ARTIGO
ORIGINAL
Sexualidade
e envelhecimento: a percepção de idosos participantes de grupo de convivência
Sexuality and aging: the perception of elderly participants of a coexistence
group
Monique Xavier Romano
Pinto*, Luana Araújo dos Reis, D.Sc.**,
Elaine dos Santos Santana***, Luciana Araújo dos Reis, Ft. D.Sc.****
*Enfermeira
graduada pela Faculdade Independente do Nordeste, **Enfermeira, Doutora em
Enfermagem/UFBA, ***Enfermeira, Doutoranda em Memória: Linguagem e
Sociedade/UESB, ****Pós-doutora em Saúde
Coletiva/UFBA, Docente Titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e
da Faculdade Independente do Nordeste
Recebido em 6 de junho de 2018; aceito em 19 de julho de 2018.
Endereço
de correspondência:
Luciana Araújo dos Reis, Av. Luis Eduardo Magalhães,
1305 Candeias 45055-030 Vitória da Conquista BA, E-mail:
lucianauesb@yahoo.com.br; Monique Xavier Romano Pinto: mon_xavier@hotmail.com;
Luana Araújo dos Reis: luareis1@hotmail.com; Elaine dos Santos Santana: elasantana13@gmail.com
Resumo
Trata-se de uma
pesquisa descritiva com abordagem qualitativa, desenvolvida com 12 idosos
participantes de um grupo de convivência com idade mínima de 60 anos e máxima
de 85 anos tendo por objetivo geral analisar as concepções de sexualidade entre
idosos participantes de grupo de convivência. Os dados foram coletados através
de um questionário sociodemográfico e entrevista
aberta. Os resultados foram analisados com base na Técnica de Análise de Conteúdo
Temática, permitindo inferir que apesar das mudanças fisiológicas que ocorrem
no corpo e na rotina com o processo de envelhecimento, os idosos estão em
processo de adaptação nas vivências da sexualidade, ainda que não seja apenas
pelo ato sexual. Os idosos reconhecem a importância da sexualidade e da busca
pela satisfação pessoal e do bem-estar.
Palavras-chave: envelhecimento,
sexualidade, sexo, idoso, percepção.
Abstract
This is a descriptive research with a qualitative approach, developed
with 12 elderly participants of a coexistence group with minimum age of 60
years and maximum of 85 years, with general objective to analyze the
conceptions of sexuality among elderly people in a cohabitation group. Data
were collected through a sociodemographic
questionnaire and an open interview. The results were analyzed based on the
Thematic Content Analysis Technique, allowing to infer
that despite the physiological changes that occur in the body and the routine
with the aging process, the elderly are in the process of adaptation in the
experiences of sexuality, even if it is not just for the sexual act. The
elderly recognize the importance of sexuality and the search for personal
satisfaction and well-being.
Key-words: aging,
sexuality, sex, elder, perception.
Caracterizado por uma
dimensão heterogênea, o envelhecimento traz modificações significativas. A mais
apontada delas é a transformação que ocorre no corpo, impondo algumas
limitações impostas pelo tempo em um processo biológico esperado [1-2]. No
entanto, apesar de ser a primeira mudança indicada, a compreensão do
envelhecimento não deve partir apenas do ponto de vista físico e biológico,
pois dessa maneira, a importância que os problemas psicológicos, ambientais,
culturais, econômicos e sociais têm sobre o processo seria ignorada. Os
determinantes das condições de saúde do idoso e as múltiplas facetas do
envelhecer requerem uma visão global do envelhecimento como processo e do idoso
como ser humano [3-4].
Apesar da compreensão
de que o envelhecimento é um processo natural da vida humana e uma gama de
mudanças biopsicossociais alteram as relações com o meio em que o indivíduo
está inserido, na grande maioria das vezes, a visão do envelhecer como limitador e incapacitante prevalece, e isso faz com que
enfrentamentos e preconceitos sejam incorporados a realidade do idoso, como é o
caso da sexualidade [5].
Ao envelhecer, alguns
padrões de comportamento são impostos pela sociedade, aos idosos, que os rotula
como assexuados ou incapazes de sentir desejo, e restringem a sexualidade
humana a um período compreendido entre a puberdade e o início da maturidade,
demonstrando que a sexualidade do idoso além de não ser estimulada, está
cercada por julgamentos, tabus e preconceitos expressando os fatores históricos
e socioculturais envolvidos [6,7].
A sociedade, de uma
forma geral, desconsidera que as mudanças físicas decorrentes do processo de
envelhecimento não impedem que os idosos vivenciem sua sexualidade como parte
de um processo natural [7]. Os principais fatores que influenciam de maneira
negativa a sexualidade das pessoas idosas são os aspectos proibitivos
culturalmente cultivados, associado ao desconhecimento sobre a sexualidade na
velhice [6].
Torna-se necessário
provocar discussões sobre essa temática, pois a falta de conhecimento é um
fator que acentua e fortalece os tabus. A sexualidade é um aspecto inerente ao
ser humano, e está presente em todas as fases da vida, inclusive na velhice
[2]. O processo do envelhecimento não determina uma condição assexuada, na
verdade, uma nova etapa da sexualidade se inicia, e deve ser apreciada e
vivenciada como nas outras fases da vida. Além disso, as vivências sexuais
proporcionam ao casal possibilidade de realização pessoal, cumplicidade,
intimidade e enriquecimento das relações independentemente da idade [9].
A sexualidade é
considerada uma das diversas maneiras pelas quais os indivíduos buscam para
adquirir ou manifestar prazer a partir de suas preferências e predisposições
sexuais, contribuindo para a formação da sua identidade. É a vontade de estar
perto da pessoa amada, a troca de olhares e carinho, o beijo, sensações e
satisfação mútua [10]. A concepção de prazer irá depender da realidade do
indivíduo, envolvendo questões sociais, culturais, crenças, fatores biológicos,
interferindo nas relações sexuais de cada um. Fatores negativos interferem na
sexualidade dos idosos, sendo eles, falta de conhecimento a respeito do
assunto, opiniões formadas e culturas preservadas [9].
Apesar da escassez do
número de estudos que abordam a sexualidade no envelhecimento, por conta dos
tabus e preconceitos que cercam o assunto, a necessidade de discutir essas
questões é relevante, pois a sexualidade é uma continuação da existência do
indivíduo, e mesmo que a frequência da prática sexual seja reduzida ou que
preconceitos sejam incorporados, explorar tais questões pode ser uma ferramenta
na desconstrução de tabus e estereótipos negativos relacionados à velhice [10].
Além disso, a própria transformação da característica populacional atrelada à
participação social e as mudanças de hábitos requerem cada vez mais da
sociedade que os idosos sejam vistos de uma nova maneira, como indivíduos
ativos que podem ter sua própria liberdade [9]. E o desenvolvimento de
pesquisas e a divulgação de seus resultados podem subsidiar novos estudos
acadêmicos e guiar estratégias que auxiliem para uma melhor qualidade de vida
dos idosos. Nesta perspectiva, o presente estudo tem como objetivo analisar as
concepções de sexualidade entre idosos participantes de grupo de convivência.
Trata-se de uma
pesquisa descritiva com abordagem qualitativa. A pesquisa foi realizada na
cidade de Vitória da Conquista, região sudoeste da Bahia. O local escolhido
para a coleta de dados foi um grupo de convivência para idosos que tem como
principal objetivo promover o protagonismo dos idosos, com ações de interação,
melhora da autoestima, desconstrução dos preconceitos, apoio familiar, lazer,
estímulo da vaidade e cuidados com a higiene, além da inserção destes na
comunidade.
Os participantes da
pesquisa foram idosos matriculados e que frequentavam o grupo de convivência. A
seleção da amostra foi aleatória, buscando entre os participantes os idosos que
se dispuseram participar voluntariamente da pesquisa, totalizando 11 idosos. O
instrumento utilizado para a coleta dos dados foi composto por um questionário
de dados sociodemográficos como sexo, idade,
escolaridade, estado civil e renda e pela entrevista aberta com perguntas
relacionadas à temática da sexualidade.
A análise dos dados
foi realizada a partir da Análise de Conteúdo Temática proposta por Laurence Bardin [8], que consiste em um conjunto de técnicas de
análises das comunicações que busca alcançar, por meio de procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, os indicadores
que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção dessas mensagens.
Esta é uma técnica de
análise composta por três fases que se organizam em três polos cronológicos,
sendo o primeiro a pré-análise, que consiste na etapa
de organização, que pode utilizar vários procedimentos, tais como leitura
flutuante, formulação de hipóteses e dos objetivos e elaboração de indicadores
que fundamentem a interpretação; em seguida, a fase de exploração do material,
em que os dados são codificados a partir das unidades de registro e, por fim, o
tratamento dos resultados, inferência e interpretação, etapa na qual se faz a
categorização, que consiste na classificação dos elementos segundo suas
semelhanças e por diferenciação, com posterior reagrupamento, em função de
características comuns [8].
Todos os requisitos
éticos foram respeitados. O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de
Ética da Faculdade Independente do Nordeste/FAINOR, para participação na
pesquisa cada idoso assinou um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e a
coleta dos dados só teve início após a aprovação do projeto pelo Comitê de
Ética segundo Protocolo de n°34666414.7.0000.5578 e autorização do grupo de
convivência.
Verificou-se que a
maioria dos idosos é do sexo feminino (n = 6), com nível de escolaridade 2º
Grau Completo (n = 4), estado civil viúvo (n = 5), e renda de salário mínimo (n
= 5). Os dados obtidos com as entrevistas resultaram em seis categorias e duas
subcategorias, sendo estas: entendimento sobre sexo, conhecimento sobre
sexualidade, percepção a respeito do sexo no envelhecimento (subcategorias:
prática sexual entre idosos e idade para o sexo), memória da sexualidade antes
e após o envelhecimento, percepção sobre a velhice e prática da sexualidade no
cotidiano.
Categoria
I - Entendimento sobre sexo
Os idosos atribuíram
ao sexo um valor que vai além do prazer físico, dando ênfase aos sentimentos
como amor e carinho. Isso pode ser justificado pelo fato dos idosos vivenciarem
a sexualidade de diversas maneiras, mas sempre apontarem como uma forma de
expressão de carinho e amor, sentimentos que não se perdem com o tempo [3,12].
Segundo a fala dos participantes, o sexo é uma atividade natural do ser humano,
sendo uma atividade necessária na relação entre homem e mulher, conforme pode
ser observado nas falas abaixo:
Sexo,
na minha opinião, é uma complementação humana. Você
não vive sem o sexo, a pessoa normal não vive sem o sexo. Sexo é uma
necessidade. (F.C.S)
Oh,
o que eu entendo por sexo? Fazer o sexo. Agora que tem que ser com amor, com
carinho, e que seja assim, os dois concordem, que estejam de acordo. (M.L.F.S)
Esse comportamento
contribui para que eles possam ter uma vida mais prazerosa na idade em que se
encontram e facilidade para enfrentar as dificuldades encontradas pelo
preconceito. Eles manifestam o sexo na maneira que os convêm, buscando uma
realização pessoal. Para os idosos, as carícias, a atenção, os olhares, o
companheirismo, o ficar junto são tão importantes quanto a
relação sexual, e são maneiras de expressar sua sexualidade [11].
Sendo assim, é
importante atentar para as interpretações da sexualidade não só na fase da
velhice, como também nas outras faixas etárias. Muitas vezes, para os sujeitos
a sexualidade pode estar ligada aos sentimentos, como foi evidenciado
anteriormente nas falas dos idosos, mas pode também manifestar-se por palavras
e gestos, que não precisam necessariamente ser intencionais, mas que revelam as
influências do social em que estamos inseridos [12].
Categoria
II - Conhecimento sobre sexualidade
De acordo com uma
parte dos idosos entrevistados, a sexualidade é definida como toda manifestação
do corpo relacionada ao bem-estar, à vaidade, ao interesse em outras pessoas e
aos valores, não se restringindo apenas a prática sexual. Para eles a
sexualidade pode ser compreendida como comportamentos e atitudes que lhes dão a
sensação de bem-estar. Como podemos notar nas falas abaixo:
Pra
mim, é a gente viver bem com a vida, por que se a gente não vive bem com a vida
não tem prazer né?! Eu entendo assim, e fora isso eu sou uma pessoa, gosto de
se divertir, tudo que me faz bem eu gosto. (M.R.S.O)
Pra
mim, sexualidade é toda manifestação do corpo. Não é de interesse no corpo, não
apenas o sexo em si, mas tudo que nos rodeia, todos nossos interesses pelo
outro, pelas coisas, pela vaidade. Contudo, isso é sexualidade pra mim. (J.F)
Entretanto, é comum
que idosos reproduzam o discurso de que a sexualidade está resumida no ato
sexual. Pesquisas desenvolvidas na área demonstraram que a genitalidade
e o sexo são os primeiros aspectos referidos pelos idosos quando questionados
sobre a sexualidade [12,13]. Alguns idosos revelaram esse pensamento como
podemos notar nas falas:
Sexualidade,
eu pensei assim: Uma pessoa com o sexo ativo. Não entendo mais, não sei. (E.L.S.F)
Eu
acho que sexualidade é uma coisa importante por que é do sexo que produz né, a
família, é do sexo que sai o ambiente da família. A família só é poderosa e ela
só tem prazer quando a existe o sexo. (R.A.S)
Os idosos apresentam,
por meio de suas falas, uma postura que ressalta os
seus interesses e suas vontades, definindo a sexualidade através de
características próprias de sua vida e de ideias e comportamentos que lhes dão
prazer.
Categoria
III - Percepção a respeito do sexo no envelhecimento
Subcategoria 1: Prática sexual entre idosos
A partir das falas
dos idosos foi possível notar que a prática sexual ainda é ativa nessa faixa
etária. De acordo com os relatos, alguns idosos questionam à rotina e o fato da
idade avançada diminuir a atividade sexual, seja pelo cansaço do parceiro, seja
pela ausência desta. Porém, de uma forma geral eles afirmam que possuem uma
vida ativa e que conseguem se realizar, como podemos observar nas seguintes
falas:
Olha, eu tinha vida ativa. Eu tenho meu parceiro
e quando nos encontramos a gente tem sexo, mas não é como antes, é lógico(risos). Antes eu podia ter sexo todos os dias, todas as horas se fosse possível. Hoje eu tenho assim, uma
vez no mês, mas ainda me realizo como mulher. Os idosos podem ter vida ativa,
podem ser “ficantes” do mesmo jeito dos jovens. (E.L.S.F)
Sim,
eu não prático mais porque mulher é sempre mais cansada que o homem. Às vezes
trabalha, chega cansada e tal, aí a gente tem que entender. Mas, de por mim,
com essa idade que eu estou é duas vezes por semana, mas ela só quer de oito em
oito. (risos) (A.S.O)
No envelhecimento a
prática sexual pode ser ativa, porém, a frequência reduzida é um relato comum
dos idosos. As mudanças fisiológicas e anatômicas do organismo produzidas pelo
envelhecimento comprometem também a função sexual, fazendo com que o desejo e
frequência sexual sejam mais espaçados [2,14]. Grande parte da população idosa
é perfeitamente capaz de ter relações sexuais e sentir prazer, sendo o ato
sexual caracterizado por uma excitação mais lenta, com orgasmo em menor intensidade,
apesar de continuar sendo satisfatório como era na juventude [2,15].
Dessa forma, é
possível afirmar que apesar das mudanças que o corpo apresenta não é necessário
dessexualizar os sujeitos [14]. Os idosos são vistos
pela sociedade como seres assexuados, doentes, incapazes de ter uma vida sexual
ativa, pois lhes é atribuído um conceito de que a velhice é uma fase de perdas,
desleixo e resignação. No entanto, as falas dos idosos demonstram o interesse e
a vivência da vida sexual ainda que dentro das suas limitações.
Subcategoria 2: Idade para o sexo
Para os idosos que
participaram da entrevista, o sexo não tem idade, porém não ocorre como na
juventude, pois com o envelhecer o ser humano sofre modificações psicológicas e
fisiológicas. Com essa condição a autoestima do idoso pode ficar diminuída e
assim alegar desinteresse ou cansaço, conforme descrito nas falas abaixo:
Não
tem, não tem idade não, é muito bom. Agora só que é como te falei, tem horas
que a gente... não é nem por que a gente não tem
prazer, é o cansaço mesmo, é o cansaço. Mas sobre meu esposo, eu não tenho o
que reclamar, ele anda tudo bem. (M.R.S.O)
Acho
que é conforme as pessoas, por que tem gente que está velho, idoso e atrás de
sexualidade. Mas cada qual faz o que quer e acha proporcional pra ele, agora eu
não acho, por que eu casei, vivi muito tempo, tive meus sete filhos e ele
separou de mim por causa de outra. Então, eu já estava idosa, eu não fui mais
atrás de ninguém. Mas, não sou contra quem quiser agora eu não fui e não quero.
(C.C)
Ainda existe muito
preconceito sobre a sexualidade na terceira idade alimentado por pensamentos
que negam a sua importância na velhice e que reduzem o seu conceito ao sexo e a
função de reprodução. Tabus como esse prejudicam a saúde dos idosos que estão cada
vez mais expostos às doenças sexualmente transmissíveis e negligenciados nas
campanhas de prevenção e promoção a saúde sexual justamente por serem
considerados assexuados [14,15]. Eles afirmam que não tem idade para o sexo,
mas ressaltam que não ocorre como na juventude. Não negam a necessidade pelo
prazer, mas evidenciam a diminuição da atividade por conta da idade avançada,
do cansaço ou mesmo do preconceito que os impossibilitam de manifestar suas
necessidades sexuais como antes.
Categoria
IV - Memória da sexualidade antes e após o envelhecimento
Apesar dos
preconceitos e tabus que envolvem a temática, essa é uma discussão que precisa
ser feita para que o exercício da sexualidade na velhice seja compreendido como
uma experiência natural e positiva [12]. Quando questionados sobre as memórias
de sua vida, os idosos estabelecem uma relação da memória da sexualidade com a
prática sexual mais frequente na juventude e uma atual redução da atividade e
satisfação sexual. No entanto, a maioria dos participantes argumenta que houve
melhora na qualidade de vida e que estão satisfeitos com o encontro do par
perfeito, como é possível notar nas seguintes falas:
Agora
pra mim que está sendo melhor, porque eu nunca tive uma vida assim, tranquila, sempre
corre corre. Casei duas
vezes, o marido era muito ruim, bebia, era só sofrimento. Agora, depois que
casei com ele, é que ele está me fazendo feliz, sabe?!(M.R.S.O)
Mudou,
estou mais feliz por que sou homem só de uma mulher. Por que antigamente eu tinha
várias, eu tinha várias relações e hoje não. Já há 31
anos que é só com ela, não conheço outra mulher. A gente olha pra uma mulher,
acha bonita e etc, aí só isso (risos) (A.S.O)
A sexualidade envolve
também o ato sexual e os idosos continuam apresentando desejos, apesar de
vivenciarem algumas limitações, porém a experiência da sexualidade nessa fase é
apontada como um momento de descobertas de outras formas de sentir prazer
adaptadas às suas condições [5].
Comumente os
sentimentos de afeto, carinho, amor e respeito são destacados pelos idosos como
pontos centrais da sexualidade nesta fase. As representações sociais de idosos
sobre a sexualidade apontam o carinho, o amor e o respeito como elementos do
núcleo central, ou seja, novos fatores ganham importância à vivência da
sexualidade na velhice não se restringindo apenas ao ato sexual [2].
Categoria
V - Percepção sobre a velhice
A percepção do
envelhecer para os idosos entrevistados tem um caráter positivo. De maneira
geral, eles compreendem que é um processo natural e lidam bem com as mudanças,
mas afirmam que são atenciosos e cuidadosos, pois a velhice traz uma nova
aparência e a exigência de um novo comportamento que seja adequado para a
idade, como podemos notar nas seguintes falas:
Eu
aceitei na boa, aceito porque está certo isso aí. Eu tenho que botar na cabeça,
os jovens já foi e agora tem que ter cuidado com agora. Saber usar as coisas,
saber falar, saber viajar, tem que saber tudo... Porque a gente que tem que
cuidar da gente, ninguém cuida de nós hoje, não é?! Antigamente era
diferente... (L.M)
Muda
sempre para o melhor. Eu me sinto jovem, eu me sinto como se tivesse 18 anos
(risos). (A.S.O)
Os aspectos culturais
interferem na maneira de olhar o envelhecimento e, consequentemente, na maneira
como a pessoa idosa vai se constituir nesse meio. A possibilidade de envelhecer
de maneira bem-sucedida depende, dentre outros fatores, da história de vida e
da forma de como cada um entende o processo de envelhecimento e a velhice
[13,15]. Já para outros idosos, mesmo que convivam com doenças, enxergam a vida
com alegria, e acreditam que a velhice seja como qualquer outra fase da vida,
em que podem conviver com sua família e fazer algo que seja prazeroso e lhes
cause sensação de bem-estar [14].
Dessa forma, as
reflexões acerca do significado da velhice por meio de relatos dos idosos
configuram-se como um mecanismo importante na compreensão do processo de viver
e envelhecer [14].
Categoria VI -
Prática da sexualidade no cotidiano
Nesse aspecto, foi
possível perceber que a prática da sexualidade no cotidiano vai
além do fazer sexo, está relacionada ao autocuidado,
autoestima, vaidade e ao bem-estar. A sexualidade está na forma de se expressar
e isso está acima de qualquer idade.
Sim,
às vezes! A gente não é perfeito,
a única pessoa é o
nosso Deus. Acontece ter uma recaída, às vezes eu fico
assim pensando que eu
ainda não tive assim, aquela oportunidade de está tudo
tranquilo, mas a gente
não pode se entregar e nem se desesperar, por que isso aí
não faz bem a saúde
né?! Então eu peço força, Deus me dá
sabedoria e aí eu levanto a cabeça e não
deixo de usar meu batom, minhas roupas que eu gosto,
esmalte, colar, brinco, tudo eu gosto. Gosto, agora mesmo vou
dá um trato nesse cabelo, você vai ver na próxima (risos. Eu vou está
mais linda do que agora! (M.R.S.O)
Sim,
limitadamente, mas estou. (F.C.S)
A sexualidade é a
maneira como uma pessoa expressa seu sexo, através dos gestos, da postura, da
fala, do andar, da voz, das roupas, dos enfeites, do perfume, enfim, de cada
detalhe do indivíduo [15]. A sexualidade e a velhice, enquanto condições da
natureza humana devem ser vivenciadas e experimentadas como em qualquer outra
fase da vida, porém as particularidades que integram o ser humano fazem com que
cada indivíduo vivencie suas experiências de maneira singular [9].
A partir das falas
dos participantes foi possível compreender que grande parte
dos idosos acreditam que a sexualidade está restrita ao ato sexual. Resultado
este que pode ser justificado pela falta de conhecimento e de discussões sobre
o assunto. Além disso, há uma aceitação das mudanças na prática sexual
justificadas por condições da idade e doenças que dificultam ou comprometem a
sua ação.
Relacionado a essa
mudança na frequência do exercício da sexualidade, de acordo com a percepção
dos idosos, os sentimentos de carinho, respeito e afeto passam a ser de grande
valia, demonstrando que há uma adaptação na maneira como eles enxergam a
sexualidade nessa fase. Os sentimentos e o respeito ganham destaque em relação
ao prazer físico. Os relatos evidenciaram que as doenças e o avançar da idade
dificultam o desempenho sexual, mas eles reconhecem que a satisfação e a
manifestação da sexualidade podem estar também no gesto, na companhia e nas
atitudes que lhes causem sensação de bem-estar.
Os preconceitos que
cercam essa temática são fatores que influenciam negativamente a vivência da
sexualidade dos idosos, principalmente das mulheres. Sendo assim, é fundamental
que pesquisas dessa natureza sejam realizadas e que esse campo seja discutido
para que dessa maneira os tabus possam ser descontruídos.