ARTIGO
ORIGINAL
A
natação aumenta a amplitude de movimento e a força dos músculos rotadores
mediais do ombro sem alterar o espaço subacromial
Swimming increases range of motion and strength of the medial rotator
muscles of the shoulder without altering the subacromial
space
Acileudo da Silva
Candeia, M.Sc.*, Heleodório Honorato dos Santos,
D.Sc.**, Luciano Ferreira Moreira, D.Sc.***, Luis Carlos Carvalho, D.Sc.****,
Caio Viktor Albino Felipe*****, José Jamacy de Almeida Ferreira**
*Professor
da Faculdade Santa Maria, Cajazeiras/PB, **Professor do Departamento de
Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa/PB,
***Professor da Faculdade Santa Emília de Rodat, João Pessoa/PB, ****Professor
do Centro Universitário de João Pessoa UNIPÊ, João Pessoa/PB, *****Graduado em
Educação Física pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa/PB
Recebido em 10 de
agosto de 2016; aceito em 16 de agosto de 2017.
Endereço
para correspondência:
José Jamacy de Almeida Ferreira, Av. Presidente Delfim Moreira, 671, 58035-260
João Pessoa PB, E-mail: jamacy@gmail.com, Acileudo Silva Candeia:
acileudosilva@gmail.com; Heleodório Honorato dos Santos: dorioufpb@gmail.com;
Luciano Moreira Ferreira: moreira.lucfer@gmail.com; Luis Carlos Carvalho:
luiscarloscarv@gmail.com; Caio Victor Albino Felipe: caioviktor_felipe@hotmail.com
Resumo
Introdução: Na natação, de modo
geral, as estruturas que compõem o ombro são afetadas pelo gestual esportivo,
porém, não se pode afirmar que isso promove o impingement. Objetivo: Avaliar o
efeito da natação sobre o espaço subacromial, a amplitude de movimento e a
força de rotação medial e lateral dos ombros de nadadores. Métodos: Foram analisados 52 sujeitos de ambos os gêneros, entre 12
e 17 anos e divididos em 2 grupos pareados: 1) grupo
experimental: 26 nadadores (14 homens e 12 mulheres) e grupo controle: 26
sujeitos ativos não nadadores (13 homens e 13 mulheres). Resultados: Os dados foram analisados no SPSS (20.0) pelos testes t
Student (independente) e Mann-Whitney, considerando-se α ≤ 0,05. A
força de rotação medial foi 57 e 54% maior que a força de rotação lateral no
grupo experimental (P<0,01), e 32 e 25% no grupo controle (P<0,01) para o
membro dominante e membro não dominante, respectivamente. A razão força de
rotação medial/força de rotação lateral e a amplitude de movimento foram
maiores no grupo experimental (P<0,02 e P<0,01, respectivamente) quando
comparada ao grupo controle. Conclusão:
Os nadadores apresentaram maior amplitude de movimento, força de rotação medial
e razão força de rotação medial/força de rotação lateral
comparados ao grupo controle, sem alterar o espaço subacromial,
comparado a valores normativos.
Palavras-chave: acrômio, natação,
lesões, articulação do ombro.
Abstract
Introduction: In swimming, in general, the structures that make up the shoulder are
affected by the sportive gesture, however, it cannot be said that this promotes
the impingement. Objective: To evaluate the swimming effect on the subacromial space, range of motion and medial and lateral
rotation force shoulders of swimmers. Methods:
Fifty-two subjects of both genders were analyzed between 12 and 17 years and
divided into two matched groups: 1) experimental group: 26 swimmers (14 men and
12 women) and control group: 26 active subjects not swimmers (13 men and 13
women). Results: The results were
analyzed using SPSS (20.0) by Student t (independent) and Mann-Whitney tests,
considering α ≤ 0.05. The medial rotation force was 57 and 54% greater than the
lateral rotation force in the experimental group (P<0.01), and 32 e 25% in
the control group (P<0.01) for the dominant limb and non-dominant limb,
respectively. The ratio medial rotation force/lateral rotation force and range
of motion performed higher in the experimental group (P<0.02 and P<0.01,
respectively) compared to the control. Conclusion:
The swimmers had greater range of motion, medial rotation force and medial
rotation force / lateral rotation force ratio compared to control without
changing the subacromial space compared to normative
values.
Key-words: acromion, injury, swimming, injuries, shoulder joint.
Na natação, de modo
geral, as estruturas que compõem o espaço subacromial (tendão do músculo
supraespinhal, bursa subacromial, cabeça longa do bíceps braquial e cápsula
articular) são afetadas pelos movimentos peculiares ao gestual esportivo e, de
acordo com Diniz et al. [1], a grande incidência de
dor no ombro em nadadores de elite
está relacionada à
sobrecarga e desequilíbrio das estruturas anatômicas devido ao grande volume e
intensidade de treinamento, técnicas de nado mal executadas, excesso ou falta
de flexibilidade, déficit proprioceptivo e treinamento exclusivo dos músculos
agonistas, proporcionando desequilíbrio mioarticular, determinando forte
impacto subacromial.
Esta alteração,
denominada síndrome de impacto subacromial (impingement), é uma das causas de
dor no ombro que pode ser determinada por fatores extrínsecos (uso excessivo,
sobrecarga, configuração óssea, discinesia escapular, erros de treinamento,
etc.) e intrínsecos (hipovascularização dos tendões dos músculos supraespinhal
e bíceps braquial; desequilíbrio muscular; instabilidade glenoumeral),
promovendo atrito entre o tubérculo maior do úmero e o arco coracoacromial,
durante os movimentos de abdução com rotação lateral e de flexão com rotação
medial do úmero [2].
Segundo Goutallier et al. [3], além disso, as alterações na
estabilidade escapular modificam as relações escapulotorácicas e glenoumerais
sacrificando o espaço subacromial (ESA) e quando este atinge valores abaixo de
6 mm é considerado um achado clinicamente relevante, favorecendo uma ruptura do
músculo infraespinhal. Além de todos estes fatores, para Balke et al. [4], o formato acromial está
diretamente envolvido na gênese da síndrome do impacto do ombro e a maioria dos
autores [4-6] aponta o acrômio tipo “ganchoso” como o mais predisponente, porém
não há consenso na literatura se a natação, por si só, pode desencadear
alterações de estruturas anatômicas que promovam a síndrome do impacto do ombro
(SIO).
Considerando os
fatores predisponentes da SIO, a hipótese do presente estudo foi que a prática
da natação, ao longo do tempo, poderia causar desequilíbrio de forças musculares
no ombro e, por conseguinte, alterar a amplitude de movimento (ADM) e o ESA,
além da forma anatômica do acrômio. Desta forma, o objetivo deste estudo foi
avaliar o efeito da natação sobre o ESA, a ADM e a força de rotação medial
(FRM) e lateral (FRL) dos ombros, de nadadores.
Amostra
e desenho do estudo
Participaram do
estudo 52 sujeitos divididos em 2 grupos
(experimental/GE e controle/GC), igualitariamente, com as seguintes
características antropométricas: GE (26 sujeitos: 14 homens e 12 mulheres; 14,0
± 1,8 anos; 1,6 ± 0,1 m; 52,6 ± 8,2 kg; IMC: 20,2 ± 2,3 kg/cm2) e GC
(26 sujeitos: 13 homens e 13 mulheres; 14,0 ± 1,6 anos; 1,6 ± 0,1 m; 50,3 ±
10,8 kg; IMC: 20,5 ± 2,6 kg/cm2), com características semelhantes ao
GE no gênero (ICC = 0,961), idade (ICC = 0,858), estatura (ICC = 0,742), massa
corporal (ICC = 0,943) e IMC (ICC = 0,959).
Foram incluídos no
GE, atletas entre 12 e 17 anos, da seleção de natação do Estado da Paraíba,
Brasil, nadadores há pelo menos dois anos [7], com tempo na prova de 100 m
estilo livre, abaixo de 78s, que realizassem pelo menos 5
sessões de treino por semana, em dias consecutivos, e que não tivessem sofrido
lesões nos membros superiores, há pelo menos 6 meses [8]. O GC foi selecionado
conforme pareamento com o GE pela idade, estatura, massa corporal e gênero,
entre os alunos da Escola Municipal Cândido de Assis Queiroga no Município de
Paulista/PB.
Para o cálculo
amostral foi utilizado o software G*
Power 3.1.0 e os procedimentos seguiram as recomendações de Beck [9]. A priori,
foi adotada uma potência de 0,80, considerando um nível de significância de 5%,
e um tamanho de efeito de 0,8 e para tanto, foi calculado um “n” de 26 sujeitos
para cada grupo. Esta análise foi realizada para reduzir a probabilidade de
erro do tipo II e para determinar o número mínimo de sujeitos necessários para
esta investigação. Assim, o tamanho da amostra foi suficiente para fornecer
80,75% de poder estatístico.
O estudo foi
conduzido em conformidade com a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde
e declaração de Helsinki. Todos os voluntários foram informados acerca dos
procedimentos do estudo e seus responsáveis assinaram um termo de consentimento
livre e esclarecido (TCLE), sendo aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa em
seres humanos do Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal
da Paraíba (CEP/HULW/UFPB) sob o protocolo número 139/2011.
Figura
1 – Fluxograma da amostra.
Avaliação
radiográfica do ombro
Para registro
radiográfico foi utilizado um equipamento de Raios-X (Neodiagnomax, 500 mA e 125 Kv - Medicor, Hungria) e os filmes foram revelados
em processadora automática (Macrotec, Brasil).
Para medição do ESA
(Figura 2A), foi utilizada uma projeção anteroposterior (AP) com os sujeitos em
pé, de acordo com Ferreira [6] e para classificação do tipo de acrômio (Figura
2B) foi utilizada uma projeção póstero-anterior (PA), também conhecida como
perfil em Y da escápula com os sujeitos em pé e o tronco rodado a 45 graus
[10]. Todos os exames radiográficos foram realizados pelo mesmo técnico
empregando uma distância de 1,5 m entre os sujeitos e a ampola de Raio X, e avaliados pelo mesmo radiologista.
Figura
2 – Radiografia do espaço subacromial em AP (A)
e perfil em Y da escápula (B).
Goniometria
As medidas de ADM do
ombro foram realizadas usando um goniômetro universal Fernandes, com um
potenciômetro linear acoplado ao seu eixo pivotante. Antes de cada medida de
ADM, o potenciômetro era zerado e o sinal amplificado, digitalizado (conversor
A/D de 12 bits e 16 canais) e processado com o uso do aplicativo BioMed, um software
que atua como um polígrafo digital, capaz de fazer aquisição, armazenamento,
processamento on-line e off-line dos sinais [11].
As medidas da
amplitude de rotação lateral (ARL) e medial (ARM) do ombro foram realizadas com
os sujeitos posicionados em decúbito dorsal, na mesa de exame, quadris e
joelhos fletidos, ombro abduzido a 90º, cotovelo fletido a 90º e antebraço em
posição neutra (Figura 3A e B). O pivô do goniômetro foi posicionado no
olécrano, o braço fixo paralelo à mesa de exame e o braço móvel numa linha
longitudinal na face ulnar do antebraço em direção ao seu processo estiloide
[12] e para cada movimento (rotação medial e lateral) do ombro, foram
realizadas 3 medidas do ângulo final (em graus) e
calculada a média entre elas.
Figura
3 – Eletrogoniometria da rotação medial (A) e
lateral (B) do ombro.
Dinamometria
O registro da FRL e
FRM do ombro foi realizado em um dinamômetro portátil (DD-300, Instrutherm,
Brasil) com os sujeitos em decúbito ventral sobre uma mesa de exame, com o
braço apoiado sobre uma pequena almofada disposta na borda da mesa, ombro
abduzido e cotovelo fletido a 90º, antebraço pendente e perpendicular ao solo,
em posição neutra (prono/supinação), e o punho em extensão de zero (0o) grau
(Figura 4A e B).
Os sujeitos seguravam uma empunhadeira,
com um tirante fixado na célula de carga, presa à parede, formando um ângulo de
90º com o punho. Foram registradas 3 contrações
isométricas voluntárias máximas (CIVM) para cada movimento de rotação medial (RM)
e lateral (RL), com duração de 6 segundos e intervalo de 1 minuto entre cada
tentativa, calculando-se a média do pico de força (kgf) entre elas [13].
Figura
4 – Dinamometria: CIVM do movimento de rotação
medial (A) e lateral (B).
Teste
de reprodutibilidade das medidas
Foi realizado um
teste piloto com 12 sujeitos saudáveis que tiveram a ADM e a força muscular da
rotação medial e lateral do ombro mensuradas em duas avaliações realizadas num
intervalo de dois dias. A partir destas medidas foram realizados testes de
correlação intraclasse (ICC) para amplitude da RM direita (r = 0,84; P = 0,001)
e esquerda (r = 0,89; P = 0,002), da RL direita (r = 0,87; P = 0,001), e
esquerda (r = 0,90; P = 0,001), da FRM direita e esquerda (r = 0,98; P =
0,001), FRL direita (r = 0,96; P = 0,001) e esquerda (r = 0,97; P = 0,001). O
ICC verificou alta confiabilidade das medidas atribuídas às variáveis nos
diversos sujeitos avaliando sua consistência interna, comprovando a
reprodutibilidade dos testes [14].
Análise
estatística
Para análise e
interpretação dos dados foi utilizado o Statistical Package for the Social Sciences
(SPSS - 20.0). Inicialmente, foi observada a normalidade dos dados (teste de
Shapiro-Wilk), seguida do teste t de Student (independente) e Mann-Whitney na
comparação dos valores do ESA, da ADM, FRL e FRM e da razão FRM/FRL entre os
lados, e entre os grupos GE e GC, considerando-se um nível de significância de α
≤ 0,05 para todas as comparações.
Resultados
De acordo com a
Tabela I, na comparação dos valores do ESA, entre os ombros direito e esquerdo
do GE, não foi verificada diferença estatisticamente significativa (P = 0,277),
nem entre estes e os valores de referência (P = 0,644 e P = 0, 676)
apresentados na literatura [15].
Adicionalmente,
verificou-se que 94% dos nadadores apresentavam o acrômio com morfologia do
tipo I (plano), que não se relaciona com a identificação da SIO.
Tabela
I – Comparação do espaço subacromial direito e
esquerdo.
Nota: teste t Student
(independente); ◊ = comparação com
valores de referência (Ref); † = comparação entre os lados; Valor de
normalidade do espaço subacromial (ESA) = 10 mm
Na comparação
intergrupos (GE x GC), tanto no membro dominante (MD) como no membro não-dominante (MND) houve diferença estatística das
seguintes variáveis: ADM_RM, ADM_RL, FRM (P < 0,01) e razão FRM/FRL (P <
0,05), mostrando maiores valores médios para o GE, quando comparado ao GC.
Tabela
II –
Comparação intergrupos (GE x GC) das
médias da ADM, força isométrica e da razão da FRM/FRL da rotação medial e
lateral do ombro no MD e MND.
GE = grupo
experimental; GC = grupo controle; ADM_RM = amplitude de movimento da rotação
medial; ADM_RL = amplitude de movimento da rotação lateral; FRM = força da
rotação medial; FRL = força de rotação lateral; Nota: † = teste t Student
(independente); ‡ = teste de Mann-Whitney
Quando da comparação
intermembros (MD x MND), os testes t Student (independente) e Mann-Whitney não
mostraram diferença estatística (P > 0,05), tanto no GE quanto no GC para
nenhuma das variáveis analisadas (Tabela III).
Tabela
III –
Comparação intermembros (MD x MND) das
médias da ADM, força isométrica e da razão da FRM/FRL da rotação medial e
lateral do ombro no GE e GC.
GE = grupo
experimental; e GC = grupo controle; MD = membro dominante; MND = membro não
dominante; ADM_RM = amplitude de movimento da rotação medial; ADM_RL =
amplitude de movimento da rotação lateral; FRM = força da rotação medial; FRL =
força de rotação lateral
Nota: † = teste t
Student (independente); ‡ = teste de Mann-Whitney
No presente estudo
destacam-se três importantes resultados relacionados ao treinamento de natação
em uma amostra de jovens atletas: 1) quanto ao ESA, não houve diferença
intergrupos ou intermembros; 2) predominância da FRM comparada à FRL do ombro nos
2 membros avaliados (dominante e não dominante) e; 3)
maior ADM de rotação medial e lateral do ombro no grupo de nadadores (GE)
quando comparada ao grupo controle (GC).
A respeito do ESA, o
presente estudo encontrou um espaço subacromial conservado (@
10 mm) que pode ser justificado pelo fato da amostra ser de pouca idade (@
14 anos), com pouco tempo de treino (≥ 2 anos) e ainda não
ser considerada de alta competividade na natação, corroborando os resultados do
estudo de Goutallier et al. [3], que apontou que sujeitos com medidas do espaço
subacromial > 6 mm não tem relevância diagnóstica nem serve como prognóstico
para SIO.
Por outro lado, Chopp
et al. [16] relataram que a fadiga dos
músculos do manguito rotador aumenta a translação superior da cabeça umeral
reduzindo o ESA e propiciando o desenvolvimento da SIO. Acrescendo-se a isso,
White et al. [17] reportaram que o ESA pode ser
alterado pela posição do braço, principalmente a 45º e a 30º de abdução, embora
a amostra tenha sido de adultos saudáveis e jovens (24,2 ± 5,0 anos).
Nessa mesma linha,
Wanivenhaus et al. [8] observaram alta prevalência de
dor e disfunção no ombro (40 a 91%) de nadadores de competição no EUA, e que as
razões para estes problemas, incluem: 1) fadiga do manguito rotador e dos
músculos da parte superior das costas e peitorais, causados por movimentos
repetitivos que podem resultar em microtraumas devido à diminuição da
estabilização dinâmica da cabeça humeral; 2) impacto do ombro, tipicamente
causado por cinemática alterada devido a fadiga muscular ou lassidão,
promovendo choque subacromial ou intra-articular ocasionado pelas várias
posições durante o curso de natação.
Quanto à análise
radiográfica da incidência perfil em Y da escápula realizada nos sujeitos do
presente estudo, a maioria apresentou acrômio tipo I (plano), ou seja, com
menor cobertura da cabeça do úmero. Nesta direção, o estudo de Torrens et al. [18] relata que a menor cobertura
da cabeça umeral implica em reduzido risco de lesões, enquanto que a ocorrência
de acrômio tipo III (ganchoso) está relacionada a maior risco de lesões,
principalmente, no ponto de inserção do manguito rotador.
Analisando a relação
dos sintomas clínicos com os exames de imagem no impingement do ombro, Mayerhoefer et al. [19] confirmaram que a dor e a limitação funcional não são,
necessariamente, decorrentes da forma do acrômio, mas sim da redução de espaço
subacromial, e que o ESA parece refletir melhor o estado funcional do paciente
do que a morfologia acromial.
A respeito da ADM, os
resultados do presente estudo apresentaram maiores valores médios no GE quando
comparado ao GC. Para Downar e Sauers [20], este achado pode estar relacionado
à rotina de treinamento de flexibilidade a qual os atletas são submetidos e,
segundo Burkhart et al. [21], pode representar um fator de
proteção contra o impacto já que existem evidências de que pode ocorrer redução
da ADM de rotação medial nos sujeitos com SIO, por espessamento da cápsula
posterior. Por outro lado, para Lugo et al. [22], as
amplitudes de movimento extremas na articulação glenoumeral tornam a
estabilidade do complexo do ombro muito dependente da ação vigorosa da
estrutura cápsulo-ligamentar e de músculos que circundam a região.
Contrário aos
resultados do presente estudo, Thomas et al. [23], que
analisaram as alterações da ADM de rotação do ombro em atletas de vôlei, tênis
e natação, do sexo feminino, pré e pós temporada, constataram diminuição na ADM
da rotação medial, nas 3 modalidades esportivas acima citadas, numa amostra de
36 atletas adolescentes (15,3 ± 1,2 anos), embora as atletas de natação tenham
apresentado o menor déficit entre os 3 grupos.
Com relação à
dominância dos membros superiores, contrariamente aos resultados do presente
estudo que não mostraram diferença estatística entre MD e MND nos movimentos de
RM e RL, Torres e Gomes [24] que avaliaram a ADM de nadadores, tenistas e um
grupo controle, além de observarem uma menor ADM na rotação medial em todos os
grupos estudados, também concluíram que este déficit é característico dos
jogadores de esportes overhead (tênis e natação) e está associado à contratura
da cápsula posterior do ombro.
Com relação à
predominância da força dos rotadores mediais, a hipótese mais provável é que
isto ocorreu, possivelmente, em decorrência de uma maior utilização dos
músculos rotadores mediais e adutores do ombro no treinamento destes atletas.
Isto pode ser explicado pelo fato desses nadadores treinarem e competirem
preferencialmente no estilo crawl, que tem no seu gestual uma maior
participação desses grupos musculares do ombro, principalmente, na fase de
propulsão.
A importância da
razão da força entre RM/RL foi estudada por McDermid et al. [25] em uma amostra composta por pacientes que apresentavam impingement do ombro e tendinite do
manguito rotador, comparados com sujeitos sadios. Os autores observaram que a
diminuição na força dos rotadores laterais do ombro é altamente preditiva de
incapacidade funcional e lesão do manguito rotador e reportaram valores de 1,41
para os pacientes e 1,22 para os sujeitos sadios, nessa razão (RM/RL).
Os valores da razão
FRM/FRL apresentados no presente estudo se aproximam dos reportados por McDermid
et al. [25], para portadores de SIO e são
estatisticamente maiores que os do grupo controle. Levando em consideração que
se trata de uma amostra assintomática e de faixa etária inferior, isto é
sugestivo de que o desequilíbrio muscular pode preceder a sintomatologia do impingement do ombro nestes nadadores.
Por outro lado, Ramsi
et al. [26], que estudaram nadadores
colegiais, encontraram uma razão de 1:1, entre força isométrica dos rotadores
mediais e laterais (FRM/FRL), atribuindo este fato a uma maturidade física e
esportiva desenvolvida pelos atletas que compunham uma amostra de 27 nadadores
competitivos, no entanto os autores não reportaram as características e as
especificidades do treinamento.
Ainda, a respeito da
razão da FRM/FRL, Batalha et al. [27-29], que analisaram a razão na
força entre rotadores medias e laterais em nadadores jovens (14,55 ± 0,5 anos;
14,48 ± 0,5 anos; 14,65 ± 0,49 anos, respectivamente), também observaram
predominância de força dos rotadores mediais que pode predispor ao risco de
lesões nesta articulação, a depender do volume, tempo de treino e estilo da
nado, no entanto nos 3 estudos os autores utilizaram um dinamômetro isocinético
em suas avaliações.
O presente estudo,
que analisou o ESA, a ADM, a FRM e a FRL do ombro de nadadores jovens, sem
sintomas de SIO, apresentou as seguintes limitações: 1) os resultados aqui
reportados dizem respeito apenas a este perfil de atletas, e 2) o fato de não
terem sido realizados os exames de imagens no GC, por questão financeira,
impossibilitou a comparação dos valores do ESA com GE, obrigando aos autores
fazerem esta comparação com valores de referência na literatura, prejudicando,
em parte, a discussão dos dados.
De acordo com os
resultados do presente estudo, pode-se concluir que: 1) o treino de natação do
estilo Crawl não alterou o ESA dos sujeitos da amostra, mantendo-o dentro dos
parâmetros de normalidade; 2) nadadores tiveram maior ADM de rotação medial e
lateral do ombro que sujeitos não nadadores; 3) houve uma predominância da
força dos músculos rotadores mediais do ombro em relação aos laterais; 4) além
de um equilíbrio entre o MD e MND quanto a ADM e a força muscular entre os
rotadores mediais e laterais do ombro, tanto nos nadadores (GE) quanto nos não
nadadores (GC).
Diante dos resultados
apresentados, sugerem-se estudos mais aprofundados de caráter longitudinal, com
amostras de estilos diferentes de nado, para que possa identificar qual gestual
de natação pode alterar determinadas estruturas anatômicas e, possivelmente,
influenciar no surgimento da SIO.
Ao Serviço de
radiologia do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) e Antônio Meira
Leal, presidente da Federação de Esportes aquáticos da Paraíba por facilitar o
contato com os atletas.