OPINIÃO
Paralisia
facial periférica e linha do tempo: do empirismo à prática baseada em
evidências
Marco Orsini*,
Clynton Lourenço Correa**, Marcos RG de Freitas***, Viviane Marques****,
Adriana Leico Oda*****, Victor Hugo Bastos******, Silmar Teixeira******,
Carlos Eduardo Cardoso*******, Eduardo Trajano*******
*Mestrado Profissional
em Ciências Aplicadas à Saúde, Universidade Severino Sombra, Vassouras/RJ e
Mestrado e Doutorado em Ciências da Reabilitação, UNISUAM/RJ, **Faculdade de
Medicina (Departamento de Fisioterapia) da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, ***Faculdade de Medicina (Departamento de Neurologia) da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, ****Universidade do Rio de Janeiro – UNIRIO;
*****Departamento de Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São
Paulo, ******Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Piaui,
Brasil; *******Mestrado Profissional em Ciências Aplicadas à Saúde,
Universidade Severino Sombra, Vassouras/RJ
Recebido 23 de
outubro de 2017; aceito 15 de novembro de 2017.
Endereço para
correspondência: Marco Orsini, Rua Professor Miguel Couto 322, 1001 Jardim
Icarai Niterói RJ, E-mail: orsinimarco@hotmail.com; Clynton Lourenço Correa:
clyntoncorrea@gmail.com; Marcos RG de Freitas: mgdefreita@hotmail.com; Viviane
Marques: vivianemarquesfono@hotmail.com; Adriana Leico Oda:
adrileico.oda@uol.com.br; Victor Hugo Bastos: victorhugobastos@ufpi.edu.br;
Silmar Teixeira: silmarteixeira@ufpi.edu.br; Carlos Eduardo Cardoso:
mestrado_saude@uss.br; Eduardo Trajano: eduardolimatrajano@hotmail.com
Uma das grandes
preocupações com pacientes vitimados por Paralisia Facial Periférica (PFP)
transcorre sobre a eficácia dos programas de reabilitação. Muitos médicos
permanecem cautelosos na orientação de como proceder após a medicalização, pois
a lesão periférica do VII nervo craniano pode gerar graves repercussões na
mímica facial e, consequentemente, na qualidade de vida dos pacientes [1].
Algumas questões nos
intrigam: qual seria o tempo de inicio dos programas de recuperação após a
lesão numa região ainda “inflamada” e necessitando de repouso para recuperação?
A reabilitação não poderia contribuir para alterar em demasia a excitabilidade
axonal, provocando sincinesias? Não seria necessário um período mínimo de
repouso para inicio do tratamento de recuperação das funções comprometidas? O
que dizer dos programas que envolvem eletroterapia? Qual o real papel da
fonoaudiologia? [2-4].
Esse artigo de
opinião é importante para a troca de saberes entre médicos e profissionais que
lidam com PFP, buscando, em última análise, oferecer o que possuímos de mais
atual sobre o tema. As questões acima levantadas ainda permanecem carentes de
explicações baseadas em evidências – motivo dessa troca de saberes.
O principal sintoma
da PFP é a paresia\paralisia facial súbita. Metade dos pacientes combalidos
queixa-se de dor retro-auricular que pode perdurar
dias. Comumente o quadro álgico emerge cerca de 72
horas antes da paralisia, podendo também ocorrer no momento da instalação. O
comprometimento da gustação e do lacrimejar são observados em alguns casos;
sintomas decorrentes da disfunção parassimpática. A PFP raramente é recorrente,
sendo que na recidiva ou na paralisia facial bilateral devemos excluir
miastenia gravis, lesões de base do crânio que estejam comprometendo o nervo
facial, além de doenças sistêmicas. Causas infecciosas devem ser sempre
investigadas [5,6].
Estudos envolvendo
autópsias demonstraram a existência de infecção latente pelo vírus Herpes
simplex (VHS) no gânglio geniculado do nervo facial na maioria dos indivíduos
avaliados, existindo, portanto, fatores que podem estar associados a sua
reativação [7]. Pesquisas laboratoriais e clínicas têm identificado “gatilhos”
relacionados à reativação de infecções pelo VHS, tais como radiação ultra-violeta, trauma local, coinfecções, exposição ao frio,
estresse, distúrbios do humor e estados de imunossupressão [6]. O tratamento da
PFP requer abordagem médica, fisioterapêutica e fonoaudiológica. Pode ser
medicamentoso apenas ou associado à terapia de reabilitação ou ainda
medicamentoso e cirúrgico seguido da reabilitação orofacial.
Dados exportados da
Cochrane com 2280 participantes submetidos ao tratamento com antivirais [8],
demonstraram que: o nível de evidência dos artigos é baixo; os benefícios em
associar antivirais com corticosteróides em comparação com corticosteróides
isolados para o tratamento PFP de vários graus de gravidade torna-se a melhor
opção; corticosteróides isolados foram mais eficazes do que os antivirais
isolados. É consenso que a combinação de antivirais e corticosteróides reduz sequelas da PFP em comparação com os corticosteróides
em regime de monoterapia. Não foi identificado aumento significativo nos
eventos adversos do uso de antivirais em comparação com placebo ou
corticosteróides [8]. A utilização de toxina botulínica tipo A em associação com
biofeedback é considerada uma estratégia a médio|longo prazo para gerenciamento
das sincinesias [9].
Temos em mente que a
taxa de recuperação está relacionada com a gravidade dos danos provocados ao
nervo e, logicamente, as causas da paralisia. A terapia
(fisioterapia\fonoaudiologia) dos músculos da mímica facial pode ser eficaz
nesses pacientes, embora tenhamos um nível C de evidência no que tange à
reabilitação. Não há recomendação de tratamento específico dirigido a causa
específica; Do mesmo modo, não há evidências disponíveis no momento da
intervenção em relação ao tempo de início do quadro clinico. Ensaios
controlados e randomizados ainda são escassos [10].