ARTIGO
ORIGINAL
Avaliação
da qualidade de vida e equilíbrio em idosos submetidos à cirurgia de artroplastia de joelho
Evaluation of quality of life and balance in elderly submitted to the
knee arthroplasty surgery
Iago Cardoso
Oliveira, Ft.*, Kleyton Trindade Santos, Ft.M.Sc.**, Luciana Araújo dos
Reis, Ft., D.Sc.**
*Faculdade
Independente do Nordeste, Vitória da Conquista/BA, **Docente da Faculdade
Independente do Nordeste, Vitória da Conquista/BA
Recebido em 16 de
janeiro de 2018; aceito em 28 de junho de 2018.
Endereço
para correspondência:
Luciana Araújo dos Reis, Av. Luis Eduardo Magalhães,
1305 Candeias 45000-000 Vitória da Conquista BA, E-mail:
lucianauesb@yahoo.com.br; Iago Cardoso Oliveira: guinho_696@hotmail.com; Kleyton Trindade Santos: kleyton_santos@hotmail.com
Resumo
A artroplastia
de joelho é uma das alternativas encontradas a fim de diminuir o quadro álgico
em paciente com disfunção na cartilagem do joelho, entretanto traz consigo
diversas repercussões que podem influenciar na vida do indivíduo. Este estudo
objetiva avaliar a qualidade de vida e equilíbrio em idosos submetidos à
cirurgia de artroplastia de joelho. Pesquisa
transversal, descritiva com abordagem quantitativa, realizada com 31 idosos atendidos
em duas clínicas de Fisioterapia do município de Vitória da Conquista/BA. O
instrumento de pesquisa foi constituído de dados sociodemográfico,
Mini Exame de Estado Mental, o questionário SF36 para qualidade de vida e Timed Up & Go para avaliação do equilíbrio. Os dados foram
analisados por meio da estatística descritiva e inferêncial.
Foi possível observar que 61,3% das cirurgias foram realizadas no joelho
direito. Também se identificou que os domínios emocional, físico e dor e social
foram os mais afetados na qualidade de vida. Em relação ao equilíbrio, a média
de pontos através da escala de Berg foi de 54,33 pontos, e na avaliação pelo Timed Up & Go a maioria dos indivíduos (87,1%) apresentaram risco
médio para quedas. Conclui-se que a artroplastia de
joelho traz limitações na qualidade de vida e no equilíbrio de idosos
submetidos a esse tratamento.
Palavras-chave: qualidade de vida,
equilíbrio postural, envelhecimento, artroplastia de
joelho, osteoartrose.
Abstract
Knee arthroplasty is one of the alternatives
found in order to reduce the pain in a patient with knee cartilage dysfunction, however, several repercussions can influence
the life of the individual. This study aims to evaluate the quality of life and
balance in the elderly submitted to knee arthroplasty
surgery. Transversal, descriptive research with a quantitative approach,
performed with 31 elderly patients attended at two Physical therapy clinics in
the city of Vitória da Conquista, Bahia, Brazil. The
research instrument consisted of socio-demographic data, Mini Mental State
Examination, SF36 questionnaire for quality of life and Timed Up & Go to evaluate the balance. Data were analyzed
through descriptive and inferential statistics. It was possible to observe that
61.3% of the surgeries were performed in the right knee. It was also identified
that the emotional, physical, pain e social domains were the most affected in
the quality of life. In relation to the balance, the average of points through
the Berg scale was 54.33 points and in the Timed up & go evaluation the
majority of the individuals (87.1%) presented an average risk for falls. It is
concluded that knee arthroplasty brings limitations
on the quality of life and on the balance of the elderly submitted to this
treatment.
Key-words: quality of
life, postural balance, aging, knee arthroplasty, osteoarthrosis.
O aumento da
expectativa de vida e a redução das taxas de fecundidade e mortalidade gera um
processo de envelhecimento da população e traz como consequência o aumento de
doenças crônico-degenerativas [1], e dentre essas a osteoartrose
(OA), caracterizada pelo desgaste da cartilagem articular, apresenta-se com
destaque sendo considerado um problema de saúde pública que causa incapacidade
funcional e redução da qualidade de vida no indivíduo afetado [2].
O joelho é uma das
articulações mais acometidas na OA, apresentando uma diminuição de força e
redução da ativação dos músculos que compõem o quadríceps durante as atividades
da vida diária [3]. Como formas de tratamento conservadores têm a fisioterapia,
redução de peso, exercícios físicos, dispositivos extra-articulares
e medicamentos [4], entretanto quando essas alternativas não apresentam efeitos
o paciente deverá passar por uma cirurgia. A mais utilizada é a Artroplastia Total de Joelho (ATJ), que consiste na
substituição completa da articulação por uma prótese total e tem como
objetivos: redução da dor, qualidade de vida e funcionalidade [5].
O enfrentamento das
repercussões da ATJ pode ter expectativas diferentes nas pessoas em relação aos
aspectos da saúde influenciando a percepção e valorização do estado de sua
saúde e satisfação da vida. Nesta perspectiva, a caracterização da qualidade de
vida no idoso deve ser considerada como uma visão multidimensional, pois é um
processo complexo e sofre muitas influências. Segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS) a qualidade de vida é definida como a percepção do indivíduo acerca
de sua posição na vida, no contexto, da cultura e dos valores em que vive,
levando em conta suas metas, expectativas, padrões e preocupações [2].
Entretanto, embora a artroplastia apresente os objetivos acima citados, nem
sempre a intervenção consegue trazer repercussões somente positivas, ocorrendo
que em muitos casos os idosos pós-cirurgia encontrem-se com déficit em
marcadores da qualidade de vida, e até mesmo no equilíbrio.
O comprometimento do
equilíbrio limita a vida do idoso, em 80% dos casos não pode ser atribuído a
uma causa específica, mas, sim, a um comprometimento do sistema de equilíbrio
como um todo. Em mais da metade dos casos o comprometimento do equilíbrio tem
origem entre os 65 e os 75 anos aproximadamente e cerca de 30% dos idosos
apresenta os sintomas nesta idade [2].
As manifestações dos
distúrbios do equilíbrio corporal têm grande impacto para os idosos, podendo
levá-los à redução de sua autonomia social, uma vez que acabam
reduzindo suas atividades de vida diária, pela predisposição a quedas e
fraturas, trazendo sofrimento, imobilidade corporal, medo de cair novamente,
comprometendo a qualidade de vida destes.
Diante disso, o
presente estudo tem por objetivo avaliar a qualidade de vida e equilíbrio em
idosos submetidos à cirurgia de artroplastia de
joelho.
Trata-se de uma
pesquisa transversal, descritiva com abordagem quantitativa, realizada nos
domicílios dos idosos cadastrados em duas Clínicas de Fisioterapia do município
de Vitória da Conquista/BA, escolhidas por conveniência, pelo fato de servirem de
campo de estágio para os cursos de graduação em Fisioterapia do município.
Vitória da Conquista
é um município brasileiro localizado no sudoeste do estado da Bahia, possui
população, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [6], de
342.230 habitantes, sendo a terceira maior do estado.
Para que o idoso
cadastrado na Unidade fosse incluído na pesquisa era necessário que tivesse
realizado a ATJ no período mínimo de seis meses. Foram excluídos aqueles idosos
que apresentaram pontuação abaixo de 27 pontos no Mini- exame
do estado mental (MEEM) [7]. Dessa forma, utilizando o critério de inclusão
foram encontrados 41 idosos, porém, desses, 6 idosos
não foram encontrados em sua residência após três visitas em horários
diferentes, e 4 tiveram pontuação inferior no MEEM, restando 31 idosos que
compuseram a população final do estudo.
Sendo assim o
entrevistador se direcionou ao domicílio do indivíduo, sendo aplicado o
instrumento de pesquisa constituído de dados sociodemográficos,
o MEEM, o questionário Short Form Health Survey 36 (SF36)
[8] para avaliar a qualidade de vida dos idosos e Timed Up and Go (TUG) [9] para avaliação do equilíbrio.
O Mini Exame de
Estado Mental (MEEM) é um instrumento muito aplicado, principalmente em idosos,
e que avalia a função cognitiva e quadros de demência, é composto por 30
questões abordando cinco domínios: concentração, linguagem, atenção, memória e
orientação, o escore varia de 0 a 30 pontos, quanto menor a pontuação maior a
função cognitiva estará comprometida, a pontuação precisará ser corrigida de
acordo com a escolaridade, pontuação menor que 27 pontos indica
alteração cognitiva [7].
O SF36 é um
questionário composto por 36 itens, que são divididos em oito domínios (Estado
de saúde geral, Vitalidade, Saúde mental, Dor corporal, Capacidade funcional
física, Limitação dos aspectos físicos, Aspectos sociais da funcionalidade e
Aspectos emocionais), a pontuação de questionário vai de 0 a 100 pontos e
quanto maior a pontuação melhor é a condição de saúde relacionada à qualidade
de vida [8].
O TUG é um
instrumento utilizado para avaliar o equilíbrio, que consiste na avaliação da
posição sentada, transferência de sentado para em pé, estabilidade durante a
deambulação e mudanças na direção da marcha sem utilizar estratégias
compensatórias. No teste, é pedido para que o avaliado se levante de uma
cadeira, ande uma distância de três metros, se vire, retorne ao mesmo percurso
e sente-se. Esse teste deve ser executado de uma forma segura em um menor tempo
possível, e o resultado do teste é classificado em: acima de 20 segundos indica
alto risco de quedas; de 10 a 20 segundos indica médio risco de quedas e menos
de 10 segundos indica baixo risco de quedas [9].
A pesquisa atendeu
todos os princípios éticos da resolução 466/12, sendo submetida ao Comitê de
Ética da Faculdade Independente do Nordeste/FAINOR, sendo aprovado sob número de Protocolo nº 1.716.450.
Para participar da
pesquisa os idosos assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) sendo garantido o sigilo e o anonimato da participação na pesquisa. As
clínicas onde foram realizadas as pesquisas assinaram uma autorização
institucional permitindo a realização do estudo.
Os dados foram
inseridos em uma planilha do Excel e em seguida foram transportados para o
Programa Estatístico SPSS versão 20.0, no qual foi realizada a análise
estatística descritiva e em seguida foram confrontados com a literatura
nacional e internacional sobre o assunto vigente.
Constatou-se no
presente estudo que houve uma maior distribuição de idosos do sexo feminino
(54,8%), com companheiro (87,1%), escolaridade referente a segundo grau
completo (47,4%), renda mensal de 2 a 3 salários mínimos (71,0%), que mora com
alguém (93,5) e média de idade igual de 68,29 (±5,53) anos, conforme dados da
tabela I.
Tabela
I - Distribuição sociodemográfica
dos idosos. Vitória da Conquista/BA, 2018.
Conforme dados da
tabela II, 61,3% dos idosos fizeram cirurgia no joelho direito (61,3%) e não fazem
uso de apoio para deambular (51,5%). Quando se observa o uso de dispositivo de
apoio após a cirurgia, observou-se que 48,4% fazem uso de algum equipamento de
apoio.
Tabela
II -
Distribuição dos idosos quanto à
localização da cirurgia e apoio utilizado. Vitória da Conquista/BA, 2018.
Conforme os dados da
tabela III, as menores médias do SF-36 foram
encontradas nos domínios aspecto físico (7,00 ± 1,39 pontos) e dor (7,16 ± 1,39
pontos), já as maiores médias foram nos domínios saúde mental (24,74 ± 2,76) e
capacidade funcional (21,68 ± 3,91).
Tabela
III
- Distribuição dos idosos sendo os
domínios do SF-36. Vitória da Conquista/BA, 2018.
Segundo a tabela IV a
média de pontos dos idosos no TUG foi de 15,55(± 4,74) pontos, sendo a maioria
classificada com médio risco (87,1%).
Tabela
IV -
Distribuição dos idosos segundo a
pontuação da escala de Berg. Vitória da Conquista/BA, 2018.
A ATJ é uma cirurgia
de grande porte e muito invasiva e vem sendo utilizada com muita frequência em
indivíduos com osteoartrose, que comprometem a
funcionalidade do joelho, visando devolver os aspectos funcionais do paciente.
Desta forma, avaliar os impactos da ATJ na qualidade de vida é de extrema
importância, pois demonstram reais resultados do ponto de vista do paciente.
No presente estudo
foi possível verificar que na maioria da população idosa ocorreu um predomínio
de mulheres submetidas ao procedimento cirúrgico. Esses resultados corroboram o
estudo de Confortin et al. [10] que constatou que as mulheres representavam 56,7% do
total. Alguns motivos explicam esses achados tais como o fato de ter menos
força muscular para absorver choques, utilizar sapatos com salto que geram
tensão permanente em determinados músculos, aumento do peso durante a gestação
e maior predisposição para obesidade, além de alterações hormonais
pós-menopausa [11].
Ao avaliar os fatores
relacionados à caracterização da cirurgia constatou-se no presente estudo uma
maior frequência de artroplastia unilateral, sendo
predominante a ocorrência no joelho direito, semelhante aos achados de Santos e
Biag [12], que observaram no Hospital Público de
Santo André que 89,1% do total das cirurgias eram unilaterais.
Na avaliação da
qualidade de vida, os domínios mais comprometidos foram os aspectos físicos,
dor, emocional e social. O domínio aspecto físico na pesquisa pontuou 7,00
(±1,39), enquanto que a dor teve a pontuação de 7,16 (± 1,65). Esses achados
demonstram o quanto que a qualidade de vida é influência, pois faz com que o
indivíduo idoso após a cirurgia se sinta menos capaz fisicamente, diminuindo
seu poder de ação, além de que desenvolva marcadores multifatoriais da dor
[13].
Em relação ao aspecto
social, a pontuação foi de 7,90 (± 1,46) enquanto a emocional foi de apenas
5,29 (± 1,07). Esses aspectos demonstram como as limitações decorrentes de um
aspecto físico podem contribuir para um maior isolamento social, influenciando
em sintomatologia negativa de tristeza, depressão, estresse, entre outros [13].
Na avaliação do risco
de quedas pelo TUG, verificou-se no presente estudo que quase 90%
apresentavam-se com risco de quedas moderado. Esse achado é explicado devido ao
comprometimento físico decorrente de todas as etapas que precedem e que seguem
o evento cirúrgico, pois é sabido que o indivíduo ao ter a cartilagem articular
do joelho afetado começa a apresentar déficit de equilíbrio, e após o procedimento
cirúrgico, a musculatura perde massa muscular e propriocepção, e caso a
reabilitação física por parte da fisioterapia não seja eficaz esses déficits
podem manter-se permanentes [14].
Alguns autores
afirmam que após a prática de ATJ é possível encontrar um grau de rigidez
severo no joelho, fazendo com que as limitações funcionais sejam ainda mais
acentuadas [15].
O presente estudo
traz algumas limitações como a amostra reduzida e o delineamento transversal e
descritivo, o que impossibilita de realizar afirmações de causa e efeito.
Entretanto entende-se que o estudo servirá de base para as novas abordagem e
atenção relacionadas a essa técnica, podendo contribuir para pesquisas futuras.
Constatou-se no
presente estudo que os idosos avaliados obtiveram as menores
médias nos domínios aspecto físico e dor da qualidade de vida, sendo a maioria
dos idosos classificada com médio risco de quedas. Desta forma, fica evidente
que os idosos submetidos à ATJ avaliados apresentaram comprometimento da
qualidade de risco e do equilíbrio pós-cirurgia.