ARTIGO
ORIGINAL
Associação
entre os aspectos sociodemográficos, condições de saúde e qualidade de vida dos
cuidadores de idosos dependentes
Association
between the sociodemographic aspects, health conditions and quality of life of
dependent elderly caregivers
Shirlei Macllaine
Barbosa Andrade*, Maykon dos Santos Marinho, D.Sc.**, Elaine dos Santos Santana, M.Sc.***,
Renato Novaes Chaves, D.Sc.**, Alessandra Souza de
Oliveira***, Luciana Araújo dos Reis, D.Sc.****
*Graduada
em Estética e Cosmética, Faculdade Independente do Nordeste, **Doutor em
Memória: Linguagem e Sociedade (UESB), ***Mestre em Memória, Linguagem e
Sociedade (UESB), ****Doutora em Ciências da Saúde (UFRN)
Recebido em 6 de junho
de 2018; aceito em 13 de setembro de 2019.
Correspondência: Luciana Araújo dos Reis,
Av. Luís Eduardo Magalhães, 1305, Candeias 45055-030 Vitória da Conquista BA
Luciana Araújo dos Reis:
lucianauesb@yahoo.com.br
Shirlei Macllaine
Barbosa Andrade: shirleimac.andrade@gmail.com
Maykon dos Santos Marinho:
mayckon_ufba@hotmail.com
Elaine dos Santos
Santana: elasantana13@gmail.com
Renato Novaes Chaves:
rnc_novaes@hotmail.com
Alessandra Souza de
Oliveira: bahiale23@yahoo.com.br
Resumo
O objetivo deste estudo
foi analisar a associação entre os aspectos sociodemográficos, condições de
saúde e qualidade de vida dos cuidadores de idosos dependentes. Trata-se de um
estudo do tipo analítico transversal com abordagem quantitativa, realizado com
42 cuidadores informais de idosos dependentes funcionais cadastrados em
Unidades de Saúde da Família de três bairros do município de Vitória da
Conquista/BA. O instrumento de coleta de dados foi composto por um questionário
de dados sociodemográficos e pelo WHOQOL BREF. Os dados coletados foram
analisados no programa Statistical Package for the Social Science SPSS® versão 21.0, sendo então
realizada análise estatística descritiva e aplicação do Teste do qui-quadrado. Em relação às condições sociodemográficos dos
cuidadores, observou-se uma frequência de cuidadores do sexo feminino, casadas
e com escolaridade inferior a ensino fundamental completo. Na avaliação das
condições de saúde, verificou-se que a maioria dos cuidadores de idosos
dependentes apresenta problemas de saúde, sendo mais frequente a Hipertensão
Arterial Sistêmica e as doenças osteomusculares. Na avaliação da qualidade de
vida foi constatado que os domínios de menores médias foram os domínios físicos
e psicológicos. Foi possível concluir que as mulheres são as principais
cuidadoras de idosos dependentes, e que sua qualidade de vida vem sendo afetada
pelo exercício da função.
Palavras-chave: qualidade de vida,
cuidadores, idosos.
Abstract
The
objective of this study was to analyze the association between sociodemographic
aspects, health conditions and quality of life of caregivers of dependent
elderly people. This is a cross-sectional analytical study with a quantitative
approach, carried out with 42 informal caregivers of functional dependent
elderly enrolled in Family Health Units of three neighborhoods in the city of
Vitória da Conquista/BA. The data collection instrument was composed of a
sociodemographic data questionnaire and the WHOQOL BREF. The data collected
were analyzed in the Statistical Package for the Social Science SPSS® version
21.0, and descriptive statistical analysis and chi-square test were performed.
Regarding the sociodemographic conditions, the caregivers are mostly female,
married and with education level less than elementary education. In the
evaluation of the health conditions, we verified that the majority of the caregivers present health problems, being more frequent the Systemic
Blood Hypertension) and musculoskeletal diseases. In the evaluation of the
quality of life we considered that the domains of lower averages were the
physical and psychological domains. We concluded that women are the main
caregivers of dependent elderly, and that their quality of life is affected by
the exercise of the function.
Key-words: quality of
life, caregivers, elderly.
Nota-se nos dias
atuais, um número significativo da população com 60 anos ou mais de idade, uma
realidade diferente de um passado nem tão distante. A transformação demográfica
atual reflete uma redução das taxas de mortalidade e a queda das taxas de
natalidade que causa mudanças no cenário da construção etária da população [1].
Com essa nova realidade
populacional, reflexo do aumento da longevidade, os idosos vivem mais e
tornam-se mais susceptíveis as doenças crônicas degenerativas como alterações
cardiovasculares, diabetes mellitus e câncer, patologias que muitas vezes os
tornam dependentes, pelo alto poder incapacitante de suas sequelas [2].
Com o aumento da
população idosa dependente surge a necessidade de garantir cuidados não só a
saúde, mas também apoio financeiro, familiar e até mesmo psicológico, ou seja,
de amparo à vida do idoso. Tais cuidados são indispensáveis na garantia de
qualidade de vida aos idosos de forma segura e eficaz [3].
Há uma diferenciação
entre o cuidado formal e informal prestados pelo cuidador de idoso. O cuidado
formal pode ser realizado por empresas especializadas ou por profissionais de
formação específica, devidamente capacitados e que recebem uma remuneração fixa
para desempenhar tal função. Já o informal, geralmente é realizado por membros
familiares ou vizinhos no seu ambiente domiciliar, sem remuneração e, na
maioria das vezes, sem nenhum tipo de formação ou capacitação [4].
A função de cuidar do
idoso traz consigo momentos de atividades intensas e repetitivas como: higiene
pessoal, alimentação e supervisão da saúde, estabelecendo uma rotina de
sobrecarga e esgotamento na vida do cuidador [5]. Durante a série de atividades
rotineiras do cuidado ao idoso, a exaustão e até mesmo a sobrecarga afetiva do
cuidador, podem atingir a qualidade do serviço prestado ao idoso, bem como a
sua própria saúde. Esses efeitos percebidos na vida dos cuidadores podem agravar
à saúde física e psicológica ocasionando agravos como: hipertensão arterial,
depressão, insônia e ansiedade [6].
Julga-se que o
envolvimento da saúde do cuidador informal com a função de cuidar precisa ser
considerado, tendo em vista que as demandas de cuidado ao idoso dependente
representam uma dupla fraqueza na vida do cuidador que frequentemente sofre com
as consequências do seu empenho físico e da sobrecarga [7]. Deste modo, o
artigo tem como objetivo analisar a associação entre os aspectos sociodemográficos,
condições de saúde e qualidade de vida dos cuidadores de idosos dependentes.
Trata-se de uma
pesquisa do tipo analítico transversal com abordagem quantitativa de tratamento
e análise de dados, subprojeto do projeto: “Proposição, implementação e
avaliação de um protocolo de cuidados ao idoso dependente”, do Núcleo
Interdisciplinar de Estudos e Pesquisa sobre o Envelhecimento Humano da
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Faculdade Independente do Nordeste.
A pesquisa foi
realizada com os cuidadores informais de idosos dependentes funcionais
cadastrados em Unidades de Saúde da Família (USF) de três bairros do município
de Vitória da Conquista/BA. Foram adotados como critério de inclusão: ser cuidador
principal de idoso dependente e exercer a função de cuidado há mais de um ano,
e como critérios de exclusão: não ser um cuidador informal e não residir junto
ao idoso. Após a aplicação dos critérios de inclusão a amostra foi constituída
por 42 participantes.
Os instrumentos de
pesquisa primeira composta por dados sociodemográficos: sexo (masculino e
feminino); faixa etária (≤ 20 anos, 21 a 30 anos, 31 a 40 anos, 41 a 50
anos, 51 a 60 anos, 61 a 70 anos e 71 a 80 anos); estado civil (Casado (a), Solteiro
(a), Separado/divorciado (a) e Viúvo (a)); escolaridade (Não alfabetizado,
Ensino fundamental incompleto, Ensino fundamental completo, Ensino médio
incompleto, Ensino médio completo e Ensino superior incompleto); renda
individual (Sem renda, < 1 Salário mínimo, 1 a 2 Salários mínimos, 3 a 4
Salários mínimos); renda familiar (Sem renda, < 1 Salário mínimo, 1 a 2
Salários mínimos, 3 a 4 Salários mínimos) e fonte de renda (Aposentadoria,
Pensão e Outros).
O instrumento foi
composto ainda de condições de saúde (presença de problemas de saúde: sim ou
não) e Avaliação de Qualidade de Vida por meio do The World Health Organization Quality of Life (WHOQOL Bref). O questionário WHOQOL-bref,
desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), contém 26 questões. Duas
questões gerais de qualidade de vida e 24 compostas por quatro domínios:
físico, psicológico, relação social e meio ambiente, para avaliação da
qualidade de vida [8].
Os dados coletados
foram organizados em uma planilha Excel® 2015 e em seguida transportados e
analisados no programa Statistical Package for the Social Science SPSS® versão 21.0, sendo então
realizada análise estatística descritiva e aplicação do Teste do qui-quadrado.
Este estudo foi
submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia (Protocolo parecer nº 1.875.418), seguindo as disposições
da Resolução do Conselho Nacional de Saúde 466/12, definidora das diretrizes e
das normas regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres humanos. Para
participar do estudo os idosos assinaram um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
Na caracterização
sociodemográfica dos cuidadores de idosos dependentes houve uma maior
frequência de cuidadores de idosos do sexo feminino (90,5%), na faixa etária
entre 41 e 50 anos (28,6%), casados (35,7%) e com escolaridade referente a
ensino fundamental completo (47,6%), conforme dados da tabela I.
Tabela I - Distribuição dos cuidadores de idosos dependentes quanto a caracterização
sociodemográfica. Vitória da Conquista/BA, 2018.
Fonte: Dados da
pesquisa.
Em relação à renda
constatou-se uma maior frequência dos cuidadores de idosos dependentes com
renda individual < 1 Salário mínimo (45,2%), renda familiar entre 1 e 2 salários
mínimos (59,5%) e fonte de renda referente a aposentadoria (69,0%), segundo
dados da tabela II.
Tabela II - Distribuição dos cuidadores de idosos dependentes quanto à renda.
Vitória da Conquista/BA, 2018.
Fonte: Dados da
pesquisa.
Na avaliação das
condições de saúde, verificou-se que a maioria dos cuidadores de idosos
dependentes apresentou problemas de saúde (59,5%), sendo mais frequentes HAS
(16,7%), doenças osteomusculares (14,3%) e HAS associado a doenças
osteomusculares (9,5%), tabela III.
Tabela
III - Distribuição dos cuidadores de idosos
dependentes quanto às condições de saúde. Vitória da Conquista/BA, 2018.
Fonte: Dados da
pesquisa.
Na avaliação da
qualidade de vida constatou-se que os domínios de menores médias foram os
domínios físico (62,07 ± 14,74 pontos) e psicológico (63,08 ± 16,70 pontos),
segundo dados da tabela IV.
Tabela IV - Distribuição dos cuidadores de idosos dependentes segundo os domínios
do Whoqol-bref. Vitória da Conquista/BA, 2018.
Fonte: Dados da
pesquisa.
Com a aplicação do
Teste do qui-quadrado entre QV e as variáveis do
estudo (dados sociodemográficos e condições de saúde), verificou-se associação
estatística significativa entre comprometimento do domínio físico e sexo
feminino (p-valor = 0,001) e comprometimento do domínio físico e presença de
problemas de saúde (p-valor = 0,001).
Ao analisar os
resultados obtidos no presente estudo, pôde-se perceber que há uma maior
frequência de cuidadores do sexo feminino, casados e com escolaridade inferior
a ensino fundamental completo.
Estudos desenvolvidos
com esta temática também evidenciaram resultados semelhantes [9-10]. Como é o
caso do estudo realizado em Minas Gerais com 22 cuidadores, que demonstrou a
maioria de cuidadores sendo mulheres casadas. Deste modo, podemos inferir que o
fato das mulheres representarem a maioria dos
cuidadores está intimamente associado ao papel cuidador da mulher na sociedade
seguido ao longo dos anos na figura de mãe e dona de casa [11].
Em relação ao grau de
escolaridade, o estudo revelou cuidadores com baixo nível de escolaridade, não
tendo completado o ensino fundamental. Esta é uma condição encontrada em outros
estudos [12]. Em relação à renda, constatou-se que 45,2% dos cuidadores de
idosos dependentes tinham renda individual maior que um salário mínimo, e em
69,0% dos casos a fonte desta renda foi referente à aposentadoria, segundo
dados encontrados na tabela II. Resultados semelhantes foram constatados na
pesquisa em que a maioria dos cuidadores possui renda baixa ou a aposentadoria
[13].
Na avaliação das
condições de saúde, verificou-se que a maioria dos cuidadores de idosos
dependentes apresentou problemas de saúde, sendo mais frequente a HAS
(Hipertensão Arterial Sistêmica) e as doenças osteomusculares. A HAS é um dos
problemas de saúde referidos na vida de cuidadores, assim como os problemas
osteomusculares que são consequências dos esforços repetitivos vivenciado pelo
cuidador de idoso diariamente. Sendo assim, os cuidadores merecem atenção na
saúde de modo particular por parte dos serviços de saúde e profissionais da
área para que a sua qualidade de vida e do idoso não sejam ainda mais
comprometidas [14].
Sendo assim, os
cuidadores merecem atenção na saúde de modo particular por parte dos serviços
de saúde e profissionais da área para que a sua qualidade de vida e do idoso
não sejam ainda mais comprometidas [14]. Segundo os dados expostos na tabela
IV, na avaliação da qualidade de vida constatou-se que os domínios de menores
médios foram os domínios físicos e psicológicos.
O domínio físico
envolve não só os aspectos de dor e desconforto do cuidador, como também a
exaustão e a submissão medicamentosa. O cuidador necessita de energia e uma saúde
de qualidade para exercer suas funções rotineiras com eficiência. Com isso,
faz-se necessário na vida do cuidador horas tranquilas de sono e repouso para
que sua qualidade de vida física e emocional seja conservada [15].
Já o domínio
psicológico reflete a capacidade de se concentrar, pensar, aprender e lidar com
aspectos de sua imagem pessoal. É de extrema importância o bem-estar
psicológico do cuidador visto que a capacidade de concentração, a autoestima e
o aprender, têm ligação direta não só com a sua qualidade de vida, mas também
com o bem-estar do idoso, visando evitar os sentimentos negativos de ansiedade,
depressão e estresse que só elevam o declínio da QV [15].
Ao assumir a tarefa de
cuidar, muitas vezes o cuidador sofre com a sobrecarga de tarefas e tem sua
vida afetada. Estudo aponta que a qualidade de vida do cuidador é afetada por
ser uma tarefa árdua e cansativa, que muitas vezes é tida como uma
responsabilidade apenas do cuidador principal. Diante disso, dedicar-se ao
cuidado dessa maneira, pode levar a uma condição de sobrecarga com problemas
físicos e mentais na vida do cuidador [16].
Verificou-se diferença
estatística significativa entre comprometimento do domínio físico e sexo
feminino e comprometimento do domínio físico e presença de problemas de saúde
com a aplicação do Teste do qui-quadrado entre QV e
as variáveis do estudo (dados sociodemográficos e condições de saúde).
Há resultados em outras
pesquisas vigentes que corroboram tais achados, visto que as mulheres são as
principais provedoras do cuidado e ao assumirem a responsabilidade do cuidar
costumam dispensar suas necessidades, acarretando assim em mudanças que trazem
consequências negativas para a sua saúde, pois afetam o seu autocuidado, sua
rotina e seu convívio social [17,18].
Ademais, diversos
estudos corroboram e demonstram que o cuidado compromete diretamente o domínio
físico e apontam a presença de problemas de saúde que comprometem a qualidade
de vida de grande parte dos cuidadores, tendo em vista que o cuidar aumenta as
chances do cenário de estresse, caracterizado pela exigência e assistência
atribuídas aos cuidadores, levando a sentimentos como dor, angústia, tristeza e
situações como frustação e fraqueza [7-19].
Houve uma maior
prevalência de cuidadores do sexo feminino, casados e com escolaridade inferior
ao ensino fundamental completo. Verificou-se também que em relação às condições
de saúde, a maioria dos cuidadores de idosos dependentes apresentou problemas
de saúde, sendo mais frequente a Hipertensão Arterial Sistêmica e as doenças
osteomusculares. Já no que diz respeito à qualidade de vida, constatou-se que
os domínios de menores médias foram os domínios físicos e psicológicos,
refletindo diretamente na vida do cuidador e no cuidado para com o idoso.