ARTIGO
ORIGINAL
Ocorrência
de sintomas osteomusculares e fatores associados à profissão de costureira no
município de Caruaru/PE
Occurrence of osteomuscular symptoms and
factors associated to the seamstress profession in Caruaru/PE
Wycara Juliany
Gonçalves de Moura, Ft.*, Rafaela da Paixão Lima, Ft.*, Lícia Vasconcelos
Carvalho da Silva, Ft.**, Simone Monte Bandeira de Mello, M.Sc.**
*Bacharel
em Fisioterapia, **Docente do curso de Fisioterapia Asces-Unita,
Caruaru/PE
Recebido em 21 de dezembro
de 2017; aceito em 8 de abril de 2018.
Endereço
para correspondência:
Simone Monte Bandeira de Mello, Rua Maria Dináh, 622,
Caruaru PE, E-mail: simonemontebmello@hotmail.com; Wycara
Juliany Gonçalves de Moura: wycaramoura@gmail.com;
Rafaela da Paixão Lima: rafaelavictorialima@hotmail.com, Lícia Vasconcelos
Carvalho da Silva: licivasconcelos@asces.edu.br
Resumo
Introdução: A profissão de
costureira é considerada monótona e de ritmo e repetitividade constantes. Todo
o trabalho é realizado na postura sentada, na maioria das vezes, em posições antiergonômicas, o que acarreta grande sobrecarga à coluna
vertebral, além da sobrecarga constante nos membros superiores. Objetivo: Analisar a ocorrência dos
sintomas osteomusculares e fatores associados à profissão de costureira no
município de Caruaru/PE. Métodos:
Trata-se de um estudo observacional, transversal, com caráter
analítico-descritivo. A amostra foi de 334 costureiras que trabalhavam em
empresas na cidade de Caruaru/PE. Como instrumento de coleta foi utilizado o
Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO). Resultados: Houve uma prevalência do sexo feminino (83,5%), com
idade média de 35,8 ± 9,6 anos. As regiões corporais mais afetadas por sintomas
osteomusculares nos últimos doze meses foram região lombar, região cervical e
ombros. Conclusão: Nesta pesquisa,
observou-se uma elevada ocorrência de queixas osteomusculares associadas a
fatores pessoais e profissionais. Alguns desses fatores podem ser controlados
na rotina laboral, minimizando o risco de desenvolvimento de LER/DORT nesses
profissionais.
Palavras-chave: doenças
profissionais, transtornos traumáticos cumulativos.
Abstract
Introduction: The seamstress profession is considered monotonous, with constant
rhythm and repeatability. All the work is done in a seated posture, mostly in
anti-ergonometric positions, causing the overload of the vertebral column,
besides the constant overload of the upper limbs. Objective: To analyze the occurrence of musculoskeletal symptoms
and factors associated to the seamstress profession in the city of Caruaru, in
the state of Pernambuco, Brazil. Methods: This was an observational, cross-sectional, descriptive
analytical research. The sample was composed by 334 seamstresses working at
Caruaru city. We used the Nordic Musculoskeletal Questionnaire (NMQ) as
instrument for data gathering. Results:
We verified a prevalence of women (83.5%), with the average age of 35.8 ± 9.6
years. The body regions most affected by the musculoskeletal symptoms in the
last twelve months were lumbar region, cervical region and shoulders. Conclusion: In this research, there was
a high occurrence of musculoskeletal complaints associated with personal and
professional factors. Some of these factors can be controlled in the work
routine, minimizing the risk of developing RSI/WMSDs in these professionals.
Key-words: seamstress,
occupational diseases, cumulative trauma disorders.
Mundialmente houve um
grande avanço da tecnologia no ambiente laboral, no entanto, junto com essa
evolução tecnológica observa-se o aumento dos agravos à saúde do trabalhador,
com consequentes sintomas osteomusculares característicos de Lesões por Esforço
Repetitivo ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT)
[1,2]. No Brasil os distúrbios osteomusculares vêm atingindo proporções
epidêmicas. Inicialmente o termo LER foi utilizado para descrever doenças
relacionadas ao trabalho, porém, constatou-se que este termo não era o mais
adequado, por referir-se apenas a esforços repetitivos, além de não ser
específico do trabalho. Este termo foi alterado em 1998, adotando-se a
terminologia DORT [3].
Todavia, como a sigla
LER já era amplamente utilizada no Brasil houve a
consolidação dos termos LER/DORT [4]. Segundo Ferreira [5], DORT é o nome
genérico dado a um conjunto de afecções heterogêneas, que podem acometer
músculos, tendões, sinóvias,
articulações, vasos e
nervos de trabalhadores submetidos a certas condições de
trabalho. Os
principais fatores que contribuem para o desenvolvimento de LER/DORT
são: a má
postura, contração repetitiva de alguns grupos
musculares, utilização de força
muscular excessiva, compressão mecânica dos tecidos,
trabalho automatizado,
estresse, ausência de pausas durante o expediente e a falta de
adaptação
ergonômica. Também é possível que haja uma
predisposição genética que favoreça
o aparecimento de tais distúrbios [3,6,].
A profissão de
costureira é considerada monótona, de ritmo e repetitividade constantes,
exigindo extrema concentração, para minimizar risco de acidentes de trabalho
[7]. As longas jornadas de trabalho associadas à manutenção da postura sentada
e uso excessivo dos membros superiores tornam estes profissionais
frequentemente acometidos por sintomas osteomusculares característicos de
LER/DORT [8,9].
A carga horária dos
costureiros é, em média, 44 horas semanais, sendo
passível de horas extras a fim de atingir metas de produção [3]. O horário de
pausas durante o expediente muitas vezes é insuficiente para o descanso. Todo o
trabalho é realizado na postura sentada, na maioria das vezes, em posições antiergonômicas, o que acarreta grande sobrecarga à coluna
vertebral, além da sobrecarga constante dos membros superiores para manusear o
tecido e as ferramentas necessárias para executar o trabalho [10].
Devido à exposição
contínua a esses fatores, os costureiros frequentemente apresentam sintomas
osteomusculares relacionados a LER/DORT. Dentre estas, as que ocorrem com maior
frequência são: cervicalgia, tendinite do supraespinhoso, bursite, epicondilite
lateral e/ou medial, síndrome do túnel do carpo, lombalgia, afecções vasculares
entre outras [5].
No Brasil, os dados
estatísticos dos agravos à saúde dos trabalhadores não cobrem a totalidade dos
trabalhadores e as informações são desencontradas, o que dificulta a definição
da totalidade dos trabalhadores acometidos por LER/DORT. Este fato limita o
reconhecimento do problema e mascara a realidade dos trabalhadores. Apesar da
escassez de dados epidemiológicos, em alguns estudos realizados constatou-se
que a atividade de costureiro é considerada de risco para o surgimento de
LER/DORT [11-13].
O reduzido número de
artigos científicos sobre sintomas osteomusculares relacionados ao trabalho de
costureiros motivou a realização desta pesquisa, que visa identificar e
analisar a ocorrência dos sintomas osteomusculares e fatores associados a essa
profissão no município de Caruaru/PE, para assim contribuir para a criação de
estratégias de prevenção contra a LER/DORT nesta população.
Trata-se de um estudo
observacional, transversal, com caráter analítico-descritivo. A população
estudada consistiu em costureiros que trabalhavam em empresas na cidade de
Caruaru/PE. A população total de costureiros com registro no ministério de trabalho
e emprego de Caruaru/PE foi de 2500, a amostra foi de 334 costureiros, de
acordo com o cálculo de tamanho da amostra através do site de domínio público OpenEpi versão 3. Foi realizada
uma busca pela internet das empresas de confecções situadas em Caruaru/PE, o
critério de escolha das empresas foi por conveniência. Doze empresas
consentiram com a realização da pesquisa e foram suficientes para atingir o
número amostral.
Foram incluídos na
pesquisa costureiros de empresas situadas no município de Caruaru/PE com no
mínimo 12 meses de trabalho, com idade maior de dezoito anos e que concordaram
em participar da pesquisa mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE). Os critérios de exclusão foram: déficit cognitivo, os quais
impossibilitassem de responder o questionário, presença de patologias
congênitas que interferiam no sistema músculo esquelético, retorno há menos de 6 meses de algum tipo de afastamento tais como: licença
maternidade, auxílio doença, dentre outros.
A pesquisa foi
iniciada após assinatura da carta de anuência pelas empresas e do TCLE pelos
costureiros. O instrumento de coleta utilizado foi o Questionário Nórdico de
Sintomas Osteomusculares (QNSO) [14] traduzido e adaptado para o português,
utilizado para identificação de sintomas osteomusculares. O QNSO é dividido em
duas partes, a primeira contém a figura do corpo humano dividido em 9 regiões anatômicas: cervical, ombros, braços, cotovelos,
antebraço, punhos/mãos/dedos, região dorsal, região lombar, quadril/membros
inferiores.
O participante da
pesquisa identificou no mapa corporal a região anatômica onde sentia dor,
desconforto, dormência ou formigamento, considerando os últimos 12 meses. As
opções de respostas disponíveis nas regiões corporais investigadas foram: (0)Não, (1)Raramente, (2)Com frequência e (3)Sempre. A segunda
parte do QNSO coletou dados demográficos como gênero, idade, escolaridade,
especialidade, tempo de profissão, carga horária, realização de outra atividade
profissional, prática de atividade física e outras atividades realizadas no dia
a dia considerando os últimos 12 meses.
As análises foram
realizadas no programa estatístico SPSS for Windows 17.0, onde foram calculadas
as porcentagens e frequências para as regiões acometidas e dados demográficos.
As associações entre as regiões mais acometidas, variáveis sociodemográficas
e condições de trabalho foram realizadas utilizando o teste qui-quadrado
com nível de significância estatística foi de p < 0,05.
A partir da análise
dos dados, verificou-se uma prevalência do sexo feminino, correspondente a
83,5% (279) da amostra. A maioria dos trabalhadores apresentou idade média de
35,8 ± 9,6 anos, com predomínio na faixa etária dos 26 aos 35 anos (37,7%).
Dentre os participantes da pesquisa 16,8% (56) relataram ter ensino superior
incompleto e 2,4% (8) ensino superior completo, o restante da amostra que
corresponde a 80,8% (270) até o ensino médio. Em relação ao estado civil,
verificou-se que 55,7% (186) eram casados e 44,3% (148) solteiros. Apenas 14
participantes relataram a prática de outra atividade profissional. Quanto à
prática de atividade física regular, com frequência de no mínimo três vezes na
semana 83,8% (280) afirmaram ser sedentários.
A média de tempo de
atividade na profissão de costureiro foi de 10,5 ± 7,7 anos. De acordo com os
dados coletados, 90,1% (301) dos costureiros cumpriam uma jornada de trabalho
maior que oito horas por dia. Em relação à ocorrência de pausas durante o
expediente identificou-se que 3,3% (11) costureiros não tinham pausa, 61,1%
(204) tinham pausa no período da manhã e 35,6% (119) tinham pausas no período
da manhã e durante a tarde. As três regiões corporais mais afetadas por
sintomas osteomusculares nos últimos doze meses foram, região lombar, região
cervical e ombros. Entre os entrevistados 94% (314) relataram a ocorrência
destes sintomas na região lombar, 85,3% (285) na região cervical e 82,3% (275)
referiram à presença dos sintomas nos ombros (tabela I).
Tabela
I - Frequência de sintomas osteomusculares (dor,
dormência, desconforto ou formigamento) nos últimos 12 meses de acordo com a
região corporal.
Identificaram-se
noventa e nove profissionais (29,7%) que relataram ter recebido diagnóstico
médico de doenças que poderiam estar relacionadas à atividade laboral nos
últimos doze meses, os diagnósticos com maior prevalência foram bursite 20 (6%)
e tendinite 20 (6%).
Foram realizadas
associações entre os três sintomas osteomusculares mais prevalentes na amostra
com variáveis sociodemográficas (sexo, idade, estado
civil, nível de escolaridade e prática de atividade física regular) e condições
de trabalho (tempo de trabalho em meses, horas de trabalho por dia, presença de
pausas e período da pausa). Foi observada significância estatística ao
relacionar os sintomas osteomusculares na região lombar com o sexo (p ≤
0,001), idade ( p ≤ 0,001), estado civil (p =
0,017) e tempo de trabalho em meses (p ≤ 0,001). As
variáveis idade (p = 0,002), nível de escolaridade (p = 0,009), presença
de pausa (p = 0,006), período de pausas (p = 0,002), e tempo de trabalho em
meses (p ≤ 0,001) se mostraram associadas aos sintomas osteomusculares na
região cervical. Os sintomas osteomusculares nos ombros mostraram-se associados
às variáveis idade (p = 0,006) e tempo de trabalho em meses (p ≤ 0,001).
Neste estudo as
regiões corporais mais afetadas por sintomas osteomusculares nos últimos doze
meses foram região lombar, região cervical e ombros. As principais variáveis
que apresentaram associação com as queixas osteomusculares foram sexo, idade,
estado civil e tempo de trabalho em meses.
Observou-se maior
frequência de trabalhadoras do sexo feminino. De acordo com Sena et al. [7], tal fato pode ser justificado
porque se trata de uma atividade manual, que exige coordenação, precisão e por
ser desenvolvida pelas mulheres em casa.
Neste estudo, a maior
parte da amostra era sedentária 83,8%. Este achado pode estar relacionado à
carga horária de trabalho extensa e ao maior envolvimento das mulheres em
atividades domésticas. Este resultado se assemelha ao de Farah et al. [15], que avaliaram 1910 pessoas
buscando uma associação da prática de atividades físicas no lazer com
comportamentos sedentários em trabalhadores da indústria do Estado de
Pernambuco. Os autores observaram uma predominância do sexo feminino (56,4%),
das quais 66,2% relataram inatividade física. De acordo com a literatura, a
prática de atividade física minimiza as tensões emocionais e físicas, consequentemente
reduz a ocorrência de sintomas osteomusculares relacionados à atividade laboral
[15].
Com relação à jornada
de trabalho semanal, Manhanini et al. [3] observaram que 100% dos costureiros entrevistados cumpriam
uma jornada de trabalho de 44 horas semanais e que 90% dos trabalhadores
realizavam horas extras. Outra pesquisa com costureiros realizada por Sena et al. [7] demonstraram que 93,5% dos
costureiros trabalham nove horas diárias. Os dados coletados neste estudo estão
em consonância com estes achados, visto que 90,1% dos costureiros entrevistados
cumpriam uma jornada de trabalho maior que oito horas por dia.
O presente estudo
ainda identificou que 3,3% relataram não ter pausa, 61,1% tem pausa apenas no
período da manhã e 35,6% tem pausas no período da manhã e durante a tarde. Nos
resultados encontrados por Sena et al. [7], 93,5%
dos costureiros realizavam apenas uma pausa de quinze minutos. A pausa é
fundamental para garantir a recuperação física, reduzir a fadiga muscular e microtraumas nas estruturas sobrecarregadas pela atividade
laboral [16].
A profissão de
costureiro não é regulamentada pelo ministério do trabalho, deste modo, não
existe legislação específica a respeito de carga horária, pausas e outros
fatores relacionados à prática desta atividade laboral. No entanto, sabe-se que
a carga horária extensa associada à manutenção da postura sentada e utilização
constante dos membros superiores requer manutenção da postura por tempo
prolongado e contração muscular estática de grandes grupos musculares, o que
pode provocar o desenvolvimento de processos inflamatórios nos segmentos
envolvidos com consequentes sintomas osteomusculares [17,18].
Dentre os
pesquisados, as regiões corporais mais afetadas por sintomas osteomusculares
nos últimos doze meses foram região lombar, cervical e ombros, dentre estas, a
região lombar apresentou os maiores índices. Em um trabalho realizado por
Trindade et al. [19], foi investigada a presença de
dor osteomuscular em trabalhadores da indústria têxtil, através do mesmo
instrumento de coleta desta pesquisa. As maiores queixas osteomusculares
concentraram-se em membros inferiores (60,93%), região lombar (55,2%) e ombros
(46,87%). Maciel et al. [20] identificaram as maiores
queixas de dor nas porções cervical e torácica da coluna vertebral, pernas e
ombros. A diferença nos achados desses autores pode se justificar pelas
características das amostras investigadas, sendo os trabalhadores da indústria
têxtil em geral nessas duas últimas pesquisas, e apenas costureiros no presente
estudo.
A postura sentada
acarreta grande sobrecarga à coluna lombar, aumentando a compressão nos discos
intervertebrais e a exigência da musculatura estabilizadora da coluna,
provocando a lombalgia [8,21]. Segundo Junior et al. [17], um dos fatores de risco para lombalgia ocupacional é a
exposição a longas jornadas de trabalho sem pausas. Os altos índices de
sintomas osteomusculares na região cervical podem ser explicados pelo fato de
ser um trabalho manual que necessita de acompanhamento visual, deste modo a região cervical do costureiro se mantém protrusa, acompanhada de uma inclinação anterior do tronco.
Desta forma, ao longo da jornada de trabalho, estas regiões acumulam tensão,
ocasionando dor na região cervical e nas fibras superiores do trapézio [18,22].
Maciel et al. [20] realizaram um estudo para
identificar a prevalência e os fatores associados à sintomatologia dolorosa
entre profissionais da indústria têxtil. Foram investigadas as condições de
saúde de trabalhadores, e 43,2% pessoas afirmaram possuir alguma patologia ou
distúrbio e 56,8% negaram esta condição. Já neste estudo, 29,7% profissionais
buscaram assistência médica nos últimos doze meses, os diagnósticos com maior
prevalência foram bursite (6%) e tendinite (6%). Estes diagnósticos podem estar
relacionados à profissão exercida pelos mesmos, uma vez que durante toda a
jornada de trabalho os membros superiores se mantêm em constante atividade para
manusear o tecido e as ferramentas necessárias [6].
Após analise
bivariada das variáveis sociodemográficas e condições
de trabalho com a presença de sintomas osteomusculares, foi identificada
associação entre o sexo do indivíduo e os sintomas osteomusculares na região
lombar, onde se evidenciou uma relação entre o sexo feminino e a ocorrência de
sintomas osteomusculares. Este achado corrobora outros estudos, dentre eles, o
de Maciel et al. [20], que também observaram esta
associação em seu estudo com 162 profissionais que trabalhavam com corte e
costura. Um dos fatores que predispõe as mulheres a apresentarem maiores
queixas osteomusculares é a composição corporal e a diferença de massa corporal
em relação aos homens, outro fator são as alterações hormonais mensais
vivenciadas pelas mesmas.
A ocorrência de
sintomas osteomusculares na região cervical também foi mais frequente no sexo
feminino, apesar de não haver significância estatística. Além da sobrecarga do
trabalho, outro fator que pode predispor às queixas osteomusculares na região
cervical são os distúrbios de ordem emocional, que causam contração muscular
exagerada, comprometendo o fluxo sanguíneo, causando desconforto e dor [4,23].
Uma associação também
foi observada entre a idade e os sintomas na região lombar (p = 0,001), região
cervical (p = 0,002), ombros (p = 0,006), sugerindo que, quanto mais elevada a idade, maior a incidência das queixas osteomusculares.
Este fato pode estar relacionado ao próprio envelhecimento do sistema
osteomuscular, que torna o sujeito predisposto a queixas dolorosas em virtude
do desgaste das estruturas ósseas, articulares e musculares [24].
O estado civil
mostrou-se associado aos sintomas lombares (p = 0,017), evidenciando maiores
índices de sintomas osteomusculares entre os casados. Este resultado pode estar
relacionado ao fato de que, após a jornada de trabalho, estes trabalhadores, na
sua maioria mulheres, ainda exercem atividades domésticas como limpar a casa
entre outras atividades, sobrecarregando ainda mais as estruturas exigidas durante
a atividade laboral.
A
variável tempo
de trabalho em meses mostrou-se associada aos sintomas osteomusculares nas três
regiões corporais mais acometidas, este resultado evidenciou que quanto maior o
tempo de trabalho, maior a ocorrência de queixas osteomusculares. Este achado
concorda com a pesquisa de Maciel et al. [20], que
investigou a prevalência e fatores associados à sintomatologia dolorosa entre
profissionais da indústria têxtil, observando o maior índice de presença de dor
nos trabalhadores com mais de seis meses na profissão. Assim como a carga
horária elevada causa sobrecarga e desgaste nas estruturas osteomioarticulares,
o tempo de trabalho na mesma atividade laboral aumenta a prevalência de
sintomas persistentes, pelo fato das estruturas corporais estarem expostas a microtraumas cumulativos e repetitivos.
A presença de pausas
e o período das mesmas mostraram significância estatística na região cervical
(p = 0,006 e p = 0,002) e nos ombros (p = 0,013 e p = 0,001). Estes achados indicam
que quanto menor a presença e o período de pausa, maior a prevalência das
queixas osteomusculares. Na legislação trabalhista brasileira para a profissão
de costureiro não há determinação a respeito do período de pausas, no entanto,
sabe-se que estes intervalos durante a jornada de trabalho são fundamentais
para o repouso das estruturas sobrecarregadas. A presença e o período de pausas
é um dos fatores organizacionais que podem controlar os fatores de risco para o
surgimento dos sintomas osteomusculares característicos de LER/DORT [6].
A longa permanência
na postura sentada e a constante utilização dos membros superiores acarretam
grande sobrecarga ao sistema musculoesquelético dos costureiros. Na pesquisa,
observou-se elevada ocorrência de queixas osteomusculares associadas,
especialmente, aos fatores sexo, idade, estado civil, tempo de trabalho em
meses, presença de pausa durante o expediente e ao período das mesmas.
Neste estudo não foi
levada em consideração a ergonomia. Porém, sabe-se que a ergonomia do ambiente
laboral pode ser um fator de proteção para o surgimento de LER/DORT ou um fator
de risco. Medidas como a utilização de equipamentos de proteção individual e
coletiva, pausas fracionadas durante o expediente, a presença de profissionais
de saúde nas empresas para adoção de estratégias de promoção a saúde e
prevenção de doenças, contribuem positivamente para a redução da ocorrência de
sintomas osteomusculares e para a manutenção da saúde do trabalhador.