ARTIGO ORIGINAL
Realidade
virtual em hemiparéticos crônicos: efeitos do treino no
controle postural
Virtual reality in chronic hemiparesis: effects of training on the postural
control
Andrielle Gonçalves Gomes, Ft.*,
Rosana Vendruscolo Zini, Ft.**, Mateus Corrêa Silveira,
M.Sc.***, Carlos Bolli Mota, D.Sc.****, Nadiesca Taisa Filippin, D.Sc.*****
*Fisioterapeuta,
Santa Maria/RS, **Fisioterapeuta, Júlio de Castilhos/RS, ***Docente do Curso de
Educação Física da Faculdade Metodista de Santa Maria, Santa Maria/RS,
****Docente do Curso de Educação Física da Universidade Federal de Santa Maria
e Coordenador do Laboratório de Biomecânica, Santa Maria/RS, *****Docente do
Curso de Fisioterapia da Universidade Franciscana, Santa Maria/RS, Grupo de
pesquisa: Promoção da Saúde e Tecnologias aplicadas à Fisioterapia
Recebido em 23 de fevereiro de 2017; aceito em 21 de fevereiro
de 2018.
Endereço
para correspondência:
Nadiesca Taisa Filippin, Rua Silva Jardim, 1175 Santa Maria RS, E-mail: nadifilippin@yahoo.com.br,
Andrielle Gonçalves Gomes: andrielle_gomes@hotmail.com; Rosana Vendruscolo
Zini:rzini18@hotmail.com; Mateus Corrêa Silveira: mm.biomec@gmail.com; Carlos
Bolli Mota: bollimota@gmail.com
Resumo
Objetivo: O objetivo do estudo
foi investigar os efeitos do treino com realidade virtual sobre o controle postural
e a simetria do apoio de indivíduos hemiparéticos crônicos.
Métodos: Oito indivíduos com idade média
de 56,4 (±7,50) anos e diagnóstico de acidente vascular encefálico (AVE), em fase
crônica, participaram do estudo. Para obtenção dos dados relativos ao centro de
pressão (COP) e índice de simetria foram utilizadas plataformas de força AMTI. Resultados: Houve um aumento significativo
na amplitude de deslocamento anteroposterior e na área de elipse (p ≤ 0,05).
O deslocamento na direção médio-lateral, a velocidade total, os limites de estabilidade
e o índice de simetria não apresentaram diferença significativa pré e pós-treino (p ≥ 0,05). Conclusão: De maneira geral, os resultados do presente estudo demonstraram
que o treino isolado do equilíbrio por meio da realidade virtual em indivíduos hemiparéticos crônicos não produziu efeitos significativos nas
variáveis relacionadas ao COP durante a posição estática e deslocamentos do corpo,
bem como no índice de simetria.
Palavras-chave: acidente vascular cerebral,
equilíbrio postural, terapia de exposição à realidade virtual.
Abstract
Purpose: The aim of this
study was to investigate the effects of virtual reality based training on postural
control and symmetry of the support of individuals with chronic hemiparesis. Methods: Eight subjects with a mean age of
56.4 (± 7.50), with a diagnosis of stroke. Center of pressure (COP) and symmetry
index were evaluated by means of force platforms. Results: There was a significant increase in the anterior-posterior
displacement and ellipse area (p ≤ 0.05). The medial-lateral displacement,
total velocity, limits of stability and symmetry index showed no significant difference
before and after training (p ≥ 0.05). Conclusion:
The results of this study demonstrate that isolated training of balance through
virtual reality in individuals with chronic hemiparesis showed no significant effects
on the COP variables during static posture and body displacements as well as on
the index symmetry.
Key-words: stroke, postural
balance, virtual reality exposure therapy.
O controle postural requer
simultâneo e contínuo processamento de dados de múltiplos sistemas como visão, sistema
vestibular, propriocepção, reintegração cognitiva, além de respostas neuromusculares
[1]. O controle postural é considerado um pré-requisito para as atividades de vida
diária (AVD) em qualquer idade [2] e pode ser definido como a habilidade de manter
a posição do corpo dentro da base de apoio, contra a gravidade [3], ou seja, dentro
dos limites de estabilidade. O centro de pressão (COP) é uma medida de deslocamento
e é influenciado pela posição do centro de massa (COM) [4]. O deslocamento do COP
é utilizado para avaliar desordens funcionais do sistema de controle postural [5].
Pessoas acometidas por
um acidente vascular encefálico (AVE) podem apresentar déficits motores, sensoriais
e/ou cognitivos, que limitam seu desempenho funcional [6,7]. Quando os sistemas
que mantêm o controle postural são impactados por uma lesão neurológica, como o AVE, o equilíbrio e as atividades dependentes do equilíbrio
são afetadas [1] e isso pode aumentar o risco de quedas e suas consequências. Segundo
Yang et al. [8], o medo de cair leva a uma redução
das atividades e com isso ocorre uma diminuição da independência e da qualidade
de vida.
Dessa forma, o treino
do controle postural torna-se importante para a recuperação funcional do paciente.
Estudos têm enfatizado o treino repetitivo e intensivo, a aprendizagem motora com
movimentos tarefa-específicos, o feedback
visual e auditivo,
em vez de abordagens passivas [9] ou treino convencional, os quais o
paciente pode
achar cansativo e sem propósito, levando à
redução da motivação e aderência ao
tratamento
[10]. Dentro desse contexto, novas abordagens têm sido utilizadas
no tratamento
de pacientes com sequelas de AVE, como a realidade virtual (RV).
Para Park et al. [3] e Song et al. [11], a tecnologia de RV tem se tornado popular para a reabilitação
física porque permite controle dos estímulos, feedback do desempenho em tempo real,
prática independente, validade ecológica, ajustes dinâmicos de acordo com as dificuldades,
aprendizagem, treino seguro e motivação do paciente. Segundo Pekna et al. [12], a RV pode estimular todos os componentes
estruturais e funcionais da plasticidade neural e o desempenho cognitivo de pessoas
pós-AVE.
Estudos têm mostrado que
o treino com RV proporciona melhoras no equilíbrio estático e/ou dinâmico de hemiparéticos em estágio subagudo ou crônico [9,13-18], avaliados
por meio de testes e escalas validadas. Por outro lado, Park et
al. [3] e Song e Park [19] mostraram que o treino com RV não difere em seus resultados
de um treino convencional, pois ambos mostraram melhoras no equilíbrio e na habilidade
da marcha em hemiparéticos crônicos. Song et al. [11] relataram que o tratamento com
RV não produz melhoras globais no equilíbrio de hemiparéticos
crônicos. Rajaratnam et al. [20] avaliaram os efeitos da RV em hemiparéticos
na fase aguda e não encontraram efeitos significativos desse treino sobre o controle
postural.
De acordo com Lohse et al. [21], de Rooij et al. [22], Iruthayarajah et al. [1], até o momento, a reabilitação baseada
na RV apresenta efeitos moderados quando comparada à fisioterapia convencional em
adultos pós-AVE, com grande variabilidade nos parâmetros de intervenção e medidas
de resultados, o que requer cautela para interpretação dos dados.
Torna-se importante destacar
que a maioria dos estudos citados não utilizou medidas relacionadas ao COP para
avaliação do controle postural. Dessa forma, este estudo teve como objetivo verificar
os efeitos do treino baseado na RV na amplitude e velocidade de deslocamento do
COP, área de elipse, limites de estabilidade e índice de simetria em hemiparéticos crônicos.
Trata-se de um estudo
do tipo quase-experimental, com abordagem quantitativa.
A amostra se deu por conveniência e foi composta por pessoas com diagnóstico médico
de Acidente Vascular Encefálico Isquêmico (AVEI), na fase crônica (após 6 meses), de ambos os sexos, com idade entre 40 e 65 anos, função
cognitiva preservada, avaliada pelo Mini-Exame do Estado
Mental (MEEM) [23], com até grau 2 de espasticidade, classificado pela escala de
Ashworth modificada, déficit de equilíbrio pontuado pela
Escala de Equilíbrio de Berg (EEB), com ponto de corte de 52 pontos [24] e capacidade
de permanecer em pé independentemente.
Foram utilizados os seguintes
critérios de exclusão: pessoas que já haviam realizado treino de equilíbrio com
realidade virtual, pessoas com déficit visual não corrigido, outras doenças neurológicas
associadas, doenças osteomioarticulares e cardiorrespiratórias
que impedissem o desenvolvimento das avaliações e do treino, a não adaptação ao
treino e pessoas com mais de três faltas consecutivas no treino.
Os participantes foram
recrutados nos serviços de fisioterapia oferecidos pelo Centro Universitário Franciscano.
Durante o período de treino os participantes interromperam a fisioterapia convencional
realizada. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário
Franciscano (CAAE 10211012.9.0000.5306, número do parecer 149.341). Os participantes
receberam informações sobre a pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido, manifestando interesse em participar do estudo.
Inicialmente, foram aplicadas
as escalas de Ashworth Modificada, Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) e Escala de Equilíbrio de
Berg (EEB). As pessoas que se encaixaram nos critérios de inclusão passaram por
uma avaliação clínica e uma avaliação do controle postural e da simetria do apoio,
ocorrendo cada avaliação em um dia diferente. As avaliações foram realizadas no
Laboratório de Ensino Prático em Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano
e no Laboratório de Biomecânica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
As avaliações do controle
postural e da simetria do apoio, antes e depois do período de treino, foram realizadas
por meio de plataformas de força AMTI OR6-6-2000 (Advanced Mechanical Technologies, Inc.). Para obtenção
dos dados relativos ao COP, o participante permaneceu em pé, descalço, em apoio
bipodal, com os dois pés sobre uma plataforma, olhando
para um ponto fixo na altura dos olhos (posicionado em um tripé a um metro de distância),
braços ao longo do corpo e pés afastados na largura dos ombros. As medidas foram
feitas na posição estática e durante deslocamentos do corpo para registro dos limites
de estabilidade (LE). Para os testes dos LE, o participante foi instruído a realizar
deslocamentos anteroposteriores e latero-laterais (direita
e esquerda), sem retirar os pés da superfície de apoio e, separadamente, para cada
uma das direções. O posicionamento dos pés na plataforma foi demarcado em um papel
milimetrado na primeira tentativa para padronização das
demais tentativas (avaliações pré e pós-treino). As distâncias
da borda anterior, posterior e laterais dos pés até a borda da plataforma foram
mensuradas na primeira tentativa para o cálculo dos LE. Assim, quanto menor a distância
entre o COP e a borda dos pés (cm), maior é o limite de estabilidade. O lado afetado
e não afetado foram utilizados como referências para o cálculo dos LE latero-laterais.
Já para registro das forças
verticais utilizadas para a avaliação da simetria do apoio, o participante permaneceu
em pé, com um pé em cada plataforma, seguindo as demais orientações dos testes anteriores.
Foram realizadas três
tentativas válidas para cada condição avaliada (estático; deslocamentos anterior/posterior/direita/esquerda;simetria), com duração de
trinta segundos cada. Para garantir a segurança dos participantes durante os testes,
uma pessoa ficou posicionada próxima ao local dos testes. Para familiarização dos
participantes, antes do início das avaliações foram demonstradas as posições de
teste. Períodos de repouso entre as tentativas foram oferecidos, quando necessário.
Todas as informações sobre a coleta de dados foram registradas em uma ficha de coleta
de dados. A frequência de aquisição dos dados foi de 100 Hz.
O treino utilizando o
Wii Fit plus
foi realizado três vezes por semana, no período da tarde, com duração de 30 minutos,
durante seis semanas. Antes e após o treino, o participante realizou alongamentos
dos principais músculos de membros superiores e inferiores. Foram verificados os
sinais vitais de cada participante antes e após o treino. Ainda, os participantes
tiveram períodos de repouso durante a realização do treino. Todos os jogos foram
realizados sobre a plataforma Balance Board, utilizando os deslocamentos anteroposteriores e médio-laterais.
Os jogos selecionados foram: Table Tilt, Balance Bubble
e Penguin Slide.
Os participantes praticaram
cada jogo durante dez minutos, obedecendo as suas condições físicas. Conforme o
participante foi adquirindo habilidade com os jogos, houve uma progressão, em que
o nível de dificuldade foi modificado de principiante para avançado. Isso ocorreu
de acordo com a pontuação que o participante atingiu durante as sessões. Todas as
informações relativas ao treino foram anotadas em uma ficha de acompanhamento.
As variáveis foram processadas
através de uma rotina usando o programa IDL (Interactive Data Language). Os dados foram filtrados
utilizando-se um filtro Butterworth,
passa-baixa, de 4ª ordem, com frequência de corte de 10 Hz. O programa Microsoft
Excel foi utilizado para organização e tabulação dos dados. As variáveis relativas
ao COP na posição estática foram: amplitude de deslocamento nas direções anteroposterior
(A-P) e médio-lateral (M-L) (cm) e velocidade média de deslocamento (cm/s). Os valores
referentes aos limites de estabilidade foram calculados a partir da distância entre
o COP e a borda dos pés, portanto, uma diminuição na distância indica um aumento
dos limites de estabilidade. A simetria do apoio foi avaliada por meio do índice
de simetria, calculado a partir da fórmula: rs=a/na, em que, rs
refere-se
ao valor adimensional da razão de simetria calculada pela
divisão do valor de descarga
de peso no lado afetado (a) sobre o lado não afetado (na) [25].
Os valores utilizados
para o cálculo do índice de simetria foram da
força de reação do solo na direção
vertical (Fz).
Os dados foram analisados
por meio de estatística descritiva (média, desvio-padrão) e estatística inferencial.
A normalidade dos dados e a homogeneidade das variâncias foram avaliadas pelo teste
de Shapiro-Wilk e Levene, respectivamente.
A comparação entre as avaliações foi feita por meio do teste de Wilcoxon. O nível de significância utilizado foi de alfa igual
a 5%. O software utilizado para a análise foi o Biostat.
Oito indivíduos, com idade
média de 56,40 (±7,50) anos, de ambos os gêneros, encaixaram-se nos critérios de
inclusão. Estes apresentaram uma pontuação média de 25,00 (± 4,40) pontos no MEEM,
49,50 (± 2,00) pontos na avaliação do equilíbrio pela EEB e espasticidade de membros
inferiores graduada até 2. Seis sujeitos apresentaram o
hemicorpo direito acometido e dois, o esquerdo. Quanto
à lateralidade, seis eram canhotos e dois, destros.
Na Figura 1 é mostrada
a amplitude de deslocamento do COP nas direções anteroposterior e médio-lateral
pré e pós-treino.
*Significativo em α
≤ 0,05.
Figura 1 - Amplitude de deslocamento do COP nas direções
ântero-posterior e médio-lateral, pré
e pós-treino.
Na Figura 2 está representada
a velocidade média do COP pré e pós-treino.
Figura 2 - Velocidade média do COP pré
e pós-treino.
A Tabela I mostra os valores
de pré e pós-treino para as variáveis
área de elipse e limites de estabilidade.
Tabela I - Área de elipse e limites de estabilidade pré e pós-treino.
Dados expressos em média
(±DP). Limite de estabilidade anterior (LEA); Limite de estabilidade posterior (LEP);
Limite de estabilidade lado não afetado (LENA); Limite de estabilidade lado afetado
(LEAF). Limites de estabilidade significam distância entre o COP e a borda dos pés.
Quanto menor a distância, maior o limite de estabilidade;
*Significativo em α ≤ 0,05.
Na Figura 3 são mostrados
os valores do índice de simetria dos membros inferiores pré
e pós-treino.
Figura 3 - Índice de simetria dos membros inferiores pré e pós-treino.
A proposta deste estudo
foi avaliar os efeitos do treino com realidade virtual no controle postural de indivíduos
hemiparéticos por AVE. De maneira geral, o treino realizado
não produziu alterações significativas nas variáveis amplitude e velocidade de deslocamento
do COP, limites de estabilidade e simetria do apoio, exceto para amplitude na direção
A-P e área de elipse, as quais apresentaram um aumento após o treino.
A
amplitude de deslocamento
do COP é a distância entre o deslocamento mínimo e
máximo para cada direção [26].
No presente estudo, houve um aumento significativo na
oscilação A-P. Na direção
M-L houve uma diminuição do deslocamento, porém,
não significativa. A velocidade
média é a determinação de quão
rápido foram os deslocamentos do COP em cada
direção
[26]. Os participantes do presente estudo apresentaram uma
diminuição na velocidade
total após o treino, porém esta não foi
significativa.
No estudo de Barcala et al. [13] foram selecionados
12 pacientes hemiparéticos pós-AVE, divididos aleatoriamente
em grupo fisioterapia convencional, pelo período de uma hora e o grupo fisioterapia
convencional por trinta minutos e mais trinta minutos de treino de equilíbrio com
auxílio do Wii Fit plus,
duas vezes semanais, durante cinco semanas. O equilíbrio foi avaliado antes e após
as intervenções, através da aplicação da escala de equilíbrio de Berg e pela estabilometria, em duas condições, olhos abertos e fechados.
Os resultados demonstraram que os pacientes de ambos os grupos obtiveram melhor
controle do equilíbrio estático e dinâmico, avaliados pela escala de Berg e diminuição
da oscilação no eixo médio-lateral. No eixo A-P, somente o grupo que combinou fisioterapia
convencional e realidade virtual apresentou diminuição na oscilação, com olhos abertos
e fechados.
No estudo de Cho et al. [14], 22 indivíduos foram divididos
em dois grupos, um grupo experimental que realizou o treino de equilíbrio com RV,
30 minutos, três vezes por semana, associado à fisioterapia e terapia ocupacional,
60 minutos, cinco vezes por semana, durante seis semanas e, o grupo controle, que
realizou somente fisioterapia e terapia ocupacional, 60 minutos, com igual frequência
semanal e duração. Avaliaram equilíbrio estático olhos abertos e fechados. O equilíbrio
dinâmico e mobilidade pelo teste de equilíbrio de Berg e o teste Time Up and Go,
respectivamente. Observou-se melhora no equilíbrio dinâmico e mobilidade no grupo
experimental, mas não no equilíbrio estático.
Um estudo de Kim et al. [9], com 20 indivíduos, mostrou que
um treino de 30 minutos, três vezes por semana, durante três semanas, associando
RV com fisioterapia convencional, foi capaz de modificar o equilíbrio avaliado por
meio de escalas. Lloréns et al. [15], aplicando um treino de RV mais fisioterapia convencional,
uma hora por dia, cinco vezes na semana durante quatro semanas, em 20 indivíduos,
também observaram melhora na pontuação de escalas que avaliam o equilíbrio, com
diferenças significativas entre grupo experimental e controle. Kim, Park e Lee [17]
realizaram um treino em esteira com RV ou fisioterapia convencional em 20 indivíduos,
30 minutos, três vezes na semana, durante quatro semanas e encontraram diminuição
da oscilação A-P e velocidade de deslocamento do COP. O estudo de Lee, Kim e Lee
[16] avaliou um grupo de indivíduos que realizou treino com RV e outro, um programa
orientado à tarefa, ambos realizaram fisioterapia convencional durante seis semanas.
Os resultados mostraram que a RV foi mais efetiva em melhorar o equilíbrio estático
e o alcance funcional. Lee, Shin e Song [18], em estudo
piloto com 10 pacientes em estágio subagudo, divididos em grupo experimental (reabilitação
convencional e RV) e grupo controle (somente reabilitação convencional), encontraram
melhores resultados nos testes e escalas de equilíbrio no grupo experimental.
Considerando as variáveis
relacionadas ao COP, Palmieri et al. [27] apontam
que tanto o aumento da velocidade quanto da excursão total do COP pode simplesmente
sugerir a busca por uma solução estável diante dos desafios posturais. Ou seja,
maiores oscilações e velocidade de deslocamento não significam necessariamente maior
instabilidade postural.
Ao contrário dos estudos
citados anteriormente, Song et al. [11] (n=30)
e Rajaratnam et
al. [20] (n=19), avaliando pacientes em fase aguda, não observaram diferenças
nos resultados de avaliações do equilíbrio entre grupo experimental e grupo controle,
ou seja, a fisioterapia convencional sozinha foi capaz de gerar os mesmos efeitos
que a associação de RV com fisioterapia. Gil Gómez et al. [10], avaliando 17 indivíduos em fase crônica, por meio de escalas
de equilíbrio e mobilidade, também não encontraram diferenças entre os grupos, ou
seja, ambos os grupos apresentaram melhoras. Park et al. [3], avaliando 16 indivíduos, divididos em grupo experimental e
controle, demonstraram que o treino (RV mais fisioterapia convencional) voltado
para o controle postural melhora alguns parâmetros espaço-temporais da marcha, porém
não houve diferenças entre os grupos. No estudo de Song e Park [19], 40 pacientes
foram divididos em dois grupos, RV e treino em ergômetro, durante oito semanas,
30 minutos por sessão, cinco vezes por semana. Ambos os grupos mostraram melhora
na distribuição de peso e habilidade de equilíbrio, verificados por testes e avaliação
dos LE. Ainda, o estudo piloto de Cikajlo et al. [28] não encontrou diferenças nas avaliações
do equilíbrio entre grupo experimental e controle, realizando um treino de três
semanas, cinco vezes por semana, durante 20 minutos.
A área de elipse engloba
95% dos dados do COP, e os dois eixos da elipse são calculados a partir das medidas
de dispersão dos sinais do COP [26], ou seja, 95% representa o quanto o indivíduo
oscilou dentro da sua base de apoio. No presente estudo, a variável área de elipse
apresentou um aumento significativo no pós-treino, o que significa um aumento da
oscilação corporal. Pelas características do treino, há uma hipótese de que este
aumento da oscilação pode indicar maior variabilidade do comportamento dentro de
uma mesma base de apoio, sem necessariamente indicar menor estabilidade.
Em relação aos limites
de estabilidade não foram observadas diferenças estatisticamente significativas
após o treino. Para os LEA,
LENA, LEAF houve um aumento
no pós-treino, o que poderia indicar melhora na estabilidade aos
deslocamentos corporais,
porém, sem significância estatística. Por outro
lado, o limite de estabilidade posterior
apresentou uma diminuição não significativa. Uma
possível explicação para isso é
que os jogos utilizados para o treino podem não ter exigido dos
sujeitos grandes
deslocamentos na direção posterior. Song e Park [19]
avaliaram os LE anteroposteriores e encontraram aumento significativo tanto
após treino com RV quanto treino ergométrico.
Comparado aos estudos
citados, o presente estudo não mostrou resultados expressivos em relação ao controle
postural dos indivíduos avaliados. Entretanto, torna-se importante ressaltar que
os estudos referenciados utilizaram a associação da RV com fisioterapia convencional.
Além disso, apenas um estudo avaliou os limites de estabilidade, restringindo-se
a medida na direção A-P [19],
Em relação ao índice de
simetria, houve um pequeno aumento, sem significância estatística, podendo indicar
uma assimetria, com transferência de peso para o lado comprometido. No estudo de
Pereira et al. [25], em que foi realizada uma avaliação
do índice de simetria, foi observado que uma parte da amostra apresentou este mesmo
comportamento, de apoio sobre o lado afetado. O estudo de Song e Park [19] mostrou
um aumento do apoio sobre o lado afetado após treino com RV.
Conforme
a literatura,
padrões compensatórios de assimetria corporal impostos
pelas hemiparesias promovem
déficit de equilíbrio na posição
ortostática, determinando modificação dos limites
de estabilidade em que o membro afetado passa a ser evitado, e o membro
não afetado
é sobrecarregado [26]. Terapias convencionais e terapias com
retroalimentação visual
visando treinamento de simetria corporal não se mostraram
eficazes em alterar a
sobrecarga sobre o membro parético na distribuição do
peso, permanecendo a dúvida de como a distribuição assimétrica de peso em ortostatismo está relacionada com o controle do equilíbrio em
hemiparéticos [26].
Torna-se importante ressaltar
que os familiares e os sujeitos do presente estudo relataram melhora no equilíbrio,
na concentração e nos deslocamentos após o treino, o que foi observado nas AVD.
Não foram encontrados
estudos relacionados ao equilíbrio no AVE,
que fizessem
apenas o treino com realidade virtual isoladamente. A
associação de abordagens talvez
seja mais benéfica para pacientes com disfunções
neurológicas. Assim, a RV pode
ser considerada um recurso complementar à fisioterapia
convencional e não uma opção
única de treinamento do controle postural. No entanto, mais
estudos são necessários,
já que não há padronização da
metodologia de intervenção e avaliação e
nem consenso
nos resultados [1,22].
O presente estudo apresentou
limitações com relação ao tamanho da amostra, a ausência de um grupo controle, o
uso isolado da realidade virtual, tempo de treinamento e o tamanho da plataforma
de treino, que pode ter interferido nos deslocamentos, pois os sujeitos relatavam
medo de cair quando realizavam os exercícios sobre a plataforma.
De maneira geral, os resultados
do presente estudo demonstraram que o treino isolado do equilíbrio por meio da realidade
virtual em indivíduos hemiparéticos crônicos não produziu
efeitos significativos nas variáveis relacionadas ao COP durante a posição estática
e deslocamentos do corpo, bem como no índice de simetria.