RELATO
DE CASO
Microagulhamento
associado a fatores de crescimento e vitamina C no tratamento de estrias, fibro edema gelóide e flacidez
tissular na região glútea
Microneedling associated to growth
factors and ascorbic acid in the treatment of cellulite, striae
distensae and skin laxity in the gluteal region
Dwany Caldas Brait*,
Stephanie Tessesine*, Veronica Favoni
Rocha*, Lídia Vieira Dantas**
*Alunas
do curso de Pós-graduação em Biomedicina Estética do Instituuto
IBECO, **Orientadora Biomédica Esteta, Coordenadora da Pós Graduação em
Biomedicina Estética da Faculdade Método de São Paulo
Recebido 11 de
janeiro de 2018; aceito 20 de fevereiro de 2018.
Endereço
para correspondência:
Lídia Dantas, Coordenadora da Pós Graduação em Biomedicina, Farmácia e
Enfermagem Estética da Faculdade Método de São Paulo, Av. Jabaquara, 1314
Mirandópolis 04046-200 São Paulo SP, E-mail: dantaslidia@yahoo.com.br; Dwany Caldas Brait: dwany_brait@hotmail.com; Stephanie Tessesine: te_fanyy@yahoo.com.br; Veronica Favoni Rocha: veronica_favoni@hotmail.com
Resumo
O microagulhamento
é usado no tratamento de diversas afecções estéticas promovendo estímulo de
colágeno. O objetivo deste trabalho foi averiguar a eficácia da associação do microagulhamento a fatores de crescimento e a vitamina C em
diferentes afecções estéticas na região glútea. Foram realizadas 4 sessões de microagulhamento com
intervalo de 21 dias entre as sessões. Percebeu-se significativa melhora na
flacidez tissular, no fibro edema gelóide
(FEG) e nas estrias e
o microagulhamento mostrou-se uma técnica segura e eficaz para tratementos
dessas disfunções estéticas.
Palavras-chave: estrias, celulite,
flacidez, fator de crescimento, vitamina C.
Abstract
The microneedling is used in the treatment of
several aesthetic affections promoting collagen stimulation. The objective of
this study was to verify the efficacy of the association of microneedling,
growth factors and ascorbic acid in aesthetic affections in the gluteal region.
Four sessions of microneedling were performed with a
21-day interval between the sessions, in which a significant improvement on
skin laxity, cellulite and striae distensae
was observed in the result and proved that the microneedling is to be a safe and effective technique for treating these aesthetic dysfunctions.
Key-words: striae, cellulite, skin laxity, microneedling,
growth factors, ascorbic acid.
As afecções estéticas
comumente encontradas na população além de causarem impacto estético acarretam importante conflito psicológica como baixa estima e até
depressão [1,2]
A
pele pode
apresentar-se de diversas formas e com características
histológicas distintas,
fina ou espessa, lisa ou áspera dentre outras. Divide-se em:
epiderme, derme e
em algumas classificações contempla a tela
subcutânea [3-5]. A epiderme é a camada mais externa e
suas células
renovam-se constantemente. É considerada uma camada de
proteção, pois bloqueia
a entrada de microrganismos, radiação solar e
substâncias tóxicas. Está
dividida em camada: córnea, lúcida, granulosa, espinhosa
e basal [4-6].
A derme é rica em
estruturas fibrosas denominadas colágeno, elastina e reticulina;
possui vasos sanguíneos e linfáticos que conduzem nutrientes e oxigênio para as
células além de retirar produtos residuais. Dividida em derme papilar e derme
reticular [3,7].
A tela subcutânea é
composta por adipócitos, dispostos em compartimentos verticais que são alocados
perpendicularmente às camadas superficiais da derme e epiderme distribuídos
uniformemente em todo o tecido. Os lóbulos gordurosos são entrelaçados por
septos fibrosos orientados perpendicularmente a superfície e ancorados a derme
[8].
Quando ocorre
degeneração cutânea, caracterizada por lesões atróficas em forma linear, devido
à redução da atividade fibroblástica na produção de
matriz extracelular, e ruptura das fibras existentes instala-se a afecção
estética denominada estria [4,9]. Em comparação a pele normal, a estria possui
uma quantidade diminuída de fibrilina, colágeno e
elastina, podendo se apresentar na coloração rubra ou esbranquiçada. Sua
tonalidade depende da atividade melanocítica no local
e da microvascularização, podendo ser classificadas
em rosadas, atróficas e nacaradas [2,9]. As rosadas, também chamadas de
iniciais, apresentam componentes inflamatórios devido ao estiramento intenso
das fibras elásticas e rompimento de capilares sanguíneos, podendo-se observar
em alguns casos sinais clínicos de algia
e prurido intenso.
Estrias atróficas
possuem como característica aspecto cicatricial com hipocromia
devido à desorganização das fibras elásticas e colágenas que podem estar
rompidas e/ou entrelaçadas, porém com anexos da pele preservados [2,9,10]. Por fim, as nacaradas são caracterizadas por
apresentarem uma flacidez central, um epitélio preguiado
com falhas na secreção sudorípara, sebácea e no crescimento do pelo. Nesse caso
as fibras estão em sua maioria rompidas e as lesões podem causar fibrose [2].
Outra afecção
estética que comumente afeta o sexo feminino, devido às características
anatômicas da tela subcutânea é o fibro edema gelóide (FEG). O FEG é uma alteração da topografia da pele,
caracterizada por ondulações, que acomete mulheres, associando-se ou não a
obesidade tipo ginóide. [8,11,12].
Estruturalmente nas mulheres as células adipocitárias
são maiores e com septos paralelos, ao contrário dos homens, onde os septos
fibrosos são menores e arranjados em planos oblíquos com células adipocitárias pequenas [8]. Dentre os fatores que
influenciam o aparecimento do FEG, podemos citar: hereditariedade, idade,
obesidade, disfunções hormonais, gravidez, uso de contraceptivos hormonais,
sedentarismo, sexo, nutrição inadequada, ingestão de cafeína e bebidas
alcoólicas, fatores mecânicos e mudanças circulatórias [13]
O FEG pode ser
classificado em quatro graus, de acordo com o aspecto clínico e histológico. Grau I: percebido apenas quando há
realização de compressão manual do tecido ou contração muscular voluntária. É
assintomático, não se observa alterações clínicas e é considerado reversível. Grau II: possui depressões visíveis
mesmo quando não há compressão, sendo, portanto, mais evidentes. É
frequentemente reversível. Grau III:
o acometimento tecidual é visível em qualquer posição do indivíduo, a pele
adquire aspecto ondulado popularmente conhecido como casca de laranja, por apresentar-se com relevos, enrugamento e
flacidez. Quando o FEG apresentar-se com os sinais do grau III associada a
alterações de sensibilidade e dor classifica-se como FEG grau IV. Este pode ser melhorado, embora não totalmente revertido
[13].
A variação hormonal
feminina, além de culminar no maior acúmulo de gordura no corpo, também
acarreta a diminuição do colágeno e elastina, que são responsáveis pela
sustentação da pele. Quando ocorre a diminuição destas fibras, surge a afecção
estética denominada flacidez tissular. Além de fatores hormonais, o
sedentarismo, predisposição genética e alimentação inadequada, contribuem para
o aparecimento desta afecção.
A flacidez de pele,
também conhecida como tissular é outra disfunção estética que é queixa
frequente nos consultórios. Ocorre devido à perda de elementos do tecido
conjuntivo, tornando a rede de elementos menos densa e diminuindo a firmeza
entre as células [14]. Sua classificação é feita através de inspeção visual,
verificando se o tecido apresenta dobras, vincos ou excesso de pele na região
[15].
A técnica de microagulhamento surgiu na Alemanha na década de 90 e se difundiu
apenas em 2006. Atualmente, é considerada uma técnica eficaz para o tratamento
de diversas disfunções estéticas como: cicatriz de acne, envelhecimento,
estrias, sendo que nessas disfunções o principal intuito é promover estímulo de
colágeno [4,16-18]. O microagulhamento estimula a
produção de colágeno e elastina na derme papilar devido à abertura de microcanais realizada através de estímulo mecânico e não
ablativo na pele [4,17-20]. Inicialmente há o rompimento da barreira cutânea
produzido pelo microagulhamento, seguido pelo aumento
do metabolismo celular tecidual, liberação de fatores de crescimento e a
proliferação celular local. Sendo assim, há um aumento da síntese de
fibroblastos, colágeno, elastina e outras substâncias presentes no tecido e então
há a restituição da integridade da pele [17-18].
Segundo um estudo
realizado por Lima et al.
[19], o mecanismo de ação da
técnica é dividido em: 1) indução
percutânea do colágeno, onde há
liberação de citocinas, devido à desagregação dos queratinócitos,
promovendo vasodilatação e migração celular; 2) cicatrização, que consiste na
troca de neutrófilos por monócitos, causando angiogênese,
reepitelização e proliferação de fibroblastos; 3)
maturação, que é a troca de colágeno tipo III para colágeno tipo I (Figura 1)
[19,20].
Figura
1 - Representação gráfica da resposta normal
da pele a feridas [21].
Estudos sugerem que o
intervalo entre as sessões de microagulhamento devem
ser de no mínimo 21 dias [16-18].
Além da indução de
colágeno o microagulhamento potencializa a permeação
de princípios ativos em até 80% [4].
Fatores de
crescimento (FC) são biomoléculas ativas, responsáveis pela regulação do ciclo
celular, atuando em nível de membrana celular, e provocando uma cascata
bioquímica [22].
O Fator de
Crescimento Transformador Beta (TGF-β) é um dos componentes responsáveis
para a estimulação da síntese de colágeno [4,17]. Ele é responsável pela
regulação do crescimento, controle, diferenciação, proliferação celular,
desenvolvimento e reparo tecidual, além de inibir a apoptose celular. Ao
induzir a angiogênese, o TGF-β ativa os fibroblastos, que passam a produzir colágeno e
auxiliam na proliferação celular gerando um processo de cicatrização local
[23,24].
O Fator de
Crescimento Fibroblástico Básico (bFGF) é membro da família dos FGF. Ele atua na
regulação da angiogênese e na mitose de células
endoteliais além de induzir a proliferação e migração dos fibroblastos [25-27].
O bFGF também age recrutando
monócitos, células T e neutrófilos para regulação da inflamação [27].
Outro
componente
essencial para manter o funcionamento celular das células
é a vitamina C ou ácido
L-ascórbico. Apresenta características antioxidantes e
cicatrizantes, além de
participar da produção de colágeno e elastina.
Devido ao seu potente efeito
antioxidante é um eliminador efetivo de radicais livres que
são nocivos ao organismo e fonte de várias patologias e
afecções estéticas. Por estas
características a vitamina C pode ser utilizada como fonte de
prevenção contra
linhas de expressão, para tratamento de melasma,
estrias e afecções estéticas que necessitam de estímulo de colágeno [28,29].
No tecido conjuntivo
a vitamina C regula a síntese de colágeno tipo I e III pelos fibroblastos
dérmicos, e também atua como cofator enzimático na biossíntese do colágeno das
enzimas lisil e a propilhidroxilase
[28,29].
Devido a grande
demanda por tratamento das afecções estéticas e pela falta de um método
singular que trate diferentes disfunções de forma satisfatória em curto prazo,
o objetivo do presente estudo foi averiguar a eficácia da técnica de microagulhamento associado a fatores de crescimento e a
vitamina C na redução das afecções estéticas na região glútea.
O estudo foi
realizado no Instituto Brasileiro de Eletroterapia e Cosmetologia (IBECO), no
período de Agosto de 2016 a Dezembro de 2016. Seis modelos, todas do sexo
feminino, iniciaram este estudo, porém apenas cinco finalizaram. Uma voluntária
alegou ter apresentado hiperpigmentação
pós-inflamatória 15 dias após a primeira sessão e optou em não prosseguir no
estudo.
Os critérios de
inclusão para participar deste estudo eram não estar em tratamento estético e
não ter realizado nenhum tratamento na região glútea nos últimos seis meses.
Todas as modelos foram submetidas à avaliação corporal antes de iniciar o
tratamento. Durante a avaliação foram colhidas informações pessoais e
identificado o fototipo segundo a classificação de Fitzpatrick, o tempo do surgimento das estrias, grau de FEG
e de flacidez, classificada em leve, moderada ou intensa (Tabela I). As modelos
leram e deram ciência no termo de livre consentimento e esclarecimento.
Tabela
I – Classificação de fototipo,
idade, tempo aproximado das estrias, FEG e Flacidez.
Na execução do
presente trabalho foram utilizadas 21 unidades do equipamento FDR Derma Roller de 1,5 mm fabricados pela empresa Fabinject Technology, contendo 540 agulhas de aço
inoxidável alinhadas simetricamente em um rolo de poliestireno. Estes rollers são esterilizados no Brasil e registrados pela
ANVISA (número: 80213730016; lote: 125/16).
Protocolo
de tratamento
As modelos foram
submetidas a 4 sessões de microagulhamento,
com intervalo de 21 dias entre cada uma.
Após a realização da
técnica de microagulhamento, foi aplicado topicamente
1 mL de fatores de
crescimento (bFGF e TGF à 1%.) e 1 mL de Vitamina C 22% estéreis na região microagulhada
(Figura 3). Esses ativos foram adquiridos da farmácia de manipulação de
injetáveis Pró-Vitae®.
Figura
2 – Técnica de aplicação do microagulhamento
[19].
Tratamento
home care
Após 48h da
realização da sessão foram orientadas a utilizar o sérum concentrado antiestrias, da Bioage, linha LipoRedux®, 3 vezes por semana, na
região microagulhada durante todo o tratamento.
Também foram orientadas a utilizarem Bepantol® Derma
Creme na região microagulhada para hidratação,
começando a utilizá-la após 48h do procedimento.
Registro
fotográfico
As modelos foram
fotografadas imediatamente antes de cada sessão e 21 dias após a realização da
última sessão, totalizando 5 registros fotográficos.
A tabela II e as
figuras 3, 4, 5, 6, 7, e 8 apresentam a evolução das
modelos antes de depois do tratamento após 21 dias da quarta sessão do
protocolo.
Tabela
II –
Evolução e comparação da classificação do
FEG e flacidez tissular das modelos antes e após o tratamento.
Figura
3 – Modelo D imediatamente após sessão de microagulhamento associado a fatores de crescimento e
vitamina C.
Figuras
4 a 8 - (A) Vista posterior; (B) Vista lateral esquerda; (C) Vista lateral
direita.
1: Antes da primeira
sessão, 2: 21 dias após a primeira sessão, 3: 21 dias após a segunda sessão, 4:
21 dias a após 3 sessão e 5: 21 dias após a quarta sessão. (ver anexo em PDF).
A cicatrização e o
processo de regeneração tecidual se dão de diferentes formas a cicatrização procede de
um processo inflamatório fibroso com produção de colágeno do tipo III, enquanto
o processo de regeneração culmina na produção de colágeno do tipo I [8,30].
Estudos demonstram
que é necessária a injúria leve (0,25 mm a 0,5 mm), para melhora da textura
tecidual, injúria moderada (1,0 mm e 1,5 mm) para flacidez tissular e injúria
profunda (2,0 mm e 2,5 mm) para estrias [4,19]. Entretanto, o presente trabalho
evidenciou a melhora significativa nas três afecções estéticas estudadas,
utilizando um roller de 1,5 mm, caracterizado como
injúria moderada.
Durante a realização
da técnica houve um sangramento leve ocasionado pela agulha de 1,5mm devido a pressão exercida no tecido. Dados da literatura relatam a
importância da presença de pequena quantidade de sangue durante o processo como
fonte de plaquetas e fatores de crescimento no estímulo a formação de colágeno
[31,32].
O estudo de Aust et al. [33] demonstrou que a indução
percutânea de colágeno isolada também apresenta eficácia em estrias e no
aspecto geral da pele.
No presente estudo
todas as modelos relataram terem sentido melhora na textura e contorno da
região glútea após o tratamento, sendo que tal remodelamento tissular pode
persistir por meses após o término das sessões [34]. Outras técnicas, como o
laser de CO2 fracionado, também demonstrou eficácia no tratamento de estrias
[35]. Porém ao contrário do laser de CO2 o microagulhamento
é uma técnica que não envolve emissão de energia nem ação térmica tecidual,
entretanto também promove estímulo de produção de colágeno.
Freedman [36] realizou um
estudo com voluntários submetidos a 10 sessões de peeling
de cristal, na estria e observou que a microdermoabrasão
é também eficaz em desordens a nível dérmico e epidérmico embora seja
necessário 10 sessões.
Dados em literatura
descrevem diversas técnicas minimamente invasivas e não ablativas para o
tratamento do FEG. Dentre os estudos, as técnicas mais utilizadas são: endermoterapia [37], intradermoterapia
[38] e carboxiterapia [39], radiofrequência e luz
infravermelha [40] que também são capazes de melhorar o contorno e textura da
região cutânea tratada promovendo também melhora na microcirculação local.
Em um trabalho
realizado em 2006 por Ehrlich et al. [41], foi comparada a melhoria de rugas utilizando-se duas
formulações: uma composta de fatores de crescimento associado ao ácido
L-ascórbico e outra apenas com ácido L-ascórbico. Ambas foram usadas de maneira
tópica, e cada formulação aplicada em uma hemiface.
Observou-se que a hemiface que recebeu fatores de
crescimento associado ao ácido L-ascórbico na formulação obteve 12% de melhora,
enquanto a outra apresentou apenas 7% de resultado.
Balbino [42]
comprovou que há eficácia quanto ao uso de TGF-β no processo de reparo e
na diferenciação dos fibroblastos. O bFGF
foi utilizado em estudos que observaram o aumento do número de fibroblastos e
neoformação vascular após uso do mesmo, o que sugere uma ação proliferativa
[43, 44].
De acordo com relatos
da literatura os fatores de crescimento associados à vitamina C são importantes
no processo de formação de colágeno. As estrias e a flacidez tissular são
disfunções que dependem do processo de formação de colágeno. Porém o FEG é uma
disfunção estética multifatorial, onde, além das alterações no tecido
subcutâneo como hipertrofia adipocitária, há
comprometimento vascular e linfático.
Apesar de nenhum
ativo lipolítico ter sido utilizado os dados apresentados neste estudo sugerem
que o microgulhamento pode ser utilizado como uma
alternativa eficaz no tratamento para o FEG. Estudos estão sendo realizados
para elucidar e padronizar a técnica do microagulhamento
no FEG.
Em curto prazo, o microagulhamento com roller de
1,5 mm associado a fatores de crescimento e vitamina C apresentou-se um recurso
eficaz no tratamento de diferentes disfunções estéticas na região glútea nos
parâmetros apresentados neste estudo.