ARTIGO
ORIGINAL
Aplicação
e comparação de duas equações preditas para o teste de caminhada de seis
minutos em indivíduos hipertensos
Application and comparison of two predicted equations for the six-minute
walk test in hypertensive subjects
Paula Marcela Junqueira e Silva*, Caroline Ribeiro de Sousa**,
Larissa de Paula Cardoso**, Marcela Couto Coelho**, Thais Toledo de Barros Ribeiro**,
Andréia Maria Silva, Ft., D.Sc.***, Giovane Galdino de Souza, Ft, D.Sc.***, Juliana
Bassalobre Carvalho Borges, Ft, D.Sc.***
*Especialista em Fisiologia do Exercício pela Universidade Federal
de Alfenas (UNIFAL/MG), Graduada em Educação Física pelo Instituto Federal do Sul
de Minas (IF Sul de Minas), Muzambinho/MG, **Graduanda em Fisioterapia pela UNIFAL/MG,
***Docente do Curso de Fisioterapia da UNIFAL/MG
Recebido em 27 de novembro de 2017; aceito em 12 de novembro
de 2018.
Endereço
de correspondência:
Juliana Bassalobre Carvalho Borges, Universidade Federal de Alfenas, Unidade Educacional
II Alfenas, Av. Jovino Fernandes Sales, 2600, 37133-840 Alfenas MG, E-mail:
juliana.borges@unifal-mg.edu.br; Paula Marcela Junqueira e Silva:
paulinhajunqueiraedf@gmail.com; Caroline Ribeiro de Sousa:
carolmglim@gmail.com; Larissa de Paula Cardoso: larissapcardoso@gmail.com;
Marcela Couto Coelho: mcouto736@gmail.com; Thais Toledo de Barros Ribeiro:
thaistbribeiro@gmail.com; Andreia Maria Silva: andreiamarias96@gmail.com;
Giovane Galdino de Souza: giovanegsouza@yahoo.com.br
Resumo
Introdução: O Teste de
Caminhada de 6 minutos (TC6) tem sido utilizado especialmente para mensurar a
capacidade funcional e avaliar a eficiência de diversos tratamentos
cardiovasculares. Objetivo: O
objetivo do presente estudo foi aplicar e comparar as equações preditas do TC6,
em indivíduos hipertensos participantes de reabilitação cardiovascular (RCV). Material e métodos: A amostra foi
composta por 39 pacientes de ambos os sexos (masculino: 11 e feminino: 28) com
média de idade 57,5 ± 11 anos portadores de hipertensão arterial. Resultados: Após o programa de RCV foi
verificado um aumento significativo (p < 0,001) da distância caminhada no
TC6 quando comparada aos valores antes da RCV (514,7 ± 100,6 x 382,4 ± 116,3
m). Entretanto, não houve diferença estatística quando comparado os valores
preditos das duas equações. Conclusão:
A distância percorrida no TC6 foi maior após a RCV quando comparada aos valores
iniciais, demostrando que a RCV produz benefícios na capacidade funcional dessa
população. Além disso, os resultados sugerem que as duas equações avaliadas,
tem aplicabilidade semelhante para a população de indivíduos hipertensos
brasileiros.
Palavras-chave: teste de caminhada,
exercício, hipertensão.
Abstract
Introduction: The 6-minute Walk Test (6MWT) has been used especially to measure
functional capacity, to evaluate the efficiency of various cardiovascular
treatments. Objective: The objective
of the present study was to apply and compare the predicted EQ6 equations in hypertensive
individuals participating in cardiovascular rehabilitation (CR). Methods: The sample consisted of 39
patients of both sexes (male: 11 and female: 28) with mean age 57.5 ± 11 years
old with arterial hypertension. Results:
After the CR program, was verified a significant increase (p < 0.001) in the
6MWT when compared to values before of CR (514.7 ± 100.6 x 382.4 ± 116.3 m).
However, there was no statistical difference when compared to the predicted
values of the two equations. Conclusion:
The distance walked on the 6MWT was higher after the RCV when compared to the
initial values, showing that the RCV produces benefits in the functional
capacity of this population. In addition, the results suggest that the two
equations evaluated have similar applicability for the population of Brazilian
hypertensive individuals.
Key-words: walk test,
exercise, hypertension.
O Teste de Caminhada
de 6 minutos (TC6) foi desenvolvido especialmente para mensurar a capacidade
funcional, avaliar a eficiência de diversos tratamentos cardiovasculares e
determinar o prognóstico em pacientes com doenças cardiorrespiratórias. O teste
ergométrico é o teste de primeira escolha e recomendado para pacientes com
disfunções cardiovasculares e/ou respiratórias, tendo como um dos seus
principais objetivos avaliar o risco e a capacidade cardiovascular. No entanto,
esses indivíduos apresentam em muitos casos, intolerância ao exercício. Nessas
situações, o TC6 é recomendado para substituição do teste ergométrico em casos
clínicos e, nos últimos anos, tem sido muito utilizado também em pesquisas [1].
Nesse contexto, além
dos valores obtidos em relação ao consumo máximo de oxigênio (VO2máx) que apresentam boa correlação, o TC6 é
uma metodologia de avaliação facilmente aplicada e de baixo custo. O TC6 é bem
relacionado com as atividades funcionais do dia a dia e é mais aceito pelos
pacientes pela facilidade de execução, ganhando grande importância nos últimos
tempos [2-4].
O comitê de
padronização de função pulmonar da American
Thoracic Society (ATS)
desenvolveu e publicou em 2002, o guideline sobre TC6, escolhido por ser de fácil
administração e de maior tolerância, além de refletir melhor as atividades da
vida diária [5]. Além disso, em uma revisão metodológica, Solway
et al. [6] constataram que o TC6 tem sido
a ferramenta de avaliação mais amplamente pesquisada e bem fundada, detectando
que sua eficácia vem se sintetizando em três áreas: efeito do encorajamento,
testes seriados e horário do teste. Desses estudos, 28 validaram o teste,
apresentando uma forte correlação com o VO2máx,
e a capacidade máxima de trabalho.
No entanto, existem
vários questionamentos quanto à padronização da técnica de execução e elementos
que podem interferir na sua eficácia. Devido a sua característica de duração
controlada, o TC6 sofre influência de fatores externos, como, por exemplo, o
gasto energético e a motivação. Por essa razão, as orientações e o nível de
incentivo devem ser cautelosamente padronizados [5].
Além disso, muitos
fatores demográficos podem influenciar na distância percorrida no TC6, tanto em
indivíduos saudáveis como em indivíduos com doenças crônicas. Normalmente, as
mulheres e os pacientes com menor estatura se deparam com menor comprimento das
passadas, o que influencia na distância percorrida no TC6. Além disso, idosos,
indivíduos com sobrepeso ou com distúrbios musculoesqueléticos, geralmente,
apresentam baixo percentual de massa magra, influenciando negativamente na
distância percorrida no teste. Devido a esses fatores extrínsecos, algumas
equações de referência à previsão da distância percorrida no teste (DTC6) estão
disponíveis na literatura [2-4].
As equações de
regressão divulgadas na literatura para o TC6 mostram grande variabilidade em
seus resultados, devido à variação na aplicação de protocolos e populações
avaliadas. No estudo de Kervio et al. [7], os participantes com idade entre 60 e 70 anos realizaram
cinco (TC6) em diferentes horários e dias e observaram menor distância
percorrida nos dois primeiros testes, considerando, segundo o autor, a importância
de ao menos dois testes para a treinamento. Por outro lado, se o teste é
realizado incentivando o paciente, o resultado pode ser melhor e não há
necessidade de realizar o teste mais de uma vez [8]. Além da aplicação de
diferentes protocolos quanto ao número de testes a serem executados, outras
variáveis como idade, peso, sexo e altura devem ser consideradas
[2]. Em adição, muitos desses estudos foram realizados antes do consenso sobre
o TC6 da ATS ser publicado, o que explica, em parte, a grande variação nos
resultados no teste. O TC6 atualmente ainda é pouco aplicado em populações
saudáveis. No entanto, existem valores de referência para a distância
percorrida em crianças e adolescentes, para indivíduos adultos e para idosos
saudáveis. Estudos realizados por Barst et al. [9] e Li et al. [10] demonstraram a validade e a confiabilidade do TC6 em
crianças chinesas saudáveis com idade de 14,2 (± 1,2) anos, visando avaliar a
performance e a capacidade funcional. Já na população idosa, segundo estudos
feitos por Lord et al. [11] e Barata et al.
[12], o TC6 deixou de ser utilizado apenas como um medidor característico da
capacidade cardiovascular e passou a ser visto como um indicador da capacidade
global em idosos, já que analisa as respostas dos sistemas cardiovascular,
respiratório e muscular periférico.
Posteriormente,
outros estudos com equações específicas para diversas populações foram
desenvolvidos por outros autores, como Camarri et al. [13] para australianos, e Masmoudi et al.
[14] para indivíduos sedentários tunisianos, com idade entre 40 e 80 anos.
Segundo Dourado et al. [1], foi a partir de 2009 que
surgiram estudos com equações preditivas para a população brasileira, e suas
principais individualidades [1,15,16]. Em adição, Dourado et al. [1] relatam que as equações estrangeiras não são adequadas
para população brasileira, indicando a equação de Iwama
et al. [17] a mais apropriada para
interpretar o desempenho no TC6 de pacientes brasileiros com doenças crônicas.
Dessa forma, o
objetivo do presente estudo foi aplicar e comparar duas equações preditas do
TC6 descritas por Enright e Sherrill
[2] e por Iwama et al. [17], em indivíduos hipertensos participantes de reabilitação
cardiovascular.
Foi realizado um
estudo quasi experimental, quantitativo e descritivo
de indivíduos hipertensos, encaminhados para tratamento no setor de
Fisioterapia Cardiovascular, na Clínica de Fisioterapia da Universidade Federal
de Alfenas (UNIFAL) na cidade de Alfenas/MG.
O estudo foi aprovado
pelo comitê de ética (parecer no: 1.936.088), com anuência aprovada pela
coordenação da clínica de fisioterapia da UNIFAL e todos os indivíduos
assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. A reabilitação cardiovascular
RCV foi realizada duas vezes por semana, com duração de 60 minutos, totalizando
16 sessões. A intensidade de treino foi calculada pela equação de Karvonen, entre 60% e 70%. As sessões eram compostas por 15
minutos de aquecimento, 30 minutos de condicionamento e encerrada com 15
minutos de desaquecimento.
A amostra foi
composta por 39 pacientes de ambos os sexos (masculino: 11 e feminino: 28) com
média de idade 57,5 ± 11 anos portadores de hipertensão arterial. Foram
excluídos aqueles que não completaram 16 sessões de RCV, aqueles que apresentam
deficiência visual ou patologias neurológicas e ortopédicas que interfiram no
TC6, e aqueles que se recusaram a participar.
Todos os indivíduos
foram submetidos à avaliação de antropometria (massa corporal, altura, e
cálculo do índice de massa corporal (IMC), pressão arterial e TC6. O IMC foi
avaliado por meio do cálculo entre massa corpórea em kg, dividida pela altura
em metro ao quadrado. A classificação do IMC foi em: abaixo do peso <18,5; eutrófico 18,5 a 24,9; sobrepeso 25 a 29,9; obesidade grau
30 a 34,9 e obesidade grau 3 de 35 a 39,9 kg/m2
[18].
O TC6 foi realizado
em corredor plano e com sombra, de 30m comprimento, no qual os indivíduos foram
orientados a caminhar a maior distância possível, sem correr, durante seis
minutos, com incentivo verbal a cada minuto. O TC6 foi conduzido de acordo com
as diretrizes preconizadas pela ATS [5]. No início e no final do teste foram
monitorados os sinais de: frequência cardíaca (FC), frequência respiratória
(FR), pressão arterial sistólica e diastólica (PAS e PAD), escala de percepção
subjetiva do esforço de Borg e a saturação periférica
de oxigênio (SpO2). Dentre os riscos
durante o teste, os participantes poderiam apresentar fadiga, dor e sincope,
porém nenhum foi relatado. Já em relação aos benefícios, esperamos demonstrar
que ambos as equações são aplicáveis para predizer a distância caminhada em
hipertensos.
Para análise da
distância predita, foram utilizadas duas equações de referência em nosso
estudo, a de Enright e Sherrill
[2] e a descrita por Iwama et al. [17], sendo a primeira uma equação desenvolvida para
indivíduos estrangeiros, e a segunda desenvolvida no Brasil [2,17].
A equação
desenvolvida por Enright e Sherrill
[2] se diferencia pelo sexo a ser analisado. Sendo a seguinte fórmula para o
sexo masculino:
Distância predita =
(7,57 x estatura cm) – (5,02 x idade anos) – (1,76 x peso kg) – 309
e para o sexo
feminino:
Distância predita=
(2,11 x estatura cm) – (2,29 x peso kg) – (5,78 x idade anos) + 667.
Já, a equação de Iwama et al. [17] é utilizada para ambos os
sexos:
Distância predita m=
622, 461 – (1,846 x Idade anos) + (61,503 x Gênero homens = 1; mulheres = 0)
[2,17].
Para análise
estatística, os resultados foram expressos com a média ± E.P.M. Foi utilizado o
teste de Kolmogorov Smirnov
para testar a normalidade e para a comparação entre os grupos o teste t
pareado, sendo nível de significância adotado de 5%. As análises estatísticas
foram realizadas usando o software
SPSS para Windows, versão 2.0
(Chicago, IL, EUA).
Na avaliação
antropométrica inicial observou-se que 79,4% dos pacientes estavam acima do
peso com IMC de 30,5 ± 8,25 kg/m2. Na avaliação da PA em repouso,
foi verificado que valores médios de pressão arterial sistólica (PAS) 128,0 ±
15,5 mmHg e diastólica (PAD) 82,0 ± 13,6 mmHg estavam
controlados.
Em relação às doenças
associadas, encontraram-se 12% com diabetes melitus,
além da hipertensão arterial e todos declaram ser sedentários.
A Figura 1 demonstra
que a distância média percorrida no TC6 após 16 sessões do programa de RCV foi
significantemente maior quando comparada à distância percorrida antes da RCV
(514,7 ± 100,6 m x 382,4 ± 116,3 m, p < 0,001).
Em relação aos
valores preditos do TC6, na equação 1 [2] o valor
predito foi de 499,7 ± 77,7 m enquanto na equação 2 [17] o valor foi de 516,1 ±
22,2 m (Figura 1). Quando comparados esses valores, não foi observada diferença
significativa (p = 0,112). Entretanto, houve diferença estatística na
comparação do TC6 percorrido inicial com os valores preditos das duas equações
(p < 0,001), porém na distância percorrida final o resultado não foi
significante (Figura 1).
Comparação dos valores
preditos da equação 1 (Enright
e Sherrill DL [2]) e 2 (Iwama
et al. [17]). Os dados representam a
média + E.P.M; ***Indica a diferença estatística dos
valores preditos de distância caminhada no teste de caminhada de 6 minutos
(DCTC6) quando comparado a DCTC6 inicial; ### indica a diferença estatística da
DCTC6 no final do programa de reabilitação cardiovascular comparado a DCTC6
inicial, avaliados pelo teste de Kolmogorov Smirnov seguido de teste t pareado.
Figura
1 - Distância percorrida no teste de caminhada
de 6 min (TC6) antes e após o programa de reabilitação cardiovascular.
Estudos com base
populacional realizados em algumas cidades brasileiras apontam resultados com
números de hipertensão arterial (≥ 140/90 mmHg)
de 22,3% a 43,9% da população [19], sendo uma importante casuística de
investigação. Um estudo realizado por Hallal et al. [20] mostrou que a prevalência de
sedentarismo na população brasileira está entre 26,7 e 78,2%. Quando
considerada somente a atividade física em períodos de lazer, essa prevalência
varia entre 55,3 e 96,7%. Dados importantes levando em consideração que todos
os participantes do presente estudo se declararam sedentários [20]. No presente
estudo a média do IMC dos participantes foi de 30,5 ± 8,25 kg/m2,
indicando obesidade grau 1. A massa corporal em
demasia é um fator suscetível para a hipertensão, podendo ser o causador em
torno de 20 a 30% dos casos de hipertensão arterial [18].
Baseado em uma
modificação feita por Cooper [21], o TC6 tornou-se uma medida de avaliação
simples, de baixo custo e eficaz em exercícios físicos e em programas de
reabilitação. Existe evidentemente a necessidade de utilizar uma metodologia
padronizada, principalmente quanto à característica e intensidade do incentivo
aplicado ao indivíduo no decorrer de sua realização. Segundo consenso do ATS,
se o teste é realizado com um estímulo regular e padronizado, o resultado tende
a ser mais satisfatório e confiável [5].
De acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS), a reabilitação cardiovascular contribui
consideravelmente na redução dos índices de morbimortalidade por doenças
cardiovasculares (DCV), principalmente para os indivíduos classificados como de
alto risco, o que tem demonstrado alta nas últimas décadas, associados ao
aumento da prevalência de fatores de risco, como obesidade, tabagismo, diabetes
melitus, sedentarismo, hipertensão arterial sistêmica
e o estresse [22].
Desse modo, um
importante instrumento para a avaliação da capacidade funcional e ganho de
condicionamento físico em programas de RCV tem sido o TC6. No presente estudo,
foi demonstrado que houve diferença estatística na comparação do TC6 percorrido
antes das sessões de RCV com os valores preditos das duas equações, esses resultados
mostram que a distância percorrida pelos pacientes foi muito inferior ao
predito pelas duas fórmulas utilizadas, evidenciando baixo condicionamento
físico e sedentarismo antes da RCV. Em estudo realizado por Moreira et al. [23] com 23 pacientes diagnosticados
com DPOC, observou-se aumento médio após RCV de 76 m na distância caminhada no
TC6, e o objetivo inicial do estudo era que a média distância percorrida no
teste fosse de 54 m. Tais dados que confirmam a melhora significativa da
distância percorrida no TC6 após realização da RCV, concordando assim com os
resultados obtidos no presente estudo quanto à eficiência da RCV no aumento
significativo da distância percorrida no TC6, ou seja, no ganho de
condicionamento físico.
Diante da
variabilidade nos resultados em pesquisas realizadas na população brasileira
sobre a aplicabilidade do TC6 utilizando moldes estrangeiros, alguns autores
como Alameri et al. [24] e Iwama et al.
[17], dentre outros, devolveram equações de referência para a população brasileira
[17,24]. Nesses casos a credibilidade da equação foi justificável e os autores
fazem a recomendação para aplicação em populações semelhantes.
Em relação à
distância final predita após a RCV, as duas equações utilizadas no estudo de Enright e Sherril [2] e de Iwama et al. [17] tiveram mensurações
semelhantes nessa população, evidenciando que ambas são adequadas. Soares et al. [16] afirmam que a equação proposta por Enright e Sherrill [2] não é
adequada para a população brasileira. Nesse estudo, foi observado que a
distância predita pela fórmula para as mulheres foi de 510,36 ± 73,27 m e a
distância caminhada, de 495,19 ± 54,01 m, correlação = 0,29 e p = 0,16. Para os
homens, a distância predita pela fórmula foi de 571,45
± 63,68 m e a caminhada de 535,83 ± 68,97 m, correlação = 0,65 e p= 0,02. Esses
resultados, segundo o autor, indicam a necessidade de referências brasileiras
relacionadas a esse teste. Em adição, um estudo realizado por Alameri et al. [24]
concorda quanto à inadequação da equação de Enright e
Sherrill [2] para indivíduos brasileiros, demostrando
resultados substancialmente diferentes dos valores preditos pela fórmula e na
distância final percorrida pelos participantes da amostra. Em contrapartida, no
estudo realizado por Troosters et al. [25], no qual o TC6 foi aplicado em indivíduos brasileiros com
idade entre 50 e 85 anos, observou-se forte correlação na distância percorrida
no teste em relação a distância predita por Enright e
Sherrill [2].
Iwama et al. [17] indicam a equação para avaliar a distância predita pela
fórmula e a distância final percorrida no teste, já que a equação em questão
foi desenvolvida após a publicação da ATS [5] seguindo a regra, todo o seu
protocolo de aplicação do teste. No estudo de Iwama et al. [17] foram avaliados 134 indivíduos
saudáveis brasileiros, dos quais 73 eram mulheres. A média da distância
percorrida no TC6 (DTC6) foi significativamente superior nos homens.
Na avaliação final do
TC6, após a RCV, a distância percorrida quando comparada com a predita
demonstrou que os pacientes caminharam além do esperado, evidenciando que a RCV
foi eficaz para condicionar essa população. O que confirma os dados encontrados
na literatura sobre a eficiência da RCV. No estudo realizado por Roger et al. [26], foram avaliados pacientes
integrados em programas de RCV e constatou-se uma diminuição de 25% na taxa de
eventos cardiovasculares para cada aumento de um equivalente metabólico (MET)
na capacidade funcional. Sabe-se que o incremento por cada ml/kg/min do consumo
máximo de oxigênio, mediante um programa de RCV, ocasiona uma diminuição da
mortalidade de aproximadamente 10% [26,27].
Segundo Goldstein et al. [28], a predisposição para o
exercício é evidentemente favorecida após programas de reabilitação
cardiovascular para indivíduos com doenças crônicas, quando utilizada para
obtenção do melhor desempenho no teste de caminhada. A utilização do TC6,
também funciona como estímulo ao melhor esforço do paciente em buscar melhores
resultados durante o trabalho de RCV [4,28]. Assim, em nosso estudo observa-se
uma melhora significativa na DTC6 após RCV, o que concorda com os resultados
dos estudos supracitados.
Além do avanço no
desempenho físico proporcionado por programas de RCV, realizar exercícios
físicos periodicamente favorece a condição de relaxamento do endotélio, devido
à liberação de substâncias responsáveis por tais efeitos, a exemplo do oxido
nítrico, o qual produz uma maior vasodilatação, diminuindo assim a pressão
sobre os vasos sanguíneos e contribuindo para uma redução da PA em indivíduos
hipertensos [29].
O aumento distância
percorrida no TC6 após 16 semanas do programa de RCV demonstrou que um curto
programa de exercício físico foi eficaz em melhorar o condicionamento físico
dos participantes e que distância percorrida foi semelhante para ambos os
valores preditos. Não foi verificada nenhuma alteração nos valores de pressão
arterial pós RCV, principalmente devido a esses valores já estarem controlados
antes do início do programa. Assim, o presente estudo conclui que ambas a
equações preditas avaliadas têm aplicabilidade semelhante para a população de
indivíduos hipertensos brasileiros.