OPINIÃO
Conhecimento
e educação em saúde de idosos portadores de diabetes mellitus
Diabetes mellitus and level of knowledge and health education of elderly
Fernanda Signor*,
Camila Pereira Leguisamo, D.Sc.**, Ana Carolina
Bertolleti De Marchi, D.Sc.**, Suzane Stella Bavaresco***, Luma Zanatta de
Oliveira****, Ana Paula Pillatt, Ft.****
*Enfermeira,
Especialista em Saúde Pública com Ênfase em Ação Comunitária pela Universidade
do Contestado, Mestranda do Programa de Envelhecimento Humano da Universidade
de Passo Fundo, **Docente do Curso de Fisioterapia e do Programa de
Pós-Graduação em Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo,
***Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo, Bolsista
Pibic-UPF, ****Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade de Passo
Fundo, Bolsista CNPq, *****Mestranda do Programa de Envelhecimento Humano da
Universidade de Passo Fundo, Bolsista PROSUP/CAPES
Recebido em 5 de dezembro de 2013; aceito em 27 de fevereiro de 2015.
Endereço
para correspondência:
Fernanda Signor, Rua Paulo Dal Oglio, 1067, 99560-000 Sarandi RS, E-mail: fernanda_signor@yahoo.com.br
Resumo
O
diabetes mellitus
(DM) é um distúrbio metabólico decorrente do
déficit de produção ou da absorção
sistêmica do hormônio insulina. Pacientes diabéticos
necessitam de um
tratamento complexo, que exige um conjunto de cuidados que devem ser
mantidos
ao longo da vida. O estudo tem como objetivo discutir a
importância da educação
em saúde para melhorar o nível de conhecimento de
pacientes com diabetes
mellitus. A falta de conhecimento dos pacientes sobre a doença,
suas
consequências e sua prevenção constituem-se num
grande desafio para os profissionais
da área da saúde na construção de
ações educativas.
Palavras-chave: diabetes mellitus,
conhecimento, Educação em saúde.
Abstract
Diabetes mellitus (DM) is a metabolic disease which results from body’s
failure to produce insulin or systemic absorption of insulin. Diabetic patients
require complex treatment and precautions that should be maintained throughout
life. This study aimed to discuss the importance of health education to improve
the knowledge of patients with diabetes mellitus. Lack of patient knowledge
about the disease, its prevention and its consequences constitute a major
challenge for health professionals to implement educational activities.
Key-words: diabetes
mellitus, knowledge, health education.
A terceira idade ou
“melhor idade” é a fase da vida que é compreendida do meio para o final da
vida. Esta fase há alguns anos vem aumentando consideravelmente, pois os seres
humanos estão vivendo mais tempo, não é mais espantoso encontrar uma pessoa
centenária em nossa sociedade.
Porém, o processo do
envelhecimento traz consigo doenças crônicas, que acarretam, muitas vezes,
problemas estruturantes e de difícil resolução, exemplo disso é o diabetes
mellitus. Doença caracterizada por uma deficiência na secreção da insulina, na
ação da insulina ou até mesmo em ambos os casos, levando muitas vezes o
paciente portador dessa doença à hiperglicemia [1], a qual está associada a
danos de longo prazo como: disfunção e insuficiência de vários órgãos,
especialmente dos olhos, rins, nervos, coração e vasos sanguíneos [2].
O diabetes mellitus
se encontra dentro do grupo das doenças crônicas que engloba vários outros
tipos de doença como as doenças transmissíveis – o vírus de imunodeficiência
humana/síndrome de imunodeficiência adquirida HIV/AIDS, a tuberculose – as
doenças não transmissíveis – doenças cardiovasculares, câncer – as
incapacitantes estruturais – amputação e cegueira, a depressão, esquizofrenia e
deficiências físicas permanentes. Geralmente são doenças que requerem
gerenciamento contínuo por um período de vários anos ou décadas [3].
O diabetes mellitus
(DM) é apresentado em sua etiologia em: tipo 1, tipo
2, gestacional e outros tipos específicos de DM [2]. Segundo o Ministério da
Saúde [4], o número de pessoas com DM no mundo já perfaz 246 milhões de
indivíduos, sendo esperado que atinja os 380 milhões em 2025. Estima-se que no
Brasil hoje existam cerca de 12 milhões de pessoas diabéticas [5].
Nas Américas, o
número estimado de indivíduos com DM foi de 35 milhões para o ano 2000, com
projeção de 64 milhões em 2025. Nos países desenvolvidos, o aumento ocorrerá,
principalmente, nas faixas etárias mais avançadas, decorrentes do aumento da
esperança de vida e do crescimento populacional. O aumento deverá ser observado
em todas as faixas etárias, principalmente no grupo de 45 a 64 anos, quando a
prevalência deverá triplicar. Para a faixa etária de 20 a 44 anos e 65 anos ou
mais deverá duplicar [6].
Mundialmente a doença
é responsável por 9% dos óbitos, e 4 milhões de mortes
por ano são relacionadas ao DM e suas complicações [7]. O Brasil, ainda, é
classificado como 8º país do mundo em número de pessoas com DM [8].
O diabetes mellitus é
uma doença que exige do portador um cuidado especial no que se refere ao
tratamento medicamentoso, pois muitos pacientes fazem uso de várias medicações
por dia e até mesmo uso de insulina, e também devem ter uma atenção especial
com a alimentação, fazendo uma dieta balanceada e praticando atividade física
regularmente. Para que tudo isso aconteça, o diabético não só deve ter muita
força de vontade para se reeducar, mas também deve ter conhecimento sobre a
doença, assim as restrições propostas serão aceitas de maneira compreensível.
Entendendo esta temática, e compreendendo seu crescimento no mundo, buscam-se
maneiras de resolver o problema, e uma das resoluções propostas é por meio da
educação em saúde, ou seja, o portador da doença deve obter maior conhecimento
sobre a mesma para melhor conviver com ele mesmo e com a sociedade.
A
educação em saúde
A educação para Paulo
Freire [9] trabalha com o desenvolvimento da consciência crítica, processo que
passa pela análise dos problemas vivenciados pelos indivíduos, buscando
estratégias conjuntas para a mudança da realidade, ou seja, a educação é vista
através de um indivíduo mais crítico e questionador.
Partindo deste
pressuposto, a educação em saúde está voltada basicamente para a finalidade de
prevenir doenças [10]. Pensando assim, a busca de condições adequadas de vida e
saúde tem sido um anseio e uma luta de povos por todo o mundo. Alternativas têm
sido pensadas, formas organizadas e implantadas. Paradigmas e princípios
revistos sem que o marco referencial da prática médica clínica ou da própria
saúde coletiva tenha conseguido dar conta do atendimento às necessidades de
saúde de grande parte da população [11].
Tradicionalmente, a
educação em saúde tem sido um instrumento de dominação, pois esta permite que
ocorra a responsabilização dos indivíduos pela redução dos riscos à saúde. A
educação popular pode ser um instrumento auxiliar na incorporação de novas
práticas por profissionais e serviços de saúde. Sendo a atenção básica o lócus
onde devem ser desenvolvidas ações de educação em saúde, tendo como ênfase o
Programa de Saúde da Família (PSF) que hoje é a principal estratégia para a
“reorientação do modelo assistencial a partir da atenção básica” [12].
Sendo assim a
promoção da saúde passa a ser vista como uma tarefa dos governos, das
instituições, dos grupos comunitários, dos serviços e profissionais de saúde.
As estratégias a serem trabalhadas, para que as necessidades do indivíduo sejam
vistas de forma integral, é a reorganização dos serviços e as atitudes dos
profissionais para com os portadores da doença. Em todas essas estratégias, a
educação em saúde torna-se uma ação fundamental para garantir a promoção, a
qualidade de vida e a saúde [7].
É mediante o processo
educativo que se dá a construção de novos conhecimentos, fazendo com que o
usuário tenha atitudes e comportamentos preventivos ou de promoção à saúde com
ampliação das possibilidades de manejo da doença, reabilitação e tomada de
decisões que favoreçam a sua qualidade de vida. Trata-se de processo
intrínseco, espontâneo que extrapola o condicionamento das pessoas, pois visa à
sequência de mudanças para hábitos saudáveis [13].
O
processo de
promoção-prevenção-cura-reabilitação
é também um processo pedagógico, no
sentido de que tanto o profissional de saúde quanto o
cliente-usuário aprendem
e ensinam. Esses podem mudar efetivamente a forma e os resultados do
trabalho
em saúde, transformando pacientes em cidadãos,
coparticipes do processo de
construção da saúde, que é o caso dos
grupos de gestantes, idosos, diabéticos e
hipertensos [12].
A educação em saúde
nos tempos atuais passa a ser uma ferramenta importantíssima para os
profissionais da saúde que buscam desenvolver um trabalho coerente que vise
resultados positivos.
Diabetes
mellitus e educação em saúde
O diabetes mellitus
interfere em todas as dimensões da vida de uma pessoa, desde a rotina mais
trivial até o desejo de continuar a viver de modo saudável. Essa condição
crônica impõe à pessoa mudanças de hábitos de vida, como o comprimento com a
terapêutica medicamentosa, plano alimentar e atividade física, requerendo capacidade
de enfrentamento para os ajustes necessários a manutenção do bom controle
metabólico. O compromisso de seguir ou o desejo de interromper o tratamento,
traduzido em atitude positiva ou negativa frente à doença, está sempre presente
no cotidiano da pessoa com diabetes [14].
A
necessidade de
desenvolver atividades de ensino e práticas educativas de
saúde, direcionadas à
pessoa com DM e sua família, centradas na
disponibilização do conhecimento de
uma atitude frente à doença, está relacionada
à prevenção de complicações por
meio do automanejo da doença, o que possibilita à pessoa
conviver melhor com a
sua condição [13].
A educação para o
autocuidado é aspecto fundamental do tratamento à pessoa com diabetes mellitus
e sua importância é reconhecida em diversos estudos realizados em comunidades
com diferentes características socioeconômicas e culturais [6].
Estudo realizado em
um centro de pesquisa e extensão universitária brasileiro, em 2007, com o
objetivo de verificar conhecimentos e atitudes de 82 pessoas adultas com
diabetes mellitus que participavam de um programa de educação para o
autocuidado em diabetes mostrou que 78,05% tiveram escores superiores a 8 em relação ao conhecimento em diabetes, indicando o
conhecimento e compreensão acerca da doença. Quanto à atitude, os escores
variaram entre 25 e 71 pontos, sugerindo dificuldade no enfrentamento da
doença. Esse estudo apontou que apesar de os participantes terem obtido bom
escore para o conhecimento, ainda assim, não modificaram a atitude para o
enfrentamento mais adequado da doença [6].
Outro estudo
realizado em Malta, com o objetivo de investigar as atitudes de 200 pacientes
com diabetes mellitus em relação ao comportamento e práticas de autocuidado,
mostrou que os participantes referiam elevado controle comportamental
percebido, ou seja, atitude positiva em relação ao uso de medicamentos, e
controle comportamental percebido inferior em relação ao exercício físico e
comportamento alimentar. Esses resultados sugerem que indivíduos com DM são
mais propensos a realizar comportamentos de autocuidado que exigem o mínimo de
esforço e mudança de estilo de vida [15].
Embora o conhecimento
seja um pré-requisito para o autocuidado, este pode não ser o único e principal
fator envolvido no processo educativo. O conhecimento combinado com a tomada de
decisão do próprio usuário e seus valores, somado a percepção de barreiras para
o autocuidado, à motivação e as metas podem levar a atitudes positivas frente
ao tratamento [15].
Educar é uma
estratégia fundamental para a promoção da saúde, visando atuar sobre o
conhecimento das pessoas, para que desenvolvam a capacidade de intervenção
sobre suas vidas e sobre o ambiente. Considerando-se a especificidade do
diabetes como doença crônica e o controle glicêmico como fundamental na
prevenção de complicações, o conhecimento da doença por meio de intervenções
educativas constitui um aspecto muito relevante no que diz respeito ao
tratamento. Para o sucesso da educação destes pacientes, é imprescindível
considerar os aspectos motivacionais para o autocuidado, a participação da
família e o estabelecimento de vínculos efetivos com a equipe multiprofissional
[16].
A educação é parte
essencial no tratamento e controle do DM e consiste em um processo contínuo de
alteração de hábitos de vida que requer tempo, espaço, planejamento, materiais
didáticos, capacitação pedagógica e equipe multidisciplinar [17]. Além disso, a
adesão ao tratamento proposto nem sempre é suficiente para melhorar a qualidade
de vida desses indivíduos; é necessário que o diabético compreenda que é
perfeitamente possível conviver bem com a doença através do autocuidado [18].
É preciso buscar
novas estratégias educacionais que possibilitem que a pessoa com diabetes
incorpore o conhecimento no seu dia a dia para que o mesmo possa transformar
sua atitude frente à doença [6]. Educação para a saúde no portador com DM é um
conjunto de ações que envolvem o conhecimento, de um modo geral, sobre a doença
o bem-estar físico psíquico e social e a aceitação da doença, pois o
aprendizado é um passo para que o paciente aceite sua condição, mas deve ser
acompanhado por um suporte psicológico que os motive a entender que qualquer
diabético pode viver com qualidade de vida.
Durante o processo
educativo, o usuário deve, em conjunto com a equipe multiprofissional de saúde,
buscar estratégias efetivas que o auxiliem a manejar o DM. Estes são os mais
importantes investimentos em longo prazo que a sociedade pode oferecer, já que
os custos da saúde dos indivíduos diabéticos, desencadeados pelas complicações
da doença, são enormes.
Bons resultados são
alcançados pela assistência coordenada por uma equipe multidisciplinar com foco
em educação, plano alimentar, exercícios, administração de insulina,
monitoração do tratamento, seguimento e prevenção das complicações crônicas,
fornecendo ao indivíduo e à família as ferramentas necessárias para a obtenção
de um controle glicêmico adequado [15].
Com a educação de
portadores de diabetes é possível conseguir reduções importantes das
complicações e consequentemente melhoria na qualidade de vida, porque
entendemos que educação para a saúde feita por grupos especializados, poderá
ajudar pessoas portadoras de diabetes e família a atingirem a qualidade de
vida, ao longo do processo de doença [19].
A atuação da equipe
interdisciplinar de forma contínua, persistente, e em conjunto com o paciente e
familiar pode minimizar o surgimento de complicações advindas da falta de
cuidado no manejo ao longo do tempo [20].
Os profissionais da
saúde têm a responsabilidade de auxiliar os portadores de DM ensinando-lhes o
autocuidado, instruindo-os sobre a doença e conscientizando-os da importância
da automonitorização contínua da glicemia, de modo a garantir mudanças de
comportamento e participação no tratamento [21].
É importante destacar
também que a educação em saúde deve ser um tema proposto não somente para
idosos, mas também para toda a sociedade. Iniciando nos bancos escolares,
afinal a mudança de hábitos se dá de maneira difícil quando é aprendida apenas
na terceira idade. A compreensão de hábitos saudáveis e o estímulo à prática de
exercícios físicos devem ser ementas propostas no quadro de ensino das escolas.
Só a mudança de certos
costumes, adquiridos com o passar dos anos, pode ajudar a enfrentar essa doença
que tem tendência a aumentar ano após ano, deixando muitos idosos com
restrições para viver e levando os mesmos a óbito de maneira triste e até,
muitas vezes, de forma revoltante.
Acredita-se
que a
implantação de programas educacionais, desenvolvidos em
um sistema público de
saúde que ofereça infraestrutura de apoio humano e
técnico e que permita ao
diabético ampliar seus conhecimentos relativos à
doença, possibilite ao diabético
uma vida mais longa e sadia. É fundamental que os pacientes
conheçam e adquiram
habilidades para aderir às recomendações do seu
tratamento. Por meio de
inúmeras estratégias de cunho educativo, é
possível a prevenção e a promoção da
saúde, aquisição de condutas de adesão e
melhoria na qualidade de vida de
pacientes com DM sendo que o conhecimento é um processo
contínuo.
Assim, a educação em
diabetes enfatiza a importância do autocuidado e orienta as pessoas com
diabetes a melhorar seus níveis glicêmicos e a minimizar as complicações
decorrentes desta doença, podendo ter benefícios importantes tanto em curto
prazo como em longo prazo.
Referências