ARTIGO
ORIGINAL
Inserção
de um programa de treinamento dos músculos do assoalho pélvico na Atenção
Básica à Saúde para mulheres na pós-menopausa
Insertion of a pelvic floor muscle training program for postmenopausal
women in Primary Health Care
Fabíola K. Alves, Ft.,
M.Sc.*, Délcia B.V. Adami,
Ft.**, Joseane Marques,
Ft.***, Larissa C. Pereira, Ft., D.Sc.****, Cássio Riccetto*****, Simone Botelho,
Ft., D.Sc.******
*Docente
das Faculdades Integradas Metropolitanas de Campinas (Metrocamp), SP, **Doutoranda
pelo Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas, Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP), Docente do Curso de Fisioterapia, Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC MINAS) campus Poços de Caldas/MG,
***Doutoranda pelo Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas,
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), ****Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP), *****Professor livre docente do Programa de Pós-Graduação
em Ciências da Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual
de Campinas (UNICAMP), ******Pós-Doutora Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), Docente do Curso de Fisioterapia da Escola de Enfermagem -
Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG)
Recebido em 28 de
outubro de 2015; aceito em 22 de dezembro de 2015.
Endereço
de correspondência:
Simone Botelho, Laboratório de UroFisioterapia, Curso
de Fisioterapia, Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Alfenas
(UNIFAL-MG), Av. Jovino Fernandes Sales, 2600, Prédio C, Sala 101-K, Santa
Clara 37130-000 Alfenas MG, E-mail: E-mail:simone.botelho@unifal-mg.edu.br
Estudo conduzido pela
Divisão de Urologia Feminina do Departamento de Cirurgia, Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) – Campinas/SP.
Resumo
Objetivo: Avaliar a
efetividade da inserção de um programa de treinamento dos músculos do assoalho
pélvico (TMAP) na Atenção Básica à Saúde (ABS) sobre os sintomas urinários e
sobre a força muscular e atividade eletromiográfica em mulheres na
pós-menopausa. Métodos: Ensaio
clínico, randomizado com 42 mulheres na pós-menopausa divididas em dois grupos:
Grupo tratado (GT) (n = 21) e Grupo Controle (GC) (n = 21). A avaliação foi
realizada através dos questionários de sintomas urinários (ICIQ-UI SF e
ICIQ-OAB), palpação digital, eletromiografia (EMG) dos músculos do assoalho
pélvico (MAP) e escala analógica visual para satisfação do tratamento. O
protocolo de tratamento consistiu de 12 sessões em grupo de 30 minutos. A
análise estatística foi realizada pelo Teste de Comparação Múltipla de Tukey,
Anova e Teste Perfil de Contrastes. Resultados:
85,72% das mulheres do GT aderiram ao tratamento. A satisfação foi
significativamente melhor neste grupo (p < 0,001). No GT, houve decréscimo
significativo dos sintomas de IU, com diferença entre o GT e o GC (ICIQ-UI-SF:
p = 0,03; ICIQ-OAB: p = 0,002), diminuição do escore ICIQ-OAB (p < 0,001) e
aumento tanto da força muscular avaliada por meio da palpação digital (p =
0,001) quanto da atividade eletromiográfica dos MAP (p = 0,003). Conclusão: A inserção do TMAP em um
programa de atenção básica à saúde foi capaz de diminuir a incontinência
urinária, além de aumentar a força muscular e atividade eletromiográfica dos
músculos do assoalho pélvico em mulheres na pós-menopausa.
Palavras-chave: incontinência
urinária, distúrbios do assoalho pélvico, fisioterapia, atenção primária à
saúde, menopausa.
Abstract
Aim: To evaluate the
efficacy of a pelvic floor muscle training (PFMT) program on urinary symptoms,
muscle strength and electromyographic activity in
postmenopausal women in a Primary Health Care Center. Methods: A clinical, randomized study was conducted with 42
postmenopausal women, divided into two groups: Treatment Group (TG) (n = 21)
and Control Group (CG) (n = 21). The evaluation was performed using digital
palpation, pelvic floor electromyography (EMG), as well as the validated
questionnaires: ICIQ-UI SF, ICIQ-OAB. The treatment protocol consisted of 12
group sessions, twice a week, with 30 minutes of duration each. The statistical
analyses were performed using Anova, Tukey’s Multiple
Comparison Test and the Contrast Profile Test. Results: 85.72% of the women in TG adhered to the treatment. The
satisfaction was significantly higher in this group (p < 0.001). In TG,
there was a significant decrease in the UI symptoms (ICIQ UI-SF), with
difference between the TG and CG (p = 0.03) and a decrease in ICIQ-OAB score (p
< 0.001) and increase in the pelvic floor muscles strength assessed by
digital palpation (p = 0.001) and electromyographic
activity (p = 0.003). Conclusion: The
insertion of the PFMT was able to decrease UI and to increase muscle strength
and electromyographic activity in postmenopausal
women.
Key-words: urinary
incontinence, pelvic floor disorders, physical therapy, primary health care,
menopause.
A expectativa de vida
tem aumentado substancialmente em todo o mundo nos últimos anos [1]. Entre os
gêneros, as mulheres são as que apresentam maior expectativa de vida.
A longevidade é um
benefício adquirido com o avanço tecnológico e científico, entretanto, a partir
da terceira década de vida, o organismo inicia um declínio das capacidades
funcionais podendo gerar algumas disfunções, dentre elas a incontinência
urinária (IU) [2-4].
A IU é altamente
prevalente entre as mulheres, especialmente com o avançar da idade, com
prevalência de 30% a 50% [3,5]. Apesar da IU não apresentar grandes riscos à
sobrevivência, as consequências sociais e psicológicas são tais que reduzem a
atividade física e social, levam à perda da independência, causando isolamento
e deterioração da saúde e da qualidade de vida [6].
Muitas pessoas ainda
consideram a IU como um processo natural do envelhecimento e consequentemente
há uma negligência tanto pelos profissionais da saúde quanto pelas próprias
pacientes [7,8].
A prevenção e o
tratamento da IU podem ser realizados por meio do treinamento dos músculos do
assoalho pélvico (TMAP), com recomendação da International Continence Society (ICS) como terapia de primeira
escolha [9]. O TMAP propõe a melhora de duas das condições básicas para a
manutenção do mecanismo de continência: o maior suporte dos órgãos pélvicos e a
contribuição para o fechamento esfincteriano uretral [10] resultante da
hipertrofia das fibras musculares, do reforço da consciência cortical muscular
e do recrutamento mais eficaz dos neurônios motores [11], com melhora da força,
endurance e coordenação dos músculos do assoalho pélvico [12].
A inserção do TMAP em
grupos de atividade física vinculados aos programas de atenção básica à saúde
pode ser uma opção atrativa por propiciar autogestão da saúde e apresentar
custos reduzidos, além de acrescentar enfoque preventivo e de manejo de
disfunções urinárias em mulheres idosas. Entretanto, poucos estudos têm sido
desenvolvidos enfatizando esse tipo de treinamento em programas de saúde
coletiva.
O objetivo deste
estudo foi avaliar a efetividade da inserção de um programa de TMAP em um
programa de atividade física na Atenção Básica à Saúde sobre os sintomas
urinários, a força muscular e atividade eletromiográfica e a qualidade de vida
em mulheres na pós-menopausa quando comparado à atividade física isolada.
Amostra
Foi realizado um
ensaio clínico, randomizado, cego e controlado entre janeiro e março de 2013.
Foram convidadas a participar do estudo mulheres de um grupo de terceira idade
em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do Município de Congonhal, MG, Brasil. O
estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética Regional (protocolo: CAEE:
06493812.4.0000.5404) e todas as participantes assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido de acordo com a Declaração de Helsinki.
Este estudo incluiu,
inicialmente, 46 mulheres na pós-menopausa há pelo menos cinco anos.
Os critérios de
exclusão foram: mulheres com infecção urinária ou vaginal, câncer pélvico,
doenças crônicas ou metabólicas descontroladas, doença cardíaca grave, desordem
cognitiva, psiquiátrica ou neurológica, prolapso dos órgãos pélvicos estágio IV
de acordo com o Sistema de Quantificação de Prolapsos dos Órgãos Pélvicos (Pelvic Organ Prolapse Quantification System
(POP-Q)) e aquelas com incapacidade de realizar a contração dos MAP, ou seja,
classificação grau zero segundo a Escala Modificada de Oxford, totalizando
quatro mulheres excluídas.
As 42 voluntárias
incluídas neste estudo foram divididas, por sorteio, em dois grupos: Grupo
Tratamento (GT) (n = 21) e Grupo Controle (GC) (n = 21). A randomização foi
realizada por sorteio por meio de cartões impressos em envelopes selados. Ambos
os grupos foram avaliados e reavaliados após seis semanas. Todas as mulheres
assistiram a uma palestra na qual receberam orientações sobre o objetivo do
estudo e função dos MAP, mas somente o GT participou do programa supervisionado
de TMAP. O GC foi mantido sob observação em um grupo
de atividade física isolada no qual recebeu as orientações pertinentes e foi
posteriormente reavaliado, respeitando-se o mesmo intervalo de tempo
determinado para o grupo GT.
Avaliação
das voluntárias
O estudo foi
realizado por dois investigadores (FKA e DBVA). As avaliações e reavaliações
foram realizadas por um único pesquisador (DBVA), enquanto que o protocolo de
treinamento foi realizado pelo investigador principal (FKA), que desconhecia as
condições clínicas das participantes, o que tornou o estudo do tipo cego.
Foram então aplicados
questionários traduzidos e validados para a língua portuguesa para avaliação
dos sintomas urinários: International
Consultation on Incontinence Questionnaire – Urinary Incontinence Short Form
(ICIQ-UI SF) [13] e The International
Consultation on Incontinence Overactive Bladder Questionnaire (ICIQ-OAB)
[14].
Além disso, após o
tratamento foi aplicada uma escala analógica visual variando de 0-10, sendo
zero “totalmente insatisfeita” e 10 “totalmente satisfeita”,
na qual a seguinte questão era apresentada às participantes: “Por favor, anote
o grau de satisfação que a senhora teve com o tratamento realizado”.
Foi realizada a
avaliação da força dos MAP por meio de palpação digital e da atividade
eletromiográfica por meio da eletromiografia de superfície (EMGS). As pacientes
foram avaliadas sete dias antes e sete dias após o TMAP, sendo posicionadas em
decúbito dorsal com membros inferiores flexionados e pés sobre a maca [15].
A palpação digital
foi realizada com a introdução do segundo e terceiro dedos do examinador a 2-3
cm do introito vaginal, com um movimento de abdução. Ao mesmo tempo foi
solicitada às mulheres a contração máxima dos MAP apertando os dedos do
examinador no sentido cranial, com o seguinte comando verbal: “aperte sua vagina com movimento para dentro
e para cima, como se fosse segurar o xixi, e, mantenha a maior força que
conseguir”. A força muscular foi graduada segundo a Escala Modificada de
Oxford (zero a cinco pontos) [16].
A avaliação
eletromiográfica foi realizada com utilização de um equipamento de
eletromiografia (EMG System do Brasil®, 400C), que consistiu de um amplificador
de sinais com filtro passa banda e frequências de corte de 20–500hz, ganho
amplificador de 1000x e média de modo de rejeição comum >120db. Os dados
foram processados usando um software específico para aquisição e análise (Aqdata®).
A atividade
eletromiográfica foi registrada com a utilização de uma sonda endovaginal
(Physio-Med Services®). A sonda foi inserida e manualmente posicionada pelo
pesquisador com os sensores metálicos localizados em contato com as paredes
vaginais laterais com a utilização de gel hipoalergênico KY (Johnson´s &
Johnson´s®) [15]. O eletrodo de referência foi colocado entre o rádio e
processo estilóide da ulna do membro superior direito.
Foram solicitadas
três contrações voluntárias máximas dos MAP. A cada contração solicitada foi
concedido um período de repouso com o dobro de tempo de cada contração, a fim
de se evitar a fadiga muscular [15].
Programa
de treinamento dos músculos do assoalho pélvico
O programa de TMAP
foi realizado sob a supervisão de um fisioterapeuta treinado (FKA). O protocolo
de TMAP consistiu em 12 sessões em grupo de 8 a 10 participantes, com 30
minutos de duração, duas vezes por semana, totalizando seis semanas e foi
oferecido somente ao GT previamente ao programa de atividade física geral,
sendo este último realizado por ambos os grupos.
O programa de TMAP
consistiu na inclusão de exercícios de mobilidade pélvica, alongamento,
fortalecimento e relaxamento, realizados em cinco diferentes posições (decúbito
dorsal, sentada no solo, sentada sobre a bola, cócoras e posição ortostática)
de acordo com o protocolo proposto por Marques e colaboradores (2013). Foram
ainda realizadas quatro séries de dez contrações rápidas e quatro séries de 10
contrações sustentadas dos MAP, com manutenção de oito segundos de contração e
dezesseis segundos de relaxamento [17], distribuídas durante os exercícios
acima descritos.
Análise
dos dados
Todos os dados foram
inseridos no sistema para Windows SAS (Statistical
Analysis System versão 9.2. SAS Institute Inc, 2002-2008, Cary, NC, USA).
Ao comparar os grupos, foram utilizados os Testes Qui Quadrado ou Teste Exato
de Fisher para dados categóricos e o teste Mann-Whitney para as variáveis
numéricas. Para análise dos dados eletromiográficos foi selecionado o registro
de cinco segundos de cada contração muscular (microvolt). A média de três Root
Mean Square foi calculada para cada paciente.
Análise de Variância
(Anova), seguida do Teste de Tukey e Teste Perfil de Contraste foram utilizados
para comparações dos grupos através do tempo. Para análise dos sintomas
miccionais separadamente, a normalidade dos dados foi testada pelo teste
Kolmogorov-Smirnovvel seguido do Teste t pareado ou Teste de Wilcoxon para
comparação pré e pós-tratamento. O nível de significância adotado foi de 5%.
Para investigação da
adesão e satisfação das participantes ao programa foi utilizado o controle de
presença e uma escala analógica visual, respectivamente. Verificou-se, assim,
que das 42 mulheres incluídas neste estudo, três mulheres do GT não completaram
a terapia, devido a problemas familiares ou de saúde (14,28%). Nove
participantes do GC não compareceram à avaliação final (42,85%). Desta forma,
30 mulheres com média de idade 65,93 (± 8,72) anos completaram o estudo, sendo
18 no GT e 12 no GC (Figura 1).
Figura
1 – Diagrama CONSORT.
Distribuição e
participação da amostra ao longo do estudo.
Observou-se, assim,
que a adesão foi maior no GT (85,72%), assim como a satisfação (p < 0,001),
de acordo com a Escala Analógica Visual.
Os grupos foram
considerados homogêneos na avaliação inicial de acordo com todas as variáveis
sociodemográficas e clínicas (Tabela I).
Tabela
I – Características sócidemográficas e clínicas
da população do estudo.
A Tabela representa a
comparação entre os grupos estudados - Grupo Tratado (GT) e Grupo Controle (GC)
durante a avaliação inicial. Dados obtidos pelos testes: aTeste
Mann–Whitney; bTeste Exato de Fisher cTeste Qui-Quadrado.
A prevalência de IU,
investigada por meio do questionário ICIQ-UI SF, foi de 83,33% na avaliação
inicial. Verificou-se presença de 76,92% de IU mista, 15,38% de IU de esforço e
7,69% de IU de urgência.
Após o tratamento,
houve decréscimo significativo da frequência da IU (p = 0,0009), não sendo
encontrada diferença significativa quanto à quantidade de urina perdida e
interferência na vida diária no GT. Em contrapartida, no GC não foram
encontradas diferenças significativas em nenhum dos quesitos do questionário
ICIQ-UI SF após o período de observação. Além disso, foi encontrada diferença
significativa entre os grupos (p = 0,03) no escore geral do ICIQ-UI SF (Figura
2A e 2B).
Figura
2 - Resultados da avaliação e reavaliação para
ambos os grupos estudados.
A. Decréscimo
significativo do escore do ICIQ-UI SF após o TMAP com diferença entre os grupos
(p = 0,03); B. Decréscimo significativo do escore do ICIQ-OAB após o TMAP (p
< 0,001) com interação entre os grupos e tempo (p = 0,002); C. Aumento
significativo da força muscular mensurada por meio da palpação digital após o TMAP
(p = 0,001); D. Aumento significativo da atividade eletromiográfica após o TMAP
(p = 0,003);
ICIQ-UI SF =
International Consultation on Incontinence Questionnaire - Urinary Incontinence
Short Form; ICIQ-OAB = International Consultation on Incontinence Overactive
Bladder Questionnaire; TMAP = treinamento dos músculos do assoalho pélvico.
Ao investigar os
sintomas de bexiga hiperativa após o tratamento por meio do questionário
ICIQ-OAB, foi observado decréscimo dos sintomas apenas no GT (p < 0,001) com
diferença significativa entre os grupos após o tratamento (p = 0,002).
Os sintomas que
apresentaram decréscimo significativo foram: frequência urinária (p = 0,01),
noctúria (p = 0,03) e urgência (p = 0,02). Não foram encontradas diferenças significativas
na incontinência urinária de urgência. As questões referentes à qualidade de
vida demonstraram diminuição significativa do incômodo ocasionado pela
frequência urinária (p = 0,01), noctúria (p = 0,0002) e urgência (p = 0,001)
após o tratamento. De forma contrária, o GC não apresentou diferença.
Concomitantemente à
melhora dos sintomas urinários, foi encontrado aumento da força (p = 0,001) e
da atividade eletromiográfica (p = 0,003) dos MAP no GT (Figura 2C e 2D).
O TMAP é recomendado
pela ICS como primeira linha de tratamento da IU [7]. É um método
potencialmente adequado, por ser menos invasivo e por não apresentar
complicações [18]. Entretanto, as dificuldades de aprendizado [19] e motivação
[20] têm limitado a adesão ao treinamento. Ao contrário do pressuposto, nosso
estudo demonstrou que o TMAP realizado em grupo foi capaz de manter uma adesão
regular entre as mulheres com IU na pós-menopausa (85,72%), demostrando que
este protocolo pode ser inserido em programas de atividade física vinculados
aos serviços de atenção básica à saúde.
O TMAP é um programa
intensivo que exige tempo e motivação das pacientes [10], com maior efetividade
quando supervisionado por profissional capacitado [21]. A realização dos
exercícios em grupo mostra-se uma opção efetiva, pois é capaz de aumentar a
motivação e consequentemente a adesão ao treinamento [11,22,23].
De acordo com alguns estudos [22,23], não há diferença entre o TMAP realizado
individualmente ou em grupo para o manejo dos sintomas da IU. Entretanto, é
válido ressaltar que a abordagem individual é imprescindível durante a
investigação dos sinais e sintomas, bem como para os casos em que somente o
TMAP em grupo não seja suficiente.
Na saúde coletiva, a
inserção de programas de TMAP em grupo para a prevenção e tratamento da IU gera
custo relativamente menor quando comparado ao tratamento individual e é capaz
de manter as mulheres em um processo contínuo de aprendizado, promoção e
autogestão da saúde.
Nosso estudo
demonstrou melhora significativa dos sintomas urinários em mulheres na
pós-menopausa, corroborando vários outros estudos [24-29]. Concomitantemente,
demonstramos melhora significativa da força muscular e da atividade
eletromiográfica dos MAP. A correlação entre melhora da função muscular e
sintomas urinários em mulheres na pós-menopausa também tem sido encontrada por
outros autores [27,28]. Brubaker et al. e Dugan et al. [25,30] demonstraram que a
realização de TMAP em grupos de mulheres pode ser efetivo para o controle de
sintomas urinários e melhora da qualidade de vida.
A IU ocasiona impacto
negativo sobre a qualidade de vida, levando as pacientes ao constrangimento,
isolamento social e, consequentemente, depressão, ansiedade e distúrbios de autoestima
[3,7]. Um tratamento capaz de reduzir tais sintomas poderia influenciar
diretamente a qualidade de vida destas pessoas. Ao
serem questionadas quanto à satisfação com o tratamento, houve diferença
significativa em relação ao grupo controle (p < 0,001). Esta melhora pode
ter sido relacionada à diminuição da gravidade dos sintomas urinários,
demonstrada pelo questionário ICIQ-UI SF e pela diminuição do incômodo
ocasionado pela frequência urinária, noctúria e urgência após o tratamento.
No Brasil, a inserção
de práticas de prevenção e tratamento da IU nos programas de atenção básica à
saúde ainda é restrita, apesar de prevista na política de saúde. O Caderno de
Atenção Básica: Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa afirma
que a IU é um grave problema de saúde pública e considera como primordial
importância para a atenção básica à saúde, a abordagem da IU na rotina de
avaliação de toda pessoa idosa. Além disso, considera o TMAP como uma
alternativa importante para o seu manejo [7].
Baseado nessa
premissa, recomendamos que programas de TMAP possam ser inseridos precocemente
junto à Atenção Básica à Saúde, abrangendo diferentes fases do ciclo vital, com
o intuito de diminuir as morbidades e o impacto sobre a qualidade de vida da
população feminina.
Como limitações deste
estudo, consideramos o número limitado da amostra e o não seguimento dos casos.
Faz-se, assim, necessário a realização de novos ensaios clínicos controlados e
randomizados com amostras maiores. Além disso, acreditamos ser de suma
importância a realização de estudos com mulheres
assintomáticas, objetivando identificar a eficácia do TMAP em grupos de
prevenção da atenção básica, o que poderia prevenir disfunções
uroginecológicas.
A incorporação de um
programa de treinamento dos músculos do assoalho pélvico a um programa de
atividade física para mulheres na pós-menopausa determinou melhora
significativa sobre os sintomas urinários e a qualidade de vida, tendo sido bem
tolerado e aceito pelas participantes.
À Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à Prefeitura Municipal
de Congonhal (Secretaria de Saúde).