REVISÃO
Intervenções
fisioterapêuticas na função pulmonar em pacientes submetidos a
cirurgia bariátrica
Physiotherapeutic interventions in pulmonary function of patients
submitted to bariatric surgery
Jeferson Santos
Miranda, Ft.*, Tamires Barradas Cavalcante**, Rosane Karine Gonçalves
Nascimento, Ft.***, Jefferson Carlos Araujo Silva,
Ft.****, Carlos Magno Araujo Lima*****, Érika Thalita
Nunes Costa*****
*Residência
multiprofissional em saúde do Hospital Universitário da Universidade Federal do
Maranhão (HU-UFMA), São Luís/MA, **Enfermeira, Coordenadora da unidade de
traumatologia e ortopedia do HU-UFMA, São Luís/MA, ***Residência
multiprofissional em saúde do HU-UFMA, São Luís/MA, ****Mestrando em Ciências
da Reabilitação pela Universidade de Brasília, Brasília/DF, *****Fisioterapeuta
do HU-UFMA, São Luís/MA
Recebido em 22 de
março de 2018; aceito em 17 de setembro de 2018.
Endereço
para correspondência:
Jeferson Santos Miranda, Universidade Federal do Maranhão, Hospital
Universitário Presidente Dutra, Rua Barão de Itapary,
227 Centro 65020-070 São Luís MA, E-mail: jeferson.cfc@hotmail.com; Tamires
Barradas Cavalcante: tamiresbarradas@gmail.com; Rosane Karine Gonçalves
Nascimento: rosanekarine_fisio@hotmail.com; Jefferson Carlos Araujo Silva: jeffcasilva@gmail.com; Carlos Magno Araujo Lima: ma.agno@hotmail.com; Érika Thalita Nunes
Costa: erikathalita2@hotmail.com
Resumo
O objetivo desta
pesquisa foi buscar na literatura evidências sobre intervenções utilizadas pela
fisioterapia em pacientes submetidos a cirurgia
bariátrica. Métodos: As buscas foram
realizadas nos meses de janeiro e fevereiro de 2018, através do acesso online
em bases de dados: Pubmed/Medline,
PEDro, Scielo
e Lilacs. Utilizou estratégia PICo, onde foram definidos: População (P): Obesidade
Mórbida; Interesse (I): Prática baseada em evidências; Contexto (Co): estudos de intervenções. Resultados: Através das estratégias de busca foram encontrados 951
artigos. Após leitura dos resumos, observados critérios de inclusão e exclusão,
foram excluídos um total de 901, restando 50 artigos
que foram lidos na íntegra e, em seguida, elegeram-se 10 estudos. As evidências
das intervenções do treinamento muscular respiratório podem ser observadas nos
ensaios clínicos contendo bom rigor metodológico. O treinamento muscular
respiratório pode ser considerado como uma intervenção, juntamente com outras
terapêuticas (dois níveis de pressão – Bilevel) que
compõem o tratamento de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, auxiliando
na obtenção de resultados satisfatórios. Conclusão:
O nível de evidência atualmente disponíveis do impacto das intervenções
fisioterapêuticas, como o treinamento muscular respiratório, na função pulmonar
de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica se mostrou alto. A análise
metodológica realizada neste estudo mostrou poucos números de estudos de
ensaios clínicos, retratando a real necessidade de novos estudos que possam
integrar a pratica clínica.
Palavras-chave: cirurgia bariátrica,
estudos de intervenção, fisioterapia respiratória.
Abstract
The objective of this study was to search in the literature for evidence
on interventions used by physical therapy in patients undergoing bariatric
surgery. Methods: The study was
performed in January and February 2018, through online access in databases: Pubmed/Medline, PEDro, Scielo and Lilacs. It was used the PICo
strategy, and it was defined: Population (P): Morbid Obesity; Interest (I):
Evidence-based practice; Context (Co): intervention studies. Results: We found 951 articles. After
reading the abstracts and observing inclusion and exclusion criteria, a total
of 901 were excluded, remaining 50 articles that were read in full, and then 10
studies were chosen. Evidence from respiratory muscle training interventions
can be observed in clinical trials with good methodological rigor. Respiratory
muscular training can be considered as an intervention, along with other
therapeutics (two levels of pressure - Bilevel) that
make up the treatment of patients undergoing bariatric surgery, helping to
obtain satisfactory results. Conclusion:
The level of evidence currently available on the impact of physiotherapeutic
interventions, like respiratory muscular training, on lung function in patients
undergoing bariatric surgery was high. The methodological analysis performed in
this study showed few clinical trial studies, showing the real need for new
studies that could integrate clinical practice.
Key-words: bariatric
surgery, intervention studies, respiratory physiotherapist.
A cirurgia bariátrica
é um procedimento eletivo e baseia-se na análise de múltiplos aspectos clínicos
do paciente. A avaliação no pré e
pós-operatório é multidisciplinar, composta por endocrinologistas,
nutricionistas, cardiologistas, pneumologistas, psiquiatras, psicólogos,
cirurgiões, dentre outros. Conforme a gravidade, a Organização Mundial da Saúde
(OMS) designa obesidade grau I pacientes com o Índice de Massa Corporal (IMC)
entre 30 e 34,9 kg/m2, obesidade grau II quando o IMC está entre 35
e 39,2 kg/m2 e obesidade grau III quando o IMC ultrapassa 40 kg/m2.
Neste último caso é denominada de obesidade mórbida, sendo indicado o
tratamento cirúrgico para redução de peso [1].
No Brasil a
prevalência de obesos tem aumentado ao longo dos anos, acompanhando a tendência
dos países desenvolvidos. A pesquisa Vigitel 2013
(Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito
Telefônico) indica que 50,8% dos brasileiros estão acima do peso ideal e que,
destes, 17,5% são obesos. Cuiabá/MT lidera o ranking das capitais brasileiras
com maior número de obesos, 22,4% dos adultos, e São Luís/MA é a capital com
menor percentual de obesos entre os adultos, apenas 13,2%. A pesquisa afirma,
ainda, que a perspectiva do número de cirurgias bariátricas vem aumentando,
sendo realizadas atualmente uma média de 90 a 95 mil
cirurgias por ano [2].
Existem várias
técnicas de intervenção em cirurgia bariátrica no mundo atual, sendo a
gastrectomia vertical e o bypass gástrico as mais
realizadas. O sleeve gástrico ou gastrectomia
vertical é um procedimento puramente restritivo que consiste na remoção da
grande curvatura do estômago deixando o reservatório novo com formato tubular e
alongado, de volume entre 150 e 200 ml [3,4]. Bypass
gástrico ou derivações gástricas em Y de Roux, com ou
sem anel de contenção, consiste no método de redução da capacidade gástrica
para um volume de aproximadamente 20 ml. O estômago remanescente, assim como o
duodeno e os primeiros 50 cm de jejuno, ficam permanentemente excluídos do trânsito alimentar. O pequeno reservatório gástrico é
então anastomosado a uma alça jejunal isolada em Y (daí a origem do nome, sendo
Roux o cirurgião criador da técnica) [5].
A obesidade causa
inúmeros comprometimentos sistêmicos no organismo, dentre os quais podemos
citar a interferência na mecânica respiratória destes indivíduos, ocasionando
diminuição dos volumes e capacidades pulmonares, principalmente do Volume de
Reserva Expiratória (VRE) e Capacidade Residual Funcional (CRF). A quantidade
de gordura sobre o diafragma, pulmões e caixa torácica ocasiona uma redução da
expansibilidade pulmonar, provocada pela diminuição da complacência total do
sistema respiratório e aumento da resistência pulmonar [6,7].
Os procedimentos
cirúrgicos, especialmente do andar superior do abdome, como a cirurgia
bariátrica, produzem efeitos deletérios no sistema respiratório, como
alterações na troca gasosa e na mecânica respiratória. O tempo cirúrgico e os
anestésicos empregados acarretam maior chance de ocorrência de complicações
pulmonares pós-operatórias [8]. Neste contexto, diversos autores relatam que
pacientes submetidos à cirurgia bariátrica podem evoluir com complicações
respiratórias [9].
O paciente obeso
apresenta uma insuficiência pulmonar restritiva decorrente da compressão
mecânica sobre o diafragma, pulmões e caixa torácica pelo excesso de tecido
adiposo. A força muscular e a endurance podem ficar
reduzidas pela ineficiência dos músculos respiratórios, ocasionando aumento do
trabalho respiratório e consumo de O2. A fisioterapia atua tanto no pré quanto no pós-operatório de cirurgia bariátrica,
objetivando preparar o paciente para o procedimento cirúrgico e prevenir
complicações respiratórias que possam surgir no pós-operatório, bem como a
terapia de reexpansão pulmonar utilizando pressão
positiva após a realização da cirurgia. Outro fator que pode implicar na
redução da expansibilidade pulmonar é a geração de dor na incisão cirúrgica
frente a inspiração profunda, interferindo na
recuperação do paciente, levando-o a adotar uma respiração mais superficial com
pouco volume pulmonar [10,11].
Considerando a
associação do procedimento cirúrgico com a obesidade, recomenda-se a
fisioterapia respiratória, sendo essencial na recuperação da função pulmonar e
na prevenção de complicações respiratórias, como infecções, atelectasias, entre
outras [10,11]. É de suma importância que os serviços prestados sejam
adequadamente realizados, e estes sejam feitos de forma sistematizada. O
objetivo desta pesquisa é buscar na literatura evidências sobre intervenções
utilizadas pela fisioterapia na função pulmonar em pacientes submetidos à
cirurgia bariátrica.
Trata-se de uma
revisão integrativa da literatura. Dessa forma, a questão norteadora da
pesquisa consistiu em: quais evidências e qualidade metodológica dos tipos de
estudos das intervenções fisioterapêuticas na função pulmonar em pacientes
submetidos a cirurgia bariátrica? O levantamento das
publicações indexadas foi realizado nos meses de janeiro e fevereiro de 2018,
por meio do acesso online em bases de dados importantes no contexto da saúde: Pubmed/Medline, PEDro, Scielo
e Lilacs.
Os termos-chaves da
pesquisa foram estabelecidos através de uma variável da estratégia PICo, e definidos como:
População/Paciente/Problema (P): Obesidade Mórbida; Interesse (I): Prática
baseada em evidências; Contexto (Co):
Fisioterapia/estudos de intervenções. Após esta etapa, foi realizada a
identificação dos descritores e palavras-chave relacionados aos termos da
estratégia PICo. O termo (P) abrangeu os descritores Mesh:
“morbid obesity”, “Bariatric Surgery” e palavras
chaves: “obese”, “complications
postoperative”; interesse (I) abrangeu os descritores
Mesh: “ evidence based practice”, “methodological study” e
palavras-chave: “level of evidence” e o termo contexto (Co)
abrangeu os descritores Mesh: “ intervention
studies”, “respiratory function tests”, “ continuous positive airway pressure”, “CPAP ventilation”, “ bilevel continuous positive airway pressure”, “physical therapy modality”, “respiratory muscle”, “ postoperative pulmonary atelectases”, “ postoperative complication”, e
palavras-chave: “physiotherapy techniques”
e “respiratory physiotherapist”.
No Pubmed realizou-se o cruzamento entre os descritores
controlados presentes no MeSH
utilizando os operadores booleanos (delimitadores) “OR” e “AND”; o primeiro foi
usado para combinação dos descritores comuns a cada componente da estratégia PICo; e o segundo, para finalização da estratégia de busca,
foi feita a combinação dos três termos: (P) AND (I) AND (CO). Na base de dados Scielo, dois descritores foram cruzados: “Bariatric Surgery” e “Intervention Studies”. Na base de
dados PeDro utilizou-se o
descritor “postoperative pulmonar” e na Lilacs foram cruzadas palavras chaves “Bariatric
Surgery”, “postoperative pulmonary atelectases” e “ Physiotherapy techniques”.
Foram adotados como
critérios de inclusão: artigos com textos completos disponíveis relacionados à
referente pesquisa; artigos cujos pacientes foram submetidos somente a cirurgia bariátrica; estudos encontrados tanto diretamente
nas bases de dados, como em referências de artigos de revisão; pesquisas
produzidas em português, espanhol e inglês; publicações realizadas nos últimos
10 anos e envolvendo seres humanos. Os critérios de não-inclusão
contemplaram artigos duplicados, relato de casos informais, os capítulos de
livros, as dissertações, as teses, as reportagens, as notícias, os editoriais,
os textos não científicos e estudos sem disponibilidade na íntegra.
Com base nas
publicações selecionadas durante a busca e, obedecendo rigorosamente aos
critérios de inclusão e exclusão apresentados, realizou-se a leitura dos
artigos na íntegra. A Figura 1 descreve as etapas realizadas para identificação
e seleção dos estudos que compuseram a amostra da pesquisa.
Figura
1 – Organograma da triagem dos artigos.
Os dados foram
sistematicamente extraídos dos estudos e disposto da seguinte forma: Autoria,
Ano, País, Título, Pontuação da escala de PEDro
e Nível de evidência e grau de recomendação, resultados e conclusão.
A pontuação da escala
de PEDro foi utilizada como
indicador de evidência científica com intuito de preservar a relevância do
estudo em questão. Desenvolvida para ser empregada em ensaios clínicos, esta
escala, atualmente considerada uma das mais utilizadas na área da fisioterapia,
permite uma rápida avaliação da validade dos estudos [13,14]. Os artigos foram
avaliados segundo essa escala fornecida pelo site no momento da busca [15].
A escala PEDro
permite uma pontuação total
de dez pontos. Para cada critério apresentado na escala,
poderá ser atribuída
uma pontuação de um ou zero ponto. “A
pontuação só será atribuída quando
um
critério for claramente satisfeito. Se existir a possiblidade de
um critério
não ter sido satisfeito, esse critério não deve
receber pontuação” [14]. A
pontuação final da escala de qualidade PEDro
é dada por meio da soma do número de critérios que foram classificados como
satisfatórios entre os critérios 2 ao 11. O critério 1
não é considerado para a pontuação final por tratar-se de um item que avalia a
validade externa do estudo [16]. A pontuação final pode variar entre 0 e 10 pontos. Para a avaliação do nível de evidência e grau
de recomendação foi utilizada a escala de Oxford
Centre for Evidence-based Medicine [17].
Conforme o Quadro 1, das dez publicações que compões a amostra deste estudo,
quatro foram encontradas no Pubmed, três no PEDro, dois na Lilacs e um na Scielo. Entre os trabalhos selecionados, oito foram
desenvolvidos no Brasil, um nos EUA e um na Espanha.
Quanto ao tipo de
estudo, os ensaios clínicos predominaram em relação aos demais, sendo seis
artigos de ensaio clínico, três estudos transversais e uma série de caso.
Quanto à avaliação realizada através da escala PEDro, os cinco artigos de ensaio clínico obtiveram
pontuação maior que cinco, sendo considerados de alta expressividade
metodológica. Enquanto os outros cinco estudos não se enquadram dentro dos
critérios segundo a escala de PEDro.
Com relação ao nível de evidência, seis estudos possuíam nível um por se
tratarem de ensaios clínicos, três estudos nível dois e uma pesquisa com nível
de evidência quatro. No que diz respeito à qualificação dos artigos,
identifica-se que os artigos estão em um nível adequado de evidência científica
por tipo de estudo.
Como possíveis condutas fisioterapêuticas a serem utilizadas nos indivíduos submetidos à cirurgia bariátrica, os artigos analisados citaram, em sua maioria, treino muscular inspiratório no pré e no pós e a aplicação do CPAP pós-operatório e exercícios respiratórios. Outras condutas, em menor escala, também foram citadas, como o incentivador respiratório e a aplicação do CPAP no pré-operatório.
Quadro
1 - Apresentação dos estudos de acordo com
autoria, título, ano, país, escala PEDro, NE/GR, resultados e discussão. São
Luís/MA, 2018. (ver anexo em PDF)
Há um grande número
de estudos voltados para evitar ou tratar complicações pulmonares em pacientes
submetidos a cirurgia bariátrica. Dentre as terapêuticas
utilizadas destaca-se: Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas (CPAP),
treinamento muscular respiratório, Estimulação Diafragmática Elétrica Transcutânea (EDET), incentivador inspiratório a fluxo e a
fisioterapia respiratória convencional [10,11].
O levantamento dos
estudos sobre intervenções fisioterapêuticas proporcionou conhecimento das
inúmeras pesquisas realizadas e a importância de uma sistematização adequada.
Em relação à autoria dos estudos inclusos nesta, 80% (N=8) deles são publicações
brasileiras, e levando-se em conta o tipo de estudo, 60% (N=6) correspondiam a
ensaios clínicos, com realização de intervenções e avaliações pré e pós-operatório.
Segundo Pazzianotto-Forti et al. [18], a aplicação do CPAP promoveu
manutenção do volume corrente quando aplicado no pós-operatório da gastroplastia tanto no primeiro quanto no segundo dia do
pós-operatório. Isso ficou evidenciado pelo fato das medidas do volume corrente
não terem mostrado diferença significativa, na comparação pré
e pós-aplicação do CPAP no 1º e no 2º dia pós-operatório, o que sinaliza efeito
benéfico, pois aponta manutenção dos volumes pulmonares. Entretanto, o Volume
Minuto (VM) demonstrou significativo aumento após a aplicação do CPAP, nos dois
dias de tratamento. Tal incremento provavelmente se deve ao aumento da
frequência respiratória. Por um lado, mesmo tomando os devidos cuidados durante
a aplicação da terapia, não pôde ser descartada a possibilidade de alterações
nos ajustes do fluxo, ou da válvula de Pressão Positiva Expiratória Final
(PEEP), ou até mesmo da máscara, no momento pré-aplicação
do CPAP, e, assim, esses fatores terem propiciado o aumento da frequência
respiratória e, consequentemente, o do VM [18].
Souza et al. [18] constataram que as medidas de
volume corrente, VM e frequência respiratória não apresentaram significância
estatística quando comparados os resultados do pré e
pós-operatório tanto no grupo Fisioterapia Respiratória Convencional (FRC),
como no grupo FRC+CPAP, bem como quando comparadas os dois grupos entre si
tanto no pré quanto no pós-operatório. Concluíram que
tanto a aplicação da FRC como a aplicação da FRC+CPAP no período pré-operatório
contribuem para a manutenção das variáveis respiratórias nas primeiras 24 horas
do pós-operatório. A aplicação do CPAP, por 20 min, antes da indução
anestésica, não promoveu benefícios adicionais no pós-operatório de cirurgia
bariátrica no que se refere ao incremento dos volumes pulmonares, entretanto,
contribuiu para a preservação deles.
O estudo de Brigatto et al. [20]
avaliou se a aplicação do BIlevel (dois níveis de
pressão positiva nas vias aéreas) no pós-operatório de cirurgia bariátrica pode
ser mais efetiva do que quando aplicadas pressões positivas expiratória e
inspiratória separadamente, na restauração do Volume de Reserva Inspiratória
(VRI), Volume de Reserva de Expiratório (VRE), Capacidade Vital (CV),
Capacidade Residual Funcional (CRF) e Capacidade Vital Forçada (CVF) e
mobilidade torácica. Os resultados mostraram que há redução significativa das
variáveis espirométricas no pós-operatório
independentemente do recurso utilizado, e a preservação da mobilidade torácica
somente nos voluntários do grupo BIPAP. Essa pesquisa concluiu que aplicação de
dois níveis de pressão positiva nas vias aéreas, dentro do protocolo
estabelecido pelo estudo, parece para não ser eficaz na restauração de volumes
e capacidades pulmonares durante o pós-operatório de cirurgia bariátrica.
Porém, a mobilidade torácica melhorou com a aplicação do BIPAP do que quando
aplicado pressão inspiratória ou expiratória separadamente.
Costa et al. [21] compararam os efeitos da FRC e
FRC associada a EDET nos volumes pulmonares e mobilidade toracoabdominal.
Houve aumento do VRI e VRE em pacientes que receberam FRC, em especial ao
tratamento associado de FRC+EDET. A fisioterapia é fundamental para a contração
da musculatura respiratória, especialmente para o músculo diafragma, e músculos
da parede abdominal estimulados pela EDET.
No trabalho realizado
por Baltieri et al. [22] foram
encontrados resultados semelhantes com os achados de Moulim
et al. [23], no qual fez-se a
comparação entre inspirometria de incentivo e o uso
de EPAP (Expiratory Positive Airway
Pressure). Concluíram que a inspirometria
de incentivo aumenta os volumes inspiratórios e o EPAP evita o colapso precoce
das vias aéreas. Sendo assim, como o modo BIPAP possui dois níveis pressóricos,
tanto na fase inspiratória como na fase expiratória, pode-se afirmar que há a
combinação dos benefícios promovidos por um inspirômetro
de incentivo e um EPAP. Ainda sobre o estudo de Baltieri
et al. [22], o uso da PEEP diminuiu a
prevalência das atelectasias pós-operatória, porém a maior eficácia para este
objetivo foi observado com o uso da PEEP logo após o procedimento cirúrgico, em
que a prevalência de atelectasias foi nula. Conclui-se então que o melhor
momento considerado para a aplicação da pressão positiva é no pós-operatório,
imediatamente após a extubação, pois reduz a
prevalência de atelectasias e reduz a perda do volume de reserva expiratória.
Moulim et al. [23] concluíram que a inspirometria
de incentivo à fluxo parece exercer melhores efeitos na ventilação pulmonar, na
mobilidade diafragmática e toracoabdominal, enquanto
a EPAP parece atuar melhor no restabelecimento do VRE no período pós-operatório.
No entanto, a inspirometria de incentivo não demostra
nenhum efeito no pós-operatório na hipoxemia e nível de SaO2
em pacientes submetidos a cirurgia bariátrica [24].
Para Casali et al. [25], o treinamento muscular
inspiratório (IMT) é uma importante intervenção fisioterapêutica para pacientes
submetidos a gastroplastia durante o período inicial
de pós-operatório. O estudo avaliou os efeitos do IMT na função pulmonar, força
muscular e resistência muscular em pacientes submetidos a
cirurgia bariátrica. Os resultados mostraram que o IMT melhorou força muscular
e resistência e uma recuperação melhor do fluxo de ar pulmonar em pacientes
treinados em comparação com o grupo controle. Moulim et al. [26] encontraram que o IMT no
pré-operatório aumentou a força muscular inspiratória e atenuou os efeitos
negativos no pós-operatório, embora não tenha influenciado o volume pulmonar.
Ainda de acordo com este estudo, não houve aumento do movimento diafragmático
após o treinamento. Isso implica que mais estudos com diferentes protocolos são
necessários para avaliar o efeito de IMT na prevenção de disfunção
diafragmática no pós-operatório de gastroplastia.
No estudo de Llorés et al. [27] foram
analisados os efeitos do IMT realizado no pré-operatório sobre a oxigenação
arterial de pacientes obesos submetidos à cirurgia bariátrica. Os autores
observaram que a relação PaO2/FiO2
apresentou-se maior significativamente no grupo que recebeu treinamento em
comparação ao grupo controle. Os voluntários do grupo experimental realizaram
sessões diárias de 20 min, 30 dias antes da cirurgia de IMT, enquanto o grupo
controle não realizou nenhuma atividade antes da cirurgia. Sugerindo que o
treinamento muscular inspiratório melhorou a oxigenação no pós-operatório e aumentou
a força muscular de pacientes obesos submetidos a
cirurgia bariátrica.
As evidências das
intervenções do IMT foram observadas nos ensaios clínicos contendo bom rigor
metodológico. Nesta revisão, pela análise metodológica realizada através da
Escala de PEDro, foi
observado que três dos dez estudos analisados, apresentam boa relevância
científica, com possibilidade de extrapolação dos resultados para prática
clínica. O IMT pode ser considerado como uma intervenção eficaz, juntamente com
outras terapêuticas que compõem o tratamento de pacientes submetidos a cirurgia bariátrica, auxiliando na obtenção de resultados
satisfatórios [25].
Um ensaio clínico
[20] avaliou a aplicação do Bilevel em comparação a
aplicação de forma separada das pressões positivas
expiratória e inspiratória, os resultados obtidos a partir do ensaio
mostraram que ambas as técnicas não são efetivas na restauração da função
pulmonar no pós-operatório de cirurgia bariátrica, entretanto a aplicação do
BIPAP pode preservar a mobilidade torácica. Este estudo contou com 68 mulheres
voluntárias, obesas (IMC entre 40 e 55 kg/m²), com idade
entre 25 e 55 anos submetidas à cirurgia bariátrica em Y de Roux
por laparotomia. Divididas em três grupo, EPAP, Respiração com Pressão Positiva
Intermitente (RPPI) e Bilevel, apresentaram redução
do VRI e VRE e na mobilidade torácica, na comparação pré
e pós-operatório, não havendo diferença significativa entre os dois momentos de
avalição para o tratamento proposto. A análise metodológica do estudo realizada
através da Escala de PEDro e
dos níveis de evidências apresentam boa relevância científica.
Baltieri et al. [22] demonstraram que o momento ideal para aplicação do BIPAP
é no pós-operatório imediato, pois reduz a prevalência de atelectasias e há
menor perda do volume de reserva expiratório. O grupo que utilizou Bilevel por uma hora após a cirurgia não apresentou
atelectasias, enquanto no grupo controle 25% dos voluntários apresentaram. A
aplicação da escala de PEDro
neste estudo obteve uma boa relevância científica e ótimo nível de evidência.
Após análise dos
artigos, podemos sugerir que o IMT pré-operatório propõe melhora da força
muscular inspiratória, melhora a oxigenação no pós-operatório e atenuou os
efeitos negativos da cirurgia bariátrica. Outras técnicas como aplicação do
BIPAP no pós-operatório imediato podem reduzir a prevalência de atelectasias,
com menor perda do VRE. Desta forma, o nível de evidência atualmente disponível
do impacto das intervenções fisioterapêuticas na função pulmonar de pacientes
submetidos a cirurgia bariátrica se mostrou alto.
Entretanto, a análise metodológica realizada neste estudo mostrou poucos os
números de estudos de ensaios clínicos, retratando a real necessidade de novos
estudos que possam integrar a prática clínica com maior ênfase de pesquisa
científica.