ARTIGO
ORIGINAL
Relação
entre sintomas depressivos e risco de quedas em idosos cadastrados em uma
Unidade Básica de Saúde
Relationship
between depressive symptoms and risk of falls in elderly registered in a Basic
Unit of Health
Keilini da Paz Lemos, Ft.*,
Vanessa Cruz Miranda, Ft., M.Sc.**, Kleyton Trindade dos Santos, Ft., M.Sc.***,
Karla Cavalcante Silva de Morais, Ft., M.Sc.****,
Lucas Silveira Sampaio, Ft., M.Sc.****, Talita
Oliveira Sampaio, M.Sc.****, Luciana Araújo dos Reis,
Ft., D.Sc.*****
*Graduada
em Fisioterapia pela Faculdade Independente do Nordeste, **FIOCRUZ, ***Docente
da Faculdade Independente do Nordeste, ****Docente da Faculdade Independente do
Nordeste, *****Estágio Pós-doutoral em Saúde Coletiva/UFBA/ISC, Docente da
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Docente da Faculdade Independente
do Nordeste
Recebido em 10 de
janeiro de 2018; aceito em 25 de fevereiro de 2019.
Endereço
para correspondência:
Luciana Araújo dos Reis, Av. Luiz Eduardo Magalhães, 1035 Candeias 45028105
Vitória da Conquista BA, E-mail: lucianauesb@yahoo.com.br; Keilini
da Paz Lemos: ninny_lemos@hotmail.com; Vanessa Cruz Miranda:
vanessacruz@fainor.com.br; Kleyton Trindade dos
Santos: kleyton@fainor.com.br; Karla Cavalcante Silva de Morais:
karlinhakau@hotmail.com; Lucas Silveira Sampaio: lucaosampaio@hotmail.com;
Talita Oliveira Sampaio: talitafisio@gmail.com
Resumo
O presente estudo tem
por objetivo apontar a relação entre a presença de sintomas depressivos e o
risco de quedas em idosos. Trata-se de estudo tipo exploratório, descritivo e
analítico, com delineamento transversal e abordagem quantitativa, realizado no
município de Vitória da Conquista/BA. A mostra foi composta por 66 idosos
cadastrados em uma Unidade Básica de Saúde. O instrumento de pesquisa foi
constituído de: questionário sociodemográfico, Escala de Depressão
Geriátrica-15 e Timed Up and Go. Os dados foram analisados por meio da análise
descritiva e aplicação do teste Qui-quadrado.
Constatou-se no presente estudo uma maior distribuição de idosos do sexo
feminino (65,2%), casados (43,9%) e com nível de escolaridade referente a
ensino fundamental completo (42,4%). Na avaliação da presença de sintomas
depressivos houve uma maior frequência de idosos sem sintomas depressivos
(80,3%), e dos idosos que apresentaram sintomas depressivos a maioria foi
classificada com depressão leve (16,7%). Todos os idosos foram classificados
com risco de quedas, sendo a maioria classificada com médio risco de quedas
(51,5%). Com a aplicação do teste do Qui-quadrado e
as variáveis do estudo, constatou-se diferença estatística significativa apenas
entre a categoria médio risco de quedas do TUG e a presença de sintomas
depressivos (p-valor = 0,000). Conclui-se neste estudo que a presença de
sintomas depressivos tem relação negativa com o risco de quedas em idosos.
Palavras-chave: envelhecimento,
quedas, sintomas depressivos.
Abstract
The
present study aims to analyze the relationship between the presence of
depressive symptoms and the risk of falls in the elderly. This is an
exploratory descriptive study with a cross-sectional design and quantitative
approach, carried out in the city of Vitória da Conquista/BA. The sample
consisted of 66 elderly people enrolled in a Basic Health Unit. The research
instrument consisted of: socio-demographic questionnaire, Geriatric Depression
Scale-15 and Timed Up and Go. Data was analyzed through descriptive analysis
and application of the Chi-square test. In the present study, a greater
distribution of elderly female (65.2%), married (43.9%) and with elementary
school (42.4%) was found. In the evaluation of the presence of depressive
symptoms, there was a higher frequency of elderly people without depressive
symptoms (80.3%), and the majority of the elderly with
depressive symptoms were classified as mild depression (16.7%). All the elderly
were classified as having a risk of falls, with the
majority classified as having a medium risk of falls (51.5%). With the
Chi-square test and the study variables, a statistically significant difference
was found only between the mean risk category of TUG falls and the presence of
depressive symptoms (p-value = 0.000). We concluded in this study that the
presence of depressive symptoms has a negative relation with the risk of falls
in the elderly.
Key-words: aging, falls,
depressive symptoms.
Com o aumento do número
de idosos no país surgiram algumas demandas que eram desprezadas anteriormente,
como um crescimento na prevalência de doenças crônico-degenerativas, incluindo
a depressão e as quedas, que ocorrem independente da
idade, porém quando atingem os idosos as consequências são muito mais
significativas [1].
As quedas são
decorrentes de fatores intrínsecos, que estão relacionadas às alterações do
envelhecimento, déficit de equilíbrio, visão, audição e marcha e presença de
morbidades ou de fatores extrínsecos, que incluem riscos ambientais como: má
iluminação, piso escorregadio, subir em cadeiras ou escadas, e aqueles
relacionados com as atividades do cotidiano. Entretanto, na maioria das vezes
resulta da interação de todos estes fatores, associados à fragilidade dos
idosos, trazendo consequências significativas como: limitação da funcionalidade
e mobilidade, propensão a doenças, hematomas, fraturas, contusões,
institucionalização, medo de cair novamente e repercussão na vida dos
familiares [2].
A ocorrência de quedas
está relacionada diretamente à saúde e à qualidade de vida dos idosos, sendo um
dos acometimentos mais incapacitantes e preocupantes, já que um único evento
pode causar consequências relevantes, contribuindo para um declínio funcional e
perda da mobilidade e independência na realização de tarefas habituais. As
chances de cair aumentam de acordo com o número de fatores de risco, sendo de
extrema importância que estes sejam identificados, possibilitando elaborar
estratégias para transformar ou eliminar aqueles fatores passíveis de atuação,
conseguindo reduzir as quedas [3].
Já a depressão é uma
das doenças de maior prevalência entre os idosos, sendo supostamente a causa
mais recorrente de impacto na qualidade de vida. Podendo gerar graves
consequências, como danos no convívio interpessoal e na execução de atividades
rotineiras, incapacidade relacionada à doença, além da angústia psíquica dos
idosos e da família, e dos elevados custos em saúde [4].
A depressão nessa fase
de vida se apresenta por alterações de humor predominantemente depressivo e/ou
irritável, podendo se relacionar a prejuízo cognitivo, alterações comportamentais
e sintomas físicos. Investigar a depressão em idosos torna-se cada vez mais
importante, por se tratar de um transtorno prevalente e que constantemente é
tido como uma consequência natural do envelhecimento, sendo muitas vezes
ignorada como provável indicador de uma morbidade que repercute a qualidade de
vida do idoso e de seus familiares, e que resulta em elevados custos para a
sociedade. Cabendo aos profissionais de saúde o papel de reconhecer, avaliar,
encaminhar e tratar os idosos que apresentam alteração de humor [5,6].
Geralmente a depressão
está associada ao risco de quedas, em decorrência do efeito de medicações
antidepressivas e sedativas, do déficit de atenção associada, do declínio
funcional, insegurança, indiferença ao meio ambiente, reclusão e prostração
[1]. A partir do interesse em investigar se existe uma relação entre depressão
com o risco de quedas, o presente trabalho teve por objetivos analisar a
relação entre a presença de sintomas depressivos e o risco de quedas em idosos
cadastrados em uma Unidade Básica de Saúde, assim como caracterizar os dados
sociodemográficos, verificar a presença de sintomas depressivos e avaliar o
risco de quedas entre os idosos cadastrados em uma Unidade Básica de Saúde do
interior da Bahia, para que se possam criar estratégias de prevenção e promoção
de saúde, assim como encaminhar esses indivíduos aos profissionais especializados,visando à melhoria da qualidade de vida
desses idosos.
Trata-se de uma
pesquisa do tipo exploratória, descritiva e analítica, com delineamento
transversal e abordagem quantitativa, subprojeto do projeto: Quedas e fatores
associados em idosos, cadastrado no Programa Interdisciplinar de Estudos e
Pesquisa sobre o Envelhecimento Humano: Ações de cuidado e atenção ao idoso.
A forma quantitativa de
pesquisa é centrada na objetividade, considerando a compreensão da realidade
somente através de dados brutos alcançados por meio de instrumentos padronizados
e neutros, para descrever e relacionar as causas de um fenômeno com suas
variáveis [7].
A população do estudo
foi representada pelos idosos cadastrados na Unidade Básica de Saúde,
independente do sexo, sendo o local de estudo escolhido por critério de
conveniência. A amostra foi constituída por todos os idosos que tiveram
condições cognitivas para responder aos instrumentos da pesquisa, cujo estado
mental foi avaliado pelo Mini Exame do Estado Mental/MEEM, sendo a amostra
composta por 66 idosos.
A amostra foi do tipo
não probabilístico por conveniência e composta a partir de 80 indivíduos
selecionados através dos critérios de inclusão e exclusão:
Esta pesquisa respeitou
aos princípios éticos que constam na Resolução 466/2012, no que se refere à
autonomia, beneficência, não maleficência, justiça e equidade. Com o
compromisso de zelar pela privacidade e pelo sigilo das informações obtidas e
utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa. Todos os idosos foram
esclarecidos acerca dos objetivos do projeto e somente participaram aqueles que
assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido, que constam de duas vias
idênticas, ficando uma com o participante e outra com o pesquisador. O projeto
foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Independente do
Nordeste, Protocolo de aprovação nº 18.595-25.
Os dados foram
coletados através de um questionário amplo composto por: variáveis
sociodemográficas como idade, sexo, estado civil, escolaridade e renda familiar
e pelo Mini Exame do Estado Mental/MEEM. O MEEM possui várias questões
agrupadas em sete categorias, cada uma delas possui o objetivo de avaliar
funções cognitivas específicas, como: orientação temporal, orientação de
espaço, registro de três palavras, atenção e cálculo, lembrança das três
palavras registradas, linguagem e capacidade construtiva visual, seu escore
pode variar entre 0 e 30 pontos, e a nota de corte varia de acordo com o nível
de escolaridade do indivíduo, pois alguns itens do teste exigem escolaridade mínima
[9].
Em seguida foi aplicada
a Escala de Depressão Geriátrica abreviada (GDS-15) - Yesavage,
que é um questionário adaptado contendo 15 questões fechadas, com alternativas
positivas e negativas, relacionadas ao aspecto emocional e cognitivo. Os pontos
de corte são: normal/sem depressão (N): < 5
pontos, depressão leve (L): entre 5-10 pontos e depressão grave (G): > 10
pontos [10]. E posteriormente foi aplicado o teste de TUG (Anexo 3) que é um
instrumento utilizado para avaliar o equilíbrio e a mobilidade, que consiste na
avaliação da posição sentada, transferência de sentado para em pé, estabilidade
durante a deambulação e mudanças na direção da marcha sem utilizar estratégias
compensatórias, no teste é pedido para o avaliado levantar-se de uma cadeira,
andar em uma distância de três metros, virar-se, retornar ao mesmo percurso e
sentar-se, esse teste deve ser executado de uma forma segura em um menor tempo
possível, o resultado do teste é classificado em: acima de 20 segundos indica
alto risco de quedas; de 10 a 20 segundos indica médio risco de quedas e menos
de 10 segundos indica baixo risco de quedas [11].
Primeiramente foi
solicitada autorização do Pólo de Educação em Saúde
da Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista, em seguida houve a submissão
do projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Independente do Nordeste
para aprovação e só então se iniciou a coleta dos dados que ocorreu por livre
demanda com os idosos cadastrados na UBS escolhida.
Foram abordados e
convidados a participar da pesquisa, individualmente, todos os idosos que
estavam na UBS aguardando atendimento, então foi explicado os objetivos da
pesquisa e após o consentimento em participar da mesma, foi entregue o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para devida assinatura. Em seguida os
idosos foram encaminhados a uma sala reservada, individualmente, onde
aplicou-se o questionário sociodemográfico e posteriormente foram realizados os
testes específicos naqueles idosos que se enquadraram aos critérios da
pesquisa.
Os dados coletados
foram inicialmente inseridos em uma planilha do Programa Microsoft Excel,
versão 2003, em seguida transportados para o Programa Estatístico SPSS versão
21.0, sendo realizada análise estatística descritiva e aplicação do Teste do Qui-quadrado para verificar a relação entre as variáveis
sintomas depressivos e risco de quedas, com nível de significância p-valor
<0,005.
Verificou-se no
presente estudo que a média de idade dos idosos foi de 67 (±6.10) anos, com
maior distribuição do sexo feminino (65.2%), casados (43.9%) e com nível de
escolaridade referente a ensino fundamental completo (42.4%), conforme dados da
tabela 1.
Tabela I - Distribuição dos idosos segundo caracterização sociodemográfica.
Vitória da Conquista/BA, 2018.
Fonte: Dados da
pesquisa.
Na avaliação da
presença de sintomas depressivos houve uma maior frequência de idosos sem
sintomas depressivos (80,3%), e dos idosos que apresentaram sintomas
depressivos a maioria foi classificada com depressão leve (16,7%), segundo
dados da tabela II.
Tabela II - Distribuição dos idosos segundo a presença de sintomas depressivos.
Vitória da Conquista/BA, 2017.
Fonte: Dados da
pesquisa.
Segundo os dados da
tabela III, todos os idosos foram classificados com risco de quedas, sendo a
maioria classificada com médio risco de quedas (51,5%).
Tabela
III - Distribuição dos idosos segundo o risco de
quedas. Vitória da Conquista/BA, 2018.
Fonte: Dados da
pesquisa.
Com a aplicação do
teste do Qui-quadrado e as variáveis do estudo,
constatou-se diferença estatística significativa apenas entre a categoria médio
risco de quedas do TUG e a presença de sintomas depressivos (p-valor=0,000).
Tabela IV - Distribuição do resultado do teste do Qui-quadrado.
Vitória da Conquista/BA, 2018.
Fonte: Dados da
pesquisa.
Referente às condições
sociodemográficas houve um predomínio de idosos do sexo feminino, casados e com
ensino fundamental completo. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística [12], o fato de terem mais pessoas do sexo feminino se dá pela
diferença de mortalidade entre os sexos, cujas taxas para a população masculina
são maiores do que as encontradas na feminina. Pilger
et al. [13] explicam que pode estar
relacionado à maior longevidade dessas em relação aos homens e que o cenário de
feminilização do envelhecimento tem sido atribuído à
menor exposição aos fatores de risco do que os homens, como ambiente de
trabalho, menor uso de álcool e tabaco, diferenças quanto à atitude em relação
a doenças e incapacidades e maior procura dos serviços de saúde.
Um estudo, realizado
por Domiciano et al. [14], observou a
influência da escolaridade na velocidade de processamento, atenção, funções
executivas, memória e inteligência na população idosa. Segundo os autores,
muitos anos de educação formal tornam o cérebro mais resistente e flexível
diante dos efeitos de doenças ou alterações comuns do envelhecimento, o que
influencia o desempenho cognitivo dessa população. Dados da Pesquisa Nacional
por Amostras em Domicílios (PNAD) [15] revela uma taxa de analfabetismo das
pessoas de 15 anos ou mais de idade estimada em 8,0% (12,9 milhões de
analfabetos), aumentando à medida que a idade avança, atingindo 22,3% entre as
pessoas de 60 anos ou mais.
No que se refere ao
estado civil, os resultados do presente estudo mostram um maior número de
idosos casados, o que condiz com dados do Censo Demográfico [16], que analisou
a população de 10 anos ou mais de idade, segundo o estado civil, situação
conjugal, sexo e grupos de idade, e a maioria das pessoas com 60 anos ou mais
são casados, verificando também que a taxa de nupcialidade
dos homens com 65 anos ou mais, foi em média, quatro vezes superior à das
mulheres, o que pode ser explicado pelo fato de o homem buscar mais o recasamento, inclusive com mulheres mais jovens [17].
Na avaliação da
presença de sintomas depressivos houve uma parcela significativa de idosos que
não apresentaram sintomas de depressão, porém dentre a porcentagem dos que
apresentaram, a maioria foi classificada como depressão leve, resultado
inferior a um estudo realizado por Alvarenga et al. [18], que ao analisar 503 idosos assistidos pela Estratégia
de Saúde da Família, em Dourados/MS, utilizando a Escala de Depressão
Geriátrica (GDS-15), encontraram prevalência de 34,4% de sintomas depressivos.
Valores superiores aos
encontrados no presente estudo foram relatados por Matias et al. [10] em um
estudo com 137 idosos participantes de um Programa da Terceira Idade, que
utilizaram os instrumentos Patient Health
Questionnaire-9 (PHQ-9) e a GDS-15, para rastreio dos sintomas depressivos
em idosos e como resultados obtiveram a prevalência de 62,8% e 52,6%, respectivamente.
As escalas utilizadas mostraram-se úteis para detecção de sintomas depressivos autoexplicitados por idosos independentes e demonstraram
nível de concordância com moderada adesão para o rastreio dos mesmos.
Em outro estudo também
utilizando a GDS-15, Ramos et al.
[19] avaliaram 639 idosos não institucionalizados, encontrando uma prevalência
de 27,5% de sintomas depressivos e destes 29,1% estavam associados ao sexo
feminino. Segundo os autores as diferenças entre prevalências encontradas nos
diversos estudos, independente da variabilidade nos tamanhos amostrais, escalas
e pontos de corte utilizados para sintomas depressivos ou às peculiaridades
regionais de cada grupo estudado, enfatizam a relevância do tema.
A depressão é um assunto
relevante, mas de difícil mensuração, pois o quadro é composto por sintomas que
exprimem estados e sentimentos que diferem grandemente. A interpretação dos
sintomas e o significado que será atribuído podem ser influenciados pelas
diferenças culturais e pelo grau de estigma em torno da saúde mental,
dificultando o acesso aos serviços de saúde e reduzindo o apoio social desses
idosos. No Brasil, a prevalência de depressão varia de 4,7 a 36,8%, dependendo
do instrumento e dos pontos de corte utilizados para detectar os sintomas [18],
estando os valores obtidos no presente estudo compatíveis com resultados
descritos em outras literaturas.
Referente à avaliação
do risco de quedas a maioria foi classificada com médio risco de quedas (com
escores entre 10 e 20 segundos), corroborando um estudo realizado por Bretan et al.
[20] que avaliaram 102 idosos, através do Timed Up and Go (TUG), dos quais 63,7%
demoraram de 10 a 19 segundos e 16,76% consumiram entre 20 e 29 segundos na
realização do teste, evidenciando que mesmo a maioria dos idosos sugerindo boa
mobilidade funcional ainda assim houve um número expressivo de idosos com
valores elevados de tempo gasto no teste, estando mais propensos a quedas e à
limitação das atividades da vida diária.
A propensão a quedas
encontrada neste estudo pode ser comparada ao estudo de Aveiro et al. [21] que avaliou a mobilidade e o
risco de quedas em 739 idosos, na comunidade, notando-se que idosos caidores (sofreram queda no último ano), média 13,35
segundos, apresentaram um tempo maior para a realização da atividade proposta
no TUG em relação ao grupo dos não-caidores (não
sofreram queda no último ano), média 11,71 segundos, e consequentemente um pior
desempenho no TUG estaria relacionado a menor mobilidade, déficit de equilíbrio
e maior risco de quedas entre os idosos caidores.
Ao associar a presença
sintomas depressivos com o médio risco de quedas houve uma diferença
estatisticamente significativa, indicando a relação entre depressão com o risco
de sofrer quedas. Em um estudo realizado por Tavares et al. [22] com 50 idosos da comunidade, observou-se que as quedas
estão consideravelmente associadas à presença de sintomas depressivos e ao
aumento no tempo de realização do TUG, sendo a depressão um preditor para pior
mobilidade em idosos aumentando o risco de quedas.
De acordo com Matias et al. [23], ao analisar 68 idosos,
houve correlação positiva e considerável entre o autorrelato
de quedas e sintomas depressivos, principalmente nas mulheres, confirmando os
altos índices de depressão em idosos observados em publicações recentes,
retratando a relevância do diagnóstico e tratamento precoce, pois o próprio
envelhecimento impõe limitações ao desempenho funcional.
Já em um estudo
conduzido por Valcarenghi et al. [24], com 30 idosos institucionalizados, ao relacionar
déficit cognitivo e sintomas depressivos com o risco de quedas, não houve
influência significativa de depressão na ocorrência de quedas. Porém, os
autores ressaltam a dificuldade no diagnóstico prévio, pois alguns dos
principais sintomas da depressão, como a movimentação lenta, insônia,
isolamento, entre outros, podem ser associados ao processo natural de
envelhecimento, levando ao diagnóstico tardio e consequente agravamento do
quadro depressivo.
O alto risco de quedas,
determinado pelo teste de mobilidade funcional, se revelou estatisticamente
associado aos sintomas depressivos, em um trabalho elaborado por Ramos et al. [19], porém quanto ao relato de
quedas no último ano, a associação não se manteve significante, o que pode
estar relacionado à possível limitação de memória dos idosos.
A associação entre
prevalência de quedas e depressão, geralmente se relaciona em função do uso de
medicamentos, indiferença ao meio ambiente, déficit do nível da atenção,
alteração da marcha e equilíbrio, redução da energia, déficit cognitivo, entre
outras coisas. Estando as variáveis depressão e quedas caracterizadas como um
problema de saúde pública, devido à alta prevalência social, gerando impacto
tanto para o idoso quanto para a sociedade [1].
Como limitação deste
estudo cita-se o fato do tamanho da amostra não ter
sido tão expressivo, podendo a pesquisa ser ampliada a outras Unidades Básicas
de Saúde do município.
Evidenciou-se que a
maioria dos idosos é do sexo feminino, casados, escolarizados, não apresentaram
sintomas de depressão e foram classificados com médio risco de quedas.
Verificou-se ainda que nos idosos avaliados a presença de quedas tem relação
negativa com o médio risco de quedas, ou seja, quanto maior for a presença de
sintomas depressivos maior será o risco de quedas.
Ressaltando-se
a
importância do uso de instrumentos simples, rápidos e de
fácil utilização, que
podem ser aplicados pela equipe multiprofissional de saúde, no
rastreio da
depressão e do risco de quedas, servindo de parâmetro para
criação das
estratégias de prevenção e promoção
de saúde na assistência desses indivíduos,
para que estes sejam devidamente encaminhados aos profissionais
especializados
no assunto. O estudo apresenta como limitação o tamanho
amostral, desta forma,
sugere-se que novos estudos sejam realizados com uma amostra maior.