ARTIGO ORIGINAL
Impacto da pressão positiva expiratória em pacientes
no pós-operatório de cirurgias abdominais: um ensaio clínico randomizado
Impact
of positive expiratory pressure in patients in the postoperative surgery of
abdominal surgeries: a randomized clinical test
Fabricia
Dias Matos*, Danilo Rocha Santos Caracas, M.Sc.**
*Bacharel em Fisioterapia pela Faculdade Independente
do Nordeste Vitoria da Conquista/BA, **Docente do curso de Fisioterapia,
Faculdade de Tecnologia e Ciências, Faculdade Independente do Nordeste,
Coordenador do serviço de Fisioterapia na Unidade Médico Cirúrgica, Vitoria da
Conquista/BA
Recebido
em 11 de junho de 2018; aceito em 30 de agosto de 2019.
Correspondência: Fabricia
Dias Matos, Rua Hermes da Fonseca, 45002-080 Vitoria da Conquista BA
Fabricia
Dias Matos: fabriciadm@hotmail.com
Danilo
Rocha Santos Caracas: danilorochafisio@yahoo.com.br
Resumo
Introdução:
Os pacientes
submetidos a cirurgias abdominais possuem riscos de
complicações pulmonares no
período pós-operatório, tais como:
diminuição da atividade respiratória,
alteração da relação
ventilação/perfusão e intensificação
no trabalho dos
músculos respiratórios, aumentando a morbidade e a
mortalidade hospitalar. Objetivo: Avaliar o impacto da pressão
positiva expiratória na função pulmonar em pacientes no pós-operatório de
cirurgias abdominal eletiva. Métodos:
Caracteriza-se como um estudo exploratório do tipo ensaio clínico randomizado,
composto por 40 pacientes randomizados em dois grupos, grupo intervenção foi
submetido a um protocolo de pressão positiva expiratória nas vias respiratórias
com pressão positiva expiratória final de 10 cmH2O e deambulação por
150 metros e o grupo controle realizou deambulação por 150 metros e orientações
sobre a importância da inspiração profunda a cada duas horas, sendo realizada
avaliação no pós-operatório imediato e no momento da alta hospitalar. Resultados: Pode-se perceber um padrão
homogêneo entre os grupos estudados, observou-se significância estatística na
análise intragrupos nas variáveis saturação periférica de oxigênio (p <
0,0001) e no pico de fluxo expiratório (p = 0,009) e na capacidade vital
forçada (p < 0,0001). Na análise entre os grupos observou-se diferença
estatística na saturação periférica de oxigênio (p = 0,010) e no pico de fluxo
expiratório (p = 0,012). Conclusão:
Pode-se concluir, no presente estudo, que a utilização da pressão positiva
expiratória no pós-operatório de cirurgias abdominais impactou positivamente na
saturação periférica de oxigênio e no pico de fluxo expiratório, demonstrando
um benefício significativo no processo ventilatório e difusional
no grupo estudado.
Palavras-chave: pressão positiva
expiratória final, laparotomia, respiração com pressão positiva,
pós-operatório.
Abstract
Introduction:
Patients undergoing abdominal surgery have a risk of pulmonary complications in
the postoperative period, such as: decreased respiratory activity, altered
ventilation / perfusion ratio, and increased respiratory muscle work,
increasing hospital morbidity and mortality. Objective: To evaluate the impact of positive expiratory pressure
on lung function in postoperative patients of elective abdominal surgeries. Methods: Characterized as an exploratory
study of the type randomized clinical trial, composed of 40 patients randomized
into two groups, the intervention group was submitted to a protocol of positive
expiratory pressure in the respiratory tract with final expiratory positive
pressure of 10 cmH2O and ambulation for 150 meters and the control
group underwent walking for 150 meters and guidelines on the importance of deep
inspiration every two hours, being evaluated in the immediate postoperative
period and at the time of hospital discharge. Results: A homogeneous pattern could be observed between the groups
studied. Statistical significance was observed in the intra-group analysis in
the variables peripheral oxygen saturation (p
<0.0001) and peak expiratory flow (p = 0.009) vital forcing (p <0.0001).
In the analysis between groups, a statistical difference was observed in
peripheral oxygen saturation (p = 0.010) and peak expiratory flow (p = 0.012). Conclusion: We concluded that the use of
positive expiratory pressure in the postoperative period of abdominal surgeries
had a positive impact on peripheral oxygen saturation and peak expiratory flow,
demonstrating a significant benefit in the ventilatory and diffusional process
in the studied group.
Key-words: positive
end-expiratory pressure, laparotomy, breathing with positive pressure,
postoperative period.
As
complicações respiratórias no pós-operatório de cirurgias abdominais são
definidas como um desequilíbrio pulmonar que leva a um déficit ou à doença com
significância clínica que afetam negativamente a recuperação do paciente no
período pós-operatório. Essas complicações são as principais causas de
morbidade e mortalidade no pós-operatório de cirurgias abdominais gerando assim
um aumento do tempo e dos custos desse paciente [1].
As
incisões abdominais altas, incluindo as esternotomias
são as abordagens cirúrgicas com a maior taxa de complicações pulmonares no
período pós-operatório. Essas incisões produzem um quadro doloroso que acaba
gerando modificações no padrão ventilatório do paciente transformando em um
padrão superficial e rápido o que gera uma piora da ventilação alveolar levando
a uma hipoxemia [2].
No
abdômen estão situados alguns dos músculos mais importantes paro o sistema
respiratório, dessa forma os procedimentos cirúrgicos podem gerar rupturas de
fibras musculares, associado a isso se tem também os efeitos da anestesia e da
dor gerada pela cirurgia, dessa forma pode levar a diminuição da atividade
respiratória, a alteração da relação ventilação perfusão com consequente
impacto na oxigenação tecidual, gera um aumento do trabalho dos músculos
respiratórios e a diminuição da expansibilidade torácica, gerando assim um
aumentado dos sintomas respiratórios pós-operatórios [3,4].
Quando
o sistema respiratório é acometido por um mau funcionamento devido a uma lesão
nos pulmões, parênquima pulmonar, no sistema nervoso central, sistema nervoso
periférico, na musculatura respiratória, nervos periféricos, isso irá gerar um
quadro de insuficiência respiratória. O paciente pode apresentar um quadro de
hipoxemia, hipercapnia, acidose metabólica levando a
um déficit na oxigenação e troca gasosa desse paciente, ocasionando um maior
gasto energético para transportar oxigênio aos órgãos e extremidades do corpo
[5].
O
efeito prolongado dos anestésicos sobre a função muscular é um fator que está
ligado às complicações pulmonares, de forma que implica em disfunções na
inervação torácica, comprometendo assim a musculatura diafragmática, torácica e
acessória, tendo como consequência uma redução importante dos volumes e
capacidade pulmonares [6].
Em
1984 na Dinamarca foi introduzida pela primeira vez a terapia com a pressão
positiva expiratória na via aérea (EPAP), é caracterizada por uma terapêutica
simples, de custo baixo e com boa aplicação em patologias respiratórias.
Utiliza níveis de pressão positiva expiratória final (PEEP) tendo como
objetivos: aumentar a capacidade residual funcional (CRF), promover
recrutamento alveolar, redistribuir a água extravascular,
aumentar o volume e a pressão alveolar, mobilizar as secreções com o intuito de
melhorar a oxigenação arterial, prevenir o colapso alveolar ou reverter quadros
de atelectasias [1].
O
sistema EPAP é composto por uma máscara facial ou bucal e válvula
unidirecional. Na fase expiratória, conecta-se um dispositivo que funciona como
um resistor que determinará o nível de PEEP. Existem dois tipos básicos aceitos
na literatura: resistor a fluxo, no qual o fluxo aéreo expiratório do paciente
é determinado pelo diâmetro do orifício, e resistor de limiar pressórico em que
o fluxo expiratório é mantido constante durante todo o ciclo. A literatura traz
de forma controversa em relação à melhor forma de produzir o mecanismo de
resistência expiratória. A prática clínica estabelece como mais adequada e
funcional o uso de válvula spring loaded [7].
Frente
às vantagens que o EPAP possui para aumentar a capacidade residual funcional, e
aos efeitos positivos na mecânica respiratória e troca gasosa do paciente,
percebe-se a necessidade de estudos com dados mais fidedignos.
Deste
modo, o objetivo deste estudo foi verificar o impacto positivo do uso do EPAP
em pacientes no pós-operatório imediato de cirurgias abdominais eletivas.
Trata-se
de um estudo exploratório, intervencionista do tipo ensaio clínico randomizado,
realizado na enfermaria cirúrgica do hospital UNIMEC na cidade de Vitória da
Conquista/BA no período de março a maio de 2018. Este é um subprojeto do
projeto intitulado “Fisioterapia no pós-operatório de cirurgia abdominal
eletiva: um ensaio clínico randomizado” que foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Faculdade Independente do Nordeste com o número do parecer
2.403.320, e todos os voluntários assinaram o Termo de Consentimento Livre
Esclarecido contendo a descrição dos procedimentos envolvidos.
Neste
subprojeto foram elegíveis 50 pacientes, sendo dez excluídos da análise por não
atender os critérios de inclusão da pesquisa, sucedendo que oito apresentaram
pico hipertensivo, um recusou a realização dos testes pulmonares e outro cursou
com vômito, ao final se obteve um total de 40 indivíduos, com idade maior que
18 anos, atendidos via Sistema Único de Saúde (SUS), conscientes e lúcidos,
submetidos ao procedimento de cirurgia abdominal eletiva aberta, tendo como
critério de exclusão paciente com qualquer condição de doença crônica,
particularmente de aspectos pulmonares, hepáticos, renais, endócrinos e
neurológicos, que impedissem a realização do protocolo de intervenção,
instabilidade hemodinâmica (Frequência cardíaca <60 ou >130, Pressão
arterial sistólica <110 ou >140 mmHg, Pressão arterial diastólica <80
ou >90 mmHg), e que estivessem no pós-operatório imediato de cirurgias
abdominais eletivas.
Após
a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e aprovação do
Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), as informações referentes à idade, gênero,
história clínica e diagnóstico do paciente foram obtidas do prontuário médico.
As informações sobre os procedimentos das cirurgias foram obtidas do prontuário
cirúrgico de cada paciente.
A
randomização se deu através de sorteio realizado por uma enfermeira que era
cega para o tipo de intervenção.
Primeiramente
foi aplicado um questionário de dados sobre características do paciente,
verificando se o mesmo já possuía algum comprometimento ou se apresentava
sintomas de disfunção do sistema respiratório. No princípio do atendimento foi
mensurada a pressão arterial, saturação de oxigênio, frequência cardíaca,
frequência respiratória, temperatura. Logo em seguida foi realizada a avaliação
pneumofuncional, avaliação do sistema
musculoesquelético e avaliação vascular periférica.
Os
dois grupos foram submetidos a duas avaliações, sendo a primeira 6 horas após o
procedimento cirúrgico e a segunda no momento da alta hospitalar. Foram
avaliadas a Capacidade Vital Forçada (CVF), por aparelho ventilômetro
da marca Spire Mark 14 Wright®, sendo solicitado ao
paciente que realizasse três inspirações máximas seguidas de expirações
forçadas, contabilizado a de maior valor entre as três, foi aferida à saturação
periférica de oxigênio (SPO2) através do oxímetro de pulso da marca Power Pack, posteriormente foi feita a
avaliação do Pico de Fluxo Expiratório (PFE), através do aparelho Pink flow da
marca Medicate®, sendo solicitado ao paciente que
realizasse três expirações forçadas, sendo aceito o maior valor.
No
grupo intervenção foi realizada a terapia com EPAP da marca Vital Signs®, em 3 series de 10 repetições com a PEEP de 10 cmH2O
associados a deambulação precoce por 150 metros. No grupo controle foi
realizada a deambulação precoce por 150 metros e orientações sobre a
importância da inspiração profunda a cada duas horas.
Para
a elaboração do banco de dados, análise descritiva e analítica, foi utilizado o
software Statistical Package for
Social Sciences (SPSS), versão 22.0 for Windows.
As variáveis categóricas foram analisadas através de frequência (%) e as
variáveis contínuas através de média e desvio-padrão se a distribuição fosse
normal e de mediana e intervalo interquartil se for assimétrica. Na análise
intergrupo, para comparação das médias das variáveis foi utilizado o teste t de
Student independente ou Man-Whitney, de acordo com a
normalidade. As variáveis categóricas dicotômicas foram avaliadas através do
teste de Qui-Quadrado.
Participaram
do estudo 40 pacientes, sendo randomizados em dois grupos, Grupo intervenção e
Grupo placebo.
Na
tabela I observam-se as características gerais da amostra estudada. Não houve
uma correlação estatisticamente significante para as variáveis, demonstrando
assim uma semelhança em relação aos dois grupos em todos os parâmetros demográficos,
antropométricos e clínicos, mostrando homogeneidade dos grupos.
Tabela I - Características demográficas antropométricas e clínicas. Vitoria da
Conquista/BA, 2018.
GI
= Grupo intervenção; GP = grupo placebo; IMC = índice de massa corpórea; Dados
apresentados como média e desvio padrão para ambos os grupos. Fonte: Dados da
pesquisa.
A
tabela II explicita a presença de comorbidades previas ao procedimento
cirúrgico. Pode-se observar que não houve correlação estatisticamente
significante, demonstrando assim homogeneidade entre o GI e GP.
Tabela II - Doenças prévias dos pacientes submetidos à cirurgia abdominal. Vitoria
da Conquista/BA, 2018.
GI
= Grupo intervenção; GP = grupo placebo; HAS = Hipertensão arterial sistêmica;
DM = Diabetes Mellitus; DC = Doenças crônicas; Dados apresentados como média e
desvio padrão para ambos os grupos. Fonte: Prontuários do Hospital UNIMEC 2018.
Na
tabela III, observa-se uma distribuição uniforme nos dados clínicos. Esse
resultado demonstra que a terapia foi aplicada em grupos semelhantes e que não
foi favorecida por nenhum tipo de característica clínica. Pode-se observar que
no GI a cirurgia de maior prevalência foi a histerectomia com 8 pacientes
(40%), já no GP teve um maior número de colecistectomia
9 pacientes (45%). Embora seja diferente a prevalência, não houve uma diferença
estatística significativa entre os grupos (p = 0,541), demonstrando assim
distribuição homogênea da amostra.
Tabela III - Características clínicas. Vitória da Conquista/BA, 2018.
GI
= Grupo internação; GP = grupo placebo; const =
Variável constante; Fonte: Prontuários do Hospital UNIMEC 2018.
Na
tabela IV observam-se os valores da análise pré e
pós-conduta, demonstrando que a média apresentou uma mudança com um valor
significativo. Na variável SpO2, pode-se observar um aumento da
variável pós 97,5 ± 0,76 em relação a variável pré
96,3 ± 1,86 demonstrando significância estatística (p < 0,0001), inferindo
assim que a técnica favoreceu uma melhora da SpO2.
Em
relação à CVF também houve um aumento de 2343 ± 686,1 para 2815 ± 745,8 com uma
significância (p < 0,0001).
Na
variável PFE ocorreu um aumento da variável de 174,2 ± 48,48 para 216 ± 53,15
com uma significância de (p = 0,009). Com a análise dos dados, pode-se inferir
que a intervenção favoreceu a melhora dos dados. Não houve alteração nas medias
do grupo placebo.
Tabela IV - Análise pré e pós por grupo dos marcadores
funcionais. Vitória da Conquista/BA, 2018.
*Correlação
e t com erro padrão da diferença nula; SpO2 = Saturação de Oxigênio; CVF =
Capacidade Vital Forçada; PFE = Pico de fluxo expiratório. Fonte: Dados da
pesquisa
O
gráfico 1 indica a comparação dos valores de alta da Spo2, o grupo placebo
apresenta maior variabilidade nos valores, enquanto para a intervenção possui
uma distribuição normalizada, de modo que houve significância estatística na
comparação dos grupos (p = 0,010). A média do grupo intervenção foi de 97,5 ±
0,76 enquanto comparado ao grupo controle 95,75 ± 0,17, ou seja, os pacientes
submetidos ao grupo intervenção apresentaram um aumento na saturação de
oxigênio, existindo correlação estatística significante entre os valores de
alta.
Gráfico 1 - Relação entre Saturação de Oxigênio (SpO2) entre os grupos.
Vitória da Conquista/BA, 2018.
O
gráfico 2 indica o pico de fluxo expiratório, de modo que houve significância
estatística (p = 0,012), observa-se um aumento da variável no GI 216 ± 53,15 em
relação ao GC 165,75 ± 66,67. Percebeu-se que a terapia com EPAP proporciona
uma melhora do PFE e houve correlação estatística significante entre os grupos.
Gráfico 2 - Relação entre Pico de Fluxo Expiratório (PFE) entre os grupos. Vitória
da Conquista/BA, 2018.
Observa-se
no gráfico 3 a capacidade vital forçada, de modo que não houve significância
estatística (p = 0,285), os pacientes que realizaram a terapia tiveram uma
média de 2815 ± 745,8 enquanto o grupo placebo obteve uma média de 2582,5 ±
602,6. Apesar do aumento da variável de alta para o grupo intervenção, não foi
observada uma diferença estatística significante entre os grupos.
Gráfico 3 - Relação entre Capacidade Vital Forçada (CVF) entre os grupos. Vitória
da Conquista/BA, 2018.
A
terapia com a PEEP é baseada nos efeitos terapêuticos sobre o sistema
respiratório, que são: recrutamento alveolar; melhora da complacência pulmonar;
melhora da relação ventilação/perfusão; aumento da capacidade residual
funcional; melhora da pressão de O2; diminuição do shunt
intrapulmonar; redistribuição do líquido extravascular;
remoção das secreções pulmonares. Os efeitos desta técnica já estão bem
descritos na literatura, sendo indicado na higiene brônquica e na melhora da
troca gasosa. Vários estudos demonstram que o uso de PEEP acima de níveis
convencionais pode ser eficaz na reversão de atelectasias em pacientes
submetidos a cirurgias [8]. Os resultados apontam para um aumento da saturação
periférica de oxigênio e do pico de fluxo expiratório, melhora da capacidade
vital forcada, porém sem significância estatística.
Os
dados expõem a característica da amostra estudada, o sexo predominante no
estudo foi representado pelo gênero feminino, GI 16 (80%) e GP 18 (90),
corroborando os achados de Nogueira et al.
[9] que avaliaram 15 pacientes em metodologia semelhante ao do presente estudo,
8 (53.3%) pertenciam ao sexo feminino. A presença da maioria feminina se deve
ao tipo de cirurgia com maior predominância no sexo feminino.
No
presente estudo, foi verificado um aumento da troca gasosa no GI, verificado
através da saturação periférica de oxigênio. A melhora na troca gasosa pode ser
explicada pelo aumento da expansibilidade toracopleuropulmonar
e consequente aumento da complacência do sistema respiratório, o que aumenta a
área e reduz os limites da barreira alvéolo capilar, favorecendo desta forma o
processo de difusão. Os achados do aumento da saturação de oxigênio
ratificam-se em estudos como o de Miranda e Santos [10], no qual foi analisado o
efeito do EPAP no pós-operatório de 18 pacientes submetidos à revascularização
do miocárdio, a partir de resultados da gasometria arterial e oximetria de
pulso. O grupo EPAP subaquático apresentou uma melhora significativa na
saturação de oxigênio durante o período pós-operatório.
Outro
estudo recrutou indivíduos adultos, de ambos os sexos, hospitalizados em
tratamento fisioterapêutico para reexpansão pulmonar,
foram divididos aleatoriamente em um grupo para terapia com EPAP e outro para o
retardo Expiratório em selo d’água (RESD). O grupo EPAP, em média, apresentou
aumento da SpO2 e diminuição da pressão arterial sistólica (PAS) e
diastólica (PAD) e para o grupo RESD houve discreta diminuição da frequência
cardíaca e respiratória quando comparada aos valores do grupo EPAP [11].
Níveis
de PEEP em torno de 10 a 15 cmH2O são prescritos como ideais para se
manter mais próximos do shunt pulmonar, ocorre um melhor resultado do sistema
alvéolo-arterial e a relação PaO2/FiO2, mostrando assim
uma melhora sobre níveis de 5 cmH2O que são mais utilizados. Porém,
altos níveis de PEEP diminui o retorno venoso, aumentam a resistência vascular
pulmonar e o volume diastólico final do ventrículo direito podendo levar a um
desvio do septo interventricular para a esquerda diminuindo a complacência do
ventrículo esquerdo, o débito cardíaco e a oferta de oxigênio aos tecidos [8].
Os
principais achados deste trabalho demonstram que o EPAP trouxe melhoras
significativas nos valores de saturação de oxigênio e pico de fluxo expiratório
se comparado o GC com o GI, sendo possível observar que a média do GC foi 95,75
± 0,17 em comparação a 97,5 ± 0,76 do GI e o PFE no GI foi de 216 ± 53,15 em
relação ao GC 165,75 ± 66,67 (Tabela IV), corroborando o estudo de Freitas et al. [12] no qual se realizou uma
revisão de literatura no período de 1984 a 2007 e demonstrou em sua análise que
os efeitos do EPAP sobre a função pulmonar geraram um aumento da SpO2,
da CVF e do PFE.
Os
resultados observados nesta pesquisa demonstraram que, apesar do aumento da
capacidade vital forcada (GI 2815 ± 745,8), não houve correlação
estatisticamente significativa (0,285), contrariando o estudo de McIlwaine et al.
[13] que realizou uma pesquisa com dois grupos. O grupo flutter
demonstrou uma maior taxa média anual de declínio na capacidade vital forçada
em comparação com o grupo EPAP (-8,62 ± 15,5 vs. 0,06 ± 7,9; P = 0,05) com uma
tendência semelhante no volume expiratório forçado em 1 segundo (- 10,95 ±
19,96 vs. -1,24 ± 9,9, p = 0,08). Concordando com este estudo, Darbee et al.
[14] compararam os efeitos fisiológicos da oscilação de alta frequência e do
EPAP na ventilação, volume pulmonar, PFE e SatO2 e observaram uma
melhora da CVF de 13% (p < 0,0002) nos dois grupos durante o estágio agudo,
mas não durante o estágio subagudo.
Este
trabalho obteve como limitação o número reduzido de indivíduos em cada grupo,
além da ausência de variáveis espirométricas e manovacuométricas para uma melhor extrapolação dos dados.
Pode-se
concluir, no presente estudo, que a utilização da pressão positiva expiratória
no pós-operatório de cirurgias abdominais impactou positivamente na saturação
periférica de oxigênio e no pico de fluxo expiratório, demonstrando um
benefício significativo no processo ventilatório e difusional
no grupo estudado. Os dados deste estudo poderão subsidiar o desenvolvimento de
novas pesquisas visando à recuperação precoce da função pulmonar desses
pacientes e a redução de complicações pós-operatórias.