ARTIGO ORIGINAL
Efeito de duas técnicas
de alongamento no ganho de flexibilidade de cadeia posterior em mulheres
sedentárias
Effect of two stretching techniques on the flexibility gain of back
chain in sedentary women
Carolina Brito Novais*,
Kleyton Trindade Santos, Ft., M.Sc.**
*Discente do curso de
Fisioterapia, Faculdade Independente do Nordeste, Vitória da Conquista/BA, **Especialista
em Fisioterapia Esportiva (SONAFE/COFFITO), Especialista em Osteopatia e
Fisioterapia Manipulativa (EBRAFIM), Professor da Faculdade Independente do
Nordeste, Vitória da Conquista/BA
Recebido em 21 de
novembro de 2018; aceito em 10 de fevereiro de 2020.
Correspondência: Kleyton
Trindade Santos, Rua Edson Porto, 242, 45340-000 Itiruçu BA
Carolina Brito Novais:
carolnovais21@gmail.com
Kleyton Trindade Santos:
kleyton_santos@hotmail.com
Resumo
Introdução: A perda da
flexibilidade da cadeia posterior resulta em diversas disfunções biomecânicas,
o alongamento apresenta-se como recurso para restauração desse déficit. Objetivo:
Verificar o efeito e comparar a eficácia do alongamento estático e da técnica
de energia muscular para ganho de flexibilidade de cadeia posterior. Métodos:
Estudo de intervenção com grupo controle, que avaliou 27 mulheres, que
apresentavam encurtamento de cadeia posterior, divididas em 3 grupos:
alongamento estático, técnica de energia muscular e grupo controle. Ao final do
período de intervenção as mulheres foram reavaliadas através do banco de Wells.
A comparação das médias, antes e após a realização das técnicas foi avaliada
através do Teste T de Student. Já para verificação da
classificação das mulheres de acordo com o banco de Wells, foi utilizado o
teste de Wilcoxon. Resultados: Houve aumento
significativo em relação as médias após o alongamento estático (aumento de 35%,
p = 0,001) e da técnica de energia muscular (aumento de 72%, p = 0,001),
enquanto o grupo controle se manteve inalterado. Também foi verificado que após
a intervenção, as mulheres tiveram melhores classificações de acordo com o
banco de Wells. Conclusão: Ambas as técnicas foram positivas, entretanto
a técnica de energia muscular mostrou ser mais eficaz.
Palavras-chave: exercícios de
alongamento muscular, fisioterapia, músculos isquiotibiais.
Abstract
Introduction: The loss of flexibility of the posterior chain results in several
biomechanical dysfunctions, the use of stretching presents itself as a resource
to restore this deficit. Objective: To verify the effect and compare the
effectiveness of static stretching and muscle energy technique for gain of
posterior chain flexibility. Methods: Intervention study with a control
group, which evaluated 27 sedentary women, who presented posterior chain
shortening, divided into 3 groups: static stretching, muscular energy
technique, and the control group. At the end of the intervention period women
were revaluated through the Banco de Wells. The comparison of means, before and
after the performance of the techniques was evaluated through Student's T-Test.
The Wilcoxon test was used to verify the classification of women according to
the Banco de Wells. Results: There was a significant increase in the
means after static stretching (35% increase, p = 0.001) and muscle energy
technique (72% increase, p = 0.001), while the control group remained
unchanged. It was also verified that after the intervention, the women had
better ratings according to the Banco de Wells. Conclusion: Both
techniques were positive in obtaining hamstring flexibility. However, the
muscle energy technique was more effective when compared to static stretching.
Keywords: muscle stretching exercises, physical therapy, muscles hamstrings.
A flexibilidade
refere-se à extensibilidade dos tecidos moles das articulações e tem uma
importância direta para que ela possa realizar sua máxima amplitude de
movimento (ADM). A falta ou diminuição dessa flexibilidade poderá ter relação
com o encurtamento de músculo isolado ou cadeias musculares, como é o caso da
cadeia posterior que ao encurta-se gera diversas consequências na biomecânica
do indivíduo podendo resultar em lesões [1-3].
Para a obtenção,
recuperação e manutenção de flexibilidade, a fisioterapia juntamente com a
terapia manual traz um leque de técnicas que cada vez mais vem crescendo e se
aprimorando. O alongamento muscular é um dos recursos mais utilizados na
prática clínica, pois consiste em técnicas empregadas para aumentar a extensibilidade
musculotendínea e do tecido conjuntivo periarticular, promovendo assim um ganho de flexibilidade
[1,4,5].
Dentre as diversas
formas de alongamento, podemos destacar o alongamento estático (AE) e a técnica
de Músculo Energia (TME). O primeiro consiste em sustentar o músculo na posição
de alongamento máximo por 1’ tendo como principal característica gerar
deformações nas fibras de colágeno e de elastina na musculatura, para que assim
se possa melhorar a condição de flexibilidade, enquanto a segunda parte de
princípios como relaxamento pós-isométrico e a inibição recíproca após
contrações isométricas e isotônicas [6,7].
Desta forma a
utilização das técnicas de alongamento mostra-se como estratégia importante,
podendo ser utilizada na prática clínica e nos estudos científicos, visto que
na literatura estudada percebesse a escassez sobre o tema abordado. Diante do
exposto, este estudo objetivo verificar o efeito e comparar a eficácia do AE e
da TME para ganho de flexibilidade de cadeia posterior.
Estudo analítico e
descritivo, randomizado com grupo controle, que ocorreu com acadêmicas de uma
Faculdade, no Município de Vitória da Conquista/BA.
A cidade de Vitória da
Conquista está localizada no sudoeste da Bahia, de acordo com o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sua população é de 346.069
habitantes, e é a terceira maior cidade do estado da Bahia. Está localizada a
509 km da capital, Salvador [8].
A pesquisa foi
conduzida entre setembro e outubro de 2017, e contou com a aprovação do Comitê
de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade Independente do Nordeste (FAINOR),
através do número de CAAE: 70470617.9.0000.5578, e parecer de aprovação de
número: 2.234.721. Inicialmente foi realizado um rastreamento voluntário da
flexibilidade de cadeia posterior entre as acadêmicas do curso de fisioterapia,
utilizando como instrumento o banco de Wells, e seguindo sua padronização e
classificação quanto ao nível funcional de flexibilidade [9].
Destaca-se que para o
presente estudo foi adotado como critério de exclusão: indivíduos que
apresentassem lesão ou patologia diagnosticada e estivessem realizando qualquer
tipo de atividade física.
Após
essa primeira
etapa, 42 mulheres apresentaram encurtamento, porém 15
não quiseram e/ou não
tiveram disponibilidade de participar do estudo, restando 27 pessoas,
que foram
as que constituíram a amostra final. Após assinarem o
Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) e responderem o questionário
sociodemográfico, as
alunas foram dividias em 3 grupos com 9 pessoas cada através de
um sorteio,
sendo eles: Grupo A foi realizado o AE, o alongamento se manteve
sustentado por
1’ sendo realizando 3 repetições em cada membro. Ao
Grupo B foi aplicada a TME
com duração de 1’ sendo, 15’’ de
contração muscular e 5’’ de relaxamento
durante 3 repetições em cada membro. Grupo C - grupo
Controle (GC) - não foram
aplicadas nenhuma das técnicas.
As aplicações das
técnicas foram realizadas durante 1 mês, 2 vezes por semana. Ao final da
intervenção realizou-se uma nova avaliação da flexibilidade desses indivíduos,
através do banco de Wells, para mensurar se houve ou não aumento na
flexibilidade de cadeia na população estudada.
A apreciação
estatística desta pesquisa foi realizada pelo pacote estatístico SPSS (Statistical Package for
Social Sciences) versão 22.0. Foram calculadas as
frequências relativas e absolutas de todas as variáveis de interesse. A
comparação das médias da flexibilidade de cadeia posterior, antes e após a
realização das técnicas foi avaliada através do Teste T de student.
Já para verificação da classificação das mulheres de acordo com o enquadramento
funcional do banco de Wells, antes e após a realização das técnicas, foi
utilizado o teste de Wilcoxon. O nível de
significância adotado em todas as análises foi de 5% (α = 0,05).
A idade das
participantes variou de 18 a 35 anos, com idade média de 23,4 anos. Através dos
resultados encontrados, foi possível verificar por meio da Tabela I que os
grupos que realizaram a TME ou o AE tiveram aumento nas suas médias,
demonstrando que esses tipos de alongamento interferem e estão associados ao
ganho de flexibilidade de cadeia posterior. É possível observar também que a
TME foi o que obteve melhor ganho nos indivíduos, podendo ser considerado o melhor
tipo de alongamento no presente estudo.
Tabela I - Comparação entre
as médias de flexibilidade de cadeia posterior. Vitória da Conquista/BA, 2017.
*Teste Student; ¹Média antes do procedimento; ²Média depois do
procedimento; ³Desvio-Padrão;
Fonte: dados da
pesquisa.
Ao proceder com as
comparações entre a classificação funcional da flexibilidade de acordo com o
Banco de Wells, notou-se que através da utilização da TME e do AE houve
melhoras nas classificações médias de flexibilidade de forma significativa (p=
0,024 e 0,006 respectivamente) dos indivíduos que eram considerados encurtados
(abaixo da média e ruim), ficando ambos os grupos com predominância de
indivíduos não encurtados. O grupo controle continuou inalterado (Tabela II).
Tabela II - Comparação da
classificação funcional de acordo com o Banco de Wells, antes e após a
intervenção, Vitória da Conquista/BA, 2017.
*Teste Wilcoxon
Compreender
a
utilização das técnicas e ter a
comprovação através de evidências
científicas
da sua aplicabilidade é de extrema importância para o
profissional da área de
saúde, por servir de base para uma melhor abordagem funcional
frente ao seu
cliente/paciente.
Através deste estudo
foi possível verificar que tanto o AE quanto a TME melhoraram a flexibilidade
de isquiotibiais, uma vez que entre os grupos que realizaram uma ou outra
técnica os valores da média do banco de Wells foram significativamente maiores
após a intervenção, enquanto no GC se manteve sem mudanças nos valores.
Esses resultados
corroboram diversas literaturas que afirmam o ganho agudo de flexibilidade em
cadeia posterior, após a aplicação contínua de alongamento. Andrade et al. [10]
demonstraram que o AE foi capaz de aumentar de forma significativa a amplitude
de movimento (ADM) da cadeia posterior de forma imediata, enquanto que Costa et
al. [11] apresentaram em seu estudo que a aplicação da TME foi eficaz na
obtenção de flexibilidade dos isquiotibiais, com ganho médio, em graus, de
18,150 (± 8,647) em Membro Inferior Esquerdo (MIE) e de 20,000 (± 10,005) em
Membro Inferior Direito (MID).
Para Souza [12],
exercícios de alongamento utilizados de forma aguda ou crônica são eficazes
para alterar propriedades musculares, uma vez que geram um aumento da
temperatura muscular, que por consequência aumenta a vasodilatação, promovendo
uma redução da rigidez muscular proporcionando aumento e manutenção da
amplitude articular, pois alteram as características visco-elásticas da
musculatura, gerando assim uma maior flexibilidade de uma articulação.
Também foi observado
neste estudo que, embora ambos alongamentos melhorassem o ganho de
flexibilidade posterior, a TME apresentou melhores benefícios se comparados ao
AE, aumentando 72% em média de flexibilidade, enquanto o AE aumentou 35%. Esses
resultados assemelham-se aos resultados de Morcelli et
al. [13] que evidenciaram que a TME é mais eficaz do que o alongamento
estático no ganho de flexibilidade e justifica o maior ganho de flexibilidade
através da TME com base em propriedades neurofisiológicas que promovem a
inibição recíproca. Ou seja, enquanto um grupo muscular é ativado, o seu
antagonista é inibido possibilitando melhor capacidade de alongamento muscular.
Ao proceder com a
verificação de mudanças na flexibilidade e o enquadramento na classificação
funcional conforme classificação do Banco de Wells, após a realização das
técnicas, observou-se que tanto com a realização do AE, quanto a TME, fez com
que as mulheres mudassem para classificações melhores, de maneira significativa
(p = 0,006 e p = 0,024, respectivamente).
Uma hipótese para que o
aumento da flexibilidade após as técnicas de alongamento venha a proporcionar
os maiores valores de acordo com a classificação do banco de Wells, seria
recorrente de um aumento na viscoelasticidade dos músculos utilizados,
proporcionando assim um aumento na amplitude articular, consequentemente um
score final maior no teste [14].
O estudo apresentou
como principal limitação a amostra reduzida, devido a adesão das acadêmicas a
pesquisa. Entretanto, através da seleção do tipo de estudo de intervenção com
grupo controle, e seu delineamento de seleção aleatória, acrescentado a força
estatística apresentada, é possível que seus resultados sejam expandidos e
sirvam de base tanto para atuação prática, quanto para base de pesquisas
futuras.
Com base nos resultados
apresentados pelo presente estudo é possível concluir que ambas as técnicas
foram positivas na obtenção de flexibilidade nos isquiotibiais, entretanto a
TME se mostrou mais eficaz se comparada com o AE. Dito isso, os resultados
encontrados tornam-se subsídio para a realização de novos estudos que analisem
a diferença entre os tipos de alongamento, aspectos fisiológicos da população
estudada, bem como a permanência dos efeitos após aplicação da técnica.