ARTIGO ORIGINAL
Qualidade de vida de
mulheres com infecções recorrentes do trato urinário em atendimento
ambulatorial
Quality of
life in women with recurrent urinary tract infections
in an outpatient care
Carlos
Augusto Faria, D.Sc.*,
Luciano Garcia Lourenção, D.Sc.**,
Dayanna de Oliveira Quintanilha***, Muller da Silva
Vieira****, Patrícia de Fátima Lopes de Andrade, D.Sc.*****,
José Carlos Carraro Eduardo, D.Sc.******
*Médico
(Ginecologia), Professor Adjunto, Faculdade de Medicina, Universidade Federal
Fluminense, Niterói/RJ, **Enfermeiro, Professor Titular-Livre, Escola de
Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande/RS,
***Médica, Oficial do Corpo de Saúde da Marinha, Rio de Janeiro, ****Médico,
Egresso da Faculdade de Medicina, Universidade Federal Fluminense, Niterói/RJ,
*****Bióloga, Professora Adjunta, Faculdade de Medicina, Universidade Federal
Fluminense, Niterói/RJ, ******Médico, Professor Adjunto, Faculdade de Medicina,
Universidade Federal Fluminense, Niterói/RJ
Recebido
em 22 de janeiro de 2018; aceito em 25 de maio de 2018.
Endereço de
correspondência:
Carlos Augusto Faria, Rua Marquês do Paraná, 303 - 4º andar, 24033-900 Niterói
RJ, E-mail: carlosfaria@vm.uff.br; Luciano Garcia Lourenção:
luciano.famerp@gmail.com; Dayanna de Oliveira
Quintanilha: dayquintan@hotmail.com; Muller da Silva Vieira:
muller-vieira@hotmail.com; Patrícia de Fátima Lopes de Andrade:
patricialopes@id.uff.br; José Carlos Carraro Eduardo:
carraroeduardo@gmail.com
Resumo
Objetivo: Avaliar a qualidade
de vida de mulheres com infecções recorrentes do trato urinário em atendimento
ambulatorial, utilizando dois instrumentos, e verificar concordância entre
eles. Métodos: Estudo transversal com
mulheres com infecções recorrentes do trato urinário, confirmados pela cultura
de urina, utilizando WHOQOL-bref e King´s Health Questionaire
(KHQ). Resultados: Participaram 30
mulheres com idade entre 20 e 87 anos. De acordo com o WHOQOL-bref, seis (20,0%) mulheres referiam qualidade de vida ruim
ou muito ruim e 17 (56,7%) estavam insatisfeitas ou muito insatisfeitas com a
saúde. Houve boa consistência do instrumento WHOQOL-bref
para qualidade de vida geral, satisfação com a saúde e domínio físico; o KHQ
apresentou consistência satisfatória para todos os domínios, exceto Medidas de
Gravidade. O KHQ mostrou maior comprometimento da qualidade de vida nos
domínios: Impacto da Incontinência, Relações Pessoais e Emoções. Houve
correlação significativa entre WHOQOL-bref e KHQ, em
todos os domínios. Conclusão: As
mulheres apresentaram maior comprometimento da qualidade de vida nos domínios:
Impacto da Incontinência, Relacionamentos Pessoais e Emoções para KHQ; Físico
para WHOQOL-bref. Houve correlação significativa
entre os domínios do King´s Health Questionaire
e WHOQOL-bref, demonstrando que ambos são úteis para
avaliação da qualidade de vida nessa população.
Palavras-chave: qualidade de vida,
sintomas do trato urinário inferior, saúde da mulher, controle de infecções.
Abstract
Objective: To
evaluate quality of life of
women with recurrent urinary tract infections in ambulatory care, using two instruments,
and verify consistency between them. Methods: Cross-sectional study on women
with recurrent urinary tract infections,
confirmed by a urine culture, using WHOQOL-bref and King's
Health Questionaire (KHQ). Results: Participated
30 women aged between 20 and 87 years. According to the WHOQOL-bref,
six (20.0%) women reported quality of life bad
or very bad
and 17 (56.7%) were dissatisfied or very dissatisfied with health. There
was good consistency of WHOQOL-bref instrument for the overall quality of life, satisfaction
with health and the physical
domain; KHQ presented satisfactory consistency for all fields except
Severity Measures. The largest commitment of KHQ showed quality
of life in the fields: Impact
of Incontinence, Personal Relationships and Emotions. There
was no significant correlation between the WHOQOL-bref and KHQ in all areas. Conclusion: Women showed greater impairment of the
quality of life in the domains:
Impact of Incontinence, Personal Relationships and Emotions to the
KHQ; and Physical to WHOQOL-bref. There was no significant
correlation between the areas of
King's Health Questionaire and WHOQOL-bref, demonstrating that both are useful for the assessment of quality of
life in this population.
Key-words: quality of
life, lower urinary tract symptoms,
women's health, infection control.
O trato urinário é sítio comum de infecção
bacteriana, com incidência anual global estimada em 250 milhões de casos [1]. O
quadro clínico destas infecções varia de sintomas leves, como dor abdominal,
disúria, estrangúria, ardência miccional e micções
frequentes de baixo volume, até bacteremia e sepse,
podendo levar ao óbito. O acometimento renal silencioso ocorre em
aproximadamente 50,0% dos pacientes com cistite [1,3].
Estima-se que cerca de 35,0% da população
feminina irá apresentar sintomas de infecção do trato urinário em algum momento
de suas vidas [1,2].
Com o incremento da idade, aumenta a
probabilidade de as mulheres apresentarem recorrência das infecções do trato
urinário, especialmente após os 55 anos de idade. A incidência em mulheres com
mais de 60 anos é de 10,0%. Este aumento da incidência das infecções urinárias
recorrentes se deve a fatores como a menor produção de estrogênio no climatério
[4] e a maior prevalência de incontinência urinária [1,2].
Mulheres sexualmente ativas, entre 20 e 40
anos, e na pós-menopausa, com mais de 60 anos, são as duas populações de maior
risco para tais infecções [5].
A maior parte das mulheres com infecção do
trato urinário não possui alterações anatômicas ou funcionais do trato
urinário, podendo sofrer infecções isoladas ou recorrências (recidivas ou reinfecções)
em intervalos variados, causadas pelos diferentes organismos que colonizam o
períneo e a vagina [6,7]. Estima-se que entre 20,0% e 25,0% de todas as
mulheres com mais de 65 anos apresentem bacteriúria
assintomática, e essa taxa eleva-se a mais de 50,0% das mulheres com 80 anos ou
mais [6].
As infecções urinárias recorrentes constituem
sobrecarga substancial para o sistema de saúde ao gerar demanda e despesas com
consultas médicas, antibióticos, exames complementares e hospitalizações. O custo
social, relacionado ao absenteísmo do trabalho e morbidade para os indivíduos
afetados também tem que ser considerado [1,8].
A literatura sobre o impacto das infecções
recorrentes do trato urinário na qualidade de vida é bastante escassa [9]. Estudos
com pacientes com infecções recorrentes do trato urinário [10] e pacientes com
cistite [11], apontaram que essas infeccções têm um
impacto negativo na qualidade de vida dos pacientes, que pode ser melhorada com
tratamento adequado.
Estudo qualitativo com mulheres suecas
idosas, com infecções de repetição do trato urinário, mostrou que essas
infecções representam um importante problema de saúde para as mulheres,
afetando a saúde física e mental, além dos impactos sociais [11]. Para os
autores, é necessário buscar conhecimentos sobre a forma que estas infecções
recorrentes afetam a saúde das mulheres, para subsidiar a implementação
de estratégias capazes de melhorar as condições de vida e saúde desta
população.
A qualidade de vida é considerada abrangente
e ligada ao que a pessoa sente e percebe; tem um valor intrínseco e intuitivo,
decorrente de diferentes fatores que proporcionam equilíbrio e bem-estar ao
indivíduo [12,13]. Nesse contexto, instrumentos capazes de quantificar o
comprometimento da qualidade de vida de mulheres com infecção do trato urinário
recorrente permitem mensurar o problema, subsidiando ações que melhorem a
qualidade de vida, reduzam o impacto financeiro do tratamento nos serviços de
saúde e contribuam com informações úteis para o
direcionamento de ações multidisciplinares de promoção e cuidados de saúde
a estas mulheres [14,15].
Ante o exposto, este estudo objetivou avaliar
a qualidade de vida de mulheres com infecções recorrentes do trato urinário em
atendimento ambulatorial, utilizando dois instrumentos, e verificar a
concordância entre eles.
Trata-se de estudo transversal com mulheres
com infecções recorrentes de trato urinário sem complicações confirmadas pela
cultura de urina, atendidas no serviço público ambulatorial de um hospital de
ensino, no período de maio de 2012 a dezembro de 2013.
Considerou-se infecção recorrente a
ocorrência de três episódios de infecção do trato urinário com três culturas de
urina positivas nos 12 meses, ou dois episódios anteriores nos últimos seis
meses [5].
Foram incluídas no estudo, mulheres com 18 anos
ou mais; com duas ou mais histórias de infecção do trato urinário no período de
seis meses e/ou três ou mais episódios de infecção dentro de um ano, sugeridas
pela história clínica e confirmadas pela cultura de urina; com bacteriúria assintomática confirmada por dois testes. Foram
excluídas gestantes e mulheres que estavam em uso de cateter vesical,
apresentavam obstrução do trato urinário ou bexiga neurogênica.
Todas assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido antes da coleta dos dados.
Após coleta das variáveis de caracterização,
as mulheres foram submetidas à avaliação da qualidade de vida através da versão
brasileira dos questionários WHOQOL-bref e King’s Health Questionnaire
(KHQ) [16,17].
O WHOQOL-bref
permite uma medida genérica, multidimensional e multicultural, para uma
avaliação subjetiva da qualidade de vida em quatro domínios: Físico,
Psicológico, Relações Sociais e Meio Ambiente.
Quanto
maior o escore de cada domínio, melhor é a qualidade de
vida. Para o KHQ, que
avalia o impacto de sintomas do trato urinário baixo nos
domínios Percepção
Geral de Saúde, Impacto da Incontinência,
Limitações de Atividades diárias,
Limitações Físicas, Limitações
Sociais, Relações Pessoais, Emoções, Sono e
Disposição e Medidas de Gravidade, quanto maior a
pontuação obtida, pior é a
qualidade de vida [16,17].
A análise dos dados foi realizada com o
programa Statistical Package for
Social Sciences (SPSS), versão 17.0.
A confiabilidade dos dados dos instrumentos
foi testada através da análise da consistência interna das questões por meio do
Coeficiente Alfa de Cronbach, cujos valores maiores
ou iguais a 0,700 são considerados satisfatórios. Os escores dos domínios de
ambos os questionários foram apresentados segundo escores médios e
desvios-padrão, mediana, valores mínimo e máximo, intervalo de confiança de
95,0%.
Para verificar a distribuição normal dos
dados, utilizou-se o teste de Shapiro-Wilk
(p<0,05). Diante da normalidade apresentada, a concordância entre os instrumentos
foi realizada pelo teste de correlação de Pearson, considerada fraca para
valores de r até 0,30, moderada para valores entre 0,40 e 0,60, e forte para
valores maiores que 0,70.
O estudo respeitou as exigências formais
contidas nas normas nacionais e internacionais regulamentadoras de pesquisas
envolvendo seres humanos.
Participaram do estudo 30 mulheres na faixa
etária de 20 a 87 anos (Média: 37,5). A faixa etária prevalente foi dos 20 a 30
anos (43,3%). Vinte e três mulheres (76,7%) eram hipertensas e 27 (90,0%)
diabéticas. Vinte mulheres (66,7%) tiveram diagnóstico de infecção do trato
urinário há mais de 24 meses e 16 (53,3%) apresentavam incontinência urinária.
Vinte e duas (73,3%) mulheres não relacionavam as infecções do trato urinário à
atividade sexual. Treze mulheres (43,3%) apresentaram o último episódio de
infecção há menos de 10 dias e 23 (76,7%) apresentavam prolapso genital (Tabela
I).
Tabela I - Caracterização de mulheres com infecção urinária recorrente estudadas, Niterói/RJ, 2014.
Observou-se boa consistência do instrumento
WHOQOL-bref para a qualidade de vida geral, a
satisfação com a saúde e o domínio físico. Já o KHQ apresentou consistência
satisfatória para todos os domínios, exceto Medidas de Gravidade (Tabela II).
Os resultados da avaliação da qualidade de
vida geral, segundo o WHOQOL-bref, mostraram que seis
mulheres (20,0%) referiam que sua qualidade de vida era ruim ou muito ruim, e
17 (56,7%) estavam insatisfeitas ou muito insatisfeitas com a sua saúde.
Não foi observada diferença significante
entre os escores dos domínios do WHOQOL-bref. Já para
o KHQ, houve maior comprometimento da qualidade de vida nos domínios Impacto da
Incontinência, Relações Pessoais e Emoções.
A análise dos domínios WHOQOL-bref mostrou que as mulheres com mais instrução
apresentaram maior comprometimento da qualidade de vida nos domínios Físico e
Ambiental. Para o KHQ houve maior comprometimento da qualidade de vida nos
domínios: Impacto da Incontinência, Relacionamentos Pessoais e Emoções (Tabela
II).
Tabela II - Avaliação da QV de mulheres com infecção
urinária recorrente, atendidas no ambulatório de infecção urinária, por meio do
WHOQOL-bref e KHQ, apresentadas em Coeficientes Alfa
de Cronbach, escores médios e desvios-padrão,
mediana, valores mínimo e máximo, intervalo de confiança de 95% para cada
domínio. Niterói/RJ, 2014.
Cálculo
para n=30 pacientes, exceto para o domínio Relações Pessoais (n=24 mulheres com
vida sexual ativa); DP = desvio padrão; Md = mediana;
Min = mínimo. Max = máximo. IC 95% = intervalo de
confiança de 95%.
Apesar dos coeficientes de correlação negativos,
a análise da correlação entre os domínios WHOQOL-bref
e KHQ é considerada positiva, uma vez que os critérios de análise para os
escores dos dois instrumentos são inversos (Tabela III).
Houve correlação significativa entre WHOQOL-bref e KHQ em todos os domínios. As maiores correlações
foram observadas entre domínios: Físico (WHOQOL-bref)
e Percepções gerais de saúde, Emoções, Sono e energia (KHQ); Psicológico
(WHOQOL-bref) e Percepções gerais de saúde, Emoções
(KHQ); Social (WHOQOL-bref) e Limitações físicas,
Limitações sociais, Relações pessoais, Emoções (KHQ); Ambiental (WHOQOL-bref) e Limitações físicas (KHQ) (Tabela III).
Tabela III - Coeficientes de Correlação de Pearson (r)
entre os escores do WHOQOL-bref e do KHQ, Niterói/RJ,
2014
*Correlação significante ao nível 0,05
(bicaudal). **Correlação significante ao nível 0,01 (bicaudal).
Os dados demográficos deste estudo corroboram
a literatura brasileira, que aponta o aumento das queixas de infecção do trato
urinário após 41 anos de idade, pressão arterial elevada e aumento da perda
urinária como fatores que favorecem o aparecimento de infecção, comprometendo a
qualidade de vida das mulheres [18].
O grau de comprometimento da qualidade de
vida dessas mulheres está relacionado ao tipo de incontinência e à percepção
que cada mulher tem sobre o problema. A incontinência urinária aumenta o
estresse, causa isolamento social, tristeza e depressão, prejudicando a
qualidade de vida [19].
Este estudo apontou comprometimento da qualidade
de vida das mulheres em todos os domínios do KHQ, corroborando estudos que
sugerem que infecções do trato urinário têm efeito negativo na qualidade de
vida das mulheres [8,11]. Mulheres com cistite aguda não recorrente, sem
complicações apresentaram qualidade de vida inferior às mulheres sem infecções
do trato urinário [20].
Os escores mais baixos nos domínios Impacto
da Incontinência, Relacionamentos Pessoais e Emoções do KHQ sugerem que
sintomas relacionados à infecção do trato urinário levam à percepção de que a
vida é substancialmente afetada, uma vez que há comprometimento das relações
familiares e sexuais, com repercussões na autoestima. Este efeito é mais
significativo do que o efeito sobre atividades diárias, em casa ou no trabalho,
e em atividades físicas ou sociais, uma vez que as infecções do trato urinário
normalmente não são suficientemente graves para dificultá-las [11,21].
Houve variação consistente na comparação
entre as pontuações dos domínios dos questionários. O WHOQOL-bref mostrou correlação com os domínios
Relacionamentos Sociais, Limites Físicos, Limitações Sociais, Relações
Pessoais e Emoções do KHQ.
A limitação imposta pelas infecções
recorrentes do trato urinário foi, portanto, identificada por ambos os instrumentos,
sugerindo um efeito significativo nas atividades físicas, viagens, atividades
de grupo, vida social e sexual, e casos de baixa autoestima, ansiedade e
depressão. Isso pode ser explicado pelo fato de que a paciente deixa de
participar da vida de seu grupo social, seja devido à
limitação causada por sua disúria e ter que ficar perto de um banheiro, ou
devido ao seu sentimento emocionalmente devastado. Esses fatores, combinados
com a dor durante a relação sexual, podem causar diminuição do desejo sexual
que gera insatisfação e conflito com o parceiro [11,20].
Os domínios KHQ Limitações Físicas e Emoções
mostraram correlação moderada com todas as outras áreas do WHOQOL-bref. Tais resultados sugerem que as limitações impostas
pelas infecções do trato urinário recorrentes à atividade física e ao
desempenho das tarefas diárias, bem como seu efeito emocional, contribuem para
a percepção de menor qualidade de vida e menor satisfação com a saúde pessoal
das mulheres, limitam a liberdade da paciente a realizar tarefas domésticas e
de trabalho, que são interrompidas pela sua disúria [20,22].
A percepção de não ter dinheiro suficiente
para viver e a insatisfação com o acesso aos serviços de saúde, aspectos do
domínio do Meio Ambiente (WHOQOL-bref), podem ser
decorrentes das frequentes despesas das mulheres com antibióticos e das
dificuldades em obter acesso contínuo aos serviços de saúde, causando estresse,
que pode ser a explicação para a correlação moderada com o domínio Emoções do
KHQ, que é corroborada por estudos com mulheres com incontinência urinária
[20,22].
A correlação entre pontuações mais baixas
para os domínios Impacto da Incontinência do KHQ e Saúde Física do WHOQOL-bref pode ser explicada pelo fato de que este domínio é
composto por questões que avaliam fatores que são afetados pela recorrência de
Infecções do Trato Urinário. A qualidade do sono pode ser afetada quando o
paciente é despertado pela urgência e desconforto causados pela infecção. Além
disso, sua mobilidade e capacidade de trabalho são comprometidas por ter que,
frequentemente, interromper atividades diárias ou movimentos, devido aos
sintomas relacionados às infecções urinárias. Outro fator importante é a
dependência do paciente de medicamentos ou tratamentos que, além do custo, têm
efeitos colaterais e contribuem para percepção pior da qualidade de vida [8].
Da mesma forma, a correlação das pontuações
para os domínios Relações Sociais do WHOQOL-bref e
Impacto da Incontinência do KHQ pode ser explicada
pelas repercussões que as infecções do trato urinário têm sobre a atividade
sexual, seja pela dor envolvida no ato sexual ou pelo fato de a atividade
sexual ser a causa da infecção. O efeito deletério sobre a atividade sexual
também pode explicar a correlação moderada entre os escores
dos domínios Relações Pessoais (KHQ) e Saúde Física e Meio Ambiente
(WHOQOL-bref) [11].
É comum a interferência da infecção do trato
urinário na vida sexual, social, familiar e laboral,
comprometendo a autoestima e autoconfiança das mulheres, que se sentem
envergonhadas e limitadas para realizar atividades com outras pessoas, tendo o
convívio social fragilizado [19].
Estudos demonstraram interesse em descrever,
quantitativa ou qualitativamente, a qualidade de vida das mulheres com
infecções do trato urinário recorrentes. Nossos resultados concordam com os
resultados dos estudos qualitativos, que mostraram o efeito deletério de
infecções recorrentes do trato urinário sobre vários aspectos da saúde da
mulher [22,23].
Assim, pode-se afirmar que as infecções do
trato urinário são um problema de saúde pública, pois interferem
significativamente no cotidiano das mulheres, causando impactos físicos,
emocionais e sociais que reduzem a qualidade de vida [15]. Este impacto negativo
pode ser evidenciado pelo Kings Health questionaire [17,23].
A principal limitação deste estudo foi a amostra de mulheres com infecções urinárias recorrentes
obtidas de um único serviço ambulatorial, não permitindo generalizar os
resultados a outros serviços.
Para tornar mais efetiva esta avaliação, são necessários estudos adicionais, com questões
relacionadas a fatores como as causas da infecção e aspectos relacionados à
infecção que causam comprometimento da qualidade de vida dessas mulheres, como
o impacto dos sintomas nas atividades cotidianas das mulheres.
As mulheres com infecções recorrentes do
trato urinário estudadas apresentaram maior comprometimento da qualidade de
vida nos domínios: Impacto da Incontinência, Relacionamentos Pessoais e Emoções
para o KHQ; e Físico para WHOQOL-bref. Houve uma
correlação significativa entre o KHQ e os domínios WHOQOL-bref,
demonstrando que ambos os instrumentos são úteis para avaliar a qualidade de
vida nessa população.
Ambos os intrumentos
(KHQ e WHOQOL-bref) contribuem para que profissionais
de saúde envolvidos nos cuidados de saúde a estas mulheres direcionem suas
ações, buscando melhorar os aspectos de qualidade de vida comprometidos,
promovendo a recuperação da saúde dessas mulheres.