ARTIGO
ORIGINAL
Comparação
da função ventilatória e da atividade elétrica dos músculos inspiratórios
acessórios entre adultos jovens com respiração nasal e oral
Comparison of ventilatory function and
electrical activity of the accessory inspiratory muscles in young adults with
nasal and mouth breathing
Maria Elaine
Trevisan, D.Sc.*, Jalusa Boufleur, M.Sc.**, Juliana Corrêa Soares, M.Sc.***,
Rodrigo Agne Ritzel****, Ana Maria Toniolo da Silva, D.Sc.*****,
Eliane Castilhos Rodrigues Corrêa, D.Sc.*
*Profa.
do Departamento de Fisioterapia e Reabilitação(UFSM),
Santa Maria/RS, **UFSM, Santa Maria/RS, ***Faculdade Metodista de Santa Maria,
Santa Maria/RS, ****Hospital Universitário de Santa Maria (UFSM), Santa
Maria/RS, *****Prof. Departamento de Fonoaudiologia UFSM
Recebido em 29 de
novembro de 2016; aceito em 30 de novembro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Maria Elaine Trevisan, Rua Silva Jardim 2141/701, 97010-493 Santa Maria RS,
E-mail: elaine.trevisan@yahoo.com.br, Jalusa Boufleur: jalusaboufleur@yahoo.com.br, Juliana Correa
Soares: jjuzinha83@yahoo.com.br; Rodrigo Agne Ritzel:
rodrigo.ritzel@uol.com.br; Ana Maria Toniolo da
Silva: amariatoniolo@gmail.com; Eliane Castilhos Rodrigues Corrêa: eliftrs@yahoo.com.br
Resumo
Objetivo: Avaliar a função
ventilatória, o pico de fluxo inspiratório nasal, as pressões respiratórias
máximas, a atividade elétrica dos músculos inspiratórios acessórios e a relação
entre as variáveis, em adultos com respiração oral (RO), comparando-os com
adultos com respiração nasal (RN). Métodos:
Estudo transversal, controlado com 77 participantes, entre 18 e 30 anos, ambos
os sexos, distribuídos em Grupo RO (n = 38) e RN (n = 39). Foram avaliados por
espirometria, manovacuometria, para obtenção da
Pressão Inspiratória Máxima (PImáx)
e Pressão Expiratória Máxima (PEmáx); medida do pico
de fluxo inspiratório nasal (PFIN) e eletromiografia de superfície (EMG) dos
músculos esternocleidomastoideo (ECM) e trapézio
superior durante testes de PImáx e PFIN. Resultados: O grupo RO apresentou
valores significativamente menores de PImáx
(91 versus 100%), PEmáx (91,6 versus 102,6%) e PFIN
(121,4 versus 147,7 l/min). Houve diferença (p < 0,01) na atividade EMG do
ECM, com valores menores no grupo RO. A PImáx
se correlacionou com o PFIN (r = 0,48, p < 0,01). Conclusão: Os RO apresentaram menores valores de PFIN, PImáx, PEmáx
e de amplitude da atividade EMG dos músculos inspiratórios acessórios durante
inspirações rápidas, quando comparados aos RN. Traz como contribuição para a
prática clínica, a importância de uma investigação global do modo respiratório,
não envolvendo apenas intervenções médicas, ortodônticas e miofuncionais,
mas também os aspectos ventilatórios e musculares, sobre os quais se
identificou a influência da RO.
Palavras-chave: músculos
respiratórios, espirometria, eletromiografia, obstrução nasal, respiração
bucal.
Abstract
Objective: To evaluate
the ventilatory function, peak nasal inspiratory
flow, respiratory muscle strength, electrical activity of the accessory
inspiratory muscles and the relationship between the variables comparing mouth
(MB) and nasal-breathing (NB) adults. Methods:
Consisted in a cross-sectional, controlled study with 77 participants, between
18 and 30 years old, both sexes, distributed into MB (n=38) and NB (n=39)
group. They were assessed by manovacuometry, for
acquisition of the Maximal Inspiratory Pressure (MIP) and Maximal Expiratory
Pressure (MEP) measures; peak nasal inspiratory flow meter (PNIF) and, surface
electromyography (sEMG) of the of the
sternocleidomastoid (ECM) and upper trapezius muscles, during MIP and PNIF. Results: The MB group presented values
significantly lower on the MIP (91 versus 100%), MEP (91.6 versus 102.6%) and
PNIF (121.4 versus 147.7 l/min). There was difference (p<0.01) in the ECM
muscle activity, with lower values in the MB group. The MIP measure correlated
to the PNIF (r=0.48, p<0.01). Conclusion:
The adults MB presented smaller values of PNIF, MIP, MEP, and EMG amplitude of
accessory inspiratory muscles during fast inspiration when compared to the NB.
As a contribution to clinical practice, the importance of a global
investigation of the respiratory mode, involving not only medical, orthodontic
and myofunctional interventions, but also the ventilatory and muscular aspects, on which the influence of
RO was identified.
Key-words: respiratory
muscles, spirometry, electromyography, nasal
obstruction, mouth breathing.
A respiração nasal
(RN) é inata ao ser humano e, ao passar pelas fossas nasais, o ar é preparado
para atingir estruturas mais nobres do sistema respiratório. Além disso, é
essencial ao crescimento, desenvolvimento e funcionalidade dos sistemas craniocervical e estomatognático
[1].
Qualquer fator que
dificulte a permeabilidade nasofaríngea faz com que a
RN seja, parcialmente ou totalmente, suplementada pela respiração oral (RO).
Esses fatores podem ser obstrutivos, especialmente pela hipertrofia dos tecidos
adenotonsilares, ou funcionais, decorrentes
de edema
transitório da mucosa nasal, flacidez muscular ou
manutenção do hábito oral,
mesmo após correção cirúrgica da
obstrução nasal [2]. A suplência oral é uma
adaptação anormal e ineficiente da RN induzindo a
desequilíbrios funcionais,
posturais, biomecânicos e oclusais [3].
Assim, a obstrução do
espaço aéreo nasofaríngeo esta associada à postura anteriorizada da cabeça, para facilitar a passagem de ar da
nasofaringe ao trato respiratório inferior. Essa adaptação, que resulta em
desequilíbrio muscular e alteração no eixo postural, é frequentemente
encontrada em respiradores orais (RO) [1,3,4],
refletindo na cinética do diafragma [1,3,4] e da caixa torácica [3,5].
Adicionalmente, estudos envolvendo RO, encontraram maior atividade da
musculatura respiratória acessória no repouso [6,7], fraqueza muscular
respiratória [3,5,8,9], hipoatividade
dos músculos abdominais, predominância do movimento inspiratório no tórax
superior [4], redução da Capacidade Vital Forçada (CVF) [10,11], capacidade de
exercício e qualidade de vida [8].
O diagnóstico da
obstrução nasal é fundamentado na história clínica da doença nasal, no exame
físico e, em alguns casos, complementado com a endoscopia nasossinusal
[12,13]. Outro recurso de avaliação complementar é a medida do pico de fluxo
inspiratório nasal (PFIN), um método não invasivo, de fácil manuseio e baixo
custo, que mede de forma indireta a obstrução nasal, considerando que o aumento
da resistência nasal modifica o fluxo aéreo nasal e, consequentemente, seu pico
[14].
A espirometria é
frequentemente utilizada para a avaliação dos volumes e capacidades pulmonares
em indivíduos com sintomas respiratórios ou doença respiratória conhecida. Os
parâmetros espirométricos correspondem a uma manobra
expiratória forçada a partir da Capacidade Pulmonar Total (CPT) [15].
A
força gerada pela
contração dos músculos respiratórios,
frequentemente, é mensurada por meio das
pressões respiratórias máximas. A
monitorização da pressão inspiratória
máxima
(PImáx) e expiratória máxima
(PEmáx) possui relevância para a prática clínica,
pois pode confirmar a disfunção dos músculos respiratórios em diversas
situações [16-18]. Outra possibilidade de avaliar a função muscular é pela
eletromiografia de superfície (sEMG),
sendo um complemento diagnóstico na avaliação funcional do sistema muscular
respiratório [19]. Representa o sinal elétrico gerado pelos músculos
esqueléticos, detectado na superfície da pele. Tem uma utilização relativamente
simples e ampla aceitação pelo fato do eletrodo de superfície ser minimamente
invasivo.
O objetivo do estudo
foi avaliar a função ventilatória, o pico de fluxo inspiratório nasal, as
pressões respiratórias máximas, a atividade elétrica dos músculos inspiratórios
acessórios e a relação entre as variáveis em adultos com respiração oral,
comparando-os com respiradores nasais.
A hipótese do estudo
é de que exista diferença conforme o modo ventilatório, ou seja, respiradores
orais apresentam menores valores no PFIN, nas pressões respiratórias máximas e
nas variáveis espirométricas e maior recrutamento da
musculatura acessória da respiração, em relação aos respiradores nasais.
Estudo exploratório,
transversal, controlado, realizado na Universidade Federal de Santa Maria,
Santa Maria/RS, aprovado pelo Comitê de Ética local (nº 04039912700005346) e Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido assinado por todos os indivíduos.
A amostra foi
selecionada de forma não probabilística e intencional. Participaram adultos de
ambos os sexos, idade entre 18 e 30 anos, com respiração oral (grupo RO) que foram
comparados com um grupo de controle com respiração nasal (grupo RN), índice de
massa corporal (IMC) entre 18,5 e 24,9 kg/m2, sem evidência de doença pulmonar,
neuromuscular e/ou deformidades torácicas, não tabagistas e/ou expostos a ambiente de risco. Foram excluídos indivíduos em uso de corticosteróides, relaxantes musculares, vasoconstritores
nasais, gripe ou crise alérgica no dia da avaliação, cirurgia torácica,
abdominal, nasossinusais e hérnia abdominal.
O local da coleta foi
equipado com piso emborrachado, lâmpadas e telefones celulares desligados e
removidos quaisquer acessórios de metal dos partipantes.
Os exames foram realizados na posição sentada em uma cadeira adaptada [7],
tronco ereto, braços relaxados, olhos abertos orientados pelo plano de
Frankfurt e pés apoiados no solo.
Previamente à fixação
dos eletrodos, realizou-se a limpeza da pele com gaze embebida em álcool 70%.
Utilizaram-se sensores pré-amplificados com entrada
diferencial ligados a eletrodos adesivos modelo Double (Ag/AgCl), bipolar, diâmetro de 10 mm e distância interpolos de 20 mm (Hall Indústria e Comércio). Um
eletrodo de referência (Meditrace 100) foi
posicionado no manúbrio esternal [24].
Para o ECM os
eletrodos foram posicionados longitudinalmente às fibras, no ponto médio do
ventre muscular e, para o TS, no ponto médio de uma linha traçada entre o
processo espinhoso da sétima vértebra cervical e o acrômio [24].
Os sinais EMG foram
obtidos pelo Miotool 400 (Miotec®,
Porto Alegre, Brasil), sistema de quatro canais, 14 bites
de resolução, frequência de amostragem de 2000 Hz por canal, filtro tipo Butterworth de 4ª ordem e passa-banda com frequência de
corte de 20Hz a 500Hz [24]. O sinal foi registrado
pelo Software Miograph (Miotec®,
Porto Alegre, Brasil) e transmitido a um notebook (HP 420) Intel Celeron via
porta USB. Os equipamentos foram ligados com bateria própria, sem conexão com a
rede elétrica.
As coletas foram
realizadas durante os testes de PFIN e PImáx,
repetidos por pelo menos três vezes, com intervalo de dois minutos. Para a
normalização do sinal, utilizou-se o registro da Contração Voluntária Máxima
(CVM), obtido durante a flexão anterior da cabeça (ECM) e a elevação dos ombros
(TS), contra uma resistência oferecida por anteparos existentes na cadeira
adaptada [7]. Esta foi registrada durante cinco segundos e repetida por pelo
menos duas vezes, com intervalo de dois minutos.
A atividade muscular
foi analisada no domínio da amplitude, representada pela raiz quadrada da média
(Root Mean
Square (RMS)) do sinal EMG, expressa em microvolt e transformada em valores
relativos de um valor de referência (CVM). Os dados foram processados por meio
do Software MATLAB (The MathWorks®
versão 7.6.0 R2008a).
Cálculo
amostral:
foi obtido a partir do estudo piloto com 10 indivíduos em cada grupo
considerando os resultados da sEMG
do ECM (maior coeficiente de variação), nível de significância de 5% e poder de
80% (software WinPepi,
versão 1.5) e previu uma amostra com 22 indivíduos em cada grupo.
Análise
estatística:
os dados foram analisados pelos testes Shapiro-Wilk
(normalidade), t-student e Mann-Whitney (comparação
entre os grupos) e de Spearman (correlação entre as
variáveis).
Resultados
Amostra composta por
77 voluntários, 39 (28 mulheres) no grupo RN e 38 (25 mulheres) no grupo RO.
Todos os integrantes do grupo RO foram classificados como RO funcionais, ou
seja, de causa não orgânica, principalmente problemas alérgicos e hábitos parafuncionais. Pelo IPAQ todos foram classificados como insuficiente ativos.
As características
antropométricas, de permeabilidade nasal e pressões respiratórias máximas apresentadas
na Tabela I mostram que a permeabilidade nasal (PFIN) e a pressão inspiratória
máxima percentual do previsto (PImáx%)
foram significativamente menores no grupo RO (Tabela I).
Tabela
I – Características antropométricas, de
permeabilidade nasal e de pressões respiratórias máximas.
RN = respirador nasal;
RO = respirador oral; IMC = Índice de massa corporal; PFIN = Pico de fluxo
inspiratório nasal; PImáx =
pressão inspiratória máxima; PEmáx = pressão
expiratória máxima; *teste t-student; **Mann-Whitney.
Ambos os grupos
apresentaram valores espirométricos nos parâmetros da
normalidade, no entanto, verificou-se diferença significativa entre os grupos,
com menor CVF% e VEF1% no grupo RO (Tabela II).
Tabela
II -
Volumes e capacidades pulmonares obtidos
pela espirometria nos grupos RN e RO.
RN = respirador nasal;
RO = respirador oral; DP = desvio padrão; PFE = pico
de fluxo expiratório; VEF1 = volume expiratório forçado no primeiro segundo;
CVF = capacidade vital forçada; FEF = fluxo expiratório forçado entre 25-75% da
CVF; % = percentual do previsto; l/s = litros por segundos; l = litros; *teste
t de student; d = d de Cohen, tamanho de efeito; P =
poder estatístico.
A atividade eletromiográfica do músculo esternocleidomastoideo
durante os testes de PFIN e PImáx
foi significativamente menor no grupo RO quando comparado ao grupo RN (Tabela
III).
Tabela
III
– Valores normalizados (%) do registro
EMG dos músculos acessórios da inspiração.
RN = respirador nasal;
RO = respirador oral; PFIN = pico de fluxo inspiratório nasal; PImáx = pressão inspiratória
máxima; ECM = esternocleidomastoideo; TS = trapézio
superior; D = direito; E = esquerdo; * teste t-student;
** teste de Mann-Whitney.
A correlação positiva
entre PImáx e PFIN (r=0,48;
p<0,01) foi classificada como moderada (Figura 1).
PImáx = pressão
inspiratória máxima; PFIN = pico de fluxo inspiratório nasal
Figura
1 – Correlação entre PImáx e PFIN.
Os respiradores orais
ao serem comparados com os respiradores nasais apresentaram menores valores no
PFIN, CVF% e VEF1%, PImáx
e PEmáx e menor ativação dos músculos
acessórios da inspiração durante manobras respiratórias rápidas.
Em relação ao PFIN,
observamos que os resultados são semelhantes aos evidenciados em estudo
anterior [25], ao comparar adultos com e sem obstrução nasal por rinite.
Demonstraram que o grupo com rinite obteve PFIN mais baixo (114 vs. 154 l/min),
assim como na comparação de pacientes com e sem queixas de obstrução nasal (123
vs 151 l/min). Estudo [26]
que comparou um grupo de pacientes com rinossinusite
crônica antes e após cirurgia endoscópica nasal observou aumento significativo
do PFIN (80,8 vs. 111,2 l/min) mostrando que o procedimento cirúrgico foi
efetivo. Outro estudo [27] avaliou os efeitos do dilatador nasal externo sobre
o PFIN, resistência nasal e capacidade aeróbia em atletas saudáveis e com
rinite alérgica. Os resultados mostraram que o dispositivo aumentou
significativamente o PFIN, reduziu a resistência nasal e aumentou a capacidade
de exercício tanto nos atletas saudáveis quanto nos com rinite.
A literatura mostra
correlação inversa (r=-0,34; p<0,01) do PFIN com os escores da escala de
percepção de obstrução nasal (escala NOSE), evidenciando que à medida que
diminui a patência nasal, pior é a percepção dos
sintomas de obstrução [28]. Associação significativa entre o PFIN e sensação
subjetiva de obstrução nasal (escala análogo-visual) mostra que à medida que
aumenta a sensação de obstrução nasal diminuem os valores do PFIN [14].
Correlações entre métodos objetivos e subjetivos de avaliação da obstrução
nasal também foram encontradas em outros estudos [29,30]. A avaliação do PFIN
pode ser um método confiável para detectar e quantificar aumento da resistência
nas vias aéreas superiores sendo tão importante quanto às mensurações objetivas
da função pulmonar [31]. Ainda, permite o controle da homeostase e dos reflexos
de congestão nasal, bem como dos efeitos do ambiente sobre a patência nasal.
Neste estudo
observamos correlação positiva do PFIN com a PImáx (r=0,48; p<0,01) mostrando que
redução da patência nasal (PFIN reduzido) está
relacionada com redução da força muscular inspiratória (PImáx
reduzida), demonstrando que avaliações objetivas e subjetivas agregam
informações diferentes que se complementam e podem ser consideradas na prática
clínica [32].
Uma limitação no uso
do PFIN para medir a permeabilidade nasal é quando o indivíduo tem alteração na
função respiratória com redução da capacidade pulmonar [23]. Por isso, a
necessidade da espirometria complementar dessa avaliação para confirmar se o
comprometimento respiratório é devido exclusivamente à obstrução das vias
aéreas superiores.
Embora dentro dos
valores de normalidade [15] as médias de VEF1% e CVF% foram mais baixas no
grupo RO, esta diferença chama a atenção para a importância de estudos
longitudinais que avaliem a função pulmonar de indivíduos com sintomatologia de
obstrução nasal, ao longo do tempo, possibilitando a detecção de um declínio
funcional que seria esperado mais tardiamente pelo envelhecimento cronológico.
No estudo atual não houve correlação do PFIN com as variáveis espirométricas relacionadas com a permeabilidade das vias
aéreas inferiores, mostrando que as mesmas não influenciaram na redução PFIN
dos RO.
As médias das PImáx e PEmáx se apresentaram dentro dos valores
preditos [16], porém, menores no grupo RO. Tais resultados são similares aos de
estudos com crianças RO [3,9] e com adultos RO [8], que apresentaram valores
mais baixos na PImáx
(56%; 74%) e PEmáx (66%; 84%) comparados
com RN, sendo estes inferiores aos do presente estudo. Os autores [8] sugerem
que a redução nas PImáx
e PEmáx tenha relação com a postura anteriorizada da cabeça e demais adaptações posturais
decorrentes da respiração oral. As alterações posturais modificam o comprimento
das fibras musculares, o padrão de contração diafragmático e dos abdominais,
culminando com redução na força. Ainda, a menor resistência oferecida pela cavidade
oral à passagem de ar, reflete em menor esforço muscular e, consequentemente,
redução da PImáx
e PEmáx [9].
O sinal EMG mostrou
menor ativação dos músculos inspiratórios acessórios no grupo RO, durante os
testes de inspiração rápida. Estudos prévios [33,34] com indivíduos saudáveis
mostraram aumento da atividade EMG desses músculos, especialmente do ECM, com o
aumento da velocidade do fluxo e consequente aumento da carga de trabalho
respiratório. Assim, inspirações rápidas e bruscas requerem uma ativação mais
intensa dos músculos ECM [33] que respondem com ativação de maior número de
unidades motoras (UM) [35].
A literatura mostra
que exercícios de curta duração e alta intensidade envolvem principalmente a
ativação de UM do tipo II, predominantes nos músculos inspiratórios acessórios
[35,36]. No presente estudo, os RO não apresentaram o mesmo padrão de ativação
EMG observada em indivíduos saudáveis, uma vez que apresentaram menor
recrutamento muscular que os RN. Isso pode ser devido ao fato de que além da
carga de trabalho decorrente da maior resistência nasal, somou-se a carga
imposta pelo aumento da velocidade do fluxo nos testes de inspiração rápida,
resultando em uma carga excessivamente alta a ser vencida por músculos
previamente mais fracos que os do grupo RN. Outra justificativa para os
resultados, embora não tenha sido objeto de investigação deste estudo, é a
influência da RO sobre a postura craniocervical
e a
desvantagem mecânica à produção de
força pela alteração na relação
comprimento-tensão
do músculo [37].
O presente estudo
traz como contribuição para a prática clínica a importância de uma investigação
global do modo respiratório, não envolvendo apenas intervenções médicas,
ortodônticas e miofuncionais, mas também os aspectos
ventilatórios e musculares, sobre os quais se identificou a influência da RO.
Atualmente, a avaliação, bem como o tratamento dessa condição, ainda é abordada
de forma fragmentada, restringindo-se a aspectos específicos de cada
profissional envolvido. Por se tratar de uma condição frequente na infância e
que tende a se manter na idade adulta, evidencia-se a necessidade da
conscientização dos pais, professores, pacientes e profissionais sobre a
repercussão sistêmica da mesma e a possível interferência na qualidade de vida.
A hipótese de que
existe diferença conforme o modo ventilatório, ou seja, respiradores orais
apresentem menores valores no PFIN, nas pressões respiratórias máximas e nas
variáveis espirométricas, foi confirmada. No entanto,
não se confirmou a hipótese de que haja maior recrutamento da musculatura
acessória da respiração, em relação aos respiradores nasais, resultado que é
contraditório ao encontrado na literatura, especialmente com crianças
respiradoras orais.
Os adultos com respiração
oral apresentaram menor pico de fluxo inspiratório nasal de pressões
respiratórias máximas e de atividade elétrica dos músculos inspiratórios
acessórios, quando comparados com os respiradores nasais. Verificou-se ainda
que à medida que diminui o pico de fluxo inspiratório nasal, diminuem também as
pressões respiratórias.