ARTIGO
ORIGINAL
Prevalência
da tensão pré-menstrual entre universitárias
Prevalence
of premenstrual syndrome among university students
Manuela Hirschle Ferreira Alves, Ft.*, Gabriela Oliveira Ribeiro, Ft.*,
Gisele da Silva Vitorino, Ft.*, Adriana Antonino de Andrade, Ft.*, Erica Patrícia Borba
Lira Uchôa, D.Sc.**, Valéria Conceição Passos de
Carvalho, D.Sc.**
*Graduada
em Fisioterapia pela Universidade Católica de Pernambuco, **Prof.ª Assistente
da Universidade Católica de Pernambuco
Recebido em 20 de março
de 2018; aceito em 21 de maio de 2019.
Correspondência: Valéria Conceição
Passos de Carvalho, Universidade Católica de Pernambuco, Rua do Príncipe, s/n,
Boa Vista 50050-900 Recife PE, E-mail: valeriapassos@gmail.com; Manuela Hirschle Ferreira Alves: manuelahirschlefa@gmail.com;
Gabriela Oliveira Ribeiro: gabiihribeiro@hotmail.com; Gisele da Silva Vitorino:
gisele273@outlook.com; Adriana Antonino de Andrade: drica_antonino@hotmail.com;
Erica Patrícia Borba Lira Uchôa: ericaluchoa@gmail.com
Resumo
Introdução: Na fase reprodutiva
das mulheres surgem sintomas relacionados ao ciclo menstrual. A Tensão
Pré-Menstrual (TPM) é a junção de perturbações que aparecem antes da
menstruação mensal e que afetam bastante a vida da mulher. Objetivo: Quantificar a prevalência da TPM entre universitárias. Métodos: Estudo epidemiológico de corte
transversal, realizado com 152 universitárias em agosto de 2017. Foram
aplicados dois questionários: um para o conhecimento do perfil epidemiológico e
o Menstrual Symptoms
Questionnaire (MSQ) que é uma escala para avaliar
os sintomas menstruais. Foi realizada uma análise estatística descritiva e
analítica, e todas as conclusões foram realizadas com o p-valor de 0,05. Resultados: A prevalência da TPM na
amostra foi de 87,5%. 94,1% das mulheres encontravam-se na faixa etária de 18 a
26 anos. Ao analisar a história reprodutiva não foi observada nenhuma
associação com a TPM. Os sintomas mais prevalentes no estudo foram: estresse,
tensão, dores, irritabilidade e mudanças de humor. Por fim, quando associamos o
MSQ com a presença da TPM foi observada uma associação em todos os itens
pesquisados. Conclusão: Com base nos
resultados obtidos, observou-se uma alta prevalência da TPM entre
universitárias.
Palavras-chave: menstruação, tensão
pré-menstrual, prevalência.
Abstract
Introduction:
On reproductive phase of women appear symptoms related to menstrual cycle.
Premenstrual tension (PMT) is the junction of disturbances that appear before
the monthly menstruation and affecting the woman's life. Objective: To quantify the prevalence of PMS among university
students. Methods: Cross-sectional
epidemiological study, conducted with 152 students in August 2017. We applied
two questionnaires: one for the knowledge of the epidemiological profile and
the Menstrual Symptoms Questionnaire (MSQ), to assess the menstrual symptoms. A
descriptive statistical analysis and analytical was conducted, and all findings
were carried out with p-value of 0.05. Results:
The prevalence of PMT in the sample was 87.5%. 94.1% of the women were 18 to 26
years old. When analyzing the reproductive story was not observed any
association with PMT. The most prevalent symptoms in the study were: stress,
tension, pain, irritability and mood swings. Finally, when we combine the MSQ
with the presence of PMS we observed an association in all items surveyed. Conclusion: Based on the results
obtained, we observed a high prevalence of PMT among university students.
Key-words: menstruation, pre-menstrual tension, prevalence.
Na fase reprodutiva das
mulheres surgem diversos sintomas relacionados ao ciclo menstrual. Tais
sintomas aparecem de forma variada e inconstante, podendo se agravar e se
tornar bastante prejudicial, podendo causar alterações físicas, psicológicas e
sociais, diminuindo assim a Qualidade de Vida (QV) da mulher [1-4].
A Tensão Pré-Menstrual
(TPM) é a junção de perturbações que aparecem antes da menstruação mensal e que
normalmente afetam bastante a vida da mulher. Depressão, ansiedade,
irritabilidade, confusão, explosão de raiva, desconforto abdominal, cefaleia e
edema são algum dos sintomas que fazem parte dessas perturbações. O grau da
disfunção varia de acordo com a intensidade em que ela se apresenta, podendo
interferir pouco ou muito nas atividades da mulher [5-9].
Estima-se que em torno
de 86% das mulheres sofram com algum dos transtornos da TPM. Destas, 3% a 8%
irão ter sintomas intensos, alterando assim a funcionalidade e QV. Porém,
conceituar e mensurar QV tem um caráter muito subjetivo, tornando assim difícil
tal processo de mensuração [10,11].
A atuação do
fisioterapeuta na saúde da mulher é fundamental, principalmente quando falamos
da TPM. Na fisioterapia existem diversos meios que podemos utilizar para
redução dos sintomas, como, por exemplo: a drenagem linfática manual,
eletroterapia, acupuntura, cinesioterapia e massoterapia, podendo ser capazes
de prevenir, eliminar ou minimizar as condições do paciente [12,13].
A presente pesquisa tem
como objetivo quantificar a prevalência da TPM entre universitárias, bem como:
descrever o perfil sociobiodemográfico e da história
reprodutiva da população estudada; associar a presença da TPM com o perfil
reprodutivo e com o Questionário de Sintomas Menstruais Menstrual Symptoms Questionnaire
(MSQ); e descrever quais os sintomas mais prevalentes entre as universitárias
com TPM, para que assim, os resultados deste possam favorecer uma abordagem
mais oportuna junto à população que sofre esse transtorno.
O presente estudo está
vinculado a Universidade Católica de Pernambuco, Centro de Ciências Biológicas
e da Saúde (CCBS), curso de Fisioterapia. É parte integrante do projeto de
pesquisa intitulado “Abordagens Fisioterapêuticas nas Disfunções do Assoalho
Pélvico”, cadastrado com número de CAAE: 56355116.7.0000.5206, aprovado pelo
comitê de ética de pesquisas com seres humanos sob o parecer nº 1.537.694,
sendo o mesmo vinculado ao grupo de pesquisa Fisioterapia Baseado em Evidência.
Trata-se de um estudo
do tipo epidemiológico de corte transversal, realizado na Universidade Católica
de Pernambuco com 152 universitárias no período de agosto de 2017, obedecendo
aos seguintes critérios de inclusão: acadêmicas que se encontravam em idade
fértil (entre 18 e 45 anos), matriculadas na instituição da Universidade
Católica de Pernambuco e no curso de Fisioterapia. Foram excluídas da pesquisa
mulheres que não concordaram em participar do estudo.
Para a realização do
estudo, as mulheres foram abordadas nas salas de aula da universidade, foi
realizada uma explicação detalhada sobre o mesmo, em seguida sendo solicitada a
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Após o consentimento da
assinatura do TCLE, foi aplicado primeiramente um questionário estruturado e
pré-codificado, contendo questões fechadas para o autopreenchimento para o
conhecimento do perfil epidemiológico da população estudada, elaborada pelas
pesquisadoras da presente pesquisa. Posteriormente, foi aplicado o questionário
de autoavaliação dos sintomas menstruais (MSQ), o mesmo contém 23 questões, e
cada uma delas apresentam seis opções de resposta, que variam de acordo com a
intensidade em que os sintomas pré-menstruais afetam a vida das mulheres [14].
Após a realização da
coleta, foi constituído um banco de dados. Foram utilizados os programas Statistical Package for the Social Sciences, versão
20.0, e o GraphPad, versão 5.0. Os dados foram expressos em média e desvio
padrão (DP) ou em frequência absoluta (n) e relativa (%). Para comparação das
variáveis categóricas entre os grupos, foi utilizado o Teste Qui-quadrado ou Teste Exato de Fisher, de acordo com a
distribuição da amostra. Foi estabelecido um p < 0,05 para significância
estatística.
Na tabela I estão
descritas as características sociobiodemográficas da
amostra, destas 94,1% (n = 144) se encontravam na faixa etária de 18 a 26 anos
de idade, 92,1% (n = 140) se diziam solteiras, quando questionadas sobre sua
naturalidade 77,6% (n = 118) referiram ter nascido na região metropolitana e
55,3% (n = 84) se declararam de cor branca.
Tabela I – Distribuição das acadêmicas da Universidade Católica de Pernambuco
quanto aos dados sociobiodemográficos segundo curso.
Ao descrever a história
reprodutiva da mulher e associar a mesma com a presença da TPM, temos: 62,4% (n
= 83) das entrevistadas que apresentavam TPM tiveram sua menarca entre 12 e 15
anos; 62,4% (n = 83) relataram o ciclo menstrual regular; para 61,7% (n = 82) o
fluxo menstrual era considerado moderado; 69,9% (n = 93) relataram ter vida
sexual ativa, entre outros dados, entretanto, não foi possível observar
associação entre nenhuma das variáveis reprodutivas pesquisadas com a TPM
(Tabela II).
Tabela II – Distribuição das acadêmicas da Universidade Católica de Pernambuco
quanto aos dados da história reprodutiva segundo curso.
Ao avaliarmos a
presença da TPM na amostra estudada temos uma prevalência de 87,5% (n = 133)
que se enquadraram nos critérios de diagnóstico (Gráfico 1).
Gráfico 1 – Distribuição das acadêmicas da Universidade Católica de Pernambuco
quanto aos dados da prevalência da tensão pré-menstrual segundo curso.
O MSQ é um questionário
que trata sobre os sintomas presentes em mulheres portadoras de distúrbios
menstruais, sendo possível observar entre as mulheres com TPM uma maior
prevalência dos seguintes sintomas: 100% (n = 133) referiram estresse, 98,5% (n
= 131) tensão ou nervosismo, 97,7% (n = 130) dores ou cólicas e explosão ou
irritabilidade, e 96,2% (n = 128) rápidas mudança de humor. Por fim, quando
associamos o MSQ (sintomas físicos e emocionais) com a presença da TPM foi
observada uma associação significativa em todas as variáveis pesquisadas com
p-valor < 0,05 (Tabela III).
Tabela
III – Distribuição das acadêmicas da Universidade
Católica de Pernambuco quanto aos dados do Questionário de Sintomas Menstruais
(MSQ) segundo curso. (ver anexo em PDF).
A presente pesquisa
apresentou um perfil sociodemográfico caracterizado por mulheres jovens,
solteiras, de cor branca e nascidas na região metropolitana. Esse perfil é
condizente com as características populacionais de estudantes mulheres que
ingressam no nível superior como encontrado em outras pesquisas conduzidas no
Brasil [14,22].
Em relação à história reprodutiva pode
ser observado que nenhuma das variáveis pesquisadas se apresentou associada à
presença da TPM. Apesar de não haver associação, quando comparados os dados das
frequências das variáveis pesquisadas, chama a atenção que o aparecimento dos
sintomas da TPM está diretamente ligado à idade da primeira menstruação, de
acordo com alguns pesquisadores [14-16]. Amenarca
não está relacionada com a presença da TPM nesta
pesquisa porque grande parte das entrevistadas fazia o uso de
métodos
contraceptivos, que influenciam diretamente no quadro hormonal e
sintomatológico, apesar da prevalência de TPM na amostra
ter sido elevada. Os
contraceptivos hormonais, principalmente os que utilizam progestágeno,
proporcionam a estabilidade da função hormonal feminina melhorando as reações
emocionais como irritabilidade, além de melhorar as cólicas menstruais [23].
A prevalência de TPM na
amostra estudada foi de 87,5%, diferentemente do estudo de Vigário et al. [17] e de David et al. [18], que apontam um número
menor, (67%) e (71%), respectivamente. Provavelmente essas diferenças ocorreram
por dois motivos: ambos os estudos apresentaram uma amostra menor em relação a
esta pesquisa, o outro motivo foi à população estudada (atletas): de acordo com
os autores, a prática de exercício físico tende a diminuir os sintomas deste
transtorno. Por fim, a população estudada é de universitárias na área de saúde
o que facilitou a detecção e melhor compreensão dos sintomas estudados.
Quando avaliados os
sintomas físicos: mastalgia, desconforto abdominal,
edema generalizado, cansaço físico, susceptível as mudanças de temperatura e
dor; e os emocionais: humor e cognição – riso, choro, estresse irritabilidade,
dificuldade de concentrar-se e esquecimento; sintomas depressivos – sentir-se
só, deprimida, mais sensível, intolerante, isolamento no próprio trabalho,
pouca vontade de falar ou locomover-se, pontos de vista pessimista, dificuldade
para dormir, perda do interesse por atividades habituais, contidos no MSQ com a
presença da TPM, observou-se que os sintomas emocionais eram mais prevalentes
que os sintomas físicos. O que corrobora outros estudos, nos quais a
prevalência de sintomas emocionais se sobrepõe aos físicos quando relacionados
à presença de TPM [2,5,7,18-21].
Com
base nos resultados obtidos, observou-se uma alta prevalência da TPM entre universitárias
pesquisadas. Não foi possível associar as variáveis da história reprodutiva à
presença da mesma. Além disso, foram encontrados dados estatisticamente
significativos quando associamos a TPM com os tópicos contidos no MSQ, sendo os
sintomas mais citados: estresse, tensão ou nervosismo, dores ou cólicas e
explosão ou irritabilidade, e rápidas mudança de humor, levando a entender que
a TPM tem relação clara com sintomas emocionais, suscitando a necessidade de
uma intervenção multidisciplinar.
Os resultados desta
presente pesquisa são de fundamental importância, pois com eles podemos
identificar uma parcela da quantidade de mulheres que sofrem com os transtornos
pré-menstruais, e quais os sintomas que mais afetam as mesmas, podendo prevenir
e tratá-los de maneira adequada, melhorando assim os desconfortos e a qualidade
de vida da mulher.