
Palavras-chave: eletromiografia,
síndrome de colisão do ombro, escápula, terapia por exercício.
Abstract
Introduction: Closed kinetic chain exercises are commonly prescribed in the
rehabilitation of shoulder impingement syndrome (SIS), which is a common
painful condition in athletes that may be related to imbalance on the scapula
stabilizers muscles. Objective:
Compare the electromyographic activity of the scapula
stabilizing muscles during the push up and bench press exercises in athletes
with and without SIS. Methods: 10
athletes divided into two groups (with and without SIS) performed push up and
bench press exercises. EMG data were acquired for upper trapezius (UT), middle
trapezius (MT), lower trapezius (LT) and serratus anterior
(SA). The signal was normalized by maximal voluntary isometric contraction and
presented as a percentage of MVIC. The comparisons were carried out using ANOVA
One Way. Results: There was no
difference between groups in the bench press. In the push up it was possible to
observe a higher electromyographic activity of the LT
and SA muscles in athletes without SIS. In both groups the SA muscle obtained
higher electromyographic activity in the bench press.
Conclusion: The results evidenced a
greater electromyographic activity of LT and SA in
push up in athletes without SIS. In the bench press, there was no difference in
EMG activity between groups.
Key-words:
electromyography, shoulder impingement syndrome, scapula, exercise therapy.
A síndrome do impacto
do ombro (SIO) é o diagnóstico mais comum entre as causas de dores no ombro e
afeta aproximadamente metade de todos os que sofrem com dores no ombro [1,2]. A
SIO é encontrada em maior índice em jovens que praticam esportes que envolvem
ações repetidas e de grande amplitude como voleibol, handebol, beisebol ou em
pessoas a partir da 4ª e 5ª década de vida que além do processo de
envelhecimento, utilizam o membro superior em posições acima da cabeça durante
atividades ocupacionais, diárias e também esportivas [3,4]. A síndrome é
caracterizada por dor durante a elevação do braço acima da cabeça, ocasionando
redução do espaço subacromial, provocando pinçamento das bursas subacromial/subdeltóidea,
manguito rotador e cabeça longa do bíceps [5].
Entre os diferentes
fatores relacionados à etiologia da SIO, estão as
alterações na ativação dos músculos estabilizadores escapulares, geradas por um
aumento na ativação do músculo trapézio superior e diminuição da atividade do
músculo serrátil anterior, trapézio médio e trapézio
inferior [6-11]. Podem acarretar um aumento da translação superior da escápula,
diminuição da rotação superior e tilt escapular,
resultando assim na redução do espaço subacromial e
predispondo ao impacto nas estruturas osteomioarticulares
da região [12-14]. Nesse sentido, desequilibrios
musculares e alterações no ritmo escapulo umeral podem determinar não só
diminuição do desempenho neuromuscular mas também
predispondo o indivíduo a futuras condições dolorosas ou lesões no ombro como a
SIO [10,13,15,16].
Tendo em vista as
alterações em pacientes com SIO, novos métodos de reabilitação do complexo do
ombro ressaltam a estabilização dinâmica da escápula, principalmente dos
músculos da cintura escapular. Nesse sentido, exercícios de
estabilização escapular em cadeia cinética fechada tem sido empregados
em programas de reabilitação, visando uma ativação dos músculos da cintura
escapular com o objetivo de alcançar um equilíbrio de forças musculares e com
isso uma adequada cinemática escapular [17-22].
Os exercícios em
cadeia cinética fechada push up e bench press, são
frequentemente utilizados em protocolos de reabilitação e em treinamentos
direcionados a performance recreacional
ou atlética [17,23]. Estes exercícios auxiliam na recuperação da estabilidade
dinâmica da articulação glenoumeral, uma vez que
envolvem mecanismos neuromusculares que possibilitam a coativação
da musculatura estabilizadora desta articulação sendo estes eficazes para
aquisição e manutenção de uma base estável para os diversos movimentos do ombro
[18].
Segundo Oliveira et al. [24] e Brum et al. [25], a avaliação eletromiográfica
tem sido utilizada para avaliar o efeito dos exercícios de estabilização em
cadeia cinética fechada nos músculos estabilizadores da escápula. Assim,
possibilitando uma melhor compreensão dos padrões de ativação, o que pode
tornar mais clara a inclusão dos exercícios em programas de treinamento e
reabilitação. Contudo, a utilização de exercícios e o estímulo que os mesmos
proporcionam nos músculos estabilizadores da escápula pode ser diferenciado
devido a presença ou não da SIO. Deste modo, o
presente estudo tem como objetivo comparar a atividade eletromiográfica
dos músculos estabilizadores da escápula durante a realização dos exercícios push up e bench press em
atletas universitários com e sem síndrome do impacto do ombro.
O presente estudo
possui caráter quantitativo, observacional transversal. A pesquisa respeitou
todos os aspectos éticos conforme a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de
Saúde e foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade do Vale do
Rio dos Sinos (CEP-UNISINOS), sob o no 2.125.576/2017.
A amostra foi
intencional e não probabilística composta por 10 atletas universitários do sexo
masculino, faixa etária entre 18 a 35 anos, participantes das equipes
esportivas de voleibol e handebol de uma universidade do Vale do Rio dos Sinos.
Como critério de inclusão os atletas selecionados deveriam possuir pelo menos
seis meses de prática da modalidade esportiva, frequência mínima de duas vezes
por semana e sendo a carga de treinamento semanal superior a três horas.
Os atletas
selecionados que se enquadraram nos critérios propostos foram divididos em dois
grupos com igual número de participantes: o primeiro grupo foi composto por 5 (50%) atletas que possuíam diagnóstico clínico de Síndrome
do Impacto do Ombro confirmado por ecografia ou ressonância magnética e que
apresentaram sinal positivo em pelo menos um teste ortopédico (teste de Neer; teste de Jobe; teste de Hawkins Kennedy; teste de Subescapular de Gerber). Já o grupo sem SIO foi composto por 5 (50%) atletas sem histórico de lesão no complexo articular
do ombro há pelo menos um ano. Foram excluídos da pesquisa os atletas que
apresentaram: histórico de cirurgias e fraturas no complexo articular do ombro,
cintura escapular e/ou cervical, luxação ou subluxação,
lesão nervosa periférica e doenças articulares degenerativas.
As coletas foram
realizadas no Laboratório de Biomecânica em uma universidade do Vale do Rio dos
Sinos nos dias e horários agendados conforme disponibilidade dos participantes.
Todos os participantes da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre
Esclarecido (TCLE). Inicialmente os atletas foram submetidos a uma anamnese, a
qual foram registradas informações pessoais (nome,
idade, profissão, data de nascimento), informações sobre a modalidade esportiva
praticada (tempo e frequência da modalidade), histórico de lesões
diagnosticadas no complexo articular do ombro, tratamento cirúrgico no ombro,
cintura escapular e/ou cervical. A seguir, os atletas foram submetidos a avaliação da estatura e massa corporal, por meio de uma
balança (Marca Mondial) e uma fita métrica presa à
parede. Por fim, foram realizados testes ortopédicos na seguinte ordem: o teste
de Jobe, teste de Neer,
teste de Hawkins Kennedy e teste de Subescapular de Gerber. Os atletas que apresentavam SIO diagnosticada por
exame de imagem e resultado positivo em pelo menos um teste ortopédico foram
incluídos no grupo com SIO. Tendo a inclusão, a avaliadora instruiu o
aquecimento e familiarização com os exercícios avaliados.
A seguir os atletas
foram submetidos à realização de tricotomia e limpeza da pele com lamina e
álcool nas regiões de posicionamento dos eletrodos de superfície. Foram
posicionados eletrodos sobre os músculos trapézio superior
(TS), trapézio médio (TM), trapézio inferior (TI) e serrátil
anterior (SA) capturados através de um eletromiógrafo
de 16 canais (Marca EMG system do Brasil) dotado de um conversor A/D de 32 bit
conectado a um notebook (Marca Dell) com uma taxa de amostragem de 2000 Hz.
Os eletrodos de
superfície utilizados eram da Marca Kendall modelo Meditrace 200, diâmetro de 10 mm
em forma de disco, autoadesivos descartáveis de prata/cloreto de prata (Ag/AgCl) na configuração bipolar. A
distância entre os eletrodos foi de 20 mm, a fixação dos mesmos foi realizada
através de fitas hipoalergênicas para minimizar
possíveis deslocamentos dos eletrodos. O posicionamento dos eletrodos para os
músculos TS, TM e TI foi realizado de acordo com as recomendações do European Recommendations
for Surface Electromyography
do projeto SENIAM [26]. Uma vez que o músculo SA não constava nestas
recomendações, o posicionamento dos eletrodos baseou-se no estudo de Hintermeister et al. [27]. O
eletrodo de referência foi posicionado sobre a clavícula direita. Para os
atletas sem SIO, os eletrodos foram posicionados no membro dominante, já para
os atletas com SIO os eletrodos foram posicionados no membro superior
lesionado, caso o atleta apresenta-se os dois membros
superiores lesionados, foi avaliado o membro superior dominante.
Após colocação dos
eletrodos, os atletas foram submetidos a realização de
três contrações isométricas voluntárias máximas (CIVM) para cada um dos
músculos avaliados. As CIVM para os músculos TS, TM e TI foram realizadas
segundo Konrad [28] e para o músculo SA segundo Ludewig
et al. [17]. As CIVM tiveram duração de
sete segundos com intervalo de três minutos entre cada repetição.
Concluídas as CIVM,
houve um período de descanso de dez minutos para evitar possível fadiga
muscular, que poderia influenciar a captação do sinal EMG durante os
exercícios. Após, foram dadas orientações do posicionamento para a realização
dos exercícios propostos: (1) Bench press; (2) Push up. No exercício bench press (Figura 1A), o atleta era
posicionado em decúbito dorsal em um colchonete, com flexão de quadril e
joelhos e com os pés apoiados no solo. Os membros superiores flexionados a 90°
na articulação do ombro, com os cotovelos em extensão total e punhos em
extensão de 90°. O exercício push up (Figura 1B), o atleta foi posicionado em quatro
apoios, com o quadril e joelhos flexionados a 90°, tronco paralelo ao chão. Os
membros superiores flexionados a 90° na articulação do ombro, com os cotovelos
em extensão total e punhos em extensão de 90°.
Figura
1 - Posicionamento dos exercícios Bench press (A) e Push-up (B).
Nos dois exercícios
realizados os atletas de forma isométrica realizaram a abdução da escápula e a protração da clavícula. Os exercícios foram realizados com
esforço isométrico máximo e a manutenção da mesma durante todo o tempo de
coleta. Em cada exercício foram realizadas três repetições com duração de dez
segundos. Foi fornecido um intervalo de três minutos entre as repetições e
cinco minutos entre cada exercício. Para determinar o início e fim de cada
repetição foi utilizado um sensor de contato que compõe o equipamento utilizado
para a coleta (Marca EMG system do Brasil). Este sensor foi posicionado entre a
mão do membro superior dominante ou lesionado e o local da aplicação da
resistência, possibilitando assim a avaliação do início e fim de cada repetição
realizada. A avaliadora permaneceu atenta para evitar que os atletas
executassem qualquer movimento compensatório durante a realização dos
exercícios. Ao final da coleta foram retirados os eletrodos e realizada a
limpeza da pele.
A análise eletromiográfica foi realizada no software Biomec SAS. Inicialmente os
sinais EMG obtidos durante a execução das CIVM e dos exercícios tiveram a
remoção do off set, sendo após submetidos aos
seguintes procedimentos, de filtragem digital, através do filtro passa banda de
4ª ordem, com banda de frequência entre 20 e 500 Hz. Os sinais EMG foram
processados no domínio do tempo a partir do cálculo de envelope RMS (Root Mean Square)
com janelamento Hamming de 0,5 segundos. O maior
valor RMS obtido nas três CIVM foi utilizado para normalizar os sinais
adquiridos durante as execuções dos exercícios propostos. Depois dos sinais
serem normalizados foram adquiridos os valores de
média do percentual da CIVM obtido durante os exercícios.
A análise estatística
foi realizada no software SPSS 20.0. As variáveis antropométricas e
demográficas dos atletas com e sem SIO, foram comparadas através do teste t de student para os dados paramétricos e o teste de
Mann-Whitney para os não-paramétricos. Foram
verificadas a normalidade dos dados e a homogeneidade das variâncias pelos
testes de Shapiro-Wilk e de Levene
para os dados de EMG. Posteriormente confirmando a normalidade dos dados, para
comparar a atividade EMG dos músculos estabilizadores da escápula durante a
realização dos exercícios push up e bench press entre os atletas universitários com e sem SIO,
foi realizado uma ANOVA One Way e um teste de Post
hoc de Bonferroni, tendo como fator a presença ou não
de SIO. Para comparar atividade EMG dos músculos estabilizadores da escápula
nos exercícios dentro dos grupos foi realizado um teste t para amostras
dependentes. O nível de significância adotado foi de 5%.
A tabela I apresenta
a comparação dos valores de média e o desvio padrão das características
demográficas e antropométricas dos atletas universitários participantes do
estudo com e sem SIO demonstrando que não há diferença entre os grupos
(p>0,05).
Tabela
I - Comparação dos valores de média e desvio
padrão das características demográficas e antropométricas dos atletas com e sem
SIO.
Na tabela II, estão
apresentados os valores de média e desvio padrão da atividade EMG dos músculos
estabilizadores da escápula, nos diferentes exercícios e entre os grupos. Os
resultados demonstraram que no exercício bench press não houve diferença da atividade EMG dos músculos
avaliados entre os grupos (p>0,05). Quando comparados os grupos no exercício
de push up, foi
possível observar diferença para o músculo TI (p=0,019); os atletas sem SIO,
demostraram uma maior atividade EMG (37,59 ± 16,43 % CIVM) quando comparados
com atletas com SIO (21,46 ± 11,3 % CIVM). Também foi observada diferença para
o músculo SA (p=0,016); os atletas sem SIO apresentaram um maior valor de
atividade EMG (30,80 ± 13,94 % CIVM) quando comparado com atletas com SIO
(18,86 ± 13,57 % CIVM).
Tabela
II -
Valores de média e desvio padrão da
atividade EMG dos músculos estabilizadores da escápula nos exercícios bench press e push
up entre os atletas com e sem SIO.
*Diferença
significativa (p<0,05).
A figura 2 apresenta
os resultados nos atletas com SIO entre os exercícios bench press e push up. Os resultados demonstraram que no grupo com SIO o
exercício bench press
apresentou uma maior ativação do músculo TM (12,7 ± 4,9 % CIVM), quando
comparado a atividade EMG (8,5 ± 3,7 % CIVM) no
exercício push up (p=
0,021). Também foi identificada uma maior atividade EMG do músculo SA (p=
0,000), no exercício bench press (62,5 ±
11,76 % CIVM), quando comparado a atividade EMG no
exercício push up (18,86 ± 13,6
% CIVM).
*Diferença
significativa (p<0,05).
Figura
2 - Atividade EMG dos músculos estabilizadores
da escápula nos atletas com SIO.
A figura 3 apresenta
os resultados nos atletas sem SIO, entre os exercícios bench press e push up. Os resultados demonstraram que no
grupo sem SIO o exercício push up
apresentou uma maior atividade EMG do músculo TI (37,6 ± 16,4 % CIVM), quando
comparado a atividade EMG (25,28 ± 19,3 % CIVM) no
exercício bench press (p=
0,021). Também foi identificada uma maior atividade EMG do músculo SA (60,91 ±
14,75 % CIVM), no exercício bench press, quando comparado à atividade EMG (30,8±13,9 %
CIVM) no exercício push up (p=
0,000).
*Diferença
significativa (p<0,05).
Figura
3 - Atividade EMG dos músculos estabilizadores
da escápula nos atletas sem SIO.
O presente estudo
teve como objetivo comparar a atividade eletromiográfica
dos músculos estabilizadores da escápula durante a realização dos exercícios push up e bench press em
atletas universitários com e sem síndrome do impacto do ombro.
Estes exercícios são
tradicionalmente utilizados em programas de reabilitação de indivíduos com SIO,
com objetivo de fortalecimento dos músculos escapulares [17-22,29]. A
utilização destes exercícios se faz necessária devido a indivíduos com SIO
geralmente apresentarem aumento da atividade do músculo TS e diminuição da
atividade do músculo SA, TM e TI [6-11]. Dessa forma, exercícios que ativam
mais TI e SA e menos as fibras do TS são importantes e frequentemente
utilizados em protocolos de tratamento para reestabelecimento de uma adequada
cinemática escapular [6,17,30].
No presente estudo,
observou-se que a atividade EMG dos músculos estabilizadores da escápula variou
conforme o tipo de exercício e a presença ou não da SIO. Os resultados
evidenciaram que no exercício push up os atletas sem SIO demonstraram maior atividade EMG
dos músculos TI e SA, quando comparado com os atletas com SIO. No exercício bench press, não
foi encontrada diferença na atividade EMG do TI e SA entre os grupos.
A maior ativação do
SA e TI nos atletas sem SIO no exercício de push up quando comparado aos atletas com SIO
condiz com o comportamento esperado de estabilização da escápula em indivíduos
saudáveis [10,31,32]. Segundo Ludewig
e Cook [6] e Batista et al. [33], indivíduos com SIO apresentam
menor atividade do TI e SA o que pode gerar uma discinesia
da escápula principalmente durante a realização de movimentos os quais o membro
superior está acima da cintura escapular prejudicando assim o ritmo escapuloumeral. Esta menor ativação muscular está associada
a uma maior rotação superior e inclinação da escápula em indivíduos com SIO,
resultando na diminuição do espaço subacromial, o que
pode aumentar a propensão ao impacto durante a elevação dos membros superiores
[7,34].
A menor ativação do
TI e SA nos atletas com SIO em especial do SA pode sugerir um prejuízo do ritmo
escapuloumeral. O SA está inserido na borda medial e
no ângulo inferior da escápula, tendo como principais ações a abdução da
escápula e a rotação superior, sendo o principal estabilizador da escápula
[35,36]. O SA também é o único entre os músculos escapulotorácicos
que tem a capacidade de contribuir com todos os movimentos tridimensionais da
escápula em relação ao tórax durante a elevação dos membros superiores, mais
especificamente. Esse músculo pode produzir rotação superior da escápula,
inclinação posterior e uma rotação externa ao mesmo tempo em que estabiliza a
borda medial e ângulo inferior da escápula contra o gradil costal durante a
elevação do membro superior [6,37,38]. Sendo assim, é
possível supor que a menor ativação do SA nos atletas com SIO pode prejudicar a
cinemática escapular, levando a uma diminuição do espaço subacromial,
gerando assim uma maior possibilidade de sobrecargas nas estruturas dessa
região [12-14].
A diferença
encontrada entre os atletas com e sem SIO para a atividade EMG dos músculos TI
e SA no presente estudo foi observada apenas no exercício de push up (Tabela II). O push up é um
exercício de cadeia cinética fechada, caracterizado por uma abdução da
escápula, mantendo uma posição relativamente fixa do tórax e dos braços, uma
vez que os cotovelos permanecem estendidos, sendo uma abordagem de exercício
terapêutico utilizado na reabilitação com objetivo de corrigir a cinemática em
indivíduos com lesão no ombro, o qual visa treinar os músculos estabilizadores
da escápula, em particular o SA e o TI [17,22,39-41].
Ao compararmos os
resultados obtidos no presente estudo durante o exercício de push up (Tabela
II) com os resultados obtidos por Moseley et al. [32] e Decker
et al. [31], também foi observada uma
maior atividade EMG dos músculos TI e SA em indivíduos sem lesão no ombro
quando comparados aos indivíduos com lesão. Tal resultado pode ser justificado
pelo movimento ser focado na abdução e adução da escápula, o que levaria a um
maior recrutamento dos músculos TI e SA. Maiores atividades do SA também foram
encontrados em outros estudos da literatura durante o push up [17,24,25] e
bench press
[24,25]. Em contrapartida, Tucker et al. [19] não
observaram diferença entre atletas com e sem SIO durante o exercício push-up, porém comparando este mesmo exercício com
diferentes utensílios visualizou-se uma alteração na atividade EMG do músculo
TM. Em outro estudo, Tucker et al. [20]
analisaram a atividade EMG dos músculos TS, TM, TI e SA, durante o exercício push up comparado ao push-up cuff link e
observaram que durante o exercício tradicional apresentam maior atividade dos
músculos TI e TM e não observaram diferença no SA e TS. Assim, para objetivar o
recrutamento dos músculos com maiores magnitudes, deve-se optar pelo exercício push up, enquanto
que se o profissional objetivar por um menor recrutamento de TI e TM junto com
um recrutamento de SA na mesma magnitude, deve-se utilizar o exercício com cuff link.
Considerando os
resultados do presente estudo referentes ao SA, podemos demonstrar que a
atividade deste músculo aumenta durante o exercício bench
press quando comparado ao push up. Tucci et al. [18]avaliaram o exercício bench press em 20 indivíduos sem lesão no
ombro, também observaram uma maior ativação de SA. Este resultado confirma que
o exercício bench press pode
ser utilizado para ativar preferencialmente o músculo SA. No presente estudo a
maior atividade EMG do SA em relação as diferentes
porções do trapézio foi observada em ambos os grupos. Especula-se que este
resultado seja decorrente da cinemática escapular, visto que a literatura tem
demostrado que os exercícios que envolvem a abdução e/ou rotação superior
escapular são responsáveis pelo maior nível de atividade EMG do SA [31,32,38,42,43].
Sendo assim, o estudo
nos traz indícios do comportamento eletromiográfico
entre atletas saudáveis e atletas com SIO nos exercícios avaliados, os quais,
tradicionalmente inseridos na reabilitação. Entretanto uma limitação deste
estudo está relacionada ao controle e direção da carga utilizada. Por não
termos uma padronização quanto a carga (porcentagem de
esforço isométrica) e a direção da força, isto pode ter influenciado na atividade
EMG dos atletas. Ainda, poderiam ter sido avaliadas diferentes intensidades de
força para evidenciar possíveis alterações na atividade EMG entre os grupos com
diferentes intensidades. A pequena amostra utilizada e focada apenas na
população avaliada pode se diferenciar a indivíduos com SIO não atletas, assim,
para um número adequado de amostras, um cálculo amostral deve ser realizado
para elucidar mais aspectos relevantes. Estudos futuros também devem analisar a
cinemática escapular, para quantificar a posição escapular durante os
exercícios, o que pode auxiliar na explicação dos resultados EMG. Apesar das
limitações, a partir dos resultados os profissionais da reabilitação podem
estabelecer evidências que suportem não somente sua inserção, mas também
orientem o melhor momento da inclusão dos exercícios nos programas de
reabilitação.
Os resultados deste
estudo demostram que a atividade EMG dos músculos estabilizadores da escápula
variou conforme o tipo de exercício e a presença ou não da SIO. No exercício push up foi
possível observar uma maior atividade EMG dos músculos TI e SA nos atletas sem
SIO. No exercício bench press não
houve diferença na atividade EMG dos músculos estabilizadores da escápula entre
os grupos.