ARTIGO
ORIGINAL
Avaliação
do impacto de um protocolo fisioterapêutico na diminuição do quadro álgico
durante a primeira fase do trabalho de parto vaginal
Evaluation
of the impact of a physiotherapeutic protocol on the reduction of pain during the first phase of vaginal labor
Cristina Ingrid Aguiar
Cardozo, Ft.*, Francisca Maria Aleudinelia Monte
Cunha, Ft. D.Sc.**
*Pós-graduação
em caráter de Residência Multiprofissional em Urgência e Emergência,
fisioterapeuta na Santa Casa de Misericórdia de Sobral, **Professora Faculdade
Novo Tempo de Itapipoca/CE
Recebido em 29 de março
de 2018; aceito 28 de novembro de 2018.
Endereço
para correspondência:
Francisca Maria Aleudinelia Monte Cunha, Avenida
Margarida Moura, 1614, Betânia, 62044240 Sobral CE, E-mail- aleudinelia@yahoo,com,br; Cristina Ingrid Aguiar Cardozo:
cristinaingridfisio@hotmail.com
Resumo
O objetivo deste estudo
foi avaliar a eficiência de um protocolo fisioterapêutico, aplicado em
gestantes atendidas na Santa Casa de Misericórdia de Sobral/CE voltado para a
redução do quadro álgico na primeira fase do trabalho de parto e na humanização
do parto vaginal. Participaram grávidas com idade gestacional entre 37-42
semanas de gestação com feto único, vivo em apresentação cefálica e que
estivessem na primeira fase do trabalho de parto, atuando de forma ativa e com
dilatação cervical mínima de 3 centímetros e sem uso de medicação após entrada
no hospital. As participantes do grupo controle (GC; N=25) receberam
orientações sobre relaxamento, respiração, dor e parto vaginal como placebo. As
parturientes do grupo de intervenção (GI; N = 25), além das orientações,
realizaram exercícios de respiração, liberação miofascial, alongamento,
exercícios cinético-funcionais e massagem. Observou-se que as intervenções
realizadas no GI proporcionaram diminuição da dor relatada (p = 0,0001),
tendência não observada no GC. Foi observado aumento da dilatação vaginal e saturação
de O2 em ambos os grupos, entretanto a média foi maior entre as
pacientes do GI (p = 0,0001). Infere-se que o protocolo utilizado diminui a dor
da gestante na primeira etapa do parto genital, além de estar associado ao
relaxamento das pacientes.
Palavras-chave: dor do parto,
primeira fase do trabalho de parto, fisioterapia.
Abstract
The
objective of this study was to evaluate the physiotherapeutic practice on the
impact of pain during the first phase of vaginal labor in pregnant women
attended at Santa Casa de Misericórdia of Sobral/CE. Pregnant women of gestational age between 37-42
weeks with a single fetus, alive in cephalic presentation and
in the first phase of labor, active and with cervical dilatation of at least
3 cm, without use of medication after hospital admission,
participated in this study. Participants in the control group (CG; N = 25)
received guidance on relaxation, breathing, pain and vaginal delivery as
placebo. In the intervention group (GI; N = 25), the patients received physical
therapy, breathing, myofascial release, stretching, kinetic-functional
exercises and massage. We observed that the interventions performed in the GI
provided a decrease in the pain reported by the patients (p = 0.0001), a tendency
not observed in the CG. Increased vaginal dilation and O2 saturation
were observed in both groups, however, the mean was higher among GI patients (p
= 0.0001). It is inferred that the protocol used reduces the pain of the
pregnant woman in the first stage of genital delivery, besides being associated
with the relaxation of the patients.
Key-words: labor pain,
first phase of labor, physical therapy
A gravidez é um evento
fisiológico que consiste num processo do sistema reprodutor feminino que
objetiva o desenvolvimento de um feto, implicando em alterações rápidas e
inevitáveis nas funções corporais da mulher. Tais alterações vão além da
fisiologia e incluem uma importante transição de mulher para mãe [1]. A
gestação é um evento de muitos significados na vida de uma mulher e envolve
diversos sentimentos, trazendo assim, expectativas e ansiedades. E, nada mais
comum que centrar esses sentimentos no momento do trabalho de parto, muitas
vezes acompanhado de dores, que envolvem mecanismos fisiológicos e
psicoemocionais [2].
A dor tem significado
peculiar para cada mulher e advém da experiência de vida, o que torna o evento
um fenômeno constituído de interpretações sensoriais e afetivas individuais e
complexas [3]. Nesse sentido, as vivências positivas ou negativas podem
influenciar em gestações correntes e partos futuros. No período
gravídico-puerperal a mulher passa por processos que podem desencadear mudanças
que favorecem transformações que vão intervir diretamente a escolha do tipo de
parto [4].
A
dor do parto consiste
em um dos maiores medos da mulher no período gestacional tendo
como base a
pesquisa Nascer Brasil [5], que ressalta que 83% destas optam por parto
cesariano na tentativa de fugir do quadro álgico, e o consumo de
fármacos com
intuito anestésico apresenta em torno de 73,3%. O dado mais
intrigante é que
70% das gestantes desejam um parto normal no início da gravidez.
Com isso,
houve um aumento dos partos cesarianos nos últimos anos; mas,
vale ressaltar
que o parto vaginal tem maiores vantagens sobre a cesariana, dentre
elas:
recuperação rápida da parturiente,
diminuição de complicação pós-parto
para mãe
e bebê e diminuição dos custos para o Sistema
Único de Saúde (SUS) [6].
Desse modo, a atuação
da fisioterapia para com a parturiente faz-se de grande valia, uma vez que este
profissional emprega técnicas que proporcionam o alívio da dor, diminui a
tensão, estresse e busca o relaxamento [7], atuando também de forma incisiva no
intraparto, diminuindo o tempo de dilatação, preparando o períneo para a
expulsão do bebê, orientando as parturientes sobre a musculatura do assoalho
pélvico, as posições que aliviam a dor e realizando exercícios respiratórios,
para que ela tenha um parto natural [8].
Nesse contexto, o
fisioterapeuta se apresenta como um intermediador, proporcionando uma
comunicação entre a família e a equipe, ou entre a paciente e equipe, buscando
trabalhar o emocional e o físico de forma a treinar a parturiente com
exercícios não invasivos, dando um maior conforto, minimizando o quadro álgico,
proporcionando o relaxamento muscular, controle da respiração, fazendo com que
este momento de trabalho de parto seja único [9]. Entretanto, embora os
inúmeros benefícios da atuação do fisioterapeuta durante o trabalho de parto,
observa-se que a atuação desses profissionais, principalmente na rede pública
de saúde, está aquém do esperado. Ou seja, um número pequeno de hospitais e
maternidades inclui a assistência fisioterapêutica na rotina obstétrica [10].
Este estudo teve como
objetivo avaliar a eficiência de um protocolo fisioterapêutico, aplicado em
gestantes atendidas na Santa Casa de Misericórdia, voltado para a redução do
quadro álgico na primeira fase do trabalho de parto e na humanização do parto vaginal.
Tratou-se de um estudo
controlado aleatorizado por grupamento, com dois braços paralelos, cego e
randomizado. Foram convidadas a participar do estudo as parturientes internadas
na Maternidade da Santa Casa de Misericórdia de Sobral, no período de setembro
a novembro de 2017. Foram incluídas parturientes com idade gestacional entre 37
e 42 semanas, de gestação com feto único, vivo em apresentação cefálica e
apresentando dor com score até 5 na escala de mensuração da dor visual e
analógica (EVA) [11]. As pacientes deveriam ainda estar com indício de parto
via vaginal e na primeira fase do trabalho de parto, atuando de forma ativa,
com dilatação cervical mínima de três centímetros.
Seleção
amostral
Foram considerados para
o cálculo amostral um poder estatístico de 80%, α = 5%, perda amostral de
15% e uma redução da prevalência de queixas e melhora clínica de dor em 20%.
Sendo assim, foram necessárias para realização do estudo 50 parturientes na
primeira fase do parto, sendo alocadas 25 no grupo controle (GC) e 25 no grupo
intervenção (GI).
Randomização
Para a randomização as
intervenções foram realizadas levando em consideração o nível de dor,
utilizando-se para este fim a aplicação da escala EVA. Tanto as participantes
do GC quanto as do GI apresentaram escala de dor 0 a 10. A randomização foi
realizada por sorteio, com uso de números aleatórios para definição dos grupos,
e por um pesquisador não envolvido com a coleta de dados. Envelopes lacrados
foram utilizados. Após a randomização, aplicou-se a escala EVA a fim de
mensurar a intensidade da dor das parturientes. Em seguida, o GC recebeu
orientações e o GI recebeu o atendimento fisioterápico e orientações. Uma hora
após as intervenções aplicou-se, novamente, a EVA.
Cegamento
Devido à natureza da
intervenção utilizada neste estudo, não foi possível cegar as gestantes.
Entretanto, os fisioterapeutas realizaram as intervenções e as avaliações às
cegas. Para testar o cegamento, o pesquisador anotou, após a avaliação dos
desfechos clínicos, sua opinião quanto à percepção do tipo de intervenção
recebida pelas gestantes.
Grupo
controle
As participantes do GC
receberam orientações verbais sobre relaxamento, respiração, dor e parto
vaginal. A orientação funcionou como uma ferramenta motivacional e como placebo
da intervenção.
Grupo de
intervenção
As parturientes do GI
receberam as mesmas orientações verbais que as que ficaram no GC. Além disso,
as parturientes desse grupo realizaram exercícios de respiração, liberação
miofascial, alongamento, exercícios cinético-funcionais e massagem, em sala
preparada, e executada por fisioterapeuta. O protocolo foi baseado na pesquisa
de Lemos [12] e consistiu em:
1) Exercícios
respiratórios: 3 minutos; 3 séries; 10 repetições. Com o objetivo de reduzir a
dor e ansiedade, melhorando os níveis de saturação sanguínea materna de O2,
proporcionando relaxamento e diminuindo a ansiedade. Foi executada cada
respiração ou realizada em conjunto com os exercícios cinéticos funcionais.
2) Exercícios de
liberação diafragmática: 5 minutos – 3 séries. Com o objetivo de liberar as
restrições nos tecidos, permitindo assim uma modulação do tônus muscular o que
facilita a reeducação dos movimentos e diminui a dor.
3) Exercícios de
alongamento: 5 minutos – 3 séries; mantendo cada – 5 segundos. Foram incluídos
os alongamentos de quadrado lombar, oblíquo interno e externo, grande dorsal,
ligamento do útero e exercício de bombeamento dos ligamentos pélvicos (Iliolombar, sacrociático e sacrotuberoso).
Com o objetivo de reduzir as tensões musculares e preparar o corpo para receber
melhor outros exercícios.
4) Exercícios
cinético-funcionais: 3 séries; 10 repetições. Estes movimentos podem ser
realizados na bola suíça e também na posição ortostática,
os dois em posturas simétricas ou assimétricas. Tem o objetivo de ajudar a
preparar o corpo, aliviar o desconforto das contrações durante o trabalho de
parto, proporcionar bem-estar físico, aumento da elasticidade, tornando as
articulações que intervêm no parto mais flexíveis.
5) Massagem
terapêutica: foram realizadas as técnicas de deslizamento superficial e profundo,
movimentos circulares, amassamento, rolamento e petrissage,
cada movimento foi feito com 10 repetições, com o objetivo de relaxamento e
redução da dor.
A intervenção
Fisioterapêutica foi aplicada de acordo com o grupo determinado, uma única vez
em cada participante, e o tempo máximo de intervenção foi de 45 minutos. Após
uma hora do fim da intervenção, as pacientes foram ressubmetidas
à escala EVA.
Riscos e
benefícios
A utilização de métodos
que permitam vencer de maneira natural a dor é benéfica, pois se utiliza
técnicas não farmacológicas no alívio da dor. Nenhuma das estratégias
utilizadas nessa pesquisa são associadas a danos à população estudada.
Aspectos
éticos
O estudo seguiu os
princípios da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, foram
observados os aspectos éticos e legais da pesquisa, que envolve diretamente ou
indiretamente seres humanos de forma individual ou coletiva em sua totalidade
ou a partir deles [13]. O presente estudo foi submetido e aprovado pela
comissão de pesquisa Santa Casa de Misericórdia de Sobral e pelo Comitê de
Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual Vale do
Acaraú, em Sobral/CE, sob o número CAAE 68842017.1.0000.5053, sob o parecer nº
2.264.396.
Análise
estatística
Para a análise
estatística nas alterações do nível de dor identificadas antes e após uma hora
da intervenção, foram utilizadas técnicas estatísticas descritivas e inferências,
através do uso do teste t-Student, do teste qui-quadrado (para tabelas de contingências 2x2), ao nível
de 5% de significância (um valor-p < 0, 5 é um resultado significativo
indicando a decisão de se rejeitar a hipótese nula (Ho), para cada teste aplicado
neste trabalho).
A pesquisa conseguiu
abranger uma população de 50 parturientes, oriundas da cidade de Sobral e
regiões vizinhas, sendo 25 alocadas aleatoriamente no CG e 25 no GI. O relato
sobre as características das dores no primeiro período de trabalho de parto
ocorreu antes das intervenções. A classificação da dor, por grupo, está exposta
na tabela I.
Tabela I - Classificação da dor durante o primeiro período do trabalho de parto em
gestantes atendidas na Santa Casa de Misericórdia de Sobral em 2017, por grupo.
A análise do quesito
escala de dor do GC aponta que a média de dor depois das orientações (6,360 ±
0,1400) foi maior que a média anterior à mesma (4,640 ± 0,09798), sendo
observado um aumento de 1,720 ± 0,1709 entre as médias. Pode-se inferir que a
dor sentida pelas parturientes foi maior após a aplicação das orientações no GC
(p = 0,0001). Ao contrário do que foi observado entre as pacientes do GI, em
que a média da dor depois da intervenção (4,080 ± 0,1993) foi menor que a média
antes da intervenção (4,960 ± 0,0400), com diminuição de 0,8800 ± 0,2033 entre
as médias. Com isso, sugere-se que a intervenção realizada no GI foi capaz de
reduzir as dores relatadas pelas pacientes (p = 0,0001).
Outra variável
comparada entre os grupos controle e intervenção foi a dilatação vaginal. As
parturientes de ambos os grupos tiveram aumento da dilatação depois de passarem
pelas ações (p = 0,0001). Entretanto, as pacientes do GI apresentaram mais
dilatação depois das intervenções (+ 2,440 ± 0,1956) que as do GC (2,000 ±
0,1419) que não realizaram o protocolo fisioterapêutico.
A mesma tendência foi
observada quando comparada a saturação de oxigênio entre os grupos. Houve
aumento da saturação de O2 em ambos os grupos: GC (p = 0,0023) e no GI (p = 0,0001),
sendo a maior diferença observada no GI (+2,360 ± 0,2805) do que no GC (0,6400
± 0,1993).
Vale ressaltar que as
pacientes do GI apresentaram aumento da dilatação vaginal e aumento da
saturação de oxigênio, assim como as pacientes do GC, associado à diminuição da
dor, entretanto, o GI apresentou resultados com maior significância em relação
ao GC.
Quando indagadas sobre
o estado de relaxamento físico e mental após a aplicação do estudo, apenas as
pacientes do GI relataram se sentirem relaxadas, seja em níveis altos (20/80%)
ou moderados (5/20%). Mesmo sendo uma variável de difícil mensuração, houve um
controle visível do estado emocional, da respiração e da musculatura pélvica
após a aplicação do protocolo. Nenhuma gestante do GC relatou estar em estado
de relaxamento.
As abordagens
fisioterapêuticas em equipes de saúde voltada à Ginecologia e Obstetrícia visam
prevenir complicações uroginecológicas e disfunções
músculos esqueléticas, podendo envolver a prevenção, recuperação e tratamento,
assim como auxilia a equipe e a parturiente, durante o trabalho de parto normal
[14].
O parto é temido por
muitas mulheres por estar associado ao mito de dores insuportáveis, por isso
muitas gestantes optam pelo parto cesáreo. Entretanto, há muitos benefícios
associados ao parto normal como a rápida recuperação da mãe e a primeira
colonização da microbiota da pele e mucosas do recém-nascido. Por conta disso,
há o incentivo dos profissionais da saúde para que a futura mãe opte por esse
tipo de parto [15]. Sabe-se que o fisioterapeuta proporciona um suporte físico
e emocional, além de fornecer consciência corporal no processo parturitivo, levando as pacientes optarem pelo parto
normal, por atuarem na redução das percepções dolorosas, bem-estar físico,
redução do medo e da ansiedade [16].
A dor sentida no parto
é uma sinalização para a mudança do ciclo de gravido-puerperal para a fase
resolutiva, que é o parto; ela ainda norteia/determina a tomada de decisão dos
profissionais [9]. A dor na primeira fase do trabalho de parto é de origem
visceral e difusa, proveniente da metrossístoles, que
estimula a dilatação e apagamento do colo. Nesse período, o desconforto é
decorrente das contrações que desencadeiam a dilatação do colo uterino que são
referidos como uma dor em baixo ventre. Os impulsos dolorosos são transmitidos
por fibras sensoriais que caminham juntas com os nervos simpáticos e entram na
medula espinal ao nível de T10, T11, T12 e L1 [17]. Esse conceito embasa os
nossos achados, uma vez que grande parte das gestantes por nós atendidas
ressaltaram dor na região toracolombar.
Uma maneira de medir
quantitativamente a dor é pela escala EVA, que mensura o nível de dor e detecta
as mínimas diferenças entre seus estágios [18]. A técnica pode ser utilizada
durante o tratamento pelo fisioterapeuta, por ser um método rápido, eficaz e de
fácil aplicação e entendimento por parte do paciente [19].
Um estudo realizado em
10 parturientes na primeira fase do trabalho de parto avaliou os efeitos da
abordagem fisioterapêutica sobre a dor propondo um protocolo de intervenção
baseado em EVA [20]. Esse protocolo envolveu técnicas de cinesioterapia,
massoterapia, TENS e técnicas de relaxamento e respiração. No estudo não foram
encontradas evidências estatísticas entre a aplicação do protocolo e a
diminuição da dor nas gestantes. Ao contrário da nossa pesquisa, que mostrou
que o protocolo aqui utilizado foi estatisticamente impactante na diminuição da
dor e melhoria de outros parâmetros, como dilatação vaginal e saturação de O2,
além de melhora qualitativa nos níveis de relaxamento dessas pacientes.
Sugerindo, assim, que as técnicas fisioterapêuticas propostas nessa pesquisa
são mais eficazes e apropriadas para o objetivo proposto.
As
parturientes do GI
do nosso trabalho usufruíram de técnicas não
farmacológicas objetivando
diminuir o quadro álgico, o estresse, a ansiedade,
possibilitando o
relaxamento, prevenindo a hiperventilação, alcalose
respiratória, melhorando a
perfusão placentária e níveis de
saturação sanguínea materna. Métodos
não
farmacológicos, semelhantes aos aqui utilizados, já
são preconizados pelas
comissões de saúde pública de países
desenvolvidos, como a Austrália, visando
algum alívio da dor do parto. De acordo com o departamento de
saúde
australiano, esses métodos, que ainda incluem a acupuntura,
podem reduzir a
ansiedade da parturiente e aumentar o relaxamento e alívio da
dor, além de
reduzir o risco de trauma perineal [21].
Alguns pesquisadores
enfatizam a necessidade de verificar a respiração da parturiente em todos os
posicionamentos, mantendo o padrão fisiológico lento nos momentos de contração.
Quando não obedece a esse padrão a parturiente pode estar com redução de
dióxido de carbono, levando a uma alcalose respiratória, proveniente da
respiração rápida que leva ao aumento da dor e cansaço. Em contrapartida se
tiver uma respiração curta e acelerada pode levar a uma hiperventilação,
aumento da lordose lombar e contração de adutores da coxa [22,23].
O profissional
fisioterapeuta atua aqui instruindo a paciente quanto à percepção e utilização
das musculaturas, mediando-lhe em técnicas respiratórias, estimulando a
respiração abdominal nos intervalos das contrações, proporcionando relaxamento.
Já no momento das contrações, a respiração torácica promove maior expansão no
sentindo lateral, aliviando o fundo do útero e favorecendo maior oxigenação
para mãe e feto [16]. O protocolo aplicado nesse estudo enfatizou a importância
do uso da musculatura diafragmática bem como a realização de uma frequência
respiratória lenta e eficaz para manter as pacientes eupneicas.
Técnicas como
cinesioterapia do assoalho pélvico, estímulo à deambulação, exercícios
respiratórios e relaxamento proporcionam qualidade de vida, alívio álgico,
orientações posturais e para o parto, fazendo que as gestantes obtenham maior
percepção corporal [24]. Entretanto, a utilização da cinesioterapia nas fases
do trabalho de parto ainda gera muitas controvérsias. Alguns autores apontam
como fundamental, pois favorece no tempo de duração do parto e outros afirmam
que não há diferenças significativas [20,25].
Nosso trabalho surge
como uma evidência científica de que a cinesioterapia, em associação a outras
técnicas, tem impacto positivo na diminuição da dor em gestantes na primeira
fase do trabalho de parto. Além disso, as técnicas aqui utilizadas apresentaram
outras vantagens como: baixo custo, fácil aplicação e reprodutibilidade; além
de estimular as parturientes ao desempenho de atividades direcionadas,
contribuindo em sua progressão.
Em associação à cinesiologia, utilizou-se a liberação da fáscia muscular
que proporcionou nas parturientes uma melhora da qualidade respiratória,
sensação de alívio e bem-estar. Essa técnica atua na mobilização muscular e
objetiva aumentar e ampliar o movimento, diminuir a dor e restaurar a normalidade
dos movimentos [26]. Com relação às técnicas de alongamento, foram
observados benefícios semelhantes à liberação miofacial,
estando de acordo ao esperado e relatado na literatura. O alongamento serve
para melhorar o equilíbrio da musculatura dorso-lombar, abdominal e do assoalho
pélvico, bem como exercícios respiratórios, o alongamento também leva ao
relaxamento durante o trabalho de parto [27,28].
Ainda foi incluída a
massagem, por ter como princípio a estimulação sensorial e manipulação dos tecidos,
além de promover a diminuição da sintomatologia respiratória e melhorando o
contato da parturiente com o profissional, ocasionando o relaxamento,
propiciando o aumento do fluxo sanguíneo e uma melhor oxigenação [29].
Pesquisas comprovam que
a aplicação de massagens reduz significativamente a dor do parto. Em uma
pesquisa realizada em São Paulo, primíparas que fizeram uso de massagens
durante as fases de dilatação relataram redução da intensidade da dor nas duas
primeiras fases de dilatação. Os autores da pesquisa afirmam ainda que a
massagem é uma técnica que pode ser usada individual ou associada a outros
métodos em qualquer região corporal [8]. Um estudo randomizado realizado em
Ribeirão Preto também observou que a massagem reduziu a gravidade da dor no
trabalho de parto, entretanto os pesquisadores não observaram mudança de suas
características e localização [30]. Esses relatos reforçam os nossos
resultados, todas as grávidas que foram submetidas às técnicas supracitadas
relataram diminuição da dor, além de se sentirem mais relaxadas.
Embora nenhuma
participante deste estudo estivesse sob efeito de fármacos, é comum a
observação do uso de medicamentos em associação com algumas técnicas
fisioterapêuticas para a diminuição da dor do parto. Um estudo randomizado
realizado com mais de 1800 grávidas australianas observou que o uso desses
fármacos influencia negativamente em diversos aspectos da gestação e
pós-gestação, como a amamentação [31]. Nosso estudo mostrou que apenas os
protocolos fisioterapêuticos são suficientes para a diminuição da dor do parto,
fazendo dispensável o uso de medicamentos pela população aqui estudada, mas
vale salientar que o uso desses medicamentos pode variar de acordo com a saúde
e estado da parturiente.
O desconhecimento da
atuação fisioterapêutica na obstetrícia leva a um baixo número de
encaminhamentos e indicações por parte dos médicos e aumento do desconforto em
todas as etapas do parto vaginal, uma vez que a parturiente deixa de receber
atendimento de suporte e direcionado ao alívio da dor.
Diante do exposto,
infere-se que o protocolo testado neste estudo diminui a dor da gestante na
primeira etapa do parto genital, além de melhorar aspectos associados ao
relaxamento das pacientes como frequência cardíaca, saturação de O2 e a
dilatação do canal vaginal. Além disso, as intervenções fisioterapêuticas aqui
realizadas impactaram positivamente no parto vaginal de grávidas atendidas na
Santa Casa de Misericórdia de Sobral por proporcionarem um parto mais
humanizado, redução do uso de terapias farmacológicas, tempo de parto e os
gastos hospitalares; além de se mostrarem reprodutíveis e de fácil aplicação.