ARTIGO
ORIGINAL
Impacto
da gestação na postura e função pulmonar de mulheres do quarto ao nono mês
gestacional
Impact
of gestation on the posture and pulmonary function of women from the fourth to
the ninth gestational month
Lauana Maria de Oliveira
Gonçalves, Ft.*, Leydnaya Maria Souza, Ft.*,
Guilherme Pertinni de Morais Gouveia, D.Sc.**
*Universidade
Federal do Piauí, **Docente efetivo do Curso de Fisioterapia da Universidade
Federal do Piauí (UFPI)
Recebido em 14 de abril
de 2018; aceito em 8 de agosto de 2019.
Correspondência: Guilherme Pertinni de Morais Gouveia, Av. São Sebastião, 2819 Bairro
Reis Velloso 64202-020 Parnaíba PI
Guilherme Pertinni de Morais Gouveia:gpfatufpi@gmail.com
Lauana Maria de Oliveira
Gonçalves: lauanaoliveirag@hotmail.com
Leydnaya Maria Souza:
leydnayasouza@gmail.com
Resumo
O objetivo deste estudo
foi avaliar as alterações posturais e a função pulmonar oriundas do quarto ao
nono mês gestacional de mulheres em Parnaíba/PI, por meio da biofotogrametria, nas posições: anterior, posterior, perfil
direito e perfil esquerdo. Foram avaliadas 11 gestantes, recrutadas de uma
Unidade Básica e da Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Federal do
Piauí, com confirmação de gravidez por meio de βHCG e com idade média de
23,55 anos, sendo a sua maioria (54,5%) primíparas, estando entre a 17 e 38
semanas de gestação. Quanto à função pulmonar encontrou-se uma redução
significativa do pico de fluxo de aproximadamente 100 l/min, da força muscular
inspiratória de – 21,59 cmH2O e da expiratória de 39,41 cmH2O.
Quanto à postura, encontrou-se projeção do centro de gravidade no plano frontal
(-0,50) e no plano sagital (4,49). Portanto, pode-se concluir que gestantes
primíparas jovens apresentaram redução do fluxo expiratório e forças musculares
respiratórias, bem como gestantes que apresentaram alterações posturais como
desequilíbrios à esquerda e para frente, como também aumento da curvatura
lombar e outras alterações corporais.
Palavras-chave: postura, gestantes, biofotogrametria.
Abstract
The
aim of this study was to evaluate postural changes from the fourth to the ninth
gestational month of women in Parnaíba/PI, through biophotogrammetry, in the positions: anterior, posterior,
right profile and left profile. Eleven pregnant women were recruited from a
Basic Unit and from the Clinical School of Physiotherapy of the Federal
University of Piauí, with confirmation of pregnancy
by means of βHCG and with a mean age of 23.55 years, most of them (54.5%),
primiparous, being between the 17 and 38 weeks of gestation. Regarding
pulmonary function, a significant reduction in peak flow of approximately 100 l/min,
inspiratory muscle strength of - 21.59 cmH2O and expiratory flow of
39.41 cmH2O was found. Therefore, it is possible to conclude that
young primiparous women presented reduced expiratory flow and respiratory
muscle strength, as well as pregnant women who presented postural alterations
such as left and right imbalances, increased lumbar curvature and other body
changes.
Key-words: posture,
pregnant women, biophogrammetry.
A maternidade faz parte
do ciclo de vida da mulher, sendo um marco do seu desenvolvimento psicológico.
A gravidez exige a reestruturação e o reajuste de sua vida, tanto em primíparas
(mães pela primeira vez) como em multíparas (mães que já passaram por gestações
anteriores), com o propósito que essa experiência ocorra de modo saudável tanto
para mãe quanto para o bebê [1].
A gravidez compreende
um processo fisiológico natural no qual acontece uma sequência de adaptações no
corpo da mulher a partir da fertilização, e para o seu desenvolvimento é
necessário que ocorram profundas e ágeis transformações. Para Ferreira [2], a
gestação distingue-se por muitos ajustes fisiológicos e motores direcionados à
criação de um ambiente ideal para o crescimento fetal.
No início da gestação
as náuseas e os vômitos são os sintomas mais comuns. Já o segundo trimestre é
considerado o mais estável no sentido emocional, é quando a gestante começa a
sentir os primeiros movimentos fetais. O desempenho sexual e o desejo da mulher
tendem a ser alterados. E no terceiro trimestre a ansiedade aumenta com a
proximidade do parto e a expectativa de mudança de rotina de vida após a
chegada do bebê [3].
Inúmeras alterações
imunológicas, bioquímicas e hemodinâmicas acontecem durante este período e
estão relacionadas principalmente ao aumento na secreção de hormônios sexuais e
ao desenvolvimento do feto [4]. Alguns exemplos dessas modificações são: o
constante crescimento do útero, o aumento no peso corporal e no tamanho das
mamas, os quais estão diretamente ligados ao deslocamento do centro de
gravidade para cima e para frente, podendo acentuar e promover uma anteversão pélvica e um consequente desequilíbrio. Além
disso, há um aumento da hiperlordose lombar causada, de forma que a base de
sustentação seja aumentada e também modificações nos padrões de marcha e
equilíbrio [5].
Ribas et al. [6] citam que o aumento da carga
e o desequilíbrio no sistema articular devido ao aumento da massa corpórea
influenciam na biomecânica da postura, aumentando o risco de quedas. Ressalta
ainda que são mais comuns os desconfortos na coluna e nos membros inferiores,
podendo levar a uma posição imperfeita dos pés, mudanças na marcha e, até
mesmo, impotência funcional para alguns movimentos. As alterações posturais
podem acarretar disfunções e algias, em razão do
crescimento uterino e o consequente deslocamento do centro de gravidade que
modifica o eixo crânio caudal, ocasionando alterações posturais significativas
ao longo da gestação, interferindo na saúde e qualidade de vida materno-fetal
[7].
A região lombar acentua
sua curvatura, tendo como consequência a modificação da posição do sacro,
deixando-o mais horizontalizado em relação à pelve. Também ocorre o aumento da
cifose torácica para compensar o crescimento das mamas, o estiramento dos
músculos abdominais, que perdem sua ação estabilizadora da pelve e o
tensionamento da musculatura paravertebral [8].
Nos últimos meses do
período gestacional, as mulheres tendem a projetar os ombros para frente,
arqueando mais que o normal a curvatura da coluna, para encontrar um equilíbrio
postural. Os ombros ficam arredondados, com protusão escapular e rotação
interna dos membros inferiores, em virtude do crescimento da mama e do
posicionamento para os cuidados do bebê após o parto [8]. Em algumas mulheres,
essas limitações podem causar dor e limitação em suas atividades diárias [9].
As inúmeras adaptações
no trato respiratório durante a gravidez são significativas. Em fases avançadas
no período gestacional, a fisiologia respiratória pode ser gravemente afetada
por doenças pulmonares agudas e crônicas [10]. Assim observa-se no final da
gestação uma diminuição da respiração abdominal e um favorecimento do padrão
torácico, explicitado pelas modificações na posição diafragmática, na nova estrutura
da configuração da parede torácica e na alteração da força dos músculos
respiratórios, caracterizando um aumento gradual da pressão abdominal,
repercutindo em colapso das vias aéreas de pequeno calibre instaladas nas bases
pulmonares e resultando em piora da relação ventilação/perfusão podendo
ocasionar quadros de dispneia [11].
Dessa maneira, a
fisioterapia apresenta-se como uma alternativa eficaz de abordagem cinético
funcional das alterações músculo esqueléticas e respiratórias impostas pela
gestação, dispondo de métodos quantitativos de avaliação postural fidedignos,
como passo para a prescrição e execução de protocolo de tratamento eficaz, na
busca da saúde materno-fetal, devendo tal intervenção ser iniciada
precocemente, respeitando cada fase gestacional, de maneira a ajudar a gestante
a ajustar-se às mudanças físicas impostas e, assim, minimizar o estresse, os
desconfortos e possíveis quadros patológicos [12].
Considerando-se o
grande número de mulheres com queixas de desconfortos e algias
oriundos da gestação e pela escassez de estudos em Parnaíba sobre as alterações
causadas pela gestação, faz-se necessário o acesso a publicações que tenham
informações sobre essa temática. Portanto, despertou interesse em avaliar
gestantes para apontar como essas alterações irão impactar no seu bem-estar
físico, psíquico e social; visando assim uma gravidez mais tranquila tanto para
mãe quanto para o bebê.
Assim sendo, o objetivo
deste estudo foi avaliar as alterações posturais e pulmonares, oriundas do
período gestacional (quarto ao nono mês) de mulheres em Parnaíba/PI.
Tratou-se de um estudo
longitudinal, observacional, inferencial, de abordagem quantitativa, o projeto
foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal do Piauí com parecer n. 2.734.047. A pesquisa foi realizada no LaFAT (Laboratório de Fisioterapia Avaliativa e
Terapêuticas) e no setor da clínica escola de Fisioterapia da Universidade
Federal do Piauí, localizada na Avenida São Sebastião, 2819, Bairro Reis
Veloso, Parnaíba/PI.
A escolha desse local
deu-se por ser um setor de referência no atendimento de obstetrícia da cidade,
apresentando condições adequadas para a execução da pesquisa, que ocorrera no
período de agosto a dezembro de 2016. A pesquisa contemplou 11 gestantes adscritas nos postos de saúde da família de Parnaíba. A
amostra foi do tipo por conveniência. A pesquisa contemplou gestantes na faixa
etária de 18 a 35 anos, independentemente do número de gestações (primípara ou
multípara) com confirmação de gravidez por meio de βHCG quantitativo
compatível com no mínimo oito semanas e que concordaram em participar da
pesquisa por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE).
Foram excluídas da
pesquisa as gestantes que apresentaram transtorno psiquiátrico, ferimentos
abertos, infecção urinária, placenta prévia, suspeita de pré-eclampsia,
prolapso e/ou incontinência urinária antes da gestação, fraturas ou desordens traumato-ortopédicas que alterassem a postura bípede, as
que retiraram seu consentimento ou que faltaram por três vezes à avaliação. A
avaliação postural das gestantes foi realizada por meio da biofotogrametria,
e as gestantes estavam vestidas com roupas confortáveis (short de lycra preto e
top ou calcinha e sutiã, como preferissem); nas posições: anterior, posterior,
perfil esquerdo e perfil direito; segundo o protocolo descrito por Souza et al. [13].
A avaliação pulmonar
foi feita através da medida do pico de fluxo expiratório, por meio de um
medidor portátil (Peak Flow), que
avalia a capacidade de pico de fluxo do paciente. O teste foi feito com as
gestantes sentadas em uma cadeira, partindo da realização de uma inspiração
máxima seguida por uma expiração forçada máxima, curta e explosiva, através do
dispositivo de medida. Também foi realizada a manovacuometria,
para mensuração da força da musculatura inspiratória (Pimáx)
e a força da musculatura expiratória (Pemáx),
determinada pela pressão negativa e positiva. O teste para Pimáx
foi realizado com o aparelho manovacuômetro, com a
gestante na posição sentada, com o tronco a 90º, sem o clipe nasal e foi
orientada a realizar uma expiração até alcançar o volume residual, conectar o
bocal do aparelho em sua boca e então realizar uma inspiração máxima. Para o
teste de Pemáx a gestante permaneceu na mesma posição
descrita acima, sendo orientada a realizar uma inspiração até alcançar a
capacidade pulmonar total, conectar o bocal do aparelho em sua boca e realizar
uma expiração máxima.
Foram realizadas três
repetições em cada variável dos testes e as três aceitáveis. De cada manobra
anotou-se o resultado para, no final da avaliação, considerar o maior valor
alcançado para a avaliação. Os dados foram digitados em um banco de dados
utilizando o programa Epi Info (versão 6.04d, Centers for Disease Control
and Prevention, EUA). A
análise dos dados foi realizada pelo software SPSS (versão 20.0).
A análise inicial foi
realizada através da estatística descritiva incluindo tabulações de acordo com
as variáveis selecionadas. Para a análise estatística, foi realizada a
verificação de normalidade dos dados e a distribuição de frequência simples das
variáveis de interesse do estudo. Posteriormente os resultados foram apresentados
na forma de gráficos e tabelas.
A pesquisa foi
realizada seguindo princípios éticos da Resolução 466/12 do Conselho Nacional
de Saúde (CNS) [13], respeitando os quatro referenciais básicos da bioética: a
autonomia, não maleficência, beneficência e justiça. Os pesquisadores
realizaram explicações sobre objetivos e os passos da execução da pesquisa
àqueles pacientes que atendessem aos critérios de inclusão do trabalho. Em
seguida, os pacientes que aceitaram participar assinaram o TCLE. Este estudo
trouxe riscos mínimos, entretanto, caso as participantes referissem qualquer
desconforto foi oferecido todo o suporte necessário como encaminhamento à
clínica de Fisioterapia e ao Hospital de referência da cidade.
Foi garantido, às
participantes, sigilo absoluto sobre as informações oferecidas e anonimato, sem
qualquer risco ou prejuízo as suas atividades, bem como o direito de desistir
de participar da pesquisa a qualquer momento. Também não houve bônus nem ônus
para os sujeitos e pesquisadores. Os dados obtidos foram utilizados em caráter
estritamente científico, visando contribuir na formação e difusão do
conhecimento científico.
Inicialmente,
realizou-se o teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov
que confirmou uma distribuição normal para todas as variáveis apresentadas a
seguir.
No presente estudo
estiveram envolvidas 11 mulheres com idade média de 23,55 ± 3,01 (20-31) anos,
destas, seis (54,5%) eram primíparas. A semana média de gestação das
integrantes da pesquisa foi 23,36 ± 5,44 (17-38), tendo como predominância o
gênero do bebê, masculino (54,5%).
Quanto à análise da
função pulmonar, encontrou-se uma redução significativa do pico de fluxo de
aproximadamente 100 l/min (p = 0,001), gráfico 1, da força muscular
inspiratória de – 21,59 cmH2O (p = 0,017) e da força muscular
expiratória de 39,41 cmH2O (p = 0,002), quando comparado o valor
encontrado com o previsto pela idade e gênero da paciente, sendo classificadas
como fraqueza da musculatura, conforme o gráfico 2.
Peak-flow = pico de fluxo
expiratório (L/min); *p = 0,001, por meio do teste t para amostras pareadas.
Fonte: dados da pesquisa.
Gráfico 1 - Avaliação do pico de fluxo expiratório de gestantes do quarto ao nono
mês, Parnaíba, Piauí.
Pimáx = Pressão inspiratória
máxima (cmH2O); Pemáx = Pressão
expiratória máxima (cmH2O); *p = 0,017; **p = 0,002, por meio do
teste t para amostras pareadas. Fonte: dados da pesquisa.
Gráfico 2 - Avaliação das forças musculares inspiratória e expiratória máximas de
gestantes do quarto ao nono mês, Parnaíba, Piauí.
Quando avaliado a
postura na vista anterior, pôde-se perceber a presença de alterações em todos
os seguimentos, sendo, portanto, considerados os valores negativos quando a
alteração era para a esquerda e positivo para a direita. Em relação ao ângulo
Q, houve alteração do esquerdo, estando fora dos padrões estabelecidos para
mulheres. Os dados estão apresentados na Tabela I.
Tabela I - Perfil postural de gestantes do quarto ao nono mês em vista anterior,
Parnaíba, 2016.
EIAS = espinha ilíaca ântero-superior; MID = membro inferior direito; MIE =
membro inferior esquerdo; MMII = membros inferiores. Fonte: dados da pesquisa.
Ao avaliar a vista
lateral direita e esquerda, puderam-se identificar alterações em anterioridade
de cabeça e ângulo do tornozelo, todavia, o quadril, o tronco e a pelves
encontravam-se em posterioridade (desvio posterior). Quando comparados os
lados, observou-se uma maior alteração do lado esquerdo, de acordo com a Tabela
II.
Tabela II - Perfil postural de gestantes do quarto ao nono mês na vista lateral
direita e esquerda, Parnaíba, 2016.
DP = desvio padrão.
Fonte: dados da pesquisa.
Ao realizar uma
avaliação da postura de gestantes na vista posterior, obtiveram-se valores
alterados da relação entre escápula e terceira vértebra torácica com desvio à
esquerda, e ângulos da perna com retropé com desvio à
direita, havendo maior discrepância do lado direito, quando comparado ao
esquerdo (Tabela III).
Fonte: dados da
pesquisa.
Ao verificar o centro
de gravidade, encontrou-se um desequilíbrio para a esquerda e para frente,
conforme mostra a Tabela IV.
Tabela IV - Perfil do centro de gravidade, plano frontal e sagital, de gestantes do
quarto ao nono mês, Parnaíba, 2016.
Fonte: dados da
pesquisa.
De acordo com a
literatura, o aumento da circunferência abdominal favorece o deslocamento
anterior do centro de gravidade e a gestante alarga a sua base de sustentação,
ou seja, aumenta distância entre os pés, para manter o corpo em equilíbrio
[14]. Observa-se uma maior mobilidade das articulações e diminuição do tônus
muscular devido à ação hormonal [15]. Isso gera sobrecarga à coluna vertebral,
evidenciada principalmente no segmento lombar, interferindo na postura, no
equilíbrio e na locomoção [16].
Para corrigir seu eixo
corporal, a gestante projeta seu corpo para trás adotando uma progressiva e
acentuada lordose lombar, podendo gerar dor, amplia sua base de sustentação e anterioriza a coluna cervical [17]. Devido ao aumento
mamário e à anteriorização da cabeça, ocorre protusão
e rotação interna de ombros [18].
Firmento [19] avaliou 13
gestantes buscando detectar possíveis estratégias utilizadas pelo corpo a fim
de compensar o aumento localizado de peso, no entanto neste estudo não foi observada
a relação entre a curvatura lombar e a dor pélvica. O estudo de Mann [20]
aponta que os prováveis motivos para lombalgia nesse período são decorrentes da
ação do hormônio relaxina que provoca mudanças na
mobilidade articular e ligamentar podendo aumentar a curvatura lombar e
torácica de gestantes entre o 4o e o 9o mês. Há outros
autores que também afirmam o aumento da lordose lombar devido ao aumento
progressivo de volume abdominal [16,21].
Kanayama et al. [21], em um estudo que abordou a curvatura lombar de 100
gestantes, concluíram que não houve aumento estatístico da curvatura lombar.
Conclui-se que, em geral, as mulheres alteram o alinhamento estático e a
amplitude de movimento dos quadris, joelhos e tornozelos em uma postura
estática durante a gravidez. Essas alterações poderiam explicar os padrões de
marcha das gestantes, caracterizadas por menores forças de propulsão, maior
tempo de apoio e maior carga plantar sobre o retropé
e antepé.
De acordo com Barauna et al.
[22], para uma avaliação fidedigna e parametrizada, pode-se utilizar a biofotogrametria computadorizada, que se desenvolve pela
aplicação dos princípios fotogramétricos às imagens fotográficas obtidas em
movimentos corporais. Nas imagens, são aplicadas bases de fotointerpretação,
gerando uma nova ferramenta de estudo da cinemática, apresentando-se como um
método adequado para avaliar as alterações posturais inerentes ao período
gestacional.
Tal método de avaliação
torna-se uma alternativa viável, sendo um recurso não-invasivo, o que apresenta
vantagens na efetividade de sua aplicação clínica, oferece baixo custo, assim
como, alta precisão e reprodutibilidade dos resultados. Para a avaliação
postural, os indivíduos devem se submeter previamente a demarcações nos pontos anatômicos
referenciais, e, as imagens captadas devem ser de boa qualidade para uma
adequada interpretação fotogramétrica [23,24].
Lima e Antônio [4]
referem que durante a gestação ocorrem alterações no sistema
musculoesquelético, como o relaxamento ligamentar, aumento da mobilidade, o
alargamento funcional das sacrilíacas e a diástase da sínfise púbica,
acentuando o escorregamento das articulações sacrilíacas, predispondo às
assimetrias posturais. Tais modificações biomecânicas podem ter início no primeiro
trimestre, no entanto, atingem seu auge próximo ao parto, e desaparecem entre o
segundo e quinto mês pós-parto.
Para Magee [24], a assimetria das espinhas está relacionada ao
encurtamento de um membro inferior em relação ao oposto, ou rotação ou desvio
unilateral da pelve para cima ou para baixo. Resultados também observados por
Sousa et al. [25] em seu estudo, ao
avaliar qualidade do sono, esse se encontra alterado em pacientes que referem
dor lombar.
Em relação à frequência
respiratória, durante a gestação, em seguimento longitudinal de grávidas, com
realização de espirometria completa, ocorre pequeno aumento desse parâmetro,
porém significativo [26]. No entanto, trabalhos nacionais apontam, como causa
da alcalose observada em grávidas, a taquipneia durante a gravidez e trabalho
de parto [27]. Dessa forma, observa-se que não existe consenso na literatura a
respeito do comportamento da frequência respiratória ao longo da gestação.
Porém, o aumento do volume corrente devido ao aumento da profundidade
respiratória é observado em diversos trabalhos, com manutenção da taxa de
frequência respiratória [27,28].
Sendo a asma a doença
respiratória crônica mais frequente, durante a gravidez, acometendo de 3,7 a
8,4% de todas as gestantes, a medida rotineira do fluxo expiratório máximo
contribui na abordagem de doenças pulmonares em grávidas. Nesse particular,
cita-se Neppelenbroek et al. [28] que estabeleceram os valores normais de fluxo
expiratório máximo para gestantes sem patologias, por meio de aparelho
expiratório portátil, determinando curva de valores normais adaptada para a
realidade nacional. Esses autores relatam que os valores de fluxo expiratório
máximo não mudam de forma significativa ao longo da gestação, assim como outras
referências da literatura internacional confirmam que esse parâmetro não se
altera com a evolução da gestação [28,29].
O índice de massa
corpórea (IMC) prévio à gestação é considerado fator importante nos valores dos
fluxos expiratórios máximos obtidos ao longo da gestação. Deve-se considerar
que o aumento de IMC, causado pelo ganho ponderal, é fator-chave na prevalência
da asma, sendo potencialmente modificável para esta importante patologia
respiratória [30-32]. Esses achados permitem profundas reflexões em gestantes
asmáticas, pois essa patologia respiratória, ao diminuir o fluxo respiratório
máximo, dificulta o processo respiratório acarretando em repercussões para o
desenvolvimento fetal. Destaca-se a elevada incidência de complicações
perinatais, o que já foi constatado por vários autores que estudaram a
associação entre asma e gravidez [31-33].
Em relação à idade
materna, Pereira et al. [33]
estabeleceram correlação negativa entre idade e Volume Expiatório Forçado no
primeiro segundo (VEF1), em indivíduos adultos da nossa população, porém não
incluíram gestantes em sua amostra.
Este estudo apresentou
diversas limitações como a falta de adesão das gestantes e complicações durante
a gestação.
Neste estudo,
encontraram-se gestantes primíparas jovens com redução do fluxo expiratório e
forças musculares respiratórias, bem como gestantes que apresentaram alterações
posturais como desequilíbrios à esquerda e para frente, como também aumento da
curvatura lombar e outras alterações corporais. Para tanto, faz-se necessário
um acompanhamento de gestantes, durante os nove meses para que se possa traçar
fielmente as alterações posturais e possíveis prevenções.