RELATO
DE CASO
Efeitos
da equoterapia sobre o equilíbrio estático e dinâmico
no transtorno neurocognitivo maior ou leve devido à Doença
de Huntington
Effects of equine therapy on static and dynamic balance in major or
minor neurocognitive disorder due to Huntington's disease
João Vitor Leme da
Costa, Ft.*, Nelson Francisco Serrão Júnior, Ft. D.Sc.**, Gustavo José Luvizutto,
Ft., D.Sc.***, Thaís Borges de Araujo,
Ft.****, Marisete Peralta Safons,
D.Sc.*****, Alexandre Luíz
Gonçalves de Rezende, D.Sc.*****
*Mestrando
em Educação Física pela Universidade de Brasília (UnB), **Docente do Curso de
Fisioterapia na Universidade Federal do Pampa,Uruguaiana/RS,
***Docente na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), ****Doutoranda
em Educação Física pela Universidade de Brasília (UnB), *****Profissional de
Educação Física, Docente da Universidade de Brasília (UnB)
Recebido 15 de
fevereiro de 2017; aceito 15 de janeiro de 2018.
Endereço
para correspondência:
João Vitor Leme da Costa, Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Atividade Física
para Idosos (GEPAFI), Quadra 106, lote 6, 619150-000 Águas Claras DF, E-mail:
joaovitorleme@hotmail.com; Nelson Francisco Serrão Júnior:
nelson_fsp@hotmail.com; Gustavo José Luvizutto:
gluvizutto@gmail.com; Thaís Borges de Araujo:
fisioterapeuta.thais@gmail.com; Marisete Peralta Safons: mari7@unb.br; Alexandre Luíz
Gonçalves de Rezende: rezende1965@gmail.com
Resumo
Objetivo: Demonstrar os
efeitos da equoterapia sobre o equilíbrio estático e
dinâmico em um indivíduo com transtorno neurocognitivo
devido a Doença de Huntington. Metodologia: Desenvolveu-se um estudo de caso,
com a realização de 12 sessões de equoterapia, com
duração de 45 minutos. A amostra foi composta por um indivíduo do sexo
masculino, de 52 anos de idade, com diagnóstico comprovado de Doença de
Huntington. Os exercícios terapêuticos basearam-se em estímulos para obtenção
de equilíbrio, coordenação, flexibilidade, dissociação de cintura pélvica e
escapular e estímulos cognitivos. A avaliação foi realizada pré
e pós programa de equoterapia,
através da Escala de Equilíbrio de Berg, que avaliou os equilíbrio estático e
dinâmico. Resultados: Após as 12
sessões de equoterapia, foi possível observar
mudanças no escores segundo a Escala de Equilíbrio de
Berg. Em pré-equoterapia, o escore foi de 26 pontos
e, pós-equoterapia, foi de 45 pontos. Escores abaixo
de 35 indicam altos índices de queda. Conclusão:
Sugere-se que a prática da equoterapia pode
contribuir para a melhoria do equilíbrio corporal de pessoas com transtorno neurocognitivo devido à Doença de Huntington,
principalmente nos aspectos relacionados a alcançar, girar, transferir-se e
permanecer em pé.
Palavras-chave: equoterapia,
doença de Huntington, equilíbrio postural.
Abstract
Objective: This article
aims to demonstrate the effects of equine therapy on static and dynamic balance
in an individual with neurocognitive disorder due to Huntington's Disease. Methods: This is a case report, with completion of
12 sessions of hippotherapy, with a
duration of 45 minutes. The sample was composed by an individual male,
52 years, with diagnosis proved of Huntington Disease. The therapeutic
exercises were based on stimuli to obtain balance, coordination, flexibility,
decoupling of pelvic and scapular and stimuli for cognition. The evaluation was
performed pre and post program of hippotherapy,
through the Berg Balance Scale, which evaluated the static and dynamic balance.
Results: After 12 sessions of hippotherapy, it was possible to observe changes in scores
according to the Berg Balance Scale. In pre-hippotherapy,
the score was 26 points and, post hippotherapy, was
45 points. Conclusion: according to
the Berg Balance Scale, there was a change in the score pre and post hippotherapy. In pre-hippotherapy,
the same was associated with elevated risk of falls and, in post hippotherapy, the same presented scores that represent a
low risk of falls, improving mainly on aspects related to achieve, rotate, move
and remain on foot, promoting a higher level of independence, with less
unstable and clues to falls in that individual study.
Key-words: hippotherapy, Huntington's disease, postural balance.
A equoterapia
faz parte das terapias com assistência animal (“animal assistant
therapy”). Além dos estímulos associados ao contato
com a natureza e ao relacionamento entre ser humano e o animal, a equoterapia envolve os benefícios sensório-motores gerados
pela equitação, que pode ser descrita como um exercício corporal dinâmico, com
significado psicoemocional singular. À medida que o cavalo se desloca, o dorso
do animal transmite estímulos tridimensionais para o tronco do praticante, o
que promove dissociação entre os movimentos da cintura pélvica e escapular,
semelhantes ao ciclo de marcha humana [1].
As mudanças
gravitacionais, durante a cavalgadura, provocam uma série de estímulos
proprioceptivos que favorecem o ganho de habilidades motoras e a realização de
ajustes posturais que contribuem para o desenvolvimento de capacidades
funcionais relevantes para o praticante [2]. Sendo assim, a equoterapia
é prescrita como estratégia terapêutica multidimensional, recomendada para
indivíduos com desordens neuromusculares, tendo em vista seus benefícios para o
ganho de equilíbrio corporal, força muscular, alinhamento postural e
planejamento motor [3,4].
Esse recurso terapêutico
facilita o aprendizado motor por intermédio dos estímulos obtidos nos sistemas
sensorial, vestibular e visual, o que contribui para que ocorram mudanças na
organização da plasticidade neural, com destaque para a recuperação de
indivíduos com disfunções neuromusculares e com equilíbrio corporal deficitário
[5], como é o caso da Doença de Huntington (DH).
O transtorno neurocognitivo maior ou leve, devido à DH, acontece por
mutação genética autossômica dominante com penetrância
completa. Dados epidemiológicos apontam que os déficits neurocognitivos
são uma consequência eventual da DH e a prevalência mundial é calculada em 2,7
a cada 100 mil nascidos vivos. A predominância da DH acontece no sexo
masculino, com manifestação clínica em torno dos 40 anos de idade. A
manifestação juvenil ocorre antes dos 20 anos, podendo apresentar mais
comumente bradicinesia, distonia e rigidez [6].
O equilíbrio corporal
em indivíduos com DH é caracterizado por instabilidade postural por meio do
surgimento de bradicinesia, coreia e ataxia. Essas
anormalidades neuropsicomotoras causam disfunções
precoces na função executiva, como: tempo de reação, velocidade de
processamento, organização e planejamento, deixando esses indivíduos mais
propensos a quedas [6].
Observa-se que a
recorrência de quedas em indivíduos com DH aumenta duas vezes a cada ano,
contribuindo significativamente para a morbidade e mortalidade, em torno de
58-60%. Essa recorrência de quedas tem sido explicada pela lentificação
dos movimentos voluntários, combinada com a desorganização dos movimentos
involuntários, distúrbios que resultam em anormalidades da marcha e no
equilíbrio [7].
Nas pessoas com DH
nota-se o surgimento de apraxia leve, especialmente nas tarefas de motricidade
fina, e, ainda, anormalidades no processamento e na integração de informações
sensoriais [6,8]. O desajuste no processamento de informações sensoriais pode
explicar as dificuldades de equilíbrio das pessoas com DH, pois, o equilíbrio
postural depende da funcionalidade do Sistema Nervoso Central (SNC), com a
inter-relação entre os sistemas vestibular, proprioceptivo e visual. O SNC é
responsável pela integração das informações sensoriais sobre a posição do corpo
e sobre sua trajetória no espaço, para que assim haja uma manutenção do centro
de massa sobre as bases de sustentação, o que permite um deslocamento com
segurança e coordenação [9].
Portanto, não existe
equilíbrio corporal sem que haja a interconexão de SNC com o sistema sensorial,
pois, existe uma relação de extrema importância entre a informação sensorial e
a ação motora [10]. O equilíbrio corporal pode ser definido pela capacidade do
indivíduo manter o centro da gravidade em suas determinadas bases de apoio,
seja ela imóvel (equilíbrio estático) ou móvel (equilíbrio dinâmico) [11].
Por isso, alguns
estudos têm ressaltado a necessidade de averiguar a integridade do equilíbrio
postural de indivíduos com DH, e essa avaliação tem sido feita através da
plataforma de força ou através da adaptação de algumas escalas funcionais [12].
Diante do exposto, o
presente estudo pretende, em nível exploratório, avaliar se os estímulos
presentes em uma intervenção equoterapêutica são
suficientes para gerar benefícios no equilíbrio estático e dinâmico de um indivíduo
com transtorno neurocognitivo devido à DH.
Trata-se de um estudo
de caso com um paciente com transtorno neurocognitivo
devido à DH.
Esse estudo obedece
aos requisitos do Ministério da Saúde do Brasil. A análise foi realizada pelo
Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP) da Faculdade de Medicina de
Botucatu (UNESP). O estudo foi aprovado pelo CEP sob o parecer 1.314.488. Para
a coleta de dados, o participante e seus familiares foram informados sobre os
objetivos e os procedimentos do estudo. Ambos assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
O presente estudo foi
realizado com um indivíduo do sexo masculino, 51 anos, nascido em 13 de outubro
de 1963, natural de Birigui/SP, casado e ex-funcionário público. Foi admitido
ao programa de equoterapia relatando queixa principal
de que “uso de medicamentos estava enrijecendo seus movimentos das mãos e dos
braços”.
Foi realizada
entrevista prévia de triagem para o atendimento com o voluntário e com a sua
esposa, que atua como cuidadora. Segundo informações fornecidas, os sintomas da
DH iniciaram a partir dos 40 anos de idade. Os primeiros sintomas foram
agressividade e esquecimento, seguidos, posteriormente, do aparecimento de movimentos
involuntários.
O voluntário foi
submetido a várias avaliações clínicas e o diagnóstico final foi confirmado em
2009, seis anos depois dos primeiros sintomas, por meio de um estudo genético
realizado na Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto, na qual realiza
acompanhamento a cada três meses.
Atualmente o
voluntário faz uso dos seguintes medicamentos farmacodinâmicos: Resperidona 2 mg 1/noite
(esquizofrenia), Cloridrato de Clorpromazina 100 mg
aplicado para o controle de agitação psicomotora em sintomas de demências, Sertralina 50 mg (antidepressivo) e Synthroid
(hipotireoidismo). Não houve qualquer interrupção no uso de medicamentos
durante o período de realização do estudo.
O voluntário entrou
em contato com atividades equestres por meio de aulas de equoterapia
e possui adesão à prática, sendo sua principal alternativa de tratamento. O
início do tratamento foi precedido de uma avaliação médica para verificar se o
mesmo atendia aos pré-requisitos para a prática de equoterapia,
ou seja, ausência de: (1) instabilidade atlantoaxial;
(2) escoliose estrutural acima de 40 graus; (3) osteoporose; (4) osteogênese
imperfeita; (5) hemofilia; (6) hérnia de disco; (7) cardiopatia grave; (8)
alergia ao pêlo do cavalo; (9) subluxação
de quadril e (10) medo excessivo.
Dados
clínicos
O voluntário
apresenta diagnóstico confirmado de DH, com o seguinte quadro clínico: lesão
encefálica de origem genética; distúrbio muscular por lesão central; distúrbio
da marcha com diminuição da cadência em apoio póstero-lateral de calcâneo,
assemelhando-se à marcha parkinsoniana; distúrbios de compreensão de linguagem
oral; déficit cognitivo, porém atende a ordens; distúrbios do comportamento; e,
distúrbios de atenção. Do ponto de vista funcional, apresenta marcha atáxica, movimentos coreoatetósicos
e dificuldade para alcançar objetos.
A avaliação de tônus
muscular foi feita através da Escala de Ashworth que
resultou em hipotonia à palpação e à mobilização.
As reações de
equilíbrio e proteção foram verificadas através do teste de Romberg
e Romberg sensibilizado. O voluntário apresentou
reações de equilíbrio e de proteção em sedestação e
em ortostátismo e, ainda, apresentou sensibilidade
tátil e dolorada preservadas.
Variáveis
e método de aquisição dos dados
Para mensuração
funcional do equilíbrio corporal o estudo utilizou a Escala de Equilíbrio de
Berg (EEB). A EEB avalia 14 atividades funcionais comuns da vida diária que envolvem o uso de equilíbrio corporal. Esta escala permite
monitorar se a capacidade de a pessoa manter o
equilíbrio corporal está preservada, pois, auxilia na predição do risco da
ocorrência de quedas. As atividades são simples e não exigem aprendizado.
Envolvem atividades tais como: alcançar, girar, transferir-se, permanecer em pé
e levantar-se.
Em cada uma das
atividades, a pontuação varia de 0 a 4, logo, o escore máximo da EEB é de 56
pontos [13]. O declínio na pontuação é interpretado como um aumento no risco de
quedas, de acordo com os seguintes critérios: (a) escores de 56 a 54 indicam
baixo risco de quedas; (b) escores de 53 a 46, risco moderado; (c) escores de
45 a 36, risco alto; e, (d) escores abaixo de 35, risco de queda de quase 100%
[13].
A avaliação do voluntário
foi realizada em dois momentos: o momento 1 (M1)
corresponde à linha de base (pré), antes do início da
equoterapia; o momento 2 (M2) foi realizado após as
12 sessões de equoterapia (pós).
O protocolo de
avaliação da EEB levou em consideração os seguintes cuidados metodológicos com
a uniformização das condições de mensuração do equilíbrio corporal: o
voluntário foi avaliado com uma vestimenta esportiva e confortável; a avaliação
pré ocorreu duas semanas antes do período
experimental; o voluntário recebeu a recomendação e confirmou tê-la cumprido
integralmente, de abster-se da prática de quaisquer atividades físicas ou
terapias durante as duas semanas que precederam a avaliação, como também,
durante todo o período de realização da intervenção equoterápica;
os avaliadores receberam treinamento para adquirir familiaridade com a
aplicação do teste; a avaliação foi realizada por uma equipe composta de três
avaliadores da área da fisioterapia; o voluntário realizou três tentativas de
cada atividade a título de familiarização com o teste e de verificação do nível
de compreensão dos comandos; o local de avaliação era silencioso, com piso
antiderrapante; foram utilizados equipamentos e materiais adequados e seguros.
Intervenção
As intervenções equoterapêuticas foram realizadas no Centro de Equoterapia Equivilla de
Avaré/SP, duas vezes por semana, com duração de 45 minutos, sem nenhum período
de pausa. O voluntário participou assiduamente de todas as sessões previstas no
plano terapêutico. As sessões de equoterapia
contemplaram as etapas demonstradas no organograma a seguir.
FASE I: Fase inicial,
com duração de cinco minutos, que enfatiza atividades voltadas para a
aproximação do praticante com o cavalo, por meio de observação, toque,
associações e manejo.
FASE II: Fase
intermediária e principal, que envolve a ação de uma equipe de profissionais
composta de terapeutas laterais, terapeuta mediador e um equitador; durante a
fase de montaria, foram realizados exercícios passivos, ativo-assistidos e
ativos livres, de acordo com a capacidade funcional do praticante; a montaria
foi realizada individualmente com uso de sela e com o estribo aberto; o comando
da passada do cavalo foi definido pelo terapeuta, de maneira a variar o tipo de
passo (transpistar e sobrepistar)
e enriquecer os estímulos para o praticante. O cavalo transpistante
proporciona inúmeros de estímulos ao praticante, devido ao longo comprimento de
passo, com diferentes tipos de amplitudes da passada. O cavalo sobrepistante proporciona estímulos infra-superiores, por se tratar de uma passada com
uma amplitude média. Os dois tipos de passo, portanto, estão relacionados a
estímulos tônicos específicos e importantes. As sessões foram executadas dentro
e fora do picadeiro, com duração de 30 minutos, fazendo uso de percurso
(triangular, quadrado e semi-círculo)
ao contornar os tambores distribuídos ao longo do terreno plano.
FASE III: Fase final,
com duração de 10 minutos, que envolve atividades voltadas para o relaxamento e
a respiração; são realizados exercícios de respiração costo-diafragmática
e o abraço no animal, como uma demonstração de afeto e despedida; algumas
atividades de cuidado e manejo do animal podem ser realizadas para ampliar a
sensação de bem-estar e favorecer a adesão à prática da terapia.
O escore obtido pelo
voluntário no M1 (Baseline) na EEB foi de 26 pontos.
Essa pontuação indica que a capacidade de manter o equilíbrio postural está
seriamente afetada e que o risco de queda é muito elevado. O escore obtido no
M2, após as 12 sessões de equoterapia, em um
intervalo de tempo correspondente a seis semanas, foi de 45 pontos. Essa
pontuação está no limite superior do risco alto de quedas e, a despeito de ser
uma situação clínica que inspira cuidados, indica uma mudança de nível que
demonstra a efetividade da equoterapia para a
melhoria da capacidade de equilíbrio do voluntário.
Para uma análise
detalhada das atividades da EEB, em que houve uma mudança na pontuação quando
se compara os momentos M1 e M2, veja a Tabela 1 abaixo. Nenhum item apresentou,
no M2, uma pontuação menor que a obtida no M1. Apenas um item com escore
insuficiente no M1 manteve a mesma pontuação no M2. A pontuação aumentou tanto
em itens que no M1 eram muito baixos quanto nos que a pontuação estava próxima
do máximo.
Tabela
I - Questões abordadas pela EEB com seus
respectivos escores antes e pós-tratamento equoterapêuticos.
M1: pre intervenção; M2: pós intervenção.
De acordo com a
Tabela I, a pontuação no M2 foi melhor para as atividades que envolvem o uso do
equilíbrio estático, principalmente, nos aspectos relacionados a alcançar,
girar, transferir-se e permanecer em pé, o que indica a possibilidade de contribuírem
para promover um maior nível de independência da pessoa. Em alguns itens
relacionados com o equilíbrio dinâmico, o voluntário alcançou uma pontuação
melhor no M2 do que no M1.
O delineamento do
estudo não permite atestar que as mudanças verificadas na comparação entre o
resultado obtido pela aplicação da EEB nos momentos M2-M1 são decorrentes da equoterapia. Contudo, tendo em vista o caráter exploratório
do estudo, é possível afirmar que houve melhora nas capacidades funcionais do equilíbrio
postural que pode, em parte, ser atribuída à equoterapia,
pois a evolução do quadro clínico da DH não prevê uma recuperação das
capacidades funcionais.
Há, na literatura
científica, alguns estudos que utilizaram a EEB para avaliação do equilíbrio
postural de indivíduos com DH. Mirek et al. [14]
avaliaram 30 indivíduos com DH que participavam de um programa de reabilitação
através de técnicas de facilitação neuromuscular proprioceptiva. A pontuação
média de equilíbrio postural pela EEB pré-fisioterapia
foi de 47 pontos e pós-fisioterapia de 53 pontos. Nesse caso, o ganho funcional
não foi suficiente para que a amostra mudasse de índice, pois, estavam no
limite inferior do risco moderado de queda e alcançaram uma pontuação referente
ao limite superior do mesmo nível. Entretanto, o incremento da pontuação sugere
que a continuidade da intervenção pode gerar benefícios acumulados que
permitiriam uma mudança para o nível de risco leve para a ocorrência de quedas.
Busse et al. [15] relatam a carência de estudos quantitativos ou
qualitativos na orientação de profissionais da fisioterapia para que definam
qual é a melhor conduta para reabilitar indivíduos com DH. Diante disso, os
pesquisadores realizaram um estudo entrevistando profissionais da fisioterapia
em centros especializados no tratamento de pessoas com DH, para que
descrevessem as experiências vivenciadas na reabilitação e na avaliação dos
pacientes. Os profissionais destacaram a importância do uso de medidas
padronizadas pela literatura para avaliação da capacidade funcional desses
indivíduos. Dentre os instrumentos sugeridos, destaca-se a indicação do uso da
EEB, que pode ser usada rotineiramente no intuito de acompanhar a evolução do
quadro clínico de cada paciente.
O estudo de Brandão e
Alves [16] utiliza a EEB como método de avaliação do equilíbrio de indivíduos
com DH para avaliar os efeitos da participação em um programa de treino do
equilíbrio realizado por dez semanas. A avaliação foi feita pré
e pós intervenção e apontou resultados relevantes que
sugerem a importância da fisioterapia no retardo das complicações que ocorrem
durante a evolução da patologia. O tratamento, portanto, contribui para a
melhora da qualidade de vida desses indivíduos.
Segundo os autores
supracitados, é percebível a importância de avaliar o equilíbrio postural de
pessoas com DH, seja através de escalas funcionais ou pela plataforma de força.
Blanchet et al. [12], após avaliarem o centro de
pressão em diferentes condições sensoriais de 20 pessoas com DH, encontraram
déficits na estabilidade postural, perceptíveis nos estágios iniciais da
doença, como também, uma redução na capacidade de manter uma postura dinâmica
nas tarefas com alta demanda do sistema sensório motor.
Galvão et al. [17] apresentaram os benefícios da equoterapia sobre o equilíbrio postural de um praticante
com ataxia cerebelar. Após avaliarem o praticante em dez sessões de equoterapia, verificaram através da EEB escores de pré-prática de 36 pontos, limite inferior do risco alto de
queda, e, pós-equoterapia, de 46 pontos, limite
inferior do risco moderado de queda, o que corrobora os resultados descritos no
presente estudo.
Menezes et al. [18] também utilizaram a EEB para
avaliar os ganhos funcionais em termos de equilíbrio postural de seis pessoas
com esclerose múltipla após 30 sessões de equoterapia.
Os resultados indicaram que houve melhora no equilíbrio corporal de quatro das
seis pessoas que faziam parte da amostra.
Na pesquisa realizada
por Taquani e Marques [19], a EEB também foi
utilizada para avaliar as mudanças no equilíbrio postural após a realização de
12 sessões de equoterapia associadas à técnica de
volteio terapêutico. A amostra era composta por seis indivíduos com afecções
neurológicas. Os resultados mostraram aspectos positivos na aquisição do
equilíbrio postural do grupo de volteio terapêutico, quando comparado ao grupo
de equoterapia.
Os resultados
encontrados e os diversos estudos citados ao longo da discussão sugerem que o
uso da equoterapia pode ser recomendado como parte do
tratamento da DH, pois existem evidências que reforçam a hipótese de que os
estímulos presentes na equoterapia podem contribuir
para a melhoria das capacidades funcionais relacionadas com o equilíbrio
postural, seja pela adequação de tônus e da força muscular, seja por meio de
melhoras posturais e de funções motoras ou pela ativação do sistema sensorial.
Faz-se necessário
replicar o presente estudo com outras pessoas com a DH, assim como, a
realização de novos estudos que recorram a outros protocolos de intervenção na equoterapia, de forma a permitir a análise de questões
relacionadas com a quantidade de sessões, a frequência semanal, o tempo de
duração de cada sessão, a natureza das atividades a serem realizadas.
Os resultados do
presente estudo sugerem que a prática da equoterapia
pode contribuir para a melhoria do equilíbrio postural de pessoas com
transtorno neurocognitivo devido à Doença de
Huntington, principalmente no que se refere aos aspectos relacionados a
alcançar, girar, transferir-se e permanecer em pé. A equoterapia
é uma das opções de tratamento para amenizar os prejuízos gerados pela doença,
que pode ser recomendada para os pacientes, e monitorada pelos terapeutas pela
aplicação simplificada da Escala de Equilíbrio de Berg, que permite identificar
os ganhos funcionais obtidos.