RELATO DE CASO
Treino de equilíbrio
em pessoas com doença de Parkinson com uso de realidade virtual
Balance training in individuals
with Parkinson disease with virtual reality use
Robison Carlos Silva Costa*, Edson Meneses da
Silva Filho, M.Sc.**, Camila
Lobo de Aguiar Gomes***, Núbia Maria Freire Vieira Lima, D.Sc.****,
Roberta de Oliveira Cacho, D.Sc.****, Enio Walker Azevedo Cacho, D.Sc.****
*Discente do Curso de
Fisioterapia da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí-Facisa,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, **Mestre em Ciências da
Reabilitação pela Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí-Facisa,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ***Mestranda em Ciências da
Reabilitação pela Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí-Facisa,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ****Professor do Curso de
Fisioterapia da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí-Facisa,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Estudo realizado no Laboratório
de Fisiologia e Motricidade Humana da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí-Facisa, Santa Cruz/RN
Endereço para
correspondência:
Edson Meneses da Silva Filho, Rua Teodorico Bezerra, 2-122, 59200-000 Santa
Cruz RN, E-mail: meneses.edson@yahoo.com.br; Robison
Carlos Silva Costa: robisoncarlos1234@hotmail.com; Camila Lobo de Aguiar Gomes:
camilalobofisio@gmail.com; Núbia Maria Freire Vieira Lima:
nubiamaria@facisa.ufrn.br; Roberta de Oliveira Cacho: ro_fisio1@hotmail.com; Enio Walker Azevedo Cacho: eniowalker@bol.com.br
Resumo
Introdução: A doença de
Parkinson é uma doença neurológica, crônica e progressiva causada pela
degeneração de células situadas na região do mesencefálo,
conhecida como substância negra. Objetivo:
Analisar o desempenho no equilíbrio de indivíduos com Doença de Parkinson após
uma sessão de realidade virtual. Material
e métodos: Os indivíduos foram avaliados inicialmente pela Escala de
Equilíbrio de Berg, Timed Up and Go, Escala Unificada de
Avaliação da Doença de Parkinson (UPDRS) e Escala de Avaliação Modificada da
Doença de Parkinson Hoenh Yahr.
Depois, em outros três encontros, o equilíbrio dos voluntários foi avaliado
pela posturografia antes e após 25 minutos de
intervenção com realidade virtual, por meio de três jogos, em cada encontro foi
utilizado um jogo diferente. A amostra foi considerada não normal. As análises
estatísticas foram realizadas através do teste de Wilcoxon
para analisar os dados antes e após a intervenção e o teste de Friedman para
verificar se algum jogo foi melhor que outro. Resultados: Observou-se significância estatística na condição com
olhos fechados e pés juntos na variável amplitude médio-lateral (p = 0,043). Conclusão: Ocorreu uma discreta melhora
no equilíbrio em indivíduos com Doença de Parkinson após a realização da
realidade virtual.
Palavras-chave: Doença de
Parkinson, equilíbrio postural, terapia de exposição à realidade virtual.
Abstract
Introduction: Parkinson's
disease is a neurological, chronic and progressive disease caused by the degeneration
of cells located in the mesencephalon region, known as substantia negra. Objective: To analyze the
balance performance of individuals with Parkinson's disease after a Virtual Reality session. Material and methods: Subjects were initially assessed by the
Berg Balance Scale, Timed Up and Go,
Unified Parkinson's Disease Rating Scale (UPDRS), and Parkinson's Disease Modified Rating Scale Hoenh Yahr.
Then, in three other sesssions, the balance of the volunteers was evaluated by
posturography before and after 25 minutes of intervention with Virtual Reality, through three games, different in each session. The sample was considered
not normal. Statistical analyzes were performed
using the Wilcoxon’s test to analyze the
data before and after the intervention
and the Friedman’s
test to verify
that some games were better than others.
Results: Statistical significance was observed in the condition with
closed eyes and joined feet
in the variable
medial-lateral amplitude (p = 0.043). Conclusion: We observed
a slight improvement in the balance in individuals with Parkinson's disease after Virtual Reality.
Key-words: Parkinson’s disease, postural balance, virtual reality exposure therapy.
Caracterizada por tremor, rigidez e bradicinesia, a Doença de Parkinson (DP) é decorrente da
ausência de dopamina devido à morte das suas células produtoras, substância
negra, localizadas na região mesencefálica [1]. Seu
diagnóstico ocorre geralmente em pessoas com idade acima de 55 anos, além do
mais, há estimativas apontando que essa patologia afeta 1% desta população
idosa [2] e 0,3% da população mundial [3].
Quando comparados aos indivíduos saudáveis,
acredita-se que os portadores da DP apresentem uma elevada prevalência no medo
de cair, entre 35 a 59%, que se eleva em quem já vivenciou algum episódio de
queda. A presença de instabilidade postural em decorrência de déficits no
equilíbrio caracteriza-se como um aspecto clínico importante da doença [4].
As pessoas com DP ainda apresentam maior
dificuldade para manter seu centro de massa dentro da base de apoio [5,6], o
que lhes confere menor limite de estabilidade, afetando deste modo sua
qualidade de vida e a realização de atividades diárias, levando-os a estarem
mais predispostos a sofrerem quedas, as quais podem ocasionar hospitalizações,
imobilismo e dependência funcional [7].
Uma nova ferramenta que vem se mostrando útil
para a reabilitação voltada para o equilíbrio é a Realidade Virtual (RV), que
proporciona a interação entre o indivíduo e um ambiente virtual por meio de uma
interface digital. O uso de RV proporciona os requisitos necessários para a
reaprendizagem motora de pacientes neurológicos, tais como repetição, feedback (visual, auditivo e proprioceptivo) aumentado e
simultâneo, além de ser uma técnica que aumenta a motivação e aderência do
paciente ao tratamento [3].
Para avaliar os efeitos das intervenções
propostas para a melhoria do equilíbrio em pacientes com DP são necessários a utilização de instrumentos sensíveis e acurados, como a
plataforma de força (posturografia), que mensura
através de sensores, variáveis associadas ao deslocamento do Centro de Pressão
dos Pés (COP) [5].
Alguns estudos têm demonstrado a viabilidade
da utilização da plataforma Wii Fit para melhorar a flexibilidade, força, e
aptidão física de indivíduos saudáveis e pacientes neurológicos [8]. Outros
demonstraram benefícios nos desfechos equilíbrio, força, flexibilidade e
qualidade de vida em pacientes com DP [9-11]. Apesar da evolução dos referidos
desfechos, ainda não há consistência quanto à frequência, tempo e tipo de jogo
utilizado para que seja alcançado um desenvolvimento motor efetivo.
Portanto, o objetivo deste estudo é avaliar o
desempenho no equilíbrio de pacientes com DP submetidos a uma sessão de RV e
verificar se há jogos que proporcione maior aprimoramento no desempenho desses
pacientes.
Este artigo seguiu as recomendações do The CARE Guidelines:
Consensus-based Clinical
Case Reporting Guideline Development [12]. Trata-se de um estudo do tipo série
de casos com cinco voluntários diagnosticados com DP, os quais foram recrutados
no serviço de fisioterapia da clínica integrada da Faculdade de Ciências da
Saúde do Trairí-FACISA/Universidade Federal do Rio
Grande do Norte na cidade Santa Cruz/RN, no período de maio a outubro de 2017.
O estudo foi aprovado previamente pelo comitê de ética em pesquisa da
instituição (Parecer 2.018.151/2017) e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que
foi elaborado de acordo com as resoluções específicas do Conselho Nacional de
Saúde (nº 196/96 e nº 466/12).
Os critérios de inclusão foram estar entre I
e IV na escala Hoenh & Yahr
(HY) modificada de estadiamento da DP, estar em uso
contínuo da medicação nos últimos dois meses, apresentar escore maior que 24 no Mini Exame do Estado Mental (MEEM), para
alfabetizados, e maior que 14 para não alfabetizados [13]. Foram excluídos os
indivíduos que apresentaram algum grau de demência pré-mórbida,
deformidades articulares, artrite ou dores severas e presença de qualquer outro
distúrbio neurológico concomitante.
No que se refere ao desenho do estudo, foram
realizadas quatro intervenções, em 4 dias diferentes,
com intervalo de sete dias entre elas. No primeiro encontro foram feitas a
avaliação inicial, através da coleta dos dados sociodemográficos
(idade, peso, altura, escolaridade); avaliação cognitiva pelo MEEM [13];
avaliação do estadiamento da doença através da Escala
Unificada de Avaliação da Doença de Parkinson (UPDRS), que documenta os efeitos
gerais da DP e os efeitos das flutuações relacionadas ao uso de fármacos, com
uma pontuação máxima de 180 pontos [14]; e a mensuração do estado de gravidade
da doença em 8 etapas pela escala modificada de Hoenh & Yahr (HY) [15].
Também foram realizadas avaliações clínicas, por meio da Escala do Equilíbrio
de Berg (EEB), instrumento utilizado para mensurar o equilíbrio funcional,
constituída por 14 itens [16]; e o Timed Up and Go,
utilizado para mensurar a mobilidade dos indivíduos [17].
Nos outros três encontros os pacientes
passaram por uma avaliação laboratorial do equilíbrio, por meio da posturografia, depois de cinco minutos foram submetidos a
um treinamento de equilíbrio no Wii Fit Plus (Nintendo©), e logo após 10
minutos de descanso foram reavaliados novamente através da posturografia.
Todo desenho do estudo encontra-se ilustrado na Figura 1.
Parte
A: Visão geral. Parte B: Protocolo posturográfico nas
condições: OAPS = Olhos Abertos Pés Separados; OAPJ = Olhos Abertos Pés Juntos;
OFPS = Olhos Fechadas Pés Separados; OFPJ = Olhos Fechados Pés Juntos.
Figura 1 - Protocolo de avaliação e intervenção.
Durante a avaliação posturográfica
os voluntários ficaram em ortostatismo sobre a
plataforma de força, descalços, com os braços ao lado do corpo, olhando para um
ponto fixo vermelho a dois metros de distância, posicionado na altura de seus
olhos durante um período de 60 segundos. Eles foram instruídos a não se
movimentarem durante o período da coleta. Foram utilizados para a coleta o
registro e análise dos dados do equipamento (Plataforma de força) EMG System,
assim como o Software de análises. As coletas posturográficas
foram realizadas numa frequência de aquisição de sinais do centro de pressão
dos pés de 100 Hz.
Os dados posturográficos
foram obtidos em 4 condições diferentes, cada condição
foi repetida três vezes, totalizando 12 coletas. Para a análise estatística dos
dados utilizou-se como resultado a média das três aquisições. As condições
foram as seguintes: 1º) em pé sobre a plataforma com os Olhos Abertos e Pés
Separados (OAPS) a cinco centímetros de distância um do outro; 2º) em pé sobre
a plataforma com Olhos Fechados e Pés Separados (OFPS) a cinco centímetros de
distância um do outro 3º) em pé sobre a plataforma com Olhos Abertos e Pés
Juntos (OAPJ), calcanhares e hálux tocando-se; 4º) em
pé sobre a plataforma com os Olhos Fechados e Pés Juntos (OFPJ), calcanhares e hálux tocando-se. No que se refere às variáveis posturográficas foram consideradas: deslocamento total
(cm), amplitude ântero-posterior (cm), amplitude
médio-lateral (cm), velocidade ântero-posterior em
centímetros por segundo (cm/s), velocidade
médio-lateral (cm/s), frequência média ântero-posterior
Hertz (Hz), frequência média médio-lateral (Hz) e área (cm2).
Os pacientes foram submetidos a três jogos
diferentes (nível iniciante) do console Wii Fit Plus (Nintendo©) conectado a
uma televisão de 45 polegadas. Utilizaram-se os jogos Pinguim Slid, table
tilt e Balance Bubble
no primeiro, segundo e terceiro dia de intervenção, respectivamente. O objetivo
do jogo Pinguim slid
é coletar os peixes que pulam sobre um iceberg, para isso os indivíduos
deveriam deslocar seu peso corporal para as laterais (direita e esquerda), em
cima da balança de equilíbrio, que é o dispositivo que garante a interação
entre o indivíduo e o avatar. Já o jogo Table tilt tem como
objetivo colocar bolas em um buraco, que fica localizado em um ponto de uma
tábua, para isso indivíduos deveriam deslocar seu peso corporal para todos os
lados (direita, esquerda, frente e trás). Por fim, o jogo Balance bubble necessita da mesma demanda
motora do jogo anterior, mas o objetivo é não tocar nas paredes de um labirinto
com uma bolha de sabão que tem uma pessoa em seu interior.
Os dados foram tabulados e analisados pelo
software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)
versão 20.0 para Windows. Foi utilizado o teste de Shapiro Wilk
para verificar a normalidade da amostra. O teste de Wilcoxon
foi utilizado para comparar os resultados, antes e após a intervenção de cada
uma das variáveis da posturografia. Foi utilizado
também o Teste de Friedman, a fim de verificar se havia diferença
estatisticamente significante entre cada um dos jogos. Foi adotado p < 5%
como significativo.
Todas as variáveis apresentaram resultados
não normais. Os dados sociodemográfcos e escalas
clínicas de avaliação do equilíbrio são mostrados na tabela I.
Mediana
e primeiro quarltil da avaliação inicial. Idade em
anos; Massa em quilogramas; Estatura em metros. Mini mental = Mini exame do
estado mental; Hoehn Yahr =
Escala modificada de Hoenh & Yahr;
UPDRS = Escala Unificada de Avaliação da Doença de Parkinson; EEB = Escala de
Equilíbrio de Berg; TUG = Timed Up
and Go em segundos.
A distribuição das variáveis referentes aos
dados posturográficos coletados em quatro condições
diferentes, pré e pós intervenção
de cada um dos três jogos, está disposto nas Tabelas II, III, IV e V expressos
através da mediana e primeiro quartil. No que se refere à melhora no desempenho
entre pré e pós intervenção
(análise intragrupo), foi observado significância
estatística principalmente no primeiro jogo (pinguim slid),
na condição OAPS na variável amplitude Médio-Lateral (p = 0, 043) (Tabela II em
negrito). No que se refere às diferenças entre os jogos, não foram observadas
significância estatística em nenhuma das condições (Tabelas II, III, IV e V).
Tabela II - Distribuição dos dados posturográficos
pré e pós intervenção na
condição OAPS.
Valores
expressos pela mediana e primeiro quartil; AP = ântero-posterior;
ML = médio-lateral; OAPS = olhos abertos pés separados; * Valores com p<0,05
(significante) para Teste de Wilcoxon.
Tabela III - Distribuição dos dados posturográficos
pré e pós intervenção na
condição OAPJ.
Valores
expressos pela mediana e primeiro quartil; AP = ântero-posterior;
ML = médio-lateral OAPJ = olhos abertos pés juntos.
Tabela IV - Distribuição dos dados posturográficos
pré e pós intervenção na
condição OFPS.
Tabela V - Distribuição dos dados posturográficos
pré e pós intervenção na
condição OFPJ.
Valores
expressos pela mediana e primeiro quartil; AP = ântero-posterior;
ML = médio-lateral; OFPJ = Olhos fechados pés juntos.
Os resultados do estudo mostraram melhoras
apenas na variável posturográfica amplitude ML, na
condição OAPS, entre a avaliação inicial e avaliação pós
intervenção. Também não houve um jogo que se sobressaiu ao outro. Esses
resultados não corroboram com a hipótese alternativa do estudo já que era esperado maiores reduções das variáveis posturográficas após o uso da RV. Entretanto, destaca-se
que diversos outros estudos conseguiram apresentar melhoras significativas após
o uso da RV em indivíduos com DP [10,18].
Os jogos escolhidos para a realização do
estudo já haviam sido caracterizados como jogos que demandavam funções motoras
e cognitivas. As atividades motoras exigidas pelos jogo
são as mudanças no centro de gravidade, através do deslocamento de peso sobre
seus membros inferiores. O jogo Pinguin Slid ordena uma mudança bidirecional (látero-lateral) do centro de gravidade, enquanto Table tilt e Balance bubble,
requerem mudanças multidirecionais. Todos eles exigem a necessidade de um
trabalho cognitivo, por exemplo, atenção, respostas rápidas a estímulos visuais
e avaliação de desempenho por feedback visual e
auditivo. Deste modo, os jogos escolhidos impuseram aos participantes um
planejamento motor, assim como a necessidade de realização de dupla tarefa. Foi
apresentado neste mesmo estudo que pessoas com DP têm a mesma capacidade de
aprendizagem e retenção quando comparados a idosos saudáveis [19]. Entretanto,
outra pesquisa mostrou que indivíduos com DP apresentam uma maior fadiga e
menor força muscular quando são comparados às pessoas saudáveis da mesma idade.
Esses fatos podem estar associados a mecanismos neurofisiológicos, como
alteração na produção de norepinefrina e serotonina
nos núcleos de rafe e lócus ceruleos [20].
A fadiga nos estágios iniciais da doença pode
estar relacionada também a mecanismos centrais como diminuição da motivação e a
mecanismos periféricos, como falha da transmissão neuromuscular ao longo de
neurônios motores α e junções neuromusculares, os quais também estão
relacionados com o déficit de força muscular [21].
Diante desse pressuposto, o baixo desempenho
no equilíbrio pós-treinamento encontrado neste estudo, pode ter sido ocasionado
pelo protocolo de avaliação posturográfico extenso, o
qual exigia que o voluntário ficasse em ortostatismo
por um período de tempo superior a 55 minutos entre avaliação, treinamento e
reavaliação. Apesar de ter ocorrido pausas para descanso entre essas etapas,
elas podem não ter sido suficiente para que os indivíduos se recuperassem.
Ressalta-se que devido à fadiga e déficit de força apresentados por esses
indivíduos é importante levar em consideração as situações de estresse físico
em demasia porque pode influenciar negativamente no desempenho deles.
Possivelmente um protocolo com maiores intervalos para descanso e um menor
tempo em ortostatismo poderia resultar em desempenhos
distintos dos encontrados neste estudo.
Por outro lado, estudos longitudinais, cujos
resultados demonstram benefícios da RV em pessoas com DP, utilizaram protocolos
com maiores tempos de exposição à terapia de RV, com mais sessões e tempo de
duração mais elevados [19,20,22]. Esses resultados
provavelmente se relacionam com a aprendizagem motora desencadeada pela
exposição prolongada à tarefa.
Este estudo demonstrou que é possível que
haja melhora no desempenho do equilíbrio em uma única sessão, na variável
amplitude ML e essa melhora está relacionada às características e demandas dos
jogos, que determinavam o deslocamento do centro de massa de uma forma
controlada e com determinada faixa de amplitude.
Contudo, esses resultados devem ser
interpretados com cautela, quando comparados aos estudos supracitados, uma vez
que buscou-se observar o desempenho motor e não a
aprendizagem motora. Os jogos demandavam planejamento motor, o qual na DP pode
estar prejudicado uma vez que os gânglios da base estão envolvidos
indiretamente neste processo, assim como no controle dos movimentos [19,23].
Outros estudos que utilizaram a RV e tiveram
resultados significativos [17,18,22,24] utilizando
medidas de avaliação do equilíbrio, como escalas e testes funcionais, como a
Escala de Equilíbrio de Berg (EEB) e o Timed Up and Go (TUG). Foi
utilizado neste estudo como meio principal para avaliação do desempenho, a
plataforma de força (posturografia), que é bem mais
sensível às variações posturais [5].
Os estudos longitudinais que mostram
benefícios motores com uso da RV, apresentam como
justificativa o modelo de processo adaptativo e a teoria do controle motor, os
quais se fundamentam na presença de perturbação do sistema para gerar os
desenvolvimentos motores [25]. Devido ao curto tempo de intervenção neste
estudo, pode não ter ocorrido esse estímulo de desestabilização do sistema e
proporcionado como consequência uma readequação à demanda do ambiente.
Apesar disso, um aspecto que deve ser
destacado foi o bom desempenho dos voluntários nas escalas clínicas, com médias
nos escores da EEB próximas à pontuação máxima, assim como no TUG com tempos
próximos aos 10 segundos, predizendo que esses indivíduos apresentavam boa
mobilidade e um baixo risco de quedas [26]. Isso provavelmente contribuiu com
os resultados do estudo, uma vez que é mais difícil de obter melhora no
desempenho das pessoas que apresentaram bom desempenho nas escalas clínicas.
O estudo apresentou algumas limitações como o
pequeno tamanho da amostra e longo protocolo de intervenção e avaliação.
Houve uma discreta melhora no desempenho da
variável amplitude ML no jogo Pinguim slid, entretanto não foram encontradas diferenças entre
os jogos em todas as outras variáveis posturográficas
estudadas. Destaca-se que estudos com maior amostra e protocolos de avaliação e
intervenção mais curtos devem ser feitos para que seja descoberto os reais
efeitos da RV sobre a performance motora de pacientes
com DP.