ARTIGO ORIGINAL
Relação entre a
qualidade de vida e desempenho motor em idosos ativos
Relationship between
quality of life and motor performance
in active elderly
Lara
Sodré Lago*, Luciana Araújo dos Reis, Ft., D.Sc.**
*Graduanda em
Fisioterapia pela Faculdade Independente do Nordeste, **Estágio Pós-doutoral em
Saúde Coletiva/UFBA/ISC, Docente Adjunta da Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia e Docente Titular da Faculdade Independente do Nordeste
Recebido
em 15 de novembro de 2016; aceito em 21 de junho de 2017.
Endereço para
correspondência:
Luciana Araújo dos Reis,
Av.
Luiz Eduardo Magalhães, 1035, Candeias, 45028105 Vitória da Conquista BA,
E-mail: lucianauesb@yahoo.com.br; Lara Sodré Lago: larinhalago@yahoo.com.br.
Resumo
O
processo de envelhecimento está se tornando um fenômeno mundial. O objetivo
deste trabalho foi identificar a relação entre qualidade de vida e desempenho
motor em idosos ativos. Trata-se de uma pesquisa do tipo exploratório,
descritiva e analítica, com delineamento transversal e abordagem quantitativa.
A correlação entre Desempenho Motor e Qualidade de Vida foi realizada através
da correlação de Spearman com significância de 5%. A
amostra incluiu 59 pacientes da cidade de Vitoria da Conquista/BA. Constatou-se
no estudo que houve uma maior distribuição de idosos do sexo feminino (83,1%),
com ensino fundamental incompleto (39%), casados (42,4%) e
com renda familiar de 1 a 3 salários mínimos (45,8%). Nas condições de
saúde houve uma maior distribuição de idosos com problemas de saúde (98,3%),
classificados como independente nas atividades básicas da vida diária (71,1%) e
dependente (64,4%) nas atividades instrumentais da vida diária. Na qualidade de
vida, encontram-se comprometidos os domínios físico (14,16 pontos), psicológico
(13,77 pontos) e meio ambiente (14,37 pontos). No desempenho motor, os idosos
apresentaram limitação apenas na atividade de equilíbrio (52,5%). Houve apenas
diferença estatística significativa nos domínios da qualidade de vida e a
atividade equilíbrio do desempenho motor (p=0,000). Conclui-se que a qualidade
de vida pode interferir diretamente no desempenho motor dos idosos, uma vez que
a qualidade de vida determina o bem-estar e a capacidade de manter-se autônomo
para realizar as suas atividades diárias.
Palavras-chave: envelhecimento,
qualidade de vida, atividade motora.
Abstract
The
aging process is becoming a global phenomenon. Thus, our objective was
to identify the relationship between quality of life and
motor performance in active elderly. This was
an exploratory, descriptive and analytical research, with a cross-sectional and quantitative design. The correlation between Motor Performance and Quality of Life was obtained through
Spearman correlation with a significance level set at 5%. The sample included 59 patients from the
city of Vitoria da
Conquista/BA The study found
that a greater distribution of female elderly citizens (83.1%), with incomplete elementary school (39%), married (42.4%) and with a family
income from 1 to 3 minimum
wages (45.8%). Concerning the health conditions,
there was a greater distribution of elderly people
with health problems (98.3%), classified as independent in the basic activities of daily living (71.1%) and dependent (64.4%) in the instrumental activities of daily living. As for the quality of
life, the physical (14.16 points), psychological
(13.77 points) and environment
(14.37 points) domains are undermined.
Regarding the motor performance, the elderly people showed limitation only in the activity
related to balance (52.5%).
There was only significant statistical difference in the domains of
quality of life and the
activity of balance of the motor performance
(p = 0.000). We concluded that quality of
life may interfere directly in the motor performance of the
elderly people, since it determines the welfare and the
ability to remain autonomous to perform their
activities of daily living.
Key-words: aging, quality
of life, motor activity.
O processo de envelhecimento está se tornando
um fenômeno mundial e presente nos países desenvolvidos e nos que estão em
desenvolvimento. Este fato ocorre devido à associação de dois fatores que são a
redução da taxa de natalidade somada a um aumento da taxa de longevidade [1].
Nos países desenvolvidos, o envelhecimento
ocorre de forma gradual, acompanhando as melhorias no sistema de saúde,
habitação, saneamento básico, alimentação, trabalho e previdência social, porém
no Brasil, um país em desenvolvimento, este processo está ocorrendo de forma
rápida gerando um contexto de desigualdades sociais, com economia frágil,
serviços especializados precários e reduzidos recursos financeiros, sem as
demandas do novo grupo etário emergente [2].
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística) [3], os idosos brasileiros representam 23,5 milhões
de pessoas com mais de 60 anos de idade. Comparando 2009 e 2011, ano da última
pesquisa realizada, o grupo de idosos aumentou 7,6%, ou seja, mais 1,8 milhões.
Aliado ao envelhecimento, o corpo torna-se
mais vulnerável às doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), estas doenças
são classificadas como morbidades por um longo período de curso clínico,
irreversíveis, estando comumente associadas à fragilidade orgânica natural dos
indivíduos. Seus principais fatores são o uso do tabaco, má alimentação,
sedentarismo e consumo nocivo de álcool [4,5].
De acordo com o Ministério da Saúde [6], as
DCNT mais prevalentes são as doenças circulatórias como a hipertensão arterial,
insuficiência cardíaca, as endócrinas como o diabetes mellitus, respiratórias e
o câncer. Desta forma, a implementação de atividades
que contribuam para um envelhecimento saudável e ativo a fim de melhorar a
qualidade de vida desta população torna-se indispensável [7].
Dentre as estratégias de avaliação das
condições de saúde da população idosa, o desempenho motor se destaca, já que o
mesmo está relacionado com as modificações fisiológicas, autonômicas e
psicológicas do indivíduo. Com o envelhecimento, o indivíduo torna-se susceptível
a distúrbios motores, o que dificulta sua locomoção e consequentemente altera a
sua independência e autonomia [8].
Diante deste cenário de transições
demográficas, epidemiológicas e nutricionais, surge o termo qualidade de vida,
que nada mais é do que a necessidade de amparar os idosos dando-lhes um suporte
maior à manutenção da saúde, abrangendo os aspectos físicos, espirituais,
psíquicos e sociais, de modo que os mesmos tenham uma melhor percepção acerca
da posição na vida, nível de dependência, contexto cultural e sistema de
valores [7].
Ações de educação e promoção à saúde têm
favorecido na melhoria de vários aspectos da vida do idoso, colaborando com um
envelhecimento satisfatório. Diante disto, as atividades em grupos têm
demonstrado resultados positivos quanto à prevenção e promoção à saúde dos
idosos [9]. Nesta perspectiva, este estudo tem por objetivo geral: identificar
a relação entre qualidade de vida e desempenho motor em idosos ativos. E por
objetivos específicos: caracterizar as condições sociodemográficas
e saúde em idosos ativos; avaliar a qualidade de vida e o desempenho motor em
idosos ativos.
Trata-se de uma pesquisa do tipo
exploratório, descritivo e analítico, com delineamento transversal e abordagem
quantitativa, subprojeto do projeto: Programa Interdisciplinar de Estudos e
Pesquisas sobre o Envelhecimento humano: Ações de cuidado e atenção ao idoso.
O projeto de pesquisa foi desenvolvido no
município de Vitória da Conquista no Núcleo Interdisciplinar de Estudos e
Pesquisa sobre o Envelhecimento Humano (NIEPEH): Atenção e Proteção ao Idoso.
A amostra foi constituída por todos os idosos
que tiverem condições mentais para responder ao instrumento de pesquisa, sendo
o estado mental avaliado pelo Mini Exame do Estado Mental/MEEM [10].
A amostra foi do tipo não-probabilística
por conveniência e constituída a partir de 80 indivíduos que foram selecionados
através dos critérios de inclusão e exclusão: Critérios de inclusão: ser
participante do grupo de convivência de idosos do município de Vitória da Conquista
e obter pontuação acima de 24 pontos no MEEM. Critérios de exclusão: os
indivíduos cadeirantes ou portadores de deficiência visual e/ou auditiva.
Totalizando uma amostra de 59 idosos.
O instrumento de pesquisa foi constituído de
dados sociodemográficos como data da aplicação do
questionário, o sexo (feminino ou masculino), escolaridade (não alfabetizado,
ensino fundamental incompleto, ensino fundamental completo, ensino médio
incompleto, ensino médio completo, ensino superior incompleto, ensino superior
completo), estado civil (solteiro, casado, viúvo, divorciado), renda familiar
(um salário mínimo, de 1-3 salários mínimos, de 3-5 salários mínimos, de 7 a 10
salários mínimos).
A caracterização das condições de saúde foi
avaliada por meio de questionamentos aos idosos: se tinham problemas de saúde,
se realizavam tratamento. A avaliação das incapacidades nas atividades básicas
e instrumentais da vida diária foi realizada pelo Índice de Barthel
e pela Escala de Lawton e Brody respectivamente. O
Índice de Barthel avalia o nível de independência do
indivíduo para a realização de dez atividades básicas da vida diária (ABVD).
Tem como objetivo avaliar se o indivíduo é capaz de desempenhar atividades
independentemente como: alimentação, banho, atividades rotineiras, vestir-se,
intestino, sistema urinário, uso do toilet,
transferência da cama para a cadeira e vice-versa, mobilidade e escadas. Sua
pontuação vai de 0 a 100 pontos, quanto menor for a
pontuação maior será o grau de dependência [11]. No estudo foi adotada a
classificação dependente (pontuação <100 pontos) e independente (pontuação
=100 pontos).
A escala para avaliação das incapacidades nas
atividades instrumentais da vida diária (AIVD), desenvolvida por Lawton e Brody avalia o nível de independência do indivíduo
no que se refere à realização das AIVD, compreendidas por nove tarefas que
possibilitam a pessoa adaptação ao meio e manutenção da independência na
comunidade como: uso do telefone, de transportes, fazer compras, preparar
alimentos, lidar com a casa, realizar trabalhos manuais, lavar e passar a
própria roupa, uso correto da medicação e administração do dinheiro. Cada
questão possui três opções, a primeira indica independência, a segunda
dependência parcial e a terceira dependência total. Para o cálculo do escore,
atribuem-se 3, 2 e 1 pontos respectivamente com
pontuação de 9 a 27 pontos. Quanto maior o escore, maior o grau de
independência [12]. No estudo foi adotada a classificação dependente (pontuação
<27 pontos) e independente (pontuação = 27 pontos).
Para avaliar a qualidade de vida foi
utilizado o Whoqol-bref, criado pelo World Health Organization
Quality of Life e
validado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É
recomendado pela Organização Mundial da Saúde para avaliação da qualidade de
vida. O instrumento é composto por 26 questões, as
duas primeiras referem-se à percepção individual da QV e da percepção de saúde
e as 24 seguintes são subdivididas em quatro domínios, sendo eles: físico,
psicológico, relações sociais e meio ambiente. Cada domínio pode alcançar
escores de 4 a 20, e quanto mais próximo de 20 melhor
a qualidade de vida do indivíduo no domínio avaliado. Somando-se os escores dos
quatro domínios e das duas questões referentes à percepção do indivíduo,
pode-se chegar a escores mínimos de 20 e máximo de 100. Valores mais altos
indicam melhor qualidade de vida [13].
Avaliação do desempenho motor: Realizada por
meio dos testes de Equilíbrio, Teste de Sentar e Levantar (TSL),
Flexibilidade/mobilidade, Teste de caminhar 2,44m.
Equilíbrio: Utilizado para
avaliar o equilíbrio estático. Inicialmente o indivíduo permanecia em pé, por
10 segundos, mantendo os pés juntos e olhos abertos. Depois deveria permanecer
em pé, por 10 segundos, colocando o calcanhar de um pé na frente do outro,
mantendo os olhos abertos. Posteriormente o indivíduo deveria permanecer em pé,
apoiando-se em uma das pernas, 10 segundos, sem utilizar qualquer tipo de apoio
e finalmente o indivíduo deveria permanecer em pé, apoiando-se na outra perna
por 10 segundos sem utilizar qualquer tipo de apoio. O avaliado era
classificado como sem limitação (se fosse capaz de realizar somente a tarefa 1 e 2 mais a 3 e/ou a 4) e com limitação (incapaz se não
conseguisse realizar nenhuma tarefa, fraco, se não fosse capaz de realizar
somente a tarefa 1, médio, se fosse capaz de realizar somente a tarefa 1 e 2).
Teste de Sentar e
Levantar
(TSL): Teste utilizado como medida de força de membros inferiores em indivíduos
idosos. O indivíduo iniciava o teste em sedestação,
com a coluna ereta e os braços cruzados sobre o peito, pés afastados à largura
dos ombros e totalmente apoiados no solo e um dos pés deve estar ligeiramente
avançado em relação ao outro para ajudar a manter o equilíbrio. O indivíduo
devia se levantar cinco vezes, o mais rápido possível, sem fazer nenhuma pausa.
O teste é considerado concluído com êxito quando realizado em tempo igual ou
inferior a 60 segundos. O idoso era classificado em sem limitação (tempo igual
ou inferior a 60 segundos) e com limitação (tempo maior que 60 segundos).
Flexibilidade/mobilidade: O teste “agachar e
pegar o lápis no chão” proposto para observar a flexibilidade/mobilidade dos
músculos posteriores da perna e para verificar a capacidade de abaixar e
levantar dos idosos. O indivíduo ficava em posição ereta com os pés juntos,
agachava-se e apanhava o lápis a 30 centímetros à frente da ponta dos seus pés.
Ficava novamente em pé no tempo de 30 segundos. Foi observado se o indivíduo
conseguiu cumprir o teste ou não, se sim, em quanto tempo conseguiu realizá-lo.
O idoso era classificado em sem limitação (quando conseguia realizar o teste) e
com limitação (quando não conseguia realizar o teste).
Teste de caminhar
2,44 m:
Utilizado para avaliar a mobilidade física, velocidade, agilidade e equilíbrio
dinâmico. O indivíduo caminhava no trajeto marcado no chão (2,44 m), em sua
velocidade normal, como se estivesse caminhando na rua, sendo verificado se o
mesmo conseguia ou não realizar o teste e quantos segundos era gasto pela primeira
e segunda vez. O idoso era classificado em sem limitação (quando conseguia
realizar o teste) e com limitação (quando não conseguia realizar o teste).
Inicialmente foi realizado um contato inicial
com os responsáveis pelo desenvolvimento das atividades do grupo de
convivência, quando foram explicados os objetivos do da pesquisa, solicitando
autorização para a coleta de dados. Após consentimento em participar da
pesquisa foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
sendo respeitados os princípios éticos que constam na resolução 466/12 do
Conselho Nacional de Saúde. Somente após a assinatura do termo, a pesquisa foi
iniciada com os idosos cadastrados no Projeto Vida Ativa da UESB e nas unidades
básicas de saúde da família do município de Vitória da Conquista/BA.
O convite à participação na pesquisa ocorreu
de maneira aleatória aos indivíduos que estivessem presentes no momento das
visitas. A partir desta abordagem, foram explicados os objetivos, riscos e
benefícios da pesquisa e conferido se o participante se enquadrava nos
critérios de seleção da pesquisa.
Os dados coletados foram organizados em uma
planilha Excel® 2015 e, em seguida, transportados e analisados no programa Statistical Pack Age for the
Social Science SPSS® versão 20.0. A correlação entre Desempenho Motor e
Qualidade de Vida foi realizada através do coeficiente de correlação de Spearman.
Os participantes foram informados quanto aos
objetivos da pesquisa, ficando livres para participarem ou não. Ao aceitarem, assinaram
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE respeitando os princípios
éticos estabelecidos pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde para
que os dados pudessem ser utilizados e os resultados divulgados.
Constatou-se no presente estudo que houve uma
maior distribuição de idosos do sexo feminino (83,1%), com ensino fundamental incompleto (39%), casados (42,4%) e com renda familiar
de 1 a 3 salários mínimos (45,8%), conforme dados da tabela I.
Tabela I - Caracterização sociodemográficas
dos idosos ativos. Vitória da Conquista/BA, 2016.
Fonte:
Dados da Pesquisa.
Em relação às condições de saúde verificou-se
uma maior distribuição de idosos com problemas de saúde (98,3%), classificados
como independente nas Atividades Básicas de Vida Diária/ABVD (71,1%) e
dependente (64,4%) nas Atividades Instrumentais de Vida Diária/AIVD, segundo
dados da tabela II.
Tabela II - Caracterização das condições de saúde dos
idosos ativos. Vitória da Conquista/BA, 2016.
Fonte:
Dados da Pesquisa; *Atividades Básicas de Vida Diária; **Atividades
Instrumentais de Vida Diária.
Conforme a tabela III observou-se que a QV se
encontra mais comprometida nos domínios físico (14,16 pontos), psicológico
(13,77 pontos) e meio ambiente (14,37 pontos).
Tabela III - Distribuição dos domínios do Whoqol-bref. Vitória da Conquista/BA, 2016.
Fonte:
Dados da Pesquisa.
Na avaliação do desempenho motor, os idosos
apresentaram limitação apenas na atividade de equilíbrio (52,5%), segundo
tabela IV.
Tabela IV - Distribuição dos idosos segundo as
atividades do desempenho motor. Vitória da Conquista/BA, 2016.
Fonte:
Dados da Pesquisa.
Com a aplicação do coeficiente de correlação
de Spearman, verificou-se que houve apenas diferença
estatística significativa entre os domínios da qualidade de vida e a atividade
equilíbrio do desempenho motor (p=0,000).
No que se refere às condições sociodemográficas, observou-se que há uma maior
distribuição de idosos do sexo feminino, com ensino fundamental incompleto,
casados e com renda familiar de 1 a 3 salários mínimos. O interesse das
mulheres em participar de atividades de lazer é diferente dos homens, uma vez
que elas exercem um papel dedicado ao lar, ou seja, não exerceram uma atividade
profissional, suas atividades foram direcionadas ao ambiente doméstico, marido
e filhos.
A escolaridade está associada à capacidade
funcional, ou seja, quanto maior o nível de escolaridade, maiores são as
condições da pessoa se manter independente, quanto menor o nível escolar,
piores são os ricos de declínio da capacidade funcional [15]. Dados da Pesquisa
Nacional por Amostras de Domicílios [16] revelam que 9,4% das pessoas entre 60
e 64 anos são analfabetas no Brasil e, para as pessoas de 65 anos ou mais, esse
percentual aumenta para 29,4%.
Segundo os resultados do presente estudo a
maioria dos idosos é casada, estado civil este que não reflete nos achados
demográficos do Brasil, de acordo com o banco de dados do IBGE [17], a maioria
dos idosos são solteiros ou viúvos. O maior número de viúvas se dá em virtude
da maior expectativa de vida e, uma vez viúva, a grande maioria das mulheres
tende a viver só, diferente dos homens que têm a tendência de encontrar outra
companheira.
Ter uma renda familiar satisfatória reflete
de forma positiva e relevante acerca de um envelhecimento ativo, uma vez que o
idoso pode contribuir com o orçamento familiar e assumir o compromisso com as
necessidades de saúde, sociais e alimentares [18]. O baixo poder aquisitivo
impactará de forma negativa na autonomia funcional do idoso, uma vez que
pessoas menos favorecidas possuem 3,3 vezes mais chances de desenvolver alguma
dependência nas atividades da vida diária (AVD) quando comparadas às classes
mais favorecidas economicamente.
Em relação às condições de saúde,
verificou-se uma maior distribuição de idosos com problemas de saúde, sendo
este resultado corroborado por estudo [19,20] no qual grande parte dos idosos
entrevistados (77,38%) relatou possuir pelo menos uma doença associada, sendo a
hipertensão arterial (56,20%) e a osteoartrite
(28,10%) as mais prevalentes.
Nas ABVD os idosos foram em sua maioria
classificados como independentes, e nas AIVD os idosos se demonstraram
dependentes. Em estudo realizado com idosos cadastrados em uma unidade da
Estratégia Saúde da Família [21], na avaliação da funcionalidade, os idosos
foram independentes para as ABVD e AIVD, apesar de demonstrar um
comprometimento funcional mais evidente na realização das AIVD. No entanto, a
dependência dos idosos nas AIVD pode ser explicada devido ao fato de que com o
avançar da idade há uma redução nas fibras musculares, reduzindo dessa forma a
força muscular. Isso faz com que haja uma lentidão nos movimentos e gere uma
fadiga precoce limitando as suas funcionalidades [12].
O termo qualidade de vida está relacionado à
autoestima e o bem-estar pessoal, no qual englobam aspectos como a capacidade
funcional, nível socioeconômico, estado emocional, interação social, atividade
intelectual, autocuidado, suporte familiar, estado de saúde, valores culturais,
éticos e religiosos, estilo de vida, satisfação com o emprego e/ou com as atividades
da vida diária e com o ambiente em que se vive [22].
À medida que a pessoa envelhece, sua
qualidade de vida será determinada pela capacidade de manter a autonomia e a
liberdade, mesmo convivendo com patologias crônicas já existentes. Embora a
qualidade de vida seja definida como uma boa percepção do bem-estar físico,
psicológico, social e ambiental seu significado torna-se muito subjetivo, uma
vez que o nível sociocultural, a idade e os interesses pessoais irão
influenciar nos resultados [23].
No estudo, pôde-se observar que a qualidade
de vida dos idosos pesquisados se encontra mais comprometida nos domínios
físico, psicológico e meio ambiente. O domínio físico abrange questões como
condições físicas, mobilidade, independência, capacidade e disposição, a
capacidade funcional está diretamente relacionada ao impacto causado à
qualidade de vida nos idosos [23]. Já o domínio psicológico irá abordar
questões que dizem respeito às condições relacionadas aos sentimentos positivos
e negativos, concentração, aprendizagem e crenças. O domínio meio ambiente
inclui as condições ambientais e estilo de vida.
O comprometimento da qualidade de vida dos
idosos avaliados no presente estudo é corroborado por estudo de Ascensão [24]
realizado com três amostras independentes, sendo duas formadas por idosos que
residiam no meio urbano e outro no meu rural, totalizando uma amostra de 21
idosos, pôde constatar que nos domínios físico, psicológico e ambiente as
diferenças encontradas foram estatisticamente significativas independentemente
de onde residiam.
Em estudo [25] que com uma amostra de 80
idosos, perceberam que, com os resultados de cada domínio, as médias se
encontravam próximo ao valor máximo (20), pressupondo que os idosos de sua
amostra possuíam uma boa qualidade de vida, no que diz respeito aos domínios
físico (16,46 ±1,96), de relação social (16,78 ±2,13), psicológico (16,89 ± ,72) e de meio ambiente (16,45 ±1,76).
Na avaliação do desempenho motor, os idosos
apresentaram limitação apenas nas atividades de equilíbrio, resultado que se
assemelha com o estudo [12] realizado com uma amostra de 63 idosos longevos, no
qual se observou um escore médio na atividade de equilíbrio (42,9%), bom nas
atividades de sentar/levantar (82,5%), agachar/pegar um lápis no chão (87,3%) e
caminhada (96,8%).
Em estudo incluindo uma amostra de 164 idosos
[8], verificou-se que na avaliação do desempenho motor houve uma maior
predominância de idosos com limitação na atividade de agachar e pegar um lápis
no chão (85,4%), sem limitação na atividade sentar e levantar (92,7%), sem
limitação no teste de caminhada (96,3%) e sem limitação na atividade de
equilíbrio (81,7%).
Este fato pode ser explicado devido ao
processo de envelhecimento afetar a estabilidade do indivíduo. Um bom equilíbrio
depende da capacidade do sistema nervoso central em processar sinais
proprioceptivos, visuais e vestibulares, no entanto, com o avançar da idade
essa habilidade é comprometida, tornando-os mais vulneráveis às transformações
físicas e clínicas, que acaba por alterar os seus reflexos adaptativos [26].
No estudo foi possivel
verificar que há uma interferência da qualidade de vida no desempenho motor.
Este fato pode ser explicado por pesquisa [27] na qual os idosos avaliados
definiram qualidade de vida como a ausência de doenças, desfrutar de um bom
recurso financeiro, ter acesso aos serviços de saúde e apoio familiar para um
bom desempenho das suas atividades cotidianas e no cuidar.
A ausência do dinheiro e do apoio familiar
pode desencadear a fragilidade no idoso causando-lhe uma série de desordens,
provocando limitações funcionais que afetam o desempenho motor que interfere
diretamente na qualidade de vida do indivíduo. Quando isso acontece, é possível
que haja um declínio tanto físico quanto mental, na maioria dos casos, evolui
para o aparecimento de incapacidades funcionais e instrumentais [28].
Umas das habilidades que são afetadas no
idoso é o equilíbrio, pois há uma redução nos reflexos adaptativos que dão
origem aos processos degenerativos que levam a eventos como tontura,
desequilíbrio e instabilidade postural, predispondo a ocorrências de quedas. O
receio de cair faz com que os idosos fiquem em casa, se privando de sair,
praticar atividades físicas, afetando de forma direta a sua qualidade de vida
[29].
Conclui-se com o presente estudo que a
qualidade de vida pode interferir de forma direta no desempenho motor dos
idosos, uma vez que a qualidade de vida determina o bem-estar e a capacidade de
manter-se autônomo para realizar as suas atividades diárias. Quando isso não é
mais possível ou quando os mesmos são privados dessa autonomia, seja por
qualquer motivo, os idosos ficam mais vulneráveis às
transformações físicas e clínicas, alterando assim o seu desempenho
motor.
Este estudo torna-se relevante, pois poderá
servir como parâmetro para intervenções nas políticas públicas na saúde do
idoso, a fim de buscar implantar grupos e programas de exercícios que promovam
o aumento nos níveis de domínios da qualidade de vida, promovendo e preservando
as alterações no desempenho motor dos idosos.