EDITORIAL
Exercício
resistido na doença do neurônio motor
Marco Orsini*, Manuel Leite Lopes**, Victor Hugo Bastos***, Silmar Teixeira***, Marcos RG de Freitas****, Mauricio de
Sant’ Anna Jr*****
*Programa de
Mestrado e Doutorado em Ciências da Reabilitação - UNISUAM, Rio de Janeiro, Programa
de Mestrado em Ciências Aplicadas à Saúde, Universidade Severino Sombra,
Rio de Janeiro, **Clinica Sinapse,
Rio de Janeiro/RJ, ***Universidade Federal do Piaui,
Departamento de Fisioterapia, ****Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Disciplina de Neurologia, *****Instituto Federal do Rio de Janeiro – IFRJ
Correspondência: Marco Orsini, E-mail: orsinimarco@hotmail.com; Manuel Leite
Lopes: lopesmal@yahoo.com.br; Victor Hugo Bastos: victorhugobastos@ufpi.edu.br;
Silmar Teixeira: silmarteixeira@ufpi.edu.br; Marcos
RG de Freitas: mgdefreita@hotmail.com; Mauricio de Sant´Anna Jr: fisioenf@gmail.com
Apesar
do grande
avanço científico, tecnológico e da
comunicação mais eficiente entre a equipe
multiprofissional
de saúde, a prescrição do exercício
resistido para pacientes com doença do
neurônio motor, também conhecida como esclerose lateral
amiotrófica (ELA) ainda
está em voga e necessita de esclarecimentos. As
discussões giram em torno da
real compreensão entre os aspectos inerentes a
prescrição e principalmente ao
custo-benefício da realização do exercício
resistido.
É consenso entre os
autores que existem importantes alterações no metabolismo oxidativo
em pacientes com ELA, em especial ao nível do músculo esquelético. Tais efeitos
afetam profundamente a capacidade de exercício.
Os resultados
pioneiros quanto aos efeitos do exercício resistido na ELA foram descritos por Drory et al. em 2001 [1]. Um programa de
intensidade moderada foi realizado pelos pacientes (em domicílio) por período
de quinze minutos, duas vezes ao dia. Após três meses foi possível verificar
melhora funcional no grupo que realizou o exercício resistido (utilizando a Functional
Rating Scale e escala de espasticidade de Asworth). Entretanto, não foram evidenciadas diferenças na
força muscular e nos relatos de fadiga, além de qualidade de vida.
Outro elegante estudo
foi o conduzido por Bello Haas et al. [2] utilizando um protocolo de exercício resistido recomendado
pelo American College
of Sports Medicine. Os portadores de ELA foram
alocados de forma aleatória em dois grupos: (1) programa individualizado de
exercício resistido (domiciliar), três vezes por semana, associado a um
programa diário de alongamentos; (2) grupo controle que realizava somente o
programa diário de alongamentos. Após seis meses o grupo submetido ao protocolo
de exercício resistido apresentou melhora na Functional Rating Scale e qualidade de vida.
Tais relatos fizeram
com que Chen et al. [3] descrevessem esses dois
trabalhos como os que possuíam melhor nível de evidência cientifica até então,
e sugeriam que exercícios resistidos individualizados, cuidadosamente
monitorados e com carga progressiva são recomendados para melhora funcional de
pacientes com ELA, nos estágios iniciais.
Porém Bello-Haas & Florence [4] ao realizarem uma revisão
sistemática objetivando investigar os efeitos do exercício resistido em
pacientes com ELA encontraram um pequeno número de estudos, e os existentes
apresentam um número reduzido de sujeitos, não sendo possível afirmar se os
exercícios resistidos são benéficos ou prejudiciais a essa população.
Apesar de
encorajarmos a realização do exercício resistido nos estágios iniciais da ELA
acreditamos que a recuperação da atividade proposta também deve ser observada.
O consumo de oxigênio pós-exercício (efeito EPOC) deve ser considerado uma vez
que a “dívida” metabólica assumida para excussão do exercício levará um maior
tempo para ser “paga” em virtude dos danos no metabolismo oxidativo,
o que pode acarretar em um importante desequilíbrio entre anabolismo e
catabolismo, passando nesse momento o exercício a ter um papel prejudicial, ao
invés de colaborar na manutenção das atividades diárias e qualidade de vida
como salientado recentemente por nosso grupo [5].