ARTIGO
ORIGINAL
Análise
do equilíbrio e da sensibilidade plantar como preditores
de quedas em idosos de Morrinhos/CE
Analysis of balance and plantar sensitivity as predictors of falls in
elderly at Morrinhos/CE
Renata Oliveira Leorne Dantas*, Giselle Santos Meneses Leorne*,
Leydnaya Maria Souza Wagner*, Guilherme Pertinni de Morais Gouveia, D.Sc.**, Samara Sousa Vasconcelos Gouveia, M.Sc.***
*Bacharelado
em Fisioterapia, **Docente efetivo do Curso de Fisioterapia da Universidade
Federal do Piauí (UFPI), Coordenador do Grupo de Pesquisa em Fisioterapia
Avaliativa e Terapêuticas (GPFAT), ***Docente efetivo do Curso de Fisioterapia
da Universidade Federal do Piauí (UFPI)
Recebido em 14 de
abril de 2018; aceito em 27 de agosto de 2018.
Endereço
de correspondência:
Guilherme Pertinni de Morais Gouveia, Av. São
Sebastião, 2819 Bairro Reis Velloso, 64202-020 Parnaíba PI, E-mail:
gpfatufpi@gmail.com; Renata Oliveira Leorne Dantas:
renataleorne@gmail.com; Leydnaya Maria Souza Wagner:
leydnayasouza@gmail.com; Samara Sousa Vasconcelos Gouveia: samaragouveia@ufpi.edu.br
Resumo
Introdução: As alterações
fisiológicas do processo de envelhecimento estão relacionadas à decadência de
múltiplos sistemas do corpo humano, como a redução de processos sensoriais e
motores, que prejudicam a manutenção do equilíbrio e controle postural,
deixando o idoso suscetível às quedas. Objetivo:
O estudo analisou o equilíbrio e a sensibilidade cutânea plantar como preditores de quedas em idosos de zona rural e urbana de
Morrinhos/CE. Material e métodos: Trata-se de um estudo transversal,
quantitativo, descritivo e analítico, realizado em Morrinhos/CE, no período de
novembro a dezembro de 2012. A amostra contou com 275 idosos com idade ≥
60 anos. Teve como variáveis dados sociodemográficas,
além de dados clínicos como a Escala de Equilíbrio de Berg (EBB) e o Teste de
Sensibilidade. Para a análise estatística realizou-se distribuição da
frequência simples, testes de associação do qui-quadrado
e regressão múltipla. Resultados: Os
resultados demonstraram ocorrência de quedas nos últimos três meses, na sua
maioria em ambientes externos, ocasionando principalmente hematomas e fraturas.
A EEB aplicada isoladamente apresentou índice médio, totalizando 45,48. As
alterações de sensibilidade plantar dos idosos totalizaram respectivamente
(80%) para o pé direito e (68%) para o pé esquerdo, apresentando de 1 a 3
alterações. Entretanto, quando analisado o risco de quedas com a ocorrência de
quedas nos últimos três meses, encontrou-se significância estatística com
p=0,02, no qual apresentou índice de Berg mais baixo. Conclusão: Concluiu-se que ao relacionar a EBB ao teste de
sensibilidade em relação a quedas nos últimos três meses, indica que os idosos
têm predisposição as quedas.
Palavras-chave: idosos, equilíbrio,
sensibilidade, queda.
Abstract
Introduction: Physiological changes of aging are related to the decay of multiple
systems of the human body, such as the reduction of sensory and motor processes,
which affect the maintenance of balance and postural control, leaving the
elderly susceptible to falls. Objective: This study examined the balance and
plantar sensitivity as predictors of falls in the elderly in rural and urban
city of Morrinhos/Ceará, Brasil. Methods:
This was a cross-sectional, quantitative, descriptive and analytical study
conducted in Morrinhos/CE from November to December
2012. The sample consisted of 275 elderly ≥ 60 years. The variables
included sociodemographic variables, clinical issues
as the Berg Balance Scale (BBS) and Sensitivity Test. Statistical analysis was
performed by simple frequency distribution, association tests, chi-square and
multiple regression. Results: The results demonstrated the occurrence of falls in the
past three months, mostly in external environments, mainly causing hematomas
and fractures. The BBS applied alone presented a median index, totaling 45.48.
The changes in plantar sensitivity of the elderly totaled 80% for the right
foot and 68% for the left foot, with 1 to 3 changes. However, when analyzing
the risk of falls with falls in the last three months, statistical significance
was found at p = 0.02, in which the lowest Berg index was found. Conclusion: When the Berg Balance Scale
is related to the sensitivity test in relation to falls in the last three
months, it indicates that the elderly are predisposed to falls.
Key-words: elderly,
balance, sensitivity, fall.
O envelhecimento é
caracterizado como um fenômeno natural e fisiológico do ciclo de vida [1]. O
mundo está passando por uma transição no que diz respeito à classificação
etária. Segundo Silva [2], estima-se que até 2025, os países em desenvolvimento
sofram um aumento de 200% da população idosa.
De acordo com Aires, Paskulin e Morais [3], em 2050, 16% da população brasileira
será constituída por idosos. Este fato fará do Brasil, o sexto país com maior
população idosa do mundo. Segundo Silva et al. [4] esse
acréscimo elevado do número de idosos no Brasil, deve-se aos céleres aumentos
da população adulta e jovem. Além disso, a diminuição da taxa de mortalidade,
queda da fecundidade e o crescente aumento da expectativa de vida contribuem
para o processo do envelhecimento [5].
O IBGE [6] indica que
o Nordeste apresentou acréscimos significativos nos índices relacionados à
população idosa, aumentando de 5,1% em 1991 para 7,2% em 2010. O Ceará, de
acordo com Sales, Barbosa e Oliveira [7], entre 1998 e 2008, obteve um
acréscimo de quase 300 mil indivíduos na terceira idade. Em Morrinhos, cidade
da Região Norte do Estado, houve um aumento de 363 idosos na população entre
2006 e 2010 [8], representando uma elevação de 20% ao longo desse período. Em
consequência desse crescimento rápido e iminente do número de idosos, novas
demandas de saúde passam a surgir [2]. Diante disso, faz-se necessária a
obtenção de conhecimentos prévios sobre o idoso e a senescência (processo
natural do envelhecimento), visando uma melhoria na qualidade de vida dessa
população.
Conforme a
Organização das Nações Unidas [9] nos países desenvolvidos, classificam-se como
idosas pessoas com idade a partir de 65 anos, já nos subdesenvolvidos, devido à
baixa expectativa de vida, considera-se a idade de 60 anos.
O processo de
envelhecimento é definido por cancela [9] como um processo natural, provocado
por uma diminuição progressiva das reservas funcionais dos indivíduos.
As alterações
fisiológicas do processo de envelhecimento estão relacionadas à decadência de
múltiplos sistemas do corpo humano, dentre eles a redução de processos
sensoriais e motores, que diminuem a capacidade compensatória do sistema,
prejudicam e atrapalham na manutenção do equilíbrio e do controle postural no
idoso [10,11]. Segundo Bretan [12], os receptores
cutâneos plantares são de suma importância para a estabilização corporal, já
que dependem de mecanoreceptores
que ajudam na
manutenção do equilíbrio e da
posição ortostática. A redução
desses receptores
ocasionados pela alteração de sensibilidade na
região plantar devido ao
processo natural do envelhecimento, pode gerar déficits de
capacidade do idoso
em obter e processar informações vindas do corpo e do
ambiente, deixando-o
susceptível às quedas.
As quedas podem
causar implicações diretas ou indiretas na vida nos idosos, sendo uma das
principais causas de danos à autonomia e a independência destes indivíduos,
levando a lesões em tecidos moles, fraturas, hospitalização, restrições
prolongadas ao leito, risco frequentes a doenças, incapacidades na realização
das atividades instrumentais da vida diária, fator que reduz consequentemente
sua independência, autonomia e qualidade de vida, favorecendo a síndrome da
imobilidade, institucionalização ou até mesmo a morte [13-15].
No Brasil, cerca de
30% dos idosos caem pelo menos uma vez por ano em decorrência do processo de
envelhecimento [16]. Este problema é reflexo de danos ao equilíbrio postural,
ocasionados por complicações do sistema osteoarticular
e/ou neurológico, ou por algum fator adverso que altere indiretamente os
mecanismos do equilíbrio e da estabilidade, sendo esta considerada um fator de
alerta [17].
Sendo assim, diversos
modelos de instrumentos foram e estão sendo criados para que os profissionais
da saúde possam detectar precocemente os idosos que apresentam maior risco de
quedas. Entre os principais testes pode-se destacar a Escala de Equilíbrio de
Berg (EEB), que tem como objetivo analisar a ocorrência de quedas em idosos em
diferentes ações cotidianas [18].
Em relação aos testes
que investigam o limiar de sensibilidade plantar, pode-se destacar o teste
realizado com monofilamentos de nylon de Semmes-Weinstein. De acordo com Moreira e Escarabel [19], esse teste objetiva avaliar e quantificar o
limiar de percepção do tato e as sensações do pé.
Baseado nessa questão
viu-se que seria essencial a utilização de um estudo para medir funcionalmente
o equilíbrio e avaliar o limiar de percepção do tato e sensação de pressão
profunda do pé dos idosos, uma vez que estas podem estar diretamente
interligadas a quedas. Utilizou-se a Escala de Equilíbrio de Berg (EEB)
associada ao teste de sensibilidade através de monofilamentos
de Semmes-Weinstein para comparar possíveis
correlações.
Desta forma, este estudo
objetivou analisar o equilíbrio e a sensibilidade cutânea plantar como preditores de quedas em idosos de zona rural e urbana de
Morrinhos/CE.
A pesquisa tratou-se
de um estudo transversal, descritivo analítico, de abordagem quantitativa, e
contemplou uma população de idosos residentes no município de Morrinhos/CE,
zona norte do Ceará, no período de novembro a dezembro de 2012.
O estudo
constituiu-se de uma amostra do tipo probabilística estratificada aleatória de
acordo com os centros de saúde da família. Para cálculo do tamanho amostral
considerou-se os seguintes parâmetros: tamanho da população (N= 2181) [8]
prevalência de capacidade funcional inadequada de 30% [20], erro igual a cinco
pontos percentuais e intervalo de confiança de 95% (IC95%). O tamanho da
amostra obtido (n=180) foi corrigido em 1,2 devido ao efeito do desenho e
acrescido 25% devido às eventuais perdas e/ou recusas, totalizando 275
indivíduos [21].
As variáveis contidas
no presente estudo sociodemográficas foram: idade;
sexo; raça/cor; estado civil; composição familiar; número de filhos;
escolaridade; ocupação; renda individual; renda familiar e bairro de
residência, e clínicas como: Mini Exame do Estado Mental-MEEM; Escore da Escala
de Equilíbrio de Berg; Teste de Sensibilidade por meio de Monofilamento
de nylon de Semmes-Weinstein.
Foram adotados como
critérios de inclusão: ser morador na zona urbana ou rural do município de
Morrinhos; ter idade igual ou superior a 60 anos; ter condições cognitivas e
verbais de forma a viabilizar o diálogo, essencial para o preenchimento dos
instrumentos de coleta de dados e concordar em participar da pesquisa, através
da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.
Foram excluídos da
pesquisa os pacientes que apresentaram problemas ortopédicos de extremidade
inferior, doença que impede a deambulação, assim como ferimentos abertos ou
fechados, necrose tecidual em pelo menos 3 ou mais
pontos da região plantar, edema de membros, grande dificuldade visual, acidente
vascular encefálico recente e ataque isquêmico transitório assim como uso de
bebida alcoólica, ou obtiveram escore do Mini Exame do Estado Mental abaixo de
19 pontos [5]; e ainda os que faziam uso de medicamentos do tipo: benzodiazepínicos
por serem capazes de induzir efeitos cerebelares e efeitos psicomotores [22];
antidepressivos tricíclicos por causar efeitos colaterais no sistema nervoso
e/ou motor, tais como sedação, rigidez muscular, hipotensão postural, confusão
mental, dentre outros; antiepilépticos por poderem induzir os seguintes
efeitos: tontura, ataxia, dentre outros; antipsicóticos
típicos podem gerar sintomas extrapiramidais e hipotensão ortostática [23] ou
ainda recusar-se da pesquisa ou retirar seu consentimento
Para a coleta de
dados foi aplicada a Escala de equilíbrio de Berg que tem como objetivo avaliar
o equilíbrio e a predição de quedas em indivíduos idosos institucionalizados ou
em comunidade em 14 situações cotidianas. A pontuação máxima que cada indivíduo
poderá alcançar é de 56 pontos e cada item possui uma escala com variação de 0
a 4 pontos (sendo composta por 5 alternativas). De
acordo com Berg et al. [24], escore total menor que 45
é preditivo de múltiplas quedas em idosos.
O material utilizado
para a execução da escala é composto por: cronômetro (com ponteiro de
segundos), cadeira, maca, banco e régua (em centímetros). Sua realização é em
média 20 minutos [25]. Logo após foi aplicado o teste de sensibilidade plantar
realizado através de monofilamento de Semmes-Weinstein que teve como objetivo avaliar e
quantificar o limiar de percepção do tato e sensação de pressão profunda do pé,
fornecendo a pressão equivalente ao peso, que varia entre 0,05g a 300g. Assim,
são produzidos estímulos de diferentes intensidades, permitindo verificar a
melhora, piora ou estabilidade da função neural [20]. O material utilizado para
a execução da escala é composto por: Monofilamento de
Nylon de Semmes-Weinstein.
Primeiramente, foi
agendada com o responsável pelo posto de saúde uma data para seleção dos
idosos, seguida da explanação da pesquisa, concomitantemente o convite para
participação e leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e sua
assinatura, logo após seguida da avaliação que se
constituía de anamnese e o Mini Exame do Estado Mental (MEEM). A amostra foi
determinada a partir da análise dos dados do questionário supracitado,
relacionando-o com os critérios de inclusão e exclusão. Após o procedimento foi
realizado o questionário sociodemográfico, o teste de
sensibilidade e por fim a escala de equilíbrio de Berg.
Os dados foram
digitados em um banco de dados utilizando o programa Epi
Info (versão 6.04d, Centers for Disease Control and Prevention, EUA). A
análise dos dados foi realizada através do software Stata
(versão 10; College Station, USA).
Para a análise
estatística realizou-se a distribuição da frequência simples e o teste do qui-quadrado [26], em que as variáveis bivariadas e
multivariadas com p<0,20 foram selecionadas para o modelo final, como
potenciais fatores de confundimento. As variáveis
foram introduzidas no modelo múltiplo conforme sua significância estatística,
uma a uma, respeitando os blocos de variáveis: socioeconômicas, demográficas,
equilíbrio de Berg, e alteração de sensibilidade. Estas variáveis permanecerão
no modelo múltiplo quando continuarem significativas com p ≤ 0,05 ou
quando se ajustarem ao modelo [27]. Houve significância estatística quando o
valor de p obtido for ≤ 0,05.
Este estudo foi autorizado
pela Secretária de Saúde do Município de Morrinhos/CE e aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade do Vale do Acaraú (UVA),
Sobral/CE, sobre o parecer 151.139 sendo segmentado de acordo com a Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde para Pesquisa em Seres Humanos (Brasil,
1996) e todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e
esclarecido.
Esta pesquisa não
trouxe riscos físicos, psíquicos ou sociais aos participantes e tem como benefício
o conhecimento de variáveis que poderão beneficiar em caráter estritamente
científico, visando contribuir na formação e difusão do conhecimento.
Participaram do
estudo 275 idosos, com idade média de 70 ± 8 anos, mediana de 77 anos. A
maioria era do sexo feminino (61,5%), branca (36,4%), casada (70,5%) e com
nível de escolaridade fundamental incompleto (44,7%). A maior parte dos
participantes era proveniente da zona urbana (71,3%), não fumantes, não
etilistas e não praticavam atividade física, com 70,9%, 88,4% e 54,9%,
respectivamente e possuía média de nove filhos. A tabela I apresenta uma
descrição detalhada dessas características.
Tabela
I – Características socioeconômica e demográfica
dos idosos residentes em Morrinhos, no período de novembro a dezembro de 2012.
Fonte: dados da
pesquisa
Quanto à ocorrência
de quedas, 83,6% dos idosos relataram ter sofrido no mínimo uma queda no último
ano, uma vez que apresentaram desequilíbrio para caminhar (51,3%) assim como
alterações visuais (uso de óculos) (83,3%), conforme a tabela II.
Tabela
II –
Variáveis relacionadas ao perfil clínico
de idosos residentes em Morrinhos, no período de novembro a dezembro de 2012.
Fonte: Dados da
pesquisa.
Em relação à
ocorrência de quedas, 14,5 % dos entrevistados relataram ter sofrido pelo menos
uma queda nos últimos três meses. Ao questioná-los sobre o local da ocorrência
da queda, 41,1% relataram ter sofrido na rua, tendo como principal consequência
hematomas (34,2%), seguido de fraturas (22,5%). Estas variáveis encontram-se
detalhadas na tabela III:
Tabela
III
– Variáveis relacionadas à ocorrência de
quedas em idosos do município de Morrinhos, no período novembro a dezembro de
2012.
Fonte: Dados da
pesquisa.
Quando analisado o
risco de quedas entre os idosos residentes de Morrinhos, encontrou-se que os
mesmos apresentavam um índice de Berg médio de 45,48. Em relação ao número de
alterações de sensibilidade plantar, 80% dos idosos relataram de 1 a 3
alterações no pé direito, enquanto que 68% apresentaram alterações sensitivas
no pé esquerdo (figura 1).
Fonte: Dados da
pesquisa.
Figura
1 - Caracterização das alterações sensitivas nos
pés dos idosos residentes em Morrinhos, no ano de 2012.
Na presente
investigação encontrou-se que os números de indivíduos apresentaram um índice
de Berg médio de 45,48. Segundo Berg et al.[24], o
escore total menor que 45 preditivos de múltiplas quedas em idosos. Fator este
que condiz que os idosos em questão não estão sujeitos a eventuais quedas.
Quando analisado o
risco de quedas com a ocorrência de quedas nos últimos três meses, encontrou-se
significância estatística com p=0,02, podendo assim afirmar que os idosos que
apresentaram queda nos últimos três meses apresentaram um índice de Berg mais
baixo (tabela IV).
Tabela
IV -
Relação do risco de quedas com a
ocorrência de quedas em idosos do Município de Morrinhos, no período de
novembro a dezembro de 2012.
*Para análise
estatística utilizou-se o teste Qui-quadrado, no qual
houve significância estatística quando o valor de p ≤ 0,05; Fonte: Dados
da pesquisa.
A Tabela IV mostra
que houve resultados estatisticamente significativos quando analisada a ocorrência
de quedas nos últimos três meses, significância estatística com p=0,02, podendo
assim afirmar que os idosos que apresentaram um índice de Berg mais baixo
sofreram quedas nos últimos três meses.
Estes resultados vão
de encontro com a associação significativa encontrada no estudo de Bretan, Pinheiro e Corrente [12] no qual os autores relatam
que as queixa de queda e as perdas da sensibilidade cutânea divergem de estudos
que mostra que alteração da Escala de Equilíbrio de Berg e queixa de equilíbrio
em conjunto são preditores de queda.
As características
socioeconômicas e demográficas dos entrevistados nesta pesquisa vão de encontro
com outros estudos que tratam da saúde dos idosos, onde se destaca o predomínio
do sexo feminino, o fato de possuir cônjuge e o baixo nível de escolaridade
[28]. Este último reflete uma das causas de desigualdade social no país, tendo
em vista que o analfabetismo, por si só, pode ser considerado um fator de
restrição para a qualidade de vida do indivíduo. A disparidade do nível de
escolaridade, entre os sexos, é reflexo da visão
social que havia passado, uma vez que o acesso a escola para as mulheres e os
mais pobres era restrito [29].
De acordo com Aires, Paskulin e Morais [3] outro fator é a dificuldade de acesso
à escola fora dos grandes centros urbanos, visto que na região rural houve
maior número de analfabetos, ou com fundamental incompleto. Os autores fazem
referência a um estudo realizado em Portugal, que evidenciou resultados
semelhantes ao comparar os idosos das regiões rurais e urbanas. Foi
identificado, com diferença significativa, que a maioria dos idosos da área
rural não era alfabetizada, enquanto na região urbana tinha o ensino
fundamental [29].
Em relação ao
tabagismo e etilismo, o estudo apontou que a maioria dos idosos respondeu que
não fuma e nem bebe. Entre aqueles com declínio cognitivo, os números não foram
relevantes. Isso pode ser destacado no estudo de Miranda et
al. [32] como um ponto positivo, tendo em vista que o fumo acelera a perda da
densidade óssea, da força muscular e da função respiratória, além de interferir
no efeito de alguns medicamentos. O consumo de álcool, nos idosos, também pode
aumentar as chances de desnutrição, enfermidades hepáticas, gástricas e
pancreáticas, além de elevar o risco de quedas.
Vale ressaltar também
que a maioria dos idosos envolvidos na pesquisa não pratica atividade física.
Miranda et al. [32] afirmam que o sedentarismo na
terceira idade é um fator que contribui para a deterioração do controle
postural. Devido a isso, se faz importante a pratica de exercícios físicos,
tendo em vista que ajudam a minimizar as alterações do processo de
envelhecimento, contribuindo para a manutenção da capacidade funcional e
garantindo melhor qualidade de vida aos idosos
Algo que tem sido
investigado com maior ênfase é a marcha em idosos, haja vista que ela é
essencial para autonomia e qualidade de vida destes indivíduos. Alguns fatores
como o processo de envelhecimento e disfunções na locomoção e no sistema
sensorial pode contribuir para a instabilidade e ocorrência de quedas, já que
podem afetar diretamente a marcha dessa população. Para compensar esses
efeitos, os idosos fazem uso de mecanismos a fim de manter a postura adequada e
uma marcha funcional, tais como: alargamento da base de suporte, diminuição do
comprimento e altura do passo e a redução da velocidade da marcha. Este fato
faz com que o idoso fique mais vulnerável a tropeços e quedas, sendo necessário
o uso de órteses de apoio [33].
Apesar disso, nesta
pesquisa 94,9% dos idosos afirmaram não utilizar nenhum tipo de órteses, sendo
somente 5,1% o percentual que aderiu a essa opção. Sendo assim, o estudo
corrobora os estudos de Ramos et al. [34] no
qual afirmaram que 35,9% dos idosos não utilizam nenhum equipamento de apoio,
enquanto 33,3% afirmaram que necessitam da ajuda de equipamento, mesmo tendo
uma marcha segura. Em relação às quedas, este estudo apontou que 83,6% sofreram
queda pelo menos uma vez durante o ano. Segundo Machado et
al. [29], essas informações podem ser úteis para planejamento de programas de
prevenção de quedas para os idosos.
Nesta pesquisa, 70,5%
dos idosos revelou que utilizam algum tipo de medicamentos. Segundo Siqueira, Facchini e Piccini [33] o uso de
medicamentos aumenta o risco de quedas, entretanto seu uso se faz por real
necessidade dos idosos.
O estudo indicou que
diversas patologias e alterações associadas estão presentes na vida dos
entrevistados, tendo maior predominância as alterações visuais, seguido por
hipertensão e diabetes. Segundo Miranda, Mota e Borges [32] esse fato é
ocasionado pelo envelhecimento. O autor afirma que este processo vem aliado a
diversas alterações em nível funcional, sensorial e motor, interferindo na
postura e no equilíbrio. Ramos et al. [34] afirmam que
a hipertensão pode manifestar-se entre os idosos e sua incidência vem
aumentando devido ao envelhecimento, gerando predisposição para acidente
vascular cerebral. O diabetes, segundo os autores, pode ocasionar alterações,
como a hiper ou hipoglicemia, podendo resultar em
provável aumento no número de quedas.
Em pesquisas gerontológicas a autoavaliação da
saúde é um dos indicadores mais consistentes, pois reflete a mortalidade e
declínio funcional, além de oferecer uma percepção das dimensões biológicas,
psicossocial e social do indivíduo [32]. Em relação a essa autoavaliação,
no presente estudo, a maioria dos entrevistados considera sua saúde razoável
(41%), seguida por boa (38,8%), muito boa (11,5%), ruim (6,8%) e muito ruim
(0,7%). Apesar dos idosos apresentarem sua autoavaliação
de razoável a boa, a prevalência de quedas nestes idosos nos últimos três meses
está em 14,5%. Segundo Pimentel e Scheicher [16], a
média de incidência de queda é de uma ao ano.
De acordo com Toledo
e Barela [15], as quedas podem prejudicar a autonomia
e independência dos idosos, além de ocasionar lesões, fraturas, hospitalização
e até torná-lo incapaz, fator que afeta sua qualidade de vida, favorecendo o
surgimento de síndromes ou até mesmo a morte. A presente pesquisa vai de
encontro àquela citação, onde 34,2% dos idosos sofreram hematomas e 22,5%
registraram fraturas.
O presente estudo
evidenciou que 41,1% dos idosos sofreram quedas na rua, ao passo que 34,2%
declararam ter sofrido o incidente dentro de sua residência. Para complementar
o que foi dito, um estudo realizado por Ribeiro et al. [35] afirma que idosos com idade menor que 75 anos tem maiores
chances de cair em ambientes externos, ao passo que, aqueles com mais de 75
anos caem mais no interior de suas próprias residências.
Entretanto os
participantes apresentaram alteração sensitiva cutânea plantar de membros
inferiores, 80% dos idosos apresentaram alterações sensitivas de 1 a 3
alterações no pé direito, enquanto que 68% apresentaram alterações sensitivas
no pé esquerdo. Os resultados podem ser justificados através da afirmação de
Toledo e Barela [15] na qual as alterações sensoriais
e motoras podem decorrer do processo de envelhecimento. Fortaleza et al. [36] complementaram, ao afirmar que a perda da
sensibilidade afeta a vida do paciente, tendo em vista que reduz as aferências para o sistema de controle motor, contribuindo
para perda do equilíbrio, com alterações na marcha e na postura ocasionando as
quedas.
Devido ao processo de
envelhecimento, é natural que o indivíduo sofra diminuição dos receptores
plantares, o que acaba por gerar déficits de capacidade do idoso em obter e
processar informações vindas do corpo e do ambiente, deixando-os susceptíveis a
riscos de quedas.
Diante disso, surge à
necessidade de frequentes estudos e análises a fim de desenvolver programas de
prevenção às quedas e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida e
autonomia do idoso.
O estudo realizado
focou na análise do equilíbrio e a sensibilidade cutânea plantar
como preditores de queda utilizando a EEB e o teste
de sensibilidade plantar através de monofilamentos de
Semmes-Weinstein, respectivamente.
Verificou-se que
houve um perfil com predomínio da zona urbana, sexo feminino, pessoas casadas,
sedentárias, idade média de 77 anos e com sua maior proporção com ensino
fundamental incompleto, não fumante e não etilista. Grande maioria declarou ter
sofrido no mínimo uma queda no último ano, uma vez que apresentaram desequilíbrio
para caminhar. Uma pequena minoria declarou quedas nos últimos três meses
ocorridos na rua, relacionadas a hematomas e fraturas. Quando analisado o risco
de quedas entre os idosos, encontrou-se que os mesmos apresentavam um índice de
Berg médio, porém os idosos apresentam alterações sensitivas de membros
inferiores.
O estudo atingiu seus
objetivos após ser analisado o risco de quedas com a ocorrência de incidentes
nos últimos três meses, no qual se encontrou significância estatística, podendo
assim afirmar que os idosos que apresentaram um índice de Berg mais baixo,
sofreram quedas nos últimos três meses.
Ao final,
comprovou-se que a EBB, se analisada isoladamente, não apresenta risco de
queda, contudo quando correlacionada ao teste de sensibilidade em relação à
queda nos últimos três meses, indica que os idosos têm predisposição a
eventuais quedas, respondendo a problemática da pesquisa.
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