ARTIGO ORIGINAL
Grau de dependência
de idosos residentes em instituições de longa permanência
Dependence level
of elderly residents in long term care institutions
Maristela
Cassia de Oliveira Peixoto, M.Sc.*,
Nilton Ricardo Vargas Sager**, Graciele
Pires de Oliveira**, Rosa Maria Vargas Leães***,
Gilson Luís da Cunha, D.Sc.****, Geraldine
Alves dos Santos, D.Sc.*****
*Universidade Feevale, Docente do curso de Enfermagem, Pesquisadora do
Grupo de pesquisa Corpo, Movimento e Saúde, **Universidade Feevale,
Bolsista de Aperfeiçoamento Científico do Grupo de pesquisa Corpo, Movimento e
Saúde, ***Universidade Feevale, Mestranda do Programa
Mestre do Programa de Pós-Graduação em Diversidade Cultural e Inclusão Social,
Pesquisadora do Grupo de pesquisa Corpo, Movimento e Saúde, ****Universidade Feevale, Bolsista de Pós-Doutorado Capes do Programa de
Pós-Graduação em Diversidade Cultural e Inclusão Social, Pesquisadora do Grupo
de pesquisa Corpo, Movimento e Saúde, *****Universidade Feevale,
Professora titular, Programa de Pós-Graduação em Diversidade Cultural e
Inclusão Social, Líder do Grupo de pesquisa Corpo, Movimento e Saúde
Recebido
em 4 de novembro de 2016; aceito em 23 de junho de
2017.
Endereço para
correspondência:
Geraldine Alves dos Santos, Universidade Feevale, Câmpus II ERS 239, 2755,
93525-075 Novo Hamburgo RS, E-mail: geraldinesantos@feevale.br; Maristela
Cassia de Oliveira Peixoto: maristelapeixoto@feevale.br; Nilton Ricardo Vargas Sager: nilton@feevale.br; Graciele
Pires de Oliveira: graciele@feevale.br; Rosa Maria Vargas Leães: rosaleaes@gmail.com;
Gilson Luís da Cunha: gilsonlcunha@gmail.com
Resumo
O
aumento do tamanho da população idosa ocasionará um aumento na demanda por
saúde nesse grupo populacional. A partir desta realidade elaborou-se o presente
artigo com o objetivo geral de analisar o grau de dependência dos idosos
residentes nas ILPI do município de Ivoti/RS. O estudo possui um delineamento
quantitativo, descritivo e transversal. A amostra foi constituída por 65
idosos, de ambos os sexos, com mais de 60 anos de idade residentes nas cinco
Instituições de Longa Permanência para Idosos do município de Ivoti. A análise
descritiva demonstrou a predominância da faixa etária 80-89 anos (50,8%) e de
mulheres (75,4%). Em relação ao grau de dependência, 83,1% dos idosos foram
classificados como muito dependentes. Conclui-se que mesmo com limitações
físicas e/ou cognitivas provocadas pelo processo de envelhecimento ou por
doenças, os idosos poderiam ter melhor desempenho para capacidade funcional,
caso houvesse maior investimento na promoção à saúde e reabilitação, com
políticas públicas eficazes.
Palavras-chave: envelhecimento,
instituição de longa permanência para idoso, pessoas idosas, saúde do idoso.
Abstract
The
acceleration of the size of
the elderly population will
result in an increase in demand for health services in this population. From this reality, this paper was
elaborated with the following general objective: to classify
the degree of dependence of
the elderly in Long Stay Institutions
(LSI) from the city of Ivoti/RS. This study has
a quantitative, descriptive
and cross-sectional design.
The sample consisted of 65 elderly, of both sexes,
older than 60 years, living in the five LSIs
for the elderly in the city of
Ivoti. Descriptive analysis
showed the predominance of the age group 80-89 years (50.8%) and women (75.4%). Regarding the degree of
dependence, 83.1% of the elderly were
classified as very dependent. As a conclusion, even with physical
and/or cognitive
limitations caused by the aging
process or disease, the elderly
could have better functional capacity with more effective public policies and investment in health promotion and rehabilitation.
Key-words: aging, homes for the aged, aged, health of
the elderly.
É notório o crescimento da população idosa,
pois há um aumento significativo na perspectiva de vida. Esta situação tem
gerado mudanças expressivas na sociedade. Considerando-se que há uma redução da
capacidade funcional com a idade é necessário reunir esforços com o intuito de
prevenir e prorrogar o máximo possível a dependência
física, para que a pessoa idosa possa viver mais tempo no contexto do âmbito
familiar [1].
O envelhecimento demográfico observado nos
últimos anos causou efeitos diretos nos diferentes campos, considerando o
indivíduo, a família e a sociedade. Suas complicações interferem no nível
social, psicológico, biológico, político e econômico. O processo do
envelhecimento sofre influências do estilo de vida adotado, portanto envelhecer
é uma experiência singular. A sociedade e o Estado não dispõem de meios
adequados e não estão preparados para atender as pessoas idosas. Ainda que a
Política Nacional do Idoso priorize que este permaneça ao lado da família, em
oposição ao interesse de atendimento institucionalizado, as Instituições de
Longa Permanência para Idosos (ILPI) representam escolhas de cuidados para
aqueles idosos que por diferentes razões não vivem em suas residências [2].
Nesta nova estrutura familiar, a mulher que
sempre teve o papel de cuidadora e responsabilidade com os cuidados com os pais
e os sogros está inserida no mercado de trabalho, não dispondo de tempo
suficiente para se dedicar aos cuidados com os idosos da família, assim,
inviabilizando as famílias de os manterem junto. Estes fatores têm sido uma das
causas que vem impulsionando o aumento das internações em ILPI [3,4].
Nas ILPI várias ações devem ser realizadas
com o intuito de diminuir as limitações decorrentes do envelhecimento, com o
objetivo de que estes tenham uma maior independência e bem-estar
biopsicossocial. Para compreender o grau de dependência dos idosos é preciso
analisar sua capacidade funcional, a qual se observa através da investigação da
execução das Atividades de Vida Diária (AVD). O estudo da capacidade funcional
desses idosos está intimamente relacionada a
indicadores de qualidade de vida [5].
As AVD estão relacionadas ao autocuidado:
alimentar-se, banhar-se, vestir-se, mobilizar-se, deambular, ir ao banheiro,
manter o controle sobre suas necessidades fisiológicas. O desempenho nas AVD é
um parâmetro aceito para validar essa avaliação, sendo utilizada por diversos
profissionais da área da saúde para verificar o grau de dependência de seus
clientes, pois permite traçar medidas preventivas com o propósito de combater
os inúmeros fatores que provocam a redução da capacidade funcional desses
indivíduos [6].
O presente estudo possui um delineamento
quantitativo, descritivo e transversal e foi realizado a partir do banco de
dados do projeto de pesquisa: Avaliação do estado emocional, satisfação com a
vida e capacidade funcional de idosos residentes em instituições de longa permanência
do município de Ivoti/RS. Esta pesquisa foi realizada no município de Ivoti/RS
em parceria com o Conselho Municipal do Idoso do município, a Secretaria de
Saúde e Assistência Social e as cinco instituições de longa permanência
particulares do Município. O estudo foi aprovado no Comitê de Ética e Pesquisa
da Universidade Feevale, sob o nº
17296213.4.0000.5348.
A coleta de dados permitiu o mapeamento dos
idosos residentes nas 5 ILPI particulares do município
de Ivoti. A idade mínima considerada para o estudo foi de 60 anos, conforme
definição da Organização Mundial da Saúde para os países em desenvolvimento.
Foram identificados 102 idosos distribuídos em 5instituições
de longa permanência particulares. Do grupo inicial 83
participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE),
foi solicitada também a autorização ao
responsável pelo idoso para participação
na pesquisa. Destes idosos com autorização para
participação na pesquisa foi
realizada a avaliação física e a consulta aos
prontuários de 65 idosos, a
redução ocorreu em função dos óbitos
e da saída da instituição entre o período
da assinatura do TCLE e a avaliação física. Cada
instituição participante
assinou o Termo de Coparticipante.
A coleta dos dados sociodemográficos
foi realizada através dos prontuários dos idosos. Existem várias escalas que
avaliam a capacidade funcional. Neste estudo utilizamos o Índice de Katz,
criado em 1963 por Sidney Katz, para analisar a capacidade funcional do
indivíduo idoso. Katz desenvolveu uma lista com seis itens que são
hierarquicamente relacionados e demonstram os padrões de desenvolvimento infantil,
isto é, que a redução da função no idoso surge pelas atividades mais complexas,
como vestir-se, banhar-se, até chegar as de autorregulação
como alimentar-se e as de eliminação ou excreção. Este instrumento foi aplicado
respeitando a disposição dos idosos para aplicação do mesmo. Assim objetivou-se
que eles não se sentissem cansados e também que se criasse um vínculo entre o
entrevistado e os pesquisadores, havendo espaço para que o instrumento fosse
respondido, mas também para que o idoso tivesse um espaço de escuta.
O envelhecimento no Brasil demonstra um
aumento na população idosa acima de 80 anos, isso ocorre em virtude de diversos
fatores, em especial aos avanços da tecnologia na área da saúde. O predomínio
de mulheres idosas em relação aos homens idosos está relacionado à feminilização do processo de envelhecimento [7,8].
Em nosso estudo identificamos esta situação
através das características demográficas dos idosos institucionalizados do
município de Ivoti/RS que retrataram um percentual de 66,2% na faixa etária
acima de 80 anos. Também houve a predominância na amostra do sexo feminino
(75,4%). Verificou-se que os idosos possuem nível de escolaridade baixo e
alguns estudos corroboram o resultado encontrado nesta pesquisa [9-11]. Na
população estudada os idosos viúvos são predominantes (53,8%), embora seja
relevante o número de idosos casados (24,6%). Somente 9,2% dos idosos são
solteiros. Algumas pesquisas encontraram um cenário divergente do presente
estudo, como o encontrado em uma pesquisa com idosos institucionalizados em
Recife [10] no qual 57,3% dos idosos eram solteiros. Em outra pesquisa
realizada em Belo Horizonte com idosos institucionalizados evidenciou-se que
46,8% dos participantes eram solteiros e somente 34% viúvos [11].
Em nosso estudo identificamos que 89,3% dos
participantes tinham tempo de permanência inferior a 5
anos. Considerando que a faixa etária de maior prevalência é acima de 80 anos,
conclui-se que muitos dos idosos são internados nas ILPI com uma idade mais
avançada, no momento de maior declínio do processo de envelhecimento, ou seja,
quando já apresentam doenças que afetam a independência e consequentemente o
bem-estar e a qualidade de vida.
Identificamos em nosso estudo que 83,1% da
amostra de idosos institucionalizados são muito dependentes, 10,8% apresentam
uma dependência moderada e apenas 6,1% são independentes.
No estudo realizado nas ILPI de Maceió/AL,
56,3% dos idosos eram muito dependentes [12]. Entretanto na pesquisa realizada
em Natal, 81,25% eram independentes, 8,33% apresentavam dependência moderada e
10,4% eram dependentes [13]. Os idosos institucionalizados na cidade de
Assis/SP eram 40% independentes, 45% tinham dependência moderada e 15%
dependência total [14]. Um estudo realizado com idosos institucionalizados, em
Barbacena/MG, identificou que 45,68% eram independentes, 22,22% dependentes
moderados e 32,10% possuíam dependência severa [15].
O estudo realizado em Oeiras/Portugal
constatou que 67,7% necessitavam de auxílio para banho, 59,2% para vestir-se,
46,2% para irem ao banheiro e 53,1% necessitavam de algum auxílio/ajuda para
locomover-se. Com relação ao escore, a mesma pesquisa constatou que 48,5% dos
idosos eram muito dependentes, 20% tinham dependência
moderada e 31,5% eram independentes [16].
Na tabela I são apresentados os dados da
variável Escala de Atividade de Vida Diária de Katz. Grande parte dos idosos
são muito dependentes, necessitando de auxílio para
desenvolver as atividades básicas da vida diária.
Tabela I – Distribuição da frequência absoluta e do
percentual da variável Escala de Atividade de Vida Diária – Katz.
Com relação à capacidade funcional, a
presente pesquisa evidenciou que 95,4% dos idosos necessitam de algum auxílio
para tomar banho; o mesmo percentual para vestir-se; 81,5% precisam de
acompanhamento até o banheiro; 64,6% dos idosos eram dependentes para
locomover-se. Em relação à continência, 84,6% eram dependentes ou necessitavam
de alguma ajuda. Para 56,9% dos idosos necessitavam de algum auxílio para
alimentar-se ou de assistência completa e/ou uso de sondas.
Diversas pesquisas, no âmbito regional,
nacional e internacional, apresentam resultados divergentes. A pesquisa
realizada na cidade de Rio Grande/RS, com 30 idosos institucionalizados,
identificou que 73,3% dos idosos não recebiam assistência no banho, 76,7%
tinham independência ao vestir-se, 83,3% conseguiam realizar sua higiene
pessoal, 80% não recebiam assistência ao transferir-se, 86,7% conseguiam
alimentar-se sem ajuda e 90% tinha controle esfincteriano completo [17]. A
pesquisa realizada com 393 idosos na cidade de Pelotas/RS verificou que 64,9%
tinham dependência para banhar-se, 59,6% para vestir-se, 53,6% para ir ao
banheiro, 44% para transferir-se, 49,1% tinham controle das eliminações
fisiológicas, 73,3% alimentavam-se sem ajuda [9]. O estudo realizado na região
do Alto do Jacuí/RS, com idosos institucionalizados, identificou que 64% dos
idosos eram dependentes para banho, 24% para transferir-se, 43% tinham
dependência para vestir-se, 41% para realizar a higiene pessoal, 32% para ir ao
banheiro e 11% para alimentar-se [18].
Conforme estudo realizado em Londrina/PR foi
constatado que 59,8% dos idosos das ILPI tinham dependência para banho, 56,4%
para vestir-se, 48,5% para ir ao banheiro, 38,2% para transferência, 49%
necessitava de auxilio em relação a continência e
16,7% para alimentar-se [19]. No estudo com 154 idosos institucionalizado, em
Cuiabá, foi evidenciado que 40,9% dos idosos eram dependentes para banhar-se,
42,9% para vestir-se, 37,7% para ir ao banheiro, 26,6% apresentavam dependência
para transferência, 5,8% para alimentar-se e 31% dependência total [20]. Na
cidade de Belo Horizonte/MG, foi verificado que 80,9% eram independentes para
banhar-se, 83% para vestir-se, 80,9% para ir ao banheiro, 87,2% para
transferir-se, 61,7% tinham controle de esfíncter e 93,6% eram independentes
para alimentar-se [11].
Na tabela II demonstramos a relação entre as variáveis Grau de Dependência e o sexo. A análise de
comparação de médias realizadas através do Qui
quadrado (p = 0,493) não demonstrou diferença significativa. Podemos notar que
os sujeitos da pesquisa apresentam uma porcentagem mais elevada de
classificação muito dependente, tanto para os homens quanto para as mulheres,
embora a proporção masculina seja mais elevada.
Tabela II – Análise de comparação entre o Grau de
Dependência e a variável sexo.
Na tabela III podemos observar a relação
entre o escore do grau de dependência e a faixa etária. Na análise de
comparação de médias realizadas podemos notar que os idosos na faixa etária
entre 80 a 89 anos apresentam maior grau de dependência.
Tabela III - Análise da comparação entre grau de
dependência e faixa etária.
O Ministério de Assistência Social e Saúde da
Finlândia implantou uma política de atenção à saúde que incorpora quatro
aspectos centrais: serviços eletrônicos 24 horas, serviços ambulatoriais,
serviços comunitários e serviços em casa. Esta proposta possibilita manter os
idosos em casa o maior tempo possível, evitando a institucionalização precoce
[21].
Diversos estudos concluem que, à medida que a
idade avança, aumentam as possibilidades de limitações das atividades da vida
diária. O profissional da saúde tem papel fundamental na avaliação funcional do
idoso. Através dessa avaliação é possível ter uma visão mais precisa da
severidade das patologias e o impacto das comorbidades
na vida do idoso. A independência na realização das AVD é fundamental na vida
do idoso, envolvendo as questões de natureza emocional, física e social.
Quando um idoso mesmo independente é
institucionalizado, pode desenvolver distintos graus de dependência devido à
sua oposição em aceitar e adaptar-se às novas condições de vida e a falta de
motivação e de incentivo que são comuns no ambiente das instituições [2].
A história de vida e o ambiente onde o idoso
está inserido é fundamental para se ter uma velhice
bem-sucedida, o desenvolvimento das capacidades do idoso está diretamente
ligado ao contexto social onde o idoso vive, associado à utilização de recursos
e de tecnologias, com o objetivo de suprir os déficits do envelhecimento [22].
As análises dos resultados demonstraram uma
população idosa predominantemente do sexo feminino, na faixa etária de 60 a 90
anos e com baixa escolaridade.
A dependência não é um estado definitivo, mas
um sistema dinâmico, do qual a evolução pode ser transformada, minimizada ou
prevenida, essa transformação sugere a existência de serviços qualificados e
empenhados com a assistência ao idoso.
A avaliação do grau de dependência funcional
dos idosos, para propor intervenções especificas, é muito importante, pois
através da mesma podem ser planejadas diferentes atitudes preventivas com a
finalidade de combater os inúmeros fatores que provocam a redução da capacidade
funcional desses indivíduos.
Além da necessidade de se definir prioridades
revela-se também primordial a iniciativa de políticas voltadas ao idoso,
nomeadamente dos institucionalizados, para que, em suma, ninguém tenha medo de
envelhecer. Todos aqueles envolvidos no cuidado da pessoa idosa devem
desenvolver capacidade de análise crítico-reflexiva sobre questões relacionadas
à dependência do idoso e, assim, poder subsidiar a elaboração de ações a fim de
promover melhorias no cuidado prestado à pessoa idosa.
Financiamento
da FAPERGS e CNPq.