REVISÃO
Abordagem
fisioterapêutica na reabilitação da musculatura do assoalho pélvico em mulheres
com prolapso genital
Physiotherapy approach in the rehabilitation of pelvic floor musculature
in women with genital prolapse
Jenifer Emmanuelle Lopes de Araujo*, Stephanie Susan dos Santos*, Mônica Karina Postol**
*Graduanda do Curso de
Fisioterapia da Faculdade Guilherme Guimbala (FGG) da
Associação Catarinense de Ensino (ACE), Joinville/SC, **Docente do Curso de
Fisioterapia da Faculdade Guilherme Guimbala (FGG) da
Associação Catarinense de Ensino (ACE), Joinville/SC
Recebido em 29 de
novembro de 2018; aceito em 14 de maio de 2020.
Correspondência: Jenifer
Emmanuelle Lopes de Araujo, Avenida Antônio Ramos
Alvim, 331 Bairro Floresta, 89221-460 Joinville SC
Jenifer Emmanuelle Lopes de Araujo: jeni_araujo@outlook.com
Stephanie Susan dos
Santos: stephaniesusanroth@hotmail.com
Mônica Karina Postol: monica.postol@gmail.com
Resumo
Introdução: O assoalho pélvico
tem como objetivo sustentar órgãos internos, principalmente o útero, a bexiga e
o reto, porém qualquer alteração na cavidade pélvica pode resultar em disfunção
dessa região e descida patológica dos órgãos, características dos prolapsos
genitais. A fisioterapia melhora os sintomas relacionados ao prolapso genital,
bem como a força muscular do assoalho. Objetivo: Identificar os
procedimentos fisioterapêuticos mais utilizados e de melhor eficácia comprovada
no tratamento dos prolapsos. Métodos: Foi realizado um levantamento de
artigos científicos e teses em bancos de dados, nos quais foram encontrados 716
estudos. Destes, 9 foram selecionados, sendo 3 do tipo ensaio clínico
randomizado controlado, 1 quase-experimental do tipo antes e depois e 5 do tipo
revisão, publicados nos últimos 20 anos e relacionados ao tema proposto. Resultados:
Participaram dos estudos clínicos 430 mulheres no total, que foram submetidas a
intervenções como: cinesioterapia, exercícios hipopressivos
e eletroestimulação transvaginal. Os estudos de revisão mencionam os efeitos do
biofeedback e da cinesioterapia no manejo dos
prolapsos. Conclusão: Das abordagens analisadas a cinesioterapia e os
exercícios hipopressivos são os mais efetivos para o
tratamento do prolapso genital, porém mais estudos são necessários para avaliar
o real impacto desses recursos.
Palavras-chave: prolapso genital,
prolapso de órgãos pélvicos, fisioterapia, reabilitação, assoalho pélvico.
Abstract
Introduction: The pelvic floor is intended to support internal organs, especially
the uterus, bladder and rectum. However, any alteration in the pelvic cavity
may result in dysfunction of the pelvic floor and pathological falling of the
organs, characteristic of genital prolapses. Physical therapy improves symptoms
related to genital prolapse as well as muscle strength of the floor. Objective:
The aim of this study was to identify the most widely used physiotherapeutic
procedures with proven efficacy in the treatment of prolapses. Methods:
A survey of scientific articles and theses in databases was carried out, in
which 716 studies were found. Of these, 9 were selected, 3 of which were
randomized controlled clinical trials, 1 quasi-experimental and 5 reviews,
published in the last 20 years. Results: A total of 430 women
participated in the clinical studies, who underwent interventions such as:
kinesiotherapy, hipopressive exercises and
transvaginal electrostimulation. The review studies mention the effects of
biofeedback and kinesiotherapy in the management of prolapses. Conclusion:
From the approaches analyzed kinesiotherapy and hipopressive
exercises are the most effective for the treatment of genital prolapse, but
more studies are necessary to evaluate the real impact of these resources.
Keywords: genital prolapse, pelvic organ prolapse, physical therapy,
rehabilitation, pelvic floor.
O assoalho pélvico é
formado por músculos, ligamentos e fáscias e tem como objetivo sustentar os
órgãos internos, principalmente o útero, a bexiga e o reto, porém qualquer
alteração na cavidade pélvica ou esforço excessivo pode resultar no
comprometimento dessa região. Os comprometimentos do assoalho pélvico envolvem
uma série de condições debilitantes que, em geral, afetam mulheres acima dos 55
anos. O prolapso genital é uma dessas condições, que acarreta no deslocamento caudal patológico de conteúdo pélvico e/ou
intraperitoneal. Na maioria dos casos, afeta a qualidade de vida das mulheres
acometidas, gerando impacto social e psicológico [1,2].
Os dados
epidemiológicos referentes a essa doença são de difícil obtenção, já que
algumas mulheres a aceitam como parte inevitável do envelhecimento ou dos
partos normais, ou ainda preferem não revelar a condição a fim de evitar
constrangimentos. Entretanto, estima-se que a prevalência de prolapsos é de
aproximadamente 21,7% em mulheres com idade entre 18 e 83 anos e de
aproximadamente 30% em mulheres com idade entre 50 e 89 anos [2].
De acordo com dados do
IBGE, o perfil demográfico brasileiro vem sofrendo modificações desde 1970, com
redução da mortalidade e controle da taxa de natalidade, indicando uma futura
predominância de adultos e idosos [3]. Portanto, estima-se que nos próximos 30
anos a procura por serviços para cuidados em disfunções do assoalho pélvico
cresça duas vezes mais que o crescimento da população feminina, aumentando a
demanda por profissionais preparados para oferecer um tratamento adequado
[1,3].
A pelve possui
ligamentos potentes que estabilizam todas as estruturas envolvidas na cavidade
sendo os essenciais, que impedem grandes deslocamentos das vísceras, os
ligamentos do ovário, útero, ureteres, bexiga e reto [4].
O assoalho pélvico
fecha toda a cavidade inferior da pelve e possui ação esfincteriana para a
uretra, vagina e reto. Os músculos profundos do assoalho pélvico são os
músculos de sustentação das vísceras pélvicas e intraperitoneais, são eles o
coccígeo e o levantador do ânus, também denominado de placa elevadora. O
levantador do ânus é constituído pelas porções puborretal,
íleococcícea e pubococcígea
e é a principal musculatura de sustentação de vísceras. Outro músculo profundo
envolvido é o músculo transverso do abdome que apresenta importância
significativa na estabilização lombopélvica e
funciona como sinergista dos músculos do assoalho
pélvico [1,5-7]. As disfunções do assoalho pélvico devem-se a uma combinação de
diferentes fatores que podem ser divididos em intrínsecos: hereditários, raça,
tecido conjuntivo, alterações neurológicas, alterações esqueléticas; e
extrínsecos: gravidez e parto, efeitos hormonais, condições que aumentam a
pressão abdominal, tabagismo, constipação intestinal crônica, exercícios e
trabalho físico, atividade física e trauma cirúrgico [1,8].
Na literatura três
principais mecanismos de suporte das vísceras pélvicas e intraperitoneais são
descritos: suporte dado pela fáscia endopélvica que
liga útero e vagina à parede pélvica; suporte muscular dado pela placa
elevadora, propensa a comprimir o lúmen dos hiatos do assoalho pélvico; e
mecanismo valvar realizado pela compressão feita pelas fáscias e ligamentos,
ocasionando horizontalização da vagina contra a placa elevadora do assoalho
pélvico [9-11]. Durante o esforço as vísceras são empurradas para baixo,
portanto, qualquer alteração dessas estruturas pode resultar em descida
patológica dos órgãos pélvicos, assim como disfunções do assoalho. Em geral, o
prolapso ocorre devido a um relaxamento generalizado da fáscia endopélvica com envolvimento tanto das fibras musculares
quanto do tecido fibroso [1,10].
De acordo com um
sistema proposto pela Sociedade Internacional de Continência (ICS), o prolapso
de cada segmento é graduado em I, II, III e IV, considerando a sua posição em
relação ao hímen [1,8]. Além disso, o prolapso também é classificado nos tipos:
cistocele (prolapso de bexiga através da vagina), colpocele (prolapso de parede vaginal), retocele (prolapso
do reto através da vagina), enterocele (herniação interna do intestino delgado através da parede
posterior da vagina) e o prolapso uterino [12].
O pessário
é uma das alternativas utilizadas a fim de tratar o prolapso genital [8]. Nos
graus mais avançados do prolapso, a terapêutica cirúrgica é indicada para
aliviar os sintomas, restaurar a anatomia e corrigir alterações funcionais
[10]. A fisioterapia, por ser uma prática conservadora, é uma das alternativas
mais seguras. O tratamento consiste em treinamento dos músculos do assoalho
pélvico incluindo a cinesioterapia, o biofeedback,
cones vaginais e eletroestimulação [1]. A efetividade do treinamento do
assoalho pélvico na regressão do estádio do prolapso genital ainda é
controversa, porém há evidências de que a fisioterapia melhora os sintomas
relacionados ao prolapso genital, bem como a força muscular do assoalho pélvico
e, consequentemente, a qualidade de vida [13].
A presente revisão teve
como objetivo identificar as condutas fisioterapêuticas de tratamento do
prolapso genital, por meio da reabilitação do assoalho pélvico, mais utilizados
e com maior eficácia comprovada em estudos anteriores, para elevar a atenção de
acadêmicos e profissionais da área sobre os procedimentos efetivos no
tratamento dessa disfunção.
Para a presente
pesquisa foi realizada uma busca por teses e artigos científicos, relacionados
ao tema proposto, por meio dos bancos de dados Biblioteca Digital Brasileira de
Teses e Dissertações (BDTD), Physiotherapy Evidence Database (PEDro) , Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS), Scientific Electronic
Library Online (SciELO), Medical Literature Analysis and Retrieval
System Online (PubMed / MedLine).
Os descritores utilizados no levantamento dos estudos foram, em
português:
“prolapso genital”, “prolapso de órgãos
pélvicos”, “reabilitação” e
“fisioterapia”; e em inglês: “genital prolapse”, “pelvic organ prolapse”,
“rehabilitation” e “physiotherapy”.
Foram encontrados, ao
todo, 716 estudos entre artigos, teses e dissertações, dos quais foram
selecionados 8 artigos e 1 tese, com base no critério de inclusão: estudos
publicados no período de 2010 a 2017, relacionados a métodos conservadores de
reabilitação da musculatura do assoalho pélvico em mulheres com prolapso
genital. Destes estudos, 3 são do tipo ensaio clínico randomizado controlado, 1
quase-experimental do tipo antes e depois e 5 do tipo revisão bibliográfica, 2
foram publicados em inglês, 1 em espanhol e os demais em português.
Na Tabela I estão
relacionados os estudos clínicos encontrados, suas intervenções e conclusões.
No primeiro estudo
foram avaliados os efeitos dos exercícios hipopressivos
associados a contração voluntária dos músculos do assoalho pélvico, em 37
mulheres com prolapso genital de estádio II. Para isso, foram avaliados dois
grupos (GI – intervenção (21) e GC – controle (16)). O grupo GI, em três
sessões, e o GC, em uma única sessão, receberam orientações sobre os exercícios
a serem realizados por três meses em seus domicílios, porém o GC sem protocolo
definido. Ao final do tratamento, o grupo GI apresentou melhor função muscular
e 70% das mulheres deste grupo diminuíram um estádio do prolapso genital, fato
ocorrido em apenas 21% das mulheres do grupo GC [14].
O segundo estudo
comparou os efeitos do treinamento dos músculos do assoalho pélvico e a vigília
sobre os sintomas nos cuidados primários, em 287 mulheres com idade igual ou
superior a 55 anos com prolapso de órgão pélvico de estádios 1 e 2. Um grupo de
pacientes com 142 mulheres não recebeu orientações e tratamento, enquanto o
outro grupo, com 145 mulheres, foi orientado sobre como contrair e relaxar
corretamente os MAP e, quando necessário, foram utilizados exercícios
respiratórios para aumentar a conscientização. O treinamento muscular foi
provido individualmente, considerando o estilo de vida (dieta, peso corporal) e
a rotina intestinal de cada participante, combinado com exercícios domiciliares
três a cinco vezes por semana, duas ou três vezes por dia. Inicialmente, as
participantes retornavam ao fisioterapeuta semanalmente, mas após contrair e
relaxar corretamente a musculatura, os intervalos entre as consultas foram
estendidos (duas a três semanas). Das 287 mulheres, 250 (87%) completaram o
estudo. Das mulheres do grupo de treinamento muscular do assoalho pélvico, 57%
(82/145) relataram melhora nos sintomas gerais desde o início do estudo, em
comparação com 13% (18/142) no grupo de espera vigilante [15].
O terceiro estudo, cujo
objetivo foi avaliar a eficácia do treinamento da musculatura do assoalho
pélvico e de exercícios hipopressivos para o
tratamento do prolapso de órgãos pélvicos em mulheres, foi realizado com 58
mulheres divididas em três grupos, homogêneos quanto à idade, número de
gestações, número de partos vaginais, IMC, estado hormonal e estádio II de
prolapso, para tratamento fisioterapêutico (GI - cinesioterapia perineal (21),
GII - exercícios hipopressivos (21) e GIII – controle
(16)). Os grupos realizaram ultrassonografia transperineal
para medir a área de secção transversal do músculo levantador do ânus antes e
após o tratamento, que teve duração de 12 semanas. Houve diferença
estatisticamente significante na área de secção transversal dos grupos GI e GII
quando comparados antes e após o tratamento, fato não ocorrido com o grupo
GIII. As intervenções nos grupos GI e GII foram similares quanto à melhoria
[16].
O quarto estudo avaliou
a intervenção fisioterapêutica em mulheres com incontinência urinária associada
ao prolapso de órgão pélvico. Participaram do estudo 48 mulheres com idades
entre 35 e 78 anos. A intervenção fisioterapêutica consistiu em
eletroestimulação transvaginal e cinesioterapia de até 15 sessões semanais. A
maioria das mulheres realizou parto normal, apresentaram prolapso pélvico 72,4%
das mulheres que realizaram parto normal, 100% das que realizaram cesárea e
77,8% das que realizaram parto normal e cesárea. Nas pacientes com prolapso,
detectou-se aumento significativo na função muscular após o tratamento e 87,5%
das participantes ficaram continentes [17].
Tabela I - Relação de
artigos e tese: Ensaios clínicos randomizados controlados e quase
experimental do tipo
antes e depois.
Fonte: Produção das
autoras, 2017.
A Tabela II lista os
artigos de revisão bibliográfica encontrados e as suas conclusões acerca dos
levantamentos literários realizados e relacionados ao tema proposto na presente
pesquisa.
Hozt et al. [18]
buscaram avaliar a utilidade do biofeedback perineal
nas disfunções do assoalho pélvico. Verificaram que a reabilitação dos músculos
do assoalho pélvico, com técnicas de biofeedback, é o
tratamento conservador mais utilizado para mulheres com sintomas de
incontinência urinária e prolapso de órgãos pélvicos. O biofeedback
auxilia na conclusão bem-sucedida dos exercícios, e é especialmente útil em
pacientes que têm dificuldade em localizar os músculos perineais.
Na revisão de Filho et
al. [19] foram analisados estudos clínicos que responderam a 7 perguntas
criadas pelos autores, relevantes sobre recursos e sua eficácia na reabilitação
do assoalho pélvico no tratamento dos prolapsos genitais e incontinência
urinária. Todos os artigos foram classificados de acordo com o nível de
evidência e grau de recomendação. A pesquisa concluiu que o treinamento da
musculatura do assoalho pélvico ainda deve ser a primeira opção de tratamento
conservador para mulheres com incontinência urinária e prolapso de órgãos
pélvicos, pois dentre os vários métodos disponíveis, este se mostra ser o mais
seguro, eficaz e de baixo custo, porém são necessários mais estudos para
sustentar essa evidência. Biofeedback, estimulação
elétrica e cones vaginais devem ser oferecidos aos pacientes que não sabem contrair
corretamente os músculos do assoalho pélvico.
Candido et al.
[20] analisaram, por meio de uma revisão sistemática da literatura, evidências
atuais referentes à utilização dos pessários
vaginais, ao papel da fisioterapia, à melhor abordagem cirúrgica, às indicações
do uso de telas e a concomitância, na vigência do prolapso, do tratamento
cirúrgico da incontinência urinária. Constataram que há uma falta de consenso
quanto a melhor forma de conduzir os defeitos genitais. Os autores concluem que
são necessárias melhores evidências sobre à eficácia e custo-efetividade do
treinamento da musculatura do assoalho pélvico, por estudos envolvendo um
número maior de pacientes, avaliando a condução do prolapso sintomático a médio
e longo prazos, tanto como tratamento isolado quanto como terapia adjuvante.
O estudo de Lima et
al. [21] buscou por artigos com o maior nível de evidência, revisões
narrativas e consensos de sociedades médicas a respeito do prolapso e
aplicabilidades condizentes com a prática atual. Foi verificado que ainda não
existem estudos bem desenhados que suportem o uso de exercícios da musculatura
do assoalho pélvico que possam prevenir as distopias. Há uma grande necessidade
de que estudos controlados e randomizados com alta qualidade metodológica sejam
realizados usando métodos de fisioterapia válidos e reprodutíveis para qualquer
grau de prolapso, com protocolos de treinamento apropriados.
Um levantamento das
evidências científicas com foco no tratamento conservador do prolapso genital
foi realizado na pesquisa de Resende et al. Foram selecionados estudos
prospectivos e randomizados, que incluíssem intervenção física ou de estilo de
vida. Tais estudos mostraram que os exercícios perineais parecem melhorar os
sintomas relacionados ao prolapso de órgãos pélvicos femininos, bem como a
força muscular do assoalho pélvico e, consequentemente, a qualidade de vida,
porém a efetividade do treinamento do assoalho pélvico na regressão do estádio
do prolapso genital ainda é controversa. O tratamento se mostra eficaz quando
coadjuvante à cirurgia para correção do prolapso [13].
Tabela II - Relação de
artigos: Revisões.
Fonte: Produção das
autoras, 2017.
O treinamento
convencional, ou cinesioterapia, se mostra eficaz na melhora do desempenho da
musculatura do assoalho pélvico, que tem influência significativa no prolapso
genital. É o tipo de recurso mais estudado e com maior efetividade comprovada
para o tratamento da incontinência urinária de esforço, com eficácia recentemente
reconhecida também para o tratamento da bexiga hiperativa e do prolapso genital
[22]. Nos artigos que compõem o resultado desta revisão, é o recurso mais
citado.
Korelo et al. [23]
mencionam a cinesioterapia como uma técnica que utiliza ou não recursos
auxiliares com o intuito de possibilitar a paciente contrair e descansar a
musculatura do assoalho pélvico de forma voluntária.
De acordo com a
Sociedade Internacional de Continência (ICS), este recurso é recomendado para o
tratamento de incontinências e prolapsos genitais, por reduzir os sintomas e
prevenir ou adiar o desenvolvimento destas disfunções [17].
Para Rodrigues [24], a
cinesioterapia é um procedimento importante no fortalecimento do assoalho
pélvico, pois trabalha os músculos de forma ativa. Esta afirmação corrobora a
de Baracho [1], de que a cinesioterapia do assoalho pélvico se baseia em
contrações voluntárias repetidas e aumentam a força e a resistência muscular,
melhorando as atividades dos músculos do assoalho pélvico e oferecendo maior
sustentação à região pélvica e perineal. Moura e Marsal
[25] reforçam essas afirmações ao citar esses exercícios como terapêuticos e
que ajudam a prevenir o enfraquecimento da musculatura evitando que haja o
prolapso de órgãos pélvicos e incontinência urinária.
Grosse e Sengler
[26] advertem que, em casos de prolapso genital, o fortalecimento do períneo
não tem o propósito de uma restauração anatômica, porém em prolapsos leves ou
moderados o fortalecimento do assoalho pélvico atinge uma melhora da tolerância
funcional, assim ocorre a diminuição da incontinência e do peso nessa região.
Os estudos relacionados
aos exercícios hipopressivos também demonstraram o
valor dessa modalidade, sendo a segunda com maior efetividade comprovada nos
resultados desta revisão.
Os exercícios hipopressivos
são praticados em três fases distintas, que
são: inspiração diafragmática lenta e
profunda, expiração completa e aspiração
diafragmática, na qual há uma contração
contínua dos músculos abdominais
profundos, intercostais e elevação das cúpulas
diafragmáticas. Durante a fase
de aspiração diafragmática ocorre uma
diminuição da pressão intra-abdominal,
que mobiliza as vísceras no sentido cranial, traciona a
fáscia abdominal,
conectada à fáscia endopélvica, e ativa os músculos
do assoalho pélvico de forma reflexa. Desta forma, os exercícios hipopressivos são particularmente eficazes para mulheres
que têm dificuldade em identificar a musculatura do assoalho pélvico [22,27]. A
identificação se faz necessária para a correta execução dos exercícios.
Estudos recentes
comprovam as afirmações de autores sobre o movimento conjunto do diafragma
respiratório com o assoalho pélvico. Talasz et al.
[28] utilizaram a ressonância magnética para provar esta correlação.
Identificaram que, durante a inspiração, o assoalho pélvico se desloca para
baixo juntamente com a diafragma e que, na expiração, o inverso é verdadeiro.
Porém, embora haja sinergia entre a parede abdominal e o diafragma respiratório
com o assoalho pélvico, alguns autores recomendam evitar a utilização de
músculos acessórios nos exercícios para disfunções pélvicas.
A eficácia da
eletroestimulação transvaginal foi comprovada no estudo de Knorst
et al. [17] no tratamento do prolapso genital, com melhora significativa
da função muscular do períneo.
A introdução de um
eletrodo vaginal estimula os músculos do pavimento pélvico promovendo o
fortalecimento muscular dessa região. A reabilitação acontece como contração
passiva dos músculos levantadores do ânus, promove uma pressão intra-uretral e aumenta o fluxo sanguíneo para os músculos
do assoalho pélvico desenvolvendo a função das fibras. A utilização da
eletroterapia é comum na ginecologia, uma vez que diversas desordens pélvicas
são aliviadas pelo uso desta técnica, porém ainda há uma carência de estudos
que comprovem a efetividade desse recurso no tratamento do prolapso genital
[19].
O biofeedback,
estudado por Hozt et al. [18], é um recurso
seguro e amplamente utilizado para avaliar a ação do assoalho pélvico tratado
com qualquer outro recurso de fisioterapia. Consiste na aplicação de exercícios
musculares realizados de forma assistida por um equipamento que traduz a
atividade elétrica da contração muscular em sinais de natureza visual, tátil ou
auditiva, para que o paciente e o fisioterapeuta percebam, mensurem e manipulem
o trabalho realizado.
Em muitos casos, o
insucesso do tratamento de disfunções do assoalho pélvico se dá pela
incapacidade das pacientes em distinguir corretamente os músculos envolvidos,
efetuando contrações de outros músculos não relacionados, tais como o glúteo
máximo e o adutor da coxa [22]. O biofeedback promove
a identificação e a propriocepção muscular e, consequentemente, contribui para
a reeducação e a coordenação dos músculos pélvicos. Dentre as principais
indicações de utilização desse recurso, estão as incontinências urinárias, as
disfunções sexuais e os prolapsos genitais de estádio I e II. Muitas pesquisas
foram realizadas para comprovar a efetividade desse recurso no tratamento de
incontinência urinária, porém poucos têm aplicabilidade em prolapso genital
[29].
O prolapso genital é
uma das disfunções do assoalho pélvico que mais afetam de forma significativa a
qualidade de vida das mulheres. Os recursos utilizados na reabilitação da
musculatura envolvida têm como principais objetivos a identificação dos músculos
para a correta contração e, consequentemente, o fortalecimento para a melhora
da função do períneo. A cinesioterapia e os exercícios hipopressivos
parecem ser as modalidades mais aplicadas e de maior eficácia comprovada para o
tratamento em casos de prolapso genital, enquanto o biofeedback
e a eletroestimulação carecem de evidências. Sugere-se que mais estudos sejam
realizados, tanto individualizado quanto comparativo dessas modalidades, a fim
de avaliar o real impacto desses recursos e o mais efetivo no manejo do
assoalho pélvico em mulheres que apresentam essa disfunção.