ARTIGO ORIGINAL
Análise
eletromiográfica e da qualidade de vida na incontinência urinária
Electromyographic analysis and of quality of life in urinary incontinence
Susan Christian Santos
da Silva, Ft.*, George Coêlho Reis Júnior, Ft.**, Cataryna Costa de Almeida, Ft.*,
Samara Sousa Vasconcelos Gouveia, M.Sc.***, Guilherme Pertinni
de Morais Gouveia***
*Grupo de
Pesquisa em Fisioterapia Avaliativa e Terapêutica/Universidade Federal do Piauí,
**Fisioterapeuta, ***Saúde Pública pela Universidade Federal do Ceará
Recebido em 31 de janeiro
de 2017; aceito em 13 de abril de 2017.
Endereço
para correspondência:
Samara Sousa Vasconcelos Gouveia, Avenida São Sebastião, 2819 Reis Velloso 64202-020
Parnaíba PI, E-mail: samaragouveia@ufpi.edu.br; Susan Christian Santos da Silva:
susan.christian@hotmail.com; George Coêlho Reis Júnior: g_j_dm@hotmail.com; Cataryna
Costa de Almeida: cataryna-almeida@hotmail.com; Guilherme Pertinni de Morais Gouveia:
gpfatufpi@gmail.com
Resumo
A incontinência urinária é uma afecção multifatorial que causa
perda de força e funcionalidade do assoalho pélvico. Para início do
diagnóstico, prognóstico e tratamento, o assoalho pélvico pode ser avaliado por
meio da eletromiografia, que é um dos métodos de maior especificidade. A
prevalência de incontinência urinária em adultas jovens vem crescendo, afetando
aspectos físicos, sociais, ocupacionais e/ou sexuais destas mulheres. Por isso,
o objetivo deste estudo foi avaliar a atividade eletromiográfica dos músculos
do assoalho pélvico e do reto abdominal, bem como os dados obtidos por meio do King’s Health Questionnaire em adultas
jovens incontinentes. Para isso, foram avaliadas 14 mulheres com idade de 21 a
29 anos, que responderam a ficha de anamnese e King’s Health Questionnaire e realizaram o protocolo de
eletromiografia por meio de dois testes (um para fibra fásica e outro para
fibra tônica) em cada uma das duas posições propostas (decúbito dorsal e
ortostatismo). O estudo apontou pouca interferência na qualidade de vida,
obtendo-se escores baixos no King’s
Health Questionnaire. Na eletromiografia, percebeu-se uma maior efetividade
nas amplitudes de contração de fibras fásicas em ortostatismo e de fibras
tônicas em decúbito dorsal.
Palavras-chave: incontinência urinária,
eletromiografia, diafragma da pelve, qualidade de vida.
Abstract
Urinary incontinence is a multifactorial disorder of the pelvic floor. To
start diagnosis, prognosis and treatment, the pelvic floor can be evaluated through
the electromyography, which is one of the methods of greater specificity. The prevalence
of urinary incontinence in young adults has been growing affecting physical, social,
occupational and/or sex aspects of these women. Therefore,
the aim of this study was to evaluate the electromyographic activity of the muscles
of the pelvic floor and the rectus abdominis, and the data obtained through the
King's Health Questionnaire in young adult incontinent. For this, we evaluated 14
women 21 to 29 years old, who answered record of anamnesis and King's Health Questionnaire
and the protocol of electromyography by means of two tests (one for phasic fiber
and the other for tonic fiber) in each of the two proposals (dorsal decubitus and
orthostatic). The study pointed out little interference in the quality of life,
low scores on the King's Health Questionnaire. In electromyography, we perceived
greater effectiveness in the amplitude of contraction of phasic fibers in orthostatic
and tonic fibers in dorsal decubitus.
Key-words: urinary incontinence,
electromyography, pelvic floor, quality of life.
As disfunções do assoalho
pélvico (AP) são condições que não ameaçam a vida, mas causam importante morbidade.
A incontinência urinária (IU) é considerada uma afecção multifatorial do AP que
ocorre por disfunções dos ligamentos, fáscias e músculos do assoalho pélvico (MAP),
ocasionando perda de força e funcionalidade do mesmo [3]. Segundo a International Continence Society (ICS), é
uma condição na qual ocorre a perda involuntária de urina. Éclassificada
de acordo com os sintomas apresentados e os três tipos mais
encontrados
são: incontinência urinária de esforço (IUE)
– quando há perda da urina pelo meato
uretral sincrônica com a realização de
esforços [4]; urge incontinência (UI) –
caracterizada
pela perda urinária antecedida da urgência miccional; e
incontinência urinária mista
(IUM) – ocorre perda urinária tanto à
urgência quanto na realização de esforços
[5].
A IU é uma afecção bastante
prevalente na população em geral. Estudos mostraram crescentes índices durante a
idade adulta jovem e prevalência de 30 a 50% em pacientes com mais de 60 anos [6].
A IU, que é comum em mulheres e geralmente ligada ao envelhecimento, obteve uma
alta prevalência em jovens nulíparas acadêmicas, problema que reflete de forma direta
na qualidade de vida, muitas vezes ignorado e não relatado ao médico por acreditarem
ser um processo natural. Apesar disso ainda há escassez de dados na literatura sobre
IU em jovens adultas.
O impacto da IU na qualidade
de vida pode ser avaliado por meio do King’s
Health Questionnaire (KHQ), que avalia especificamente aspectos próprios da
gravidade e impacto dos sintomas na vida das pacientes [7]. O KHQ foi desenvolvido
por Kelleher et al. [8] na língua inglesa e traduzido e
validado para a língua portuguesa por Tamanini, D’Ancona e Netto Jr [9]. A inclusão
de questionários de qualidade de vida foi recomendada pela ICS (1997) visando uma
medida de complementação nos procedimentos clínicos. Segundo Zanatta [10], a ICS
o classifica como nível “A” para utilização em pesquisas clínicas, ou seja, altamente
recomendado. O KHQ é considerado confiável e válido na análise de seus aspectos
psicométricos, principalmente pela sua popularidade e validação em outros idiomas,
que já somam 43 línguas diferentes [9]. A aplicação deste tipo de questionário é
importante, pois a IU pode afetar intensamente a qualidade de vida dos pacientes,
causando limitações físicas, sociais, ocupacionais e/ou sexuais, caracterizando-se
como um problema de saúde pública [11].
A
avaliação da funcionalidade
e da força muscular do AP é norteadora para o tratamento
de suas disfunções, monitorando
o início e a evolução do paciente. Os MAP
são compostos por fibras musculares estriadas
esqueléticas do tipo I (contração lenta ou
tônica) e tipo II (contração rápida ou
fásica), que podem ter sua atividade avaliada pela
eletromiografia de superfície
(EMGS), fugindo do modelo intracavitário da
palpação e perineometria [1].
A EMGS é um importante
recurso não invasivo para avaliar a ação da musculatura esquelética, por meio da
atividade bioelétrica gerada pelas fibras musculares captada por um eletrodo, que
mensura a atividade de várias unidades motoras ao mesmo tempo. A mensuração de unidades
motoras ativas está diretamente relacionada à força muscular, tornando válida a
avaliação eletromiográfica [2].
Apesar
do número crescente
de pesquisas envolvendo eletromiografia e avaliação dos
MAP em mulheres, ainda não
se estabeleceu consenso sobre os métodos de
aplicação da EMGS nessa musculatura,
como o posicionamento do eletrodo e da paciente,
repetições de contrações de fibras
fásicas, duração de contração de
fibras tônicas e/ou necessidade de avaliação de
musculatura acessória. Porém, sabe-se que os eletrodos de
superfície são mais adequados
para aplicação nos MAP do que os eletrodos de agulha, que
são mais dolorosos e podem
se deslocar dependendo do movimento gerado pela
contração, além de captar com menor
qualidade os sinais eletromiográficos [2].
Diante do que foi exposto,
torna-se necessário o estudo da incontinência urinária considerando a atividade
da musculatura perineal e a qualidade de vida destas mulheres, além de trazer dados
sobre adultas jovens incontinentes, pois estes são escassos na literatura. Para
isso, o objetivo deste estudo é avaliar a atividade eletromiográfica dos músculos
do assoalho pélvico e do reto abdominal (RA), e comparar a atividade mioelétrica
dos MAP e do RA quanto ao tipo de fibras musculares e em diferentes posições, bem
como os dados obtidos por meio do KHQ em adultas jovens incontinentes.
Tratou-se de um estudo
analítico transversal desenvolvido na Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus
Ministro Reis Velloso, no período de janeiro a fevereiro de 2016. O projeto foi
analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa dessa instituição, sob o parecer
de nº 1.382.601/2015. As participantes foram informadas da natureza e proposta do
estudo e todas assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.
A amostra do estudo foi
composta por 14 mulheres adultas jovens com idade entre 21 e 29 anos, ativas sexualmente
e com queixa de incontinência urinária. As voluntárias foram recrutadas por meio
de abordagem direta e de cartazes espalhados pela UFPI e Prefeitura Municipal de
Parnaíba. Foram excluídas do estudo as mulheres que realizaram/realizavam tratamento
com exercícios para IU/terapias concomitantes, com grau IV de prolapso, grávidas,
multíparas (que tiveram acima de três partos), com déficit cognitivo, com feridas
na região de aplicação dos eletrodos e/ou alergia a qualquer componente utilizado.
A coleta de dados foi
realizada por meio do preenchimento da ficha de anamnese, de avaliação da qualidade
de vida, por meio do King’s Health Questionnaire
e da avaliação do assoalho pélvico, por meio da eletromiografia de superfície, sendo
realizada sempre por uma mesma avaliadora.
A anamnese consistiu em
perguntas com o objetivo de classificar cada participante em um tipo de IU, considerando
também informações referentes à idade, peso, altura, atividade sexual, prática de
atividade física e percepção da quantidade de urina que perde involuntariamente.
O
KHQ avalia a qualidade
de vida de pessoas com IU, por meio de 21 questões, divididas em
oito domínios:
percepção geral de saúde, impacto da
incontinência urinária, limitações das
atividades
diárias, limitações físicas,
limitações sociais, relações pessoais,
emoções e sono/disposição;
e ainda podemos obter a pontuação da gravidade dos
sintomas urinários a partir de
uma escala de 11 itens. A pontuação para cada
domínio é apresentada numa escala
de orientação negativa de melhor estado de saúde
(0) a pior estado de saúde (100),
exceto a pontuação da gravidade dos sintomas
urinários que é pontuável de melhor
(0) a pior (33) [12].
Para registro eletromiográfico,
foram utilizados quatro eletrodos de superfície, autoadesivos e descartáveis e um
eletrodo de referência, conectados ao equipamento EMG System do Brasil Ltda., no
qual os sinais foram captados em uma frequência de 1000 Hz com tratamento por meio
de passa baixa e alta. Dois eletrodos foram devidamente fixados no sentido longitudinal
da vulva, sobre o músculo elevador do ânus, porção pubococcígea direita; dois sobre
o músculo reto abdominal, região infraumbilical direita; e o eletrodo de referência
foi posicionado sobre o tornozelo direito, na região de maléolo lateral.
As participantes foram
instruídas e orientadas quanto à realização do protocolo desta pesquisa, bem como
a maneira correta da contração dos músculos da região do AP. Foram informadas quanto
à importância de se evitar tosse, suspiro, movimentos com os membros e/ou cabeça
durante o período de avaliação protocolado.
O protocolo de avaliação
eletromiográfica do assoalho pélvico ocorreu por meio de dois testes em cada uma
das duas posições propostas: decúbito dorsal e ortostatismo, ou seja, cada teste
foi realizado duas vezes. O Teste 01 (T1) consistiu em uma contração tônica sustentada
por 30 segundos ou até o máximo de sustentação da participante; no Teste 02 (T2)
a participante realizava três contrações fásicas com 20 segundos de repouso entre
elas. A avaliadora narrava todas as séries de modo que durante as contrações tônicas
as participantes iniciavam e sustentavam a contração com o seguinte comando verbal:
“prende: força, força, força...”, e eram orientadas a informarem com “relaxei” o
momento em que parassem de contrair o assoalho pélvico; nas séries de contrações
fásicas, as participantes seguiam o comando de “prende, solta”, para contraírem
e relaxarem, respectivamente a musculatura estudada.
Os dados foram analisados
por meio de estatística descritiva e analítica, utilizando-se os programas Microsoft
Excel (2010) e SPSS, versão 21.0. Utilizou-se os cálculos
de medidas de tendência central (média e mediana), medidas de variabilidade (desvio
padrão) e distribuição de frequências. Utilizou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov
para testar a normalidade dos dados e o teste t para amostras pareadas para comparar
os resultados das contrações realizadas com os dados obtidos em repouso. Foi considerado
estatisticamente significante quando obtido um valor de p ≤ 0,05.
Participaram do estudo
14 mulheres, com idade média de 24 ± 2,39 anos, das quais a maioria (85,7%) era
sedentária, com IMC médio de 26,56 ±7,35, e 50% se encontravam na classificação
de sobrepeso ou obesidade. Todas eram sexualmente ativas, 85,7% referiram pouca
perda de urina. Quanto aos tipos de incontinência urinária apresentada, 50% tinha
IU mista, 21,4% apresentava IU de urgência e, 28,6%, IU de esforço.
Os dados eletromiográficos
obtidos na avaliação da musculatura tônica encontram-se descritos nas tabelas I
e II.
Tabela I - Avaliação eletromiográfica da musculatura tônica
do Assoalho Pélvico e Reto Abdominal em decúbito dorsal de mulheres com incontinência
urinária, Parnaíba, 2016.
Tabela II - Avaliação eletromiográfica da musculatura tônica
do Assoalho Pélvico e Reto Abdominal em
posição ortostática de mulheres com incontinência urinária, Parnaíba, 2016.
Em seguida foram realizados
os testes para musculatura fásica, os dados eletromiográficos obtidos nestas avaliações
estão dispostos nas tabelas III e IV.
Tabela III - Avaliação eletromiográfica da musculatura fásica
do Assoalho Pélvico e Reto Abdominal em decúbito dorsal de mulheres com incontinência
urinária, Parnaíba, 2016.
Tabela IV - Avaliação eletromiográfica da musculatura fásica
do Assoalho Pélvico e Reto Abdominal em posição ortostática de mulheres com incontinência
urinária, Parnaíba, 2016.
Ao testar a normalidade
dos valores encontrados para a variável “rms” de cada contração e do repouso em
cada teste realizado, utilizando-se o teste Kolmogorov-Smirnov, encontrou-se que
todos apresentavam uma distribuição normal. Em seguida, comparou-se
os resultados obtidos durante as contrações com os resultados obtidos em repouso
por meio do teste t para amostras pareadas. Nesta comparação, obteve-se diferença
estatisticamente significante apenas para o teste em ortostatismo da musculatura
fásica do assoalho pélvico (p = 0,005) e para o teste em decúbito dorsal da musculatura
tônica do assoalho pélvico (p = 0,014).
Em relação aos domínios
avaliados no KHQ, os mesmos foram expressos em valores de média, desvio padrão e
mediana, discriminados na tabela V.
Tabela V - Descrição dos domínios avaliados no KHQ de mulheres
com incontinência urinária, Parnaíba, 2016.
O Assoalho Pélvico é formado
por estruturas musculoesqueléticas que devem estar fortalecidas para exercer com
efetividade suas funções, porém a maioria das mulheres desconhece a existência e
importância destas estruturas. Quando se fala em incontinência urinária, a fraqueza
da musculatura do assoalho pélvico está diretamente relacionada, principalmente
em mulheres, pois a literatura é unânime quando se trata de maior frequência em
relação aos homens [3,6,13].
O aumento da idade e IMC
são fatores de risco para IU [14,15]. Apesar das participantes apresentarem faixa
etária baixa, possuíam como fator de risco IMC acima do
ideal, com prevalência de sobrepeso e obesidade.
No presente estudo foi
encontrada maior prevalência de IUM em mulheres com idade média de 24 anos, o que
pode ser um viés devido a quantidade da amostra já que
a literatura afirma que a IUE tem prevalência maior em mulheres jovens e de meia
idade, enquanto que a IUU e a IUM são mais facilmente encontradas em mulheres idosas
[13].
Os resultados encontrados
indicam não haver diferença expressiva na função eletromiográfica entre os tipos
de fibras da musculatura do assoalho pélvico e as posições da realização dos testes,
com exceção das atividades fásica em ortostatismo e tônica em decúbito dorsal, dados
que corroboram os achados de Moretti et al. [16].
Os valores da atividade
eletromiográfica de ambos os tipos de fibras dos músculos do assoalho pélvico foi
maior em ortostatismo e diminuiu no decúbito dorsal. Contrariando os resultados
obtidos, alguns estudos [1,17] mostraram que não há diferença significante da ação
muscular entre as posições, ou que há maiores sinais eletromiográficos, ou seja,
ação muscular, em decúbito dorsal do que em ortostatismo. Porém, nestes estudos,
a avaliação ocorreu concomitante a algum tipo de tratamento e/ou outras avaliações,
não sendo uma avaliação pura e estritamente eletromiográfica, o que talvez favoreça
a discordância dos estudos.
Alves et al. [18] realizaram um estudo para avaliar
o AP (fibras fásicas e tônicas) de mulheres irregurlamente ativas e praticantes
de atividade física através das eletromiografia em ortostatismo e decúbito dorsal.
Mesmo sendo um estudo com público alvo diferente, não se obteve diferenças significativas
quanto aos valores eletromiográficos entre os grupos e/ou posições, além de obter
valores de média semelhantes com os encontrados nesta pesquisa. Isso pode ter ocorrido,
pois, mesmo tendo este tipo de variação, o estudo é sobre avaliação e não tratamento.
Ainda há dificuldade de
encontrar parâmetros ideais para avaliação eletromiográfica do assoalho pélvico,
principalmente na posição ortostática. Mas, neste estudo não foram encontrados empecilhos
quanto à realização da avaliação em ortostatismo, tida como bastante válida para
adequada caracterização da capacidade funcional do assoalho pélvico e do seu mecanismo
de relação com a IU [17,19].
Nos
achados eletromiográficos
não houve diferença significativa da ação
do reto abdominal concomitante à contração
do MAP nas diversas posições avaliadas, como se observa
no teste para fibra tônica,
no qual rms em decúbito dorsal é 46,53 (±7,25) e
em ortostatismo 46,81 (±4,11) e,
para fibra fásica em decúbito dorsal 48,90
(±10,98) e ortostatismo 45,31 (±3,75);
mesmo havendo sinergismo entre as duas musculaturas como podem ser
observadas nas
tabelas I, II, III e IV. Laycok e Jerwood [20] confirmaram em seu
estudo o sinergismo
abdomino-pélvico ao constatar que há
contração abdominal em resposta à
função normal
do MAP de maneira reflexa e/ou voluntária. Inclusive, Alves et al. [18] retratam que esse sinergismo pode ser fator do aumento do
tônus dos MAP quando se trata de praticantes de atividade física, abrindo discussão
para relação da IU com a prática de atividades físicas.
A perda de urina afeta
negativamente a qualidade de vida e a autoestima podendo levar a sentimentos de
constrangimento e ansiedade bem como à redução na participação em atividades sociais
e desportivas [21-25]. Entretanto, este estudo apontou pouca interferência da IU
na qualidade de vida das participantes, obtendo escores baixos. Isso pode ser justificado
pela idade do público alvo (adultas jovens) e pela perda de urina ser esporádica
e em pequenas quantidades, corroborando achados da literatura [26-28]. Diversos
autores [29-32] relatam não haver preocupação com as queixas apresentadas, mesmo
quando o KHQ obtém escores mais altos, acreditando ser algo normal ou que naturalmente
irá ter resolubilidade, e que os domínios mais afetados são sobre limitações sociais
e relações pessoais, e os escores mais baixos são nos domínios sobre percepção geral
de saúde e impacto da incontinência urinária. Algumas mulheres chegam a usar protetores
higiênicos, e mesmo sabendo que isso é uma condição anormal, só procuraram ajuda
em gravidade extrema.
O estudo demonstrou não
haver grandes prejuízos na qualidade de vida de mulheres incontinentes em sua vida
adulta, além de observar que a musculatura do assoalho pélvico se comportou de forma
mais efetiva na posição ortostática em relação ao decúbito dorsal. Com os achados
discordantes da maior parte da literatura vigente, observou-se a necessidade de
trabalhos científicos que descrevam a avaliação dos MAP por meios mais atuais, como
a eletromiografia de superfície, e de pesquisas mais específicas sobre os tipos
de posições e contrações musculares, a fim de aprimorar os dados de conhecimento
científico sobre o tema.