ARTIGO ORIGINAL

Ocorrência da Síndrome de Burnout em professores do ensino superior em instituição privada

Occurrence of Burnout Syndrome in higher education teachers in a private institution

 

Raynan José Sousa da Silva, Ft.*, Mayara Eduarda Pereira Justino, Ft.**, Marcelo Tavares Viana, D.Sc.***, Simone Monte Bandeira de Mello, M.Sc.***

 

*Residente no programa multiprofissional em atenção ao câncer e cuidados paliativos pelo Centro Universitário Tabosa de Almeida, **Fisioterapeuta no Hospital Unimed Caruaru (HUC), ***Docente no Centro Universitário Tabosa de Almeida

 

Recebido em 21 de dezembro de 2017; aceito em 11 de julho de 2018.

Endereço de correspondência: Simone Monte Bandeira de Mello, Avenida Portugal, 584 bairro Universitário 55016-400 Caruaru PE, E-mail: simonemontebmello@hotmail.com; Raynan José Sousa da Silva: raynansilva30@gmail.com; Mayara Eduarda Pereira Justino: eduarda-fisioterapia@live.com; Marcelo Tavares Viana: mtviana0@hotmail.com

 

Resumo

Introdução: A Síndrome de Burnout, descrita como uma síndrome tridimensional, caracterizada por exaustão emocional, despersonalização e diminuição da realização profissional, acomete os profissionais cujo cotidiano de trabalho tem relação direta com pessoas expostas a um estresse crônico. Objetivo: Analisar a ocorrência da Síndrome de Burnout em professores do ensino superior em instituição privada. Métodos: Trata-se de um estudo transversal, com caráter analítico-descritivo em uma instituição privada de nível superior, com 161 docentes. Utilizou-se como instrumentos de coleta dados um questionário semiestruturado e o questionário validado de Maslach Burnout Inventory. Resultados: Para as dimensões do Burnout, os docentes obtiveram uma alta exaustão emocional, moderada despersonalização e moderada diminuição da realização profissional. O sexo feminino, docentes que trabalham no turno integral e que possuem um tempo de atuação ≥ 21 anos são mais susceptíveis em todas as dimensões da síndrome. Professores atuantes na área de saúde, que trabalham ≥ 9 horas de 4 a 6 dias por semana, resultaram em alta exaustão emocional. Conclusão: Os resultados apontam que 78,4% dos docentes apresentaram um escore de moderado a alto para desenvolver a Síndrome de Burnout, podendo estar associado aos fatores sociodemográficos e laborais.

Palavras-chave: esgotamento profissional, docentes, saúde do trabalhador.

 

Abstract

Introduction: Burnout Syndrome is described as a three-dimensional syndrome, characterized by emotional exhaustion, depersonalization and decreased professional achievement. It affects professionals whose daily work is directly related to people exposed to chronic stress. Objective: The present study analyzes the incidence of Burnout Syndrome in higher education teachers in a private institution. Methods: This is an analytical and descriptive cross-sectional study in a private institution of higher education, with 161 teachers. As data collection tools, a semi-structured questionnaire and the Maslach Burnout Inventory validity questionnaire were used. Results: For the burnout dimensions, teachers obtained a high emotional exhaustion, moderate depersonalization and moderate diminished personal accomplishment. The female and teachers working full-time for over 21 years are more likely in all dimensions of the syndrome. Teachers working in health care ≥ 9 hours/day, 4 to 6 days a week, resulted in high emotional exhaustion. Conclusion: The results show that 78.4% of teachers had a score of moderate to high to develop the burnout syndrome, which can be associated with sociodemographic and labor factors.

Key-words: burnout, professional faculty, occupational health.

 

Introdução

 

Atualmente, as pessoas possuem uma vida profissional muito agitada e desgastante, o que gera um meio competitivo, evidenciando fatores que levam ao estresse. Uma consequência frequente deste ritmo contemporâneo é um estado de tensão emocional e estresse crônico provocado por condições impróprias e desgastantes de trabalho [1].

Presente na maior parte das profissões, inclusive em professores, o estresse decorre devido a problemas enfrentados na profissão, marcado pela presença de frustração e exaustão com o trabalho, cuja evolução é gradual afetando todas as esferas da vida pessoal e podendo levar à Síndrome de Burnout (SB) [2,3].

A SB é descrita de forma tridimensional, a qual acomete aqueles profissionais cujo cotidiano de trabalho tem relação direta com pessoas expostas a um estresse crônico. Este fato, reconhecido, afeta não só o docente enquanto indivíduo singular mas também o contexto educativo em que o mesmo se insere, colocando os professores em risco para a sobrecarga e adoecimento [4,5].

Além de executar atividades de ensino, a necessidade de manter-se atualizado, capacitando-se e participando de eventos científicos, gera sobrecarga de trabalho, pois o docente universitário tem de conciliar grande quantidade de eventos estressores, pressão e cobranças pelo bom rendimento de alunos. Carga horária excessiva, e atividades que se estendem até a sua casa, falta de convívio social e lazer, falta de reconhecimento profissional, baixos salários e más condições de trabalho [5].

Para o diagnóstico de SB, o profissional deve ter vivência direta com outras pessoas e um enquadramento nos três critérios descritos por Maslach e Jackson [6], dentre eles: Exaustão Emocional (EE), Despersonalização (DE) e Diminuição Realização Profissional (DRP). Para estes critérios, Christine Maslach criou um questionário, Maslach Burnout Inventory (MBI), contendo 22 questões, adaptado e validado para realidade dos professores brasileiros em 2001, os resultados do teste de correção apresentaram níveis aceitáveis de reprodutibilidade [7,8].

Existe uma escassez de estudos sobre Síndrome de Burnout em docentes, não havendo muitas evidências sobre a aplicação do questionário em professores de nível superior. Desta forma, é evidente a necessidade de pesquisas relacionadas à saúde do trabalhador, para melhorar a especificidade da assistência à saúde nestes profissionais. Logo, este estudo visou uma avaliação dos professores de ensino superior, vinculados à instituição privada, identificando se estes apresentam algum dos estágios da SB, a fim de prevenir o surgimento e/ou evolução do quadro.

 

Material e métodos

 

Este estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa, sob parecer 1.301.203, conforme determina a Resolução nº 466/12 no Conselho Nacional de Saúde. Trata-se de um estudo do tipo transversal com abordagem quantitativa e de caráter analítico-descritivo, realizado em uma instituição privada do ensino superior, no período de janeiro a maio de 2016. Para a realização do cálculo amostral, foi utilizado o site de domínio público www.openepi.com. Como parâmetros de cálculo para amostra total, foi utilizado um intervalo de confiança de 95%, erro padrão de ±5% e frequência antecipada de 50%. O cálculo resultou em uma amostra de 132 docentes. Para fins de perda amostral, foi acrescentado 29 colaboradores ao valor indicado, resultando em uma amostra final de 161 participantes por conveniência.

O estudo incluiu professores de ambos os sexos, todas as áreas de graduação que a instituição oferece (saúde, humanas e exatas), com idade a partir de 25 anos, nos períodos diurno, vespertino e noturno, com no mínimo 2 anos de experiência na docência e com carga horária de trabalho igual ou superior a 20 horas semanais, os quais concordaram em participar da pesquisa mediante assinatura no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídos professores afastados de suas atividades laborais num período mínimo de três meses, que acumulem função de gestão (coordenação de curso).

Foram utilizados como instrumentos de coleta de dados dois questionários: um questionário semiestruturado com dados relevantes a pesquisa e elaborado pelos pesquisadores como sexo, área de atuação, idade, média de alunos por turma, número de dias trabalhados por semana, carga horária por dia, período de trabalho, tempo de atuação na área da docência, estado civil e o Maslach Burnout Inventory (MBI), adaptado e validado para professores brasileiros [9], que possui 22 questões abordando as dimensões, exaustão emocional com nove itens, despersonalização com cinco itens e a diminuição da realização profissional relacionada ao trabalho contendo oito itens, sendo respondida através de uma escala analógica visual que varia entre 0 (nunca) a 6 (todo dia) de intensidade.

O MBI identifica a ocorrência e os graus de manifestos da sintomatologia referente a Síndrome de Burnout de acordo com suas dimensões. Desta forma, indica a presença de riscos para o desenvolvimento de tal síndrome nos docentes da instituição estudada. Foram empregadas as notas de corte utilizadas no estudo de Maslach para as três dimensões abordadas no questionário. Para exaustão emocional, uma pontuação menor que 16 representa um nível baixo; de 17 a 26 nível moderado; e maior ou igual a 27 indica alto nível. Para despersonalização pontuações menores que 6 nível baixo, de 7 a 12 moderado; e maior ou igual que 13 indicam altos níveis. Por outro lado, a pontuação relacionada à diminuição da realização profissional no trabalho, indicam que de 0 (zero) a 31 são altos níveis, de 32 a 38 nível moderado e maior ou igual a 39 baixos.

A aplicação do instrumento de coleta foi realizada pela entrega dos questionários e do TCLE em um envelope aos professores de forma aleatória, individual e anônima, e os pesquisadores ofereceram orientações necessárias para o correto preenchimento, assim como quaisquer dúvidas esclarecidas. Em seguida, foi depositado o envelope contendo os questionários e o TCLE em uma caixa de madeira lacrada, a qual foi encaminhada para a análise estatística.

Para análise descritiva foi utilizado a distribuição de probabilidade. Para as inferenciais utilizou-se o teste do Qui quadrado de associação com um nível de significância p ≤ 0,05. Os dados foram gerados no pacote estatístico SPSS for Windows versão 17 de 2010.

 

Resultados

 

Neste estudo foram avaliados 161 (cento e sessenta e um) docentes. Os professores apresentavam 35,4% entre as idades de 37-42 anos, 24,2% com a mesma proporção para as idades entre 31-36 anos e ≥ 43 anos, 16,2% entre 25-30 anos, com 53,4% casados, 24,2% solteiros, 13% divorciados, 5% viúvos e 4,4% classificaram-se como união estável. Em relação a média de alunos por turma foi constatado que 39,7% obtinham de 31-40 alunos, 37,9% entre 21-30 alunos, 11,8% ≥ 20 alunos e 10,6% ≥ 41 alunos. Os demais dados sobre a caracterização geral da amostra encontram-se descritos na tabela I.

 

Tabela ICaracterização geral da amostra.

No que diz respeito às dimensões da SB, a população pesquisada apresentou um alto índice para a exaustão emocional, um escore moderado para despersonalização e diminuição da realização profissional (tabela II).

 

Tabela IICaracterização das dimensões de Burnout.

 

**Maior escore para as dimensões analisadas.

 

Ao analisar associação da exaustão emocional com as variáveis, foi observada uma maior predominância no sexo feminino com alto escore. Quanto a área de atuação, apresentou um predomínio daqueles que atuavam na área de saúde obtendo uma alta prevalência de exaustão emocional, e os resultados de cada avaliação mostraram-se estatisticamente significativos, ao se utilizar o teste do Qui quadrado (tabela III).

Quando relacionado exaustão emocional com carga horária por dia, observou-se que aqueles com 5-8 horas de trabalho resultaram em um nível alto. Este mesmo nível foi encontrado em profissionais que trabalhavam entre 4-6 dias, comprovado estatisticamente (tabela III).

Em relação ao período de trabalho entre os docentes e o tempo de atuação na área de docência, foi constatado respectivamente que o turno integral e aqueles que atuam igual ou a mais de 21 anos demostram um alto nível para este domínio (tabela III).

Tabela IIIAssociação entre exaustão emocional e as variáveis.

 

*Teste Qui quadrado; # Relação significativa de acordo com as variáveis analisadas.

 

Ao analisar associação da despersonalização com as variáveis, foi encontrada nessa amostra que as mulheres apresentavam um escore alto. Em relação à atuação dos professores que lecionavam na área de exatas, estes corroboraram um nível moderado, como também aqueles que trabalhavam de 5-8 horas de carga horária diária.

De acordo com o teste Qui quadrado, foi comprovado estatisticamente a associação entre número de dias trabalhados e a despersonalização, com maior predomínio naqueles profissionais que trabalhavam de 4-6 dias por semana, obtendo um escore moderado. Assim como evidenciado estatisticamente o período de trabalho integral e o tempo de atuação na área de docência igual ou maior a 21 anos resultaram em um alto nível para esta dimensão (tabela IV).

 

Tabela IVAssociação de despersonalização com as variáveis.

 

 *Teste Qui quadrado; # Relação significativa de acordo com as variáveis analisadas.

 

No cruzamento da dimensão diminuição da realização profissional com as variáveis, foi constatado que o sexo feminino apresentou um nível moderado. Destacou-se um nível moderado para aqueles profissionais da área de exatas, tendo ambos os resultados estatisticamente significativos através do teste Qui quadrado (tabela V).

Com relação à carga horária e ao número de dias trabalhados por semana, ambos apresentaram um escore moderado, porém apenas no segundo item foi possível estabelecer uma associação de significância entre esta dimensão. Ao associar com o período de trabalho e o tempo de atuação de forma distinta, analisamos um moderado nível para este domínio no turno integral e aqueles que possuíam tempo de docência igual ou maior a 21 anos, respectivamente (tabela V).

 

Tabela VAssociação da ineficácia com as variáveis.

 

*Teste Qui quadrado; # Relação significativa de acordo com as variáveis analisadas

 

Discussão

 

Quando o estresse ocupacional ultrapassa os níveis adaptativos e passa para um estado um pouco mais avançado, começa, então, a surgir um conjunto de sintomatologias que interferem diretamente na capacidade do trabalhador, denominada Síndrome de Burnout [10]. As causas da SB compreendem em uma junção de fatores individuais e ambientais, ligado a questões de desvalorização profissional [11].

Ao analisar SB em professores na Universidade Regional do Cariri, com uma amostra de 38 docentes de nível superior, o estudo constatou as seguintes alterações nas dimensões do Burnout: apenas um docente (2,63%) apresentou níveis que configuram a SB, dois (5,26%) apresentaram risco elevado e quatorze (36,84%) demonstraram risco moderado para a síndrome [12]. Outro estudo, tendo por base uma amostra aleatória por conveniência com 67 profissionais que desempenham funções de docência em uma instituição de ensino superior do Rio Grande do Sul, e também atuam em diferentes organizações públicas e privadas, desempenhando funções de ensino e docência com cargo de gestão, verificou que da amostra 47,37% apresentaram baixo índice, 51,31% médio indicativo e apenas 1,31% apresentam a SB [13].

Neste estudo observou-se para as dimensões do Burnout: alta EE, moderada DE e moderada DRP. Já em um estudo com 804 professores da educação básica em Londrina, utilizando o MBI, foi possível identificar os piores níveis de exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional se relacionando com o excesso do tempo de profissão e uma grande carga de trabalho por semana aliadas a outras características do trabalho [5]. Diante destes achados, observa-se que a população estudada apresenta alterações emocionais possivelmente provenientes das condições de trabalho.

O cotidiano dos docentes que atuam no ensino superior, tanto na esfera pública como na iniciativa privada, é caracterizado pela busca incessante por maior produtividade, aumento na quantidade e qualidade das publicações indexadas, qualidade nas pesquisas e nos processos de orientação de alunos, financiamento de projetos, focalizando resultados acadêmicos efetivos, entre outros. No atual modelo, muitas são as atribuições impostas ao professor que extrapolam seu papel profissional e sua carga horária contratual e em virtude de uma organização do trabalho que gera quadros complexos, favoráveis em termos de estresse e, muitas vezes, irreversíveis quanto ao Burnout [4,14].

Nesta pesquisa observou-se uma prevalência do sexo feminino em relação ao masculino nas três dimensões avaliadas, concordando com o estudo realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, composto de uma amostra total de 155 docentes de nível superior [15]. Em contrapartida, um estudo realizado com professores da rede pública e privada demonstrou uma diferença significativa, o sexo masculino apresentou maiores índices na dimensão da despersonalização em comparação com as mulheres [16]. As mulheres podem desenvolver mais estresse que os homens pelo acúmulo de papéis que têm de desempenhar ao mesmo tempo (esposa, mãe, trabalhadora, provedora do lar, mãe solteira, entre outros) [17].

Ao analisar a área de atuação do docente, estudos apontam que professores de humanas, em geral, apresentam maiores sintomas de SB. Uma hipótese é que, como o Burnout é uma síndrome profundamente relacionada com relações humanas, os professores das áreas exatas e biológicas são muito menos expostos a problemas emocionais e sociais. Professores de matérias exatas também têm uma maior capacidade de abstração, o que pode ajudar na resolução de problemas e nas táticas de enfrentamento [18,19].

Em contrapeso o referente estudo resultou em um alto escore para a dimensão de exaustão emocional na área de saúde, um escore moderado na área de exatas e humanas, nas dimensões de despersonalização e diminuição da realização profissional respectivamente. Com isso, é notável que as áreas que possuem uma maior reflexão sobre o trabalho acadêmico são as que têm um maior comprometimento da síndrome de Burnout.

Tais resultados estão atrelados às estratégias de enfrentamento utilizadas pelos professores para lidarem com as demandas e pressões do trabalho. As mesmas não são suficientes para que os docentes se defendam do estresse. Outra variável relevante na determinação da SB é o nível de satisfação com o próprio trabalho e nesse sentido pode-se hipotetizar que os docentes com manifestações de estresse estejam pouco satisfeitos com o próprio trabalho [17].

Sobre a carga horária de trabalho em cinco instituições de ensino superior, numa amostra de 104 professores, resultou que carga horária semanal está positivamente correlacionada com o nível global de estresse e negativamente correlacionada com o fator carreira profissional. Estes resultados sugerem uma tendência de aumento do estresse com o aumento da carga horária e maiores níveis de estresse relacionado com preocupações com a carreira profissional nos docentes com menor carga horária [17].

Por outro lado, o presente estudo identificou que os profissionais de educação que trabalhavam acima de 4 horas diárias apresentaram um escore de moderado a alto para as dimensões da síndrome. Mediante tais achados, os casos com variância de carga horária influenciam negativamente o bem-estar físico, psíquico e emocional do profissional.

Os professores passam por diversas atividades que tornam sua carga horária excessiva, na qual, estão expostos a um maior nível de estresse, levando em conta a necessidade de dedicação exclusiva, da cobrança para as publicações científicas e internacionais, da supervisão dos seus orientandos, dos seus projetos, entre outras atividades. Isso mostra que a carga horária de um professor não se resume às 40 horas semanais, sendo um fator desencadeante da SB [14].

Não foi encontrada a relação em estudos anteriores entre o número de dias trabalhados por semana e a intensidade de Burnout, no entanto, os docentes que trabalham de 4 a 6 dias por semana apresentam suscetibilidade para desenvolvimento da síndrome com nível de moderado a alto para tais dimensões. Com relação ao período de trabalho dos docentes, neste estudo, houve maior predomínio para o turno integral, com escores altos para EE, DE e moderado para BRP. Professores que dedicam sua maior parte do tempo com a atividade laboral tendem a ser mais suscetíveis a SB.

Com relação ao tempo em que os professores lecionam, em uma pesquisa com 804 professores da educação básica em Londrina, utilizando o MBI, foi possível identificar os piores níveis de exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional se relacionando com o excesso do tempo de profissão e uma grande carga de trabalho por semana aliadas a outras características do trabalho [5].

O tempo de trabalho foi estatisticamente significativo na dimensão EP em um estudo realizado com 72 professores da área de saúde. Isso leva a inferir que quanto maior a experiência do profissional com a atividade docente maior seu sentimento de satisfação com o trabalho. Em contrapartida, quanto mais jovem o professor maior o sentimento de distância entre pessoas com as quais tem que se relacionar no ambiente de trabalho [20].

 

Conclusão

 

Conclui-se que os docentes do sexo feminino eram mais susceptíveis em todas as dimensões da síndrome, e que os professores atuantes na área de saúde e os que trabalhavam de 4 a 6 dias por semana apresentaram uma alta prevalência para EE. Em relação a DE, os docentes que trabalhavam de 4 a 6 dias por semana obtiveram índice moderado, aqueles que trabalhavam no turno integral e que possuíam um tempo de atuação maior ou igual a 21 anos, resultaram em um alto escore. Na dimensão DRP, o sexo feminino, área de atuação em humanas e número de dias trabalhados entre 4 – 6 dias resultaram em um escore moderado. Diante disto, na instituição onde foi realizado o estudo, 78,4% dos docentes apresentam níveis de alto a moderado para a SB. Podemos constatar, então, que as variáveis sociodemográficas e laborais estiveram interligadas às dimensões de Burnout na população estudada para o desenvolvimento da síndrome.

Aprofundar estudos tentando relacionar nível de ensino ao Burnout mostra-se relevante, para que políticas de promoção e prevenção em saúde ocupacional possam ser planejadas de acordo com as especificidades de determinadas categorias profissionais. Fatores contextuais são importantes na explicação de seu estado de saúde. Por esta razão, é importante ressaltar a escassez de trabalhos sobre população analisada, por isso, recomenda-se que sejam realizadas mais pesquisas, a fim de analisar o impacto das condições de trabalho na saúde das pessoas.

Em virtude dos resultados obtidos neste estudo, sugerem-se que o ambiente de trabalho proporcione uma relação harmônica entre a saúde do trabalhador e a realização de suas atribuições laborais. Propiciando, desta forma, um espaço institucional de discussão e reflexão entre equipes e professores, além da realização de palestras educativas com a finalidade de alertar possíveis fatores de estresse relacionado ao trabalho, assim como fornecer orientações para esses profissionais sobre como devem evitar ou organizar seus dias para que essa sobrecarga diminua.

 

Referências

 

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