Fisioterapia Brasil 2016;17(2)

 

ARTIGO ORIGINAL

Convivência escolar, qualidade de vida e flexibilidade de professores de uma escola pública do Distrito Federal

School life, quality of life and flexibility of teachers in a public school of Federal District

 

Lumara Cristina de Souza Silva, Ft.*, Nayara Monteiro Viana Lima, Ft.*, Levy Aniceto Santana, D.Sc.**

 

*Universidade Católica de Brasília (UCB), **Docente da UCB

 

Recebido em 29 de novembro de 2014; aceito em 15 de setembro de 2015.

Endereço para correspondência: Levy Aniceto Santana, QS 07 Lote 1, Águas Claras, 72030-170Taguatinga DF, E-mail: levy@ucb.br

 

Resumo

Objetivo: Descrever a convivência no âmbito escolar, qualidade de vida e flexibilidade de tronco e membro inferior de professores do ensino fundamental, séries finais de escola pública do Distrito Federal. Métodos: Estudo transversal com 41 professores que utilizou para avaliação da qualidade de vida o questionário WHOQOL-bref e um questionário para avaliar a convivência escolar. A flexibilidade foi avaliada pelo teste de sentar e alcançar. Resultados: A média de idade e desvio padrão foi de 42,0 ± 9,0 anos. Quanto à qualidade de vida, observou-se que o domínio ambiental foi o que apresentou menor valor (54,3). Verificou-se que 25 (60,9%) dos professores avaliados apresentam-se com o grau de flexibilidade classificado como muito fraco ou fraco. Não houve correlação nem associação estatisticamente significativa entre a convivência escolar, a qualidade de vida e a flexibilidade da musculatura posterior de membros inferiores e tronco. Conclusão: Conclui-se que os professores avaliados não sofrem violência escolar e apresentam qualidade de vida classificada como indiferente com maior comprometimento no aspecto ambiental e com flexibilidade muito fraca ou fraca sem correlação nem associação estatisticamente significativas entre a convivência escolar, qualidade de vida e flexibilidade.

Palavras-chave: qualidade de vida, docente, flexibilidade.

 

Abstract

Objective: To describe the school life, quality of life and trunk and lower limb flexibility of elementary school teachers in a public school of the Federal District in Brazil. Methods: It is a cross-sectional study with 41 teachers. The quality of life was assessed by the WHOQOL-Bref questionnaire and a questionnaire to evaluate school life. Flexibility was assessed by the sit and reach test. Results: The mean age and standard deviation was 42.0 ± 9.0 years old. Regarding quality of life, we observed that the environmental domain showed the lowest value (54.3). The flexibility of 25 (60.9%) of the teachers was classified as weak or very weak. There was no statistically significant correlation between school life, quality of life and flexibility of the posterior muscles of lower limbs and trunk. Conclusion: We concluded that teachers do not suffer school violence, and quality of life is classified as indifferent with higher impairment in the environmental field and with very poor or poor flexibility without correlation or statistically significant association between school life, quality of life and flexibility.

Key-words: quality of life, teachers, flexibility.

 

Introdução

 

Convivência é o modo que utilizamos para termos relações interpessoais, juntamente com os sistemas de comunicação, atividades e afetos que são compartilhados e assim mantendo o contato permanente com os outros que cercam. Vários aspectos influenciam a convivência podendo ser responsáveis por parte da identidade social da comunidade que frequentamos [1]. A comunidade usa, às vezes, de meios violentos para resolver problemas relacionados à convivência [2].

Souza e Queirós [3] enfatizam que a violência se trata de uma problemática, na qual se englobam questões multifatoriais e sociais e que não se pode trivializá-la, pois os atos de violência podem gerar danos para a sociedade de uma forma em geral.

A violência em âmbito escolar é um problema que está presente no mundo todo. As formas de violência que mais se destacam nesse ambiente são agressões entre alunos, alunos e professores, roubo de objetos, brigas e consumo de drogas [4].

Uma grande parte dos educadores é tomada por um sentimento de impotência perante a questão da violência dentro das escolas e aos problemas que este fato traz consigo, pois os professores têm um papel primordial no que diz respeito aos atos que visam à prevenção da violência no ambiente escolar. Por esse motivo, deve-se investir na orientação e apoio a essa classe, pelo fato de que eles são os que possuem uma convivência maior com os alunos no âmbito escolar [3].

Vários fatores contribuem para o aparecimento de agravos a saúde dos docentes e como consequência disso surge também o comprometimento com a qualidade de vida desses profissionais. Esses fatores estão relacionados às condições de trabalho a que são submetidos, a desvalorização social, baixa remuneração, ao ritmo de trabalho que vem sendo mais intensificado, também pode ser citado às relações conflituosas com familiares de alunos que acaba gerando um maior afastamento desses professores por motivo do aumento de doenças adversas [5,6].

Em uma ocasião de tensão, o organismo começa a desenvolver um aumento do tônus muscular pela ação do sistema nervoso simpático, como resposta ao estresse seja ele psíquico ou físico causando uma tensão corporal, revelando uma forte afinidade entre o corpo e a mente, que pode acabar quando o artifício que causou o estresse for extraído. Entretanto, a tensão muscular crônica pode continuar causando um enrijecimento muscular. O estresse acarreta modificações musculares, causando rigidez [7].

A flexibilidade é a habilidade física que permite um movimento por toda a amplitude de uma articulação, sem que ocorra um risco de lesão e na amplitude fisiológica. Essa habilidade está acima de tudo incluída nas posturas habituais, na tensão dos tendões, músculos, ligamentos e cápsulas articulares. As posturas adotadas durante as atividades laborais podem interferir nos graus de flexibilidade. A flexibilidade diminui a chance de distensão e melhora a condição postural. Posturas rotineiras e o estresse laboral recorrente podem causar uma Amplitude de Movimento (ADM) limitada, ou encurtamento muscular adaptativo, que pode gerar varias patologias tais como hérnia discal e dor na região lombar, diminuindo a qualidade da atividade laboral e gerando uma redução na qualidade do envelhecimento [8-10].

Para se avaliar a flexibilidade podem ser utilizados vários métodos e protocolos, porém o mais empregado para este fim é o teste com o banco de Wells, que tem como método sentar e alcançar, por ter um custo baixo do equipamento necessário e também por ter um modo de utilizar mais prático [11]. O teste utilizando o banco de Wells já vem sendo descrito em outros estudos [12-14].

Ao se referir à avaliação da saúde, procura-se o estabelecimento de parâmetros mais amplos do que somente a ausência de patologias. Com isso cada vez mais tem se tornado maior o interesse no que se diz respeito a medidas que simbolizem a qualidade de vida das pessoas, que por sua vez é denominada como um conceito amplo que abrange e se refere à percepção que um indivíduo tem sobre sua relação e posição na vida e na cultura que está inserido, assim como suas expectativas, as suas preocupações e os objetivos a serem alcançados. O conceito de qualidade de vida também engloba as questões da saúde física, psicológicas, as relações que as pessoas têm em seu meio social [15].

Para avaliar a qualidade de vida utiliza-se, entre outros, o instrumento World Health Organization Quality Of Life/Bref (WHOQOL/breve), que foi desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Esse questionário foi criado inicialmente com 100 questões, porém pela necessidade de um questionário que levasse um menor tempo para ser respondido, foi desenvolvido o WHOQOL-bref que contém 26 questões. Essas questões englobam quatro domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente. Para cada questão foi dado um escore, que utiliza de uma variação de um a cinco, que tem por objetivo, ao final, a transformação dos resultados de cada um dos domínios em uma escala que vai de 0 a 100, onde 0 vai corresponder a um pior estado de saúde e o 100 a um melhor estado [16-18]. A qualidade de vida pode ser classificada por meio de escala numérica como fracasso (0-40), indefinição (41-70) e sucesso (71-100), de acordo com o escore obtido em cada domínio [19].

Foram encontrados estudos sobre a qualidade de vida em professores do ensino fundamental de séries finais da rede pública onde foi aplicado o questionário WHOQOL-bref [20,21], assim como estudos que abordassem a violência no ambiente escolar [22,23], mas não foram encontrados aqueles que realizassem teste de flexibilidade em docentes utilizando o banco de Wells. Tampouco foram encontrados estudos em que houvesse correlação entre a violência escolar, a qualidade de vida e o encurtamento de cadeia posterior em professores da rede pública. Dessa forma, objetivo deste estudo foi descrever a convivência no âmbito escolar, qualidade de vida e flexibilidade de membro inferior e tronco dos educadores do ensino fundamental séries finais de escola pública do Distrito Federal.

 

Material e métodos

 

Trata-se de um estudo transversal com amostra constituída por 41 professores das séries finais do ensino fundamental de uma escola pública do Gama/DF, selecionada por conveniência.

Foram incluídos na pesquisa todos os professores que estavam presentes na escola no período de coleta de dados, e que, ao serem convidados a participar se despuseram a preencher os questionários e realizar o teste de banco de Wells. Foram excluídos dois professores que apresentavam quadro de dor lombar no momento da coleta de dados.

Os voluntários que se propuseram a participar da pesquisa receberam as devidas informações sobre o que seria realizado no estudo e seus objetivos e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido antes de começar a coleta de dados, conforme a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Católica de Brasília (UCB) sob protocolo Nº. 071/2009/CEP/UCB.

Para a avaliação da qualidade de vida foi aplicado o questionário WHOQOL-bref no qual as respostas deveriam ser embasadas nas informações das duas semanas anteriores à data da coleta de dados.

Como instrumento de avaliação da violência e da convivência escolar foi utilizado um questionário com uso de escala tipo Likert de cinco pontos elaborado especificamente para este fim, constituído por 32 questões. Foram coletados também dados quanto à idade, gênero e experiência profissional dos professores. Os questionários foram entregues aos docentes na sala dos professores, em horário contrário ao que lecionavam, onde foram abordados e questionados se havia interesse em participar da pesquisa e informados que teriam que responder aos questionários e realizar um teste de flexibilidade.

Os professores avaliados também foram submetidos ao teste de sentar e alcançar que foi realizado utilizando o banco de Wells. Para realizar as aferições necessárias os voluntários ficavam na posição sentada sobre um tatame com dimensão de 2 x 2 m e permaneceram com os joelhos na posição estendida e com os pés apoiados embaixo do banco. As mãos eram posicionadas em cima do banco, sempre mantendo cotovelos em extensão máxima, e os voluntários eram orientados a deslizá-las sobre o banco o máximo de distância que conseguissem, e a aferição era realizada em três repetições com intervalo de 30 segundos entre elas para que fossem obtidos os centímetros máximos alcançados durante a realização do teste. Esse teste foi supervisionado sempre pelo mesmo avaliador.

Para a categorização dos resultados das medidas do banco de Wells foi utilizada a classificação da flexibilidade (sentar e alcançar) ajustada pela idade e gênero seguindo protocolo proposto por Freitas et al. [24]. A análise estatística dos dados foi realizada utilizando o Software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 20.0, no qual foram calculadas as médias e os desvios-padrões, o cálculo do Ranking médio da escala de Likert realizado segundo metodologia proposta por Oliveira [25], correlação de Pearson e o teste do Qui-quadrado com nível de significância de 5%.

 

Resultados e discussão

 

Dos 41 participantes que constituíram a amostra, 24(58,5%) eram mulheres e 17(41,5%) eram homens com idade variando entre 25 e 60 (média e desvio padrão de 42,0 ± 9,0 anos). Todos os professores voluntários da pesquisa possuíam carga horária semanal de 40 horas. Os achados deste estudo em relação ao gênero são concordantes com os descritos por Fernandes et al. [17] e são justificados devido ao fato do processo histórico, no qual grande parte das mulheres deram entrada no mercado de trabalho ingressando no campo da educação e que inicialmente houve a rotulação da docência como sendo uma continuidade dos trabalhos domésticos.

O tempo médio e desvio padrão como educador foi de 17,29 ± 8,2 anos e o tempo em que eles trabalham na escola onde foi realizada a pesquisa teve uma média e desvio padrão de 8,91 ± 6,9 anos. A maioria dos professores (68,3%) relatou possuir especialização completa como grau de escolaridade. Quanto às disciplinas que os professores lecionavam, a Figura 1 demonstra que a maioria ministrava Ciências, seguindo por História e Matemática.

Na tabela I, pode-se observar que em todas as questões a maioria dos professores escolheu a alternativa “discordo muito” mostrando que a maior parte não sofre violência escolar nas suas variadas formas. O ranking médio apresentou valores maiores que 3 em todas as questões demonstrando que a violência não é um aspecto importante para a maioria dos professores participantes do estudo.

 

Figura 1 – Disciplinas ministradas pelos professores.

 

Entretanto, um achado que se destacou na Tabela I foi a prevalência de 11 (26,8%) de respostas “concordo muito” para a questão referente à agressão verbal. Lobato e Placco [26] e Santana [27] corroboram esses achados ao afirmar que em seu estudo essa foi uma das formas de violência mais encontradas no ambiente escolar e que quando ocorre durante as aulas e não são bem resolvidas são capazes de desencadear brigas.

 

Tabela I – Número e percentual de violências relatadas pelos professores.

Questões

Concordo Muito

Concordo um pouco

Não concordo nem discordo

Discordo um pouco

Discordo

muito

Ranking

médio

Brincadeira de mau gosto

1 (2,4%)

8 (19,5%)

6 (14,2%)

6 (14,2%)

20 (48,8%)

3,9

Discriminação (por sexo, cor, condição social etc.)

1 (2,4%)

5 (12,2%)

3 (7,3%)

4 (9,8%)

28 68,3%)

4,3

Ridicularização

1 (2,4%)

5 (12,2%)

7 (17,1%)

3 (7,3%)

25 (61%)

4,1

Calúnia, infâmia ou difamação

2 (4,9%)

10 (24,4%)

6 (14,3%)

3 (7,3%)

20 (48,8%)

3,7

Danificação de objeto de minha propriedade (inclusive carro)

2 (4,9%)

3 (7,3%)

1 (2,4%)

7 (17,1%)

28 (68,3%)

4,4

Roubo ou furto

1 (2,4%)

2 (4,9%)

3 (7,3%)

5 (12,2%)

30 (72,2%)

4,5

Intimidação por parte dos alunos, pais e/ou responsáveis

7 (17,1%)

8 (19,5%)

2 (4,9%)

5 (12,2%)

19 (46,3%)

3,5

Ameaça de algum indivíduo

3 (7,3%)

4 (9,8%)

3 (7,3%)

5 (12,2%)

26 (23,4%)

4,1

Ameaça de gangue

0 (0,0%)

0 (0,0%)

2 (4,9%)

5 (12,2%)

34 (82,9%)

4,8

Ameaça com arma de fogo

1 (2,4%)

1 (2,4%)

1 (2,4%)

3 (7,3%)

35 (85,4%)

4,7

Ameaça com arma branca

0 (0,0%)

1 (2,4%)

2 (4,9%)

5 (12,2%)

33 (80,5%)

4,7

Agressão verbal

11 (26,8%)

6 (14,6%)

2 (4,9%)

8 (19,5%)

14 (34,1%)

3,2

Agressão física

0 (0,0%)

2 (4,9%)

3 (7,3%)

2 (4,9%)

34 (82,9%)

4,7

Briga

1 (2,4%)

6 (14,6)

2 (4,9%)

4 (9,8%)

28 (68,3%)

4,3

Agressão física de gangue

1 (2,4%)

0 (0,0%)

1 (2,4%)

4 (9,8%)

37 (90,2%)

4,8

Agressão com arma de fogo

1 (2,4%)

1 (2,4%)

3 (7,3%)

1 (2,4%)

35 (85,4%)

4,7

Agressão com arma branca

1 (2,4%)

0 (0,0%)

3 (7,3%)

2 (4,9%)

35 (85,4%)

4,7

Violência sexual

1 (2,4%)

0 (0,0%)

1 (2,4%)

2 (4,9%)

37 (90,2%)

4,8

 

Na tabela II observa-se que a maioria dos professores (46,3%) não pensaram em desistir da docência devido à violência e 36,6% relataram que a sua autoridade em sala de aula não tem diminuído devido à violência. Quando perguntados se o aumento da violência está relacionado com a falta da autoridade do professor, 27 (65,9%) opinaram que não tem relação. O ranking médio apresentou valores maiores que 3 em todas as questões demonstrando que a maioria dos professores relatou não sentir a influência da violência escolar sobre sua carreira e a autoridade docentes. Cabral, Carvalho e Ramos [28] mostraram que o diálogo pode ser a melhor solução para os problemas de relação entre professor e aluno, mas em algumas ocasiões quando o professor age em sala de aula com autoritarismo consegue conquistar a confiança e o respeito dos alunos, assim evitando episódios de conflitos e violências.

 

Tabela II – Número e percentual de respostas sobre a carreira e autoridade do professor.

Questões

Sim

Provavelmente sim

Indeciso

Provavelmente não

Não

Ranking

médio

Já pensou ou tem pensado em desistir da docência devido à violência?

9

 (22%)

3

 (7,3%)

3

 (7,3%)

7

 (17,1%)

19 (46,3%)

3,6

A sua autoridade em sala de aula tem diminuído como efeito da violência?

6 (14,6%)

10

 (24,4%)

2

 (4,9%)

8

 (19,5%)

15 (36,6%)

3,4

Em sua opinião, o aumento da violência escolar está relacionado com a falta de autoridade do professor?

0 (0,0%)

2

 (4,9%)

2

(4,9%)

10

 (24,4%)

27 (65,9%)

4,5

 

Ao questionar os professores sobre a convivência escolar, observa-se, segundo a Tabela III, que a maioria relatou como boa em todas as questões e confirmado esse resultado pelo cálculo do ranking médio, pois apresentou valores maiores que 3 em todas as questões, comprovando que esses professores possuem uma boa convivência com os alunos e seus colegas de trabalho. Esse achado é concordante com o descrito por Grande [2] que a maioria dos métodos educativos mostra um favorecimento da boa vida e relações interpessoais que existe nessa área, que são comumente apoio, cooperação. Casos específicos de ataques ou assédio, difamação de colegas, são uma das principais preocupações dos professores, contudo não parece ser frequente nessa escola.

 

 

Tabela III – Número e percentual de respostas no que diz respeito à convivência.

Questões

Muito ruim

Ruim

Nem ruim nem boa

Boa

Muito boa

Ranking

médio

Como está a sua convivência com os alunos na escola?

0 (0,0%)

0 (0,0%)

3 (7,3%)

29 (70,7%)

9 (22%)

4,1

Como está a sua convivência com os seus colegas professores na escola?

0 (0,0%)

0 (0,0%)

3 (7,3%)

26 (63,4%)

12 (29,3%)

4,2

Como está a sua convivência com a direção da escola?

1 (2,4%)

3 (7,3%)

10 (24,4%)

14 (34,1%)

13 (31,7%)

3,9

Como está a sua convivência com os demais servidores da escola?

0 (0,0%)

0 (0,0%)

3 (7,3%)

22 (53,7%)

16 (39%)

4,3

 

A análise da qualidade de vida (Figura 2) demonstra que os escores dos domínios apresentaram valores entre 41 e 70 sendo classificado, segundo Saupe et al. [19], como indefinição. Entretanto, observa-se que o domínio ambiental foi o que apresentou menor valor (54,3) demonstrando ser o domínio mais comprometido na qualidade de vida dos professores. Esse achado corrobora os descritos por Xavier e Morais [21] que, ao avaliarem qualidade de vida em professores da rede pública estadual de ensino da cidade de Aracajú, Sergipe, descreveram que o domínio ambiental obteve a menor média (51,6) quando comparado aos demais domínios, podendo constatar que há uma maior necessidade de atenção para os quesitos que compõe esse domínio.

A menor pontuação na qualidade de vida no domínio ambiental pode ser justificada pelas condições de trabalho, porque as questões referentes a esse domínio também abordam sobre as condições do ambiente físico (clima, barulhos, poluição e atrativos). O domínio ambiental se mostrou como a mais prejudicada, por causa das condições de trabalho não serem as ideais.

Entretanto, Silva e Nunez [29] enfatizam que não se pode deixar de avaliar as implicações de outros aspectos que acrescentam o domínio ambiental, especialmente os relacionados à disponibilidade de recursos financeiros para atender as necessidades e o acesso às chances de atividade de lazer.

 

 

Figura 2 – Escore por domínios do nível de qualidade de vida dos professores (questionário WHOQOL).

 

 

A análise da flexibilidade mostrou que 25 (60,9%) dos professores avaliados apresentam-se com o grau de flexibilidade classificado como muito fraco ou fraco (Figura 3). Não foi possível comparar esse resultado com outros estudos que tenham avaliado a flexibilidade em professores, entretanto quando comparado com estudos que investigaram a flexibilidade em operadores de caixa de supermercado [30] também foi encontrada a mesma prevalência de flexibilidade muito fraca ou fraca, concordando com os achados desse estudo.

Os testes de Pearson e do Qui-quadrado não encontraram correlação e nem associação estatisticamente significativas entre as medidas da convivência escolar, da qualidade de vida e da flexibilidade dos professores. Talvez esse achado possa ser justificado pelo fato dos professores relatarem que a violência na escola não os afeta significativamente e que a baixa flexibilidade dos mesmos seja o padrão típico do modo de trabalho e esteja associado à atividade profissional.

Sugere-se que estudos futuros investiguem a convivência escolar, a qualidade de vida e a flexibilidade de professores em outras escolas que possam apresentar alto índice de violência para verificar se há associação entre as mesmas.

 

Figura 3 Grau de flexibilidade dos professores aferido pelo Banco de Wells.

 

 

Conclusão

 

Os resultados deste estudo mostraram que a maioria dos professores descreveu uma boa convivência na escola com os colegas e alunos e relatou não sofrer violência escolar. Entretanto, entre os que relataram sofrer violência, a prevalência foi de agressão verbal. A maioria relatou que não pensa em desistir da docência devido à violência escolar e que sua autoridade em sala de aula não tem diminuído por causa dessa violência, relatando não perceber relação entre ambas.

A qualidade de vida dos professores foi classificada como indefinição em todos os domínios, mas o aspecto ambiental foi o que apresentou menor valor. Quanto à flexibilidade, a maioria dos professores foi classificada como muito fraco ou fraco. Não foi verificada correlação nem associação estatisticamente significativas entre as medidas da convivência escolar, da qualidade de vida e da flexibilidade dos professores

 

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