ARTIGO
ORIGINAL
Efeitos
do treinamento muscular do assoalho pélvico associado à musculação na perda
urinária e nos aspectos psicológicos em mulheres idosas: ensaio clínico
randomizado
Effects of pelvic floor muscle training associated with resistance
training on urinary loss and psychological aspects in older women: a randomized
clinical trial
Giovana Zarpellon Mazo, D.Sc.*, Enaiane
Cristina Menezes, M.Sc.**, Michelli
Vitória Silvestre, Ft.***, Tatiana De Bem Fretta****,
Jéssica Cozza****, Anderson Augusto Duarte
Severo*****, Janeisa Franck
Virtuoso, D.Sc.******
*Professora
titular Departamento de Educação Física e Programa de Pós-graduação em Ciências
do Movimento Humano, Centro de Ciências da Saúde e do Esporte, Universidade do
Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis/SC, **Doutoranda em Ciências do
Movimento Humana, UDESC, Florianópolis/ SC, ***Fisioterapeuta da Secretaria
Municipal de Saúde, Prefeitura Municipal de Florianópolis, Professora
colaboradora do Departamento de Fisioterapia, Centro de Ciências da Saúde e do
Esporte, UDESC, Doutoranda em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), Florianópolis/SC, ****Mestranda em Ciências do Movimento
Humano pela UDESC, Florianópolis/SC, *****Licenciado em Educação Física pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS, ******Professora do
Departamento em Fisioterapia e do Programa de Pós-graduação em Ciências da
Reabilitação, UFSC, Araranguá/SC
Recebido em 17 de
junho de 2018; aceito em 05 de novembro de 2018.
Endereço
de correspondência:
Tatiana de Bem Fretta, Travessa Ademir Guimarães,
João Paulo 88030-20 Florianópolis SC, E-mail: tatibem@hotmail.com; Giovana Zarpellon Mazo:
giovana.mazo@udesc.br; Enaiane Cristina Menezes:
enaianemenezes@gmail.com; Michelli Vitória Silvestre:
michellisilvestre@hotmail.com; Jéssica Cozza:
jessicacozza@hotmail.com; Anderson Augusto Duarte Severo:
andysvero@hotmail.com; Janeisa Franck
Virtuoso: janeisa.virtuoso@ufsc.br
Resumo
Objetivo: Comparar os efeitos
do treinamento muscular do assoalho pélvico (TMAP), associado ou não à
musculação, na perda urinária, estado de humor e autoeficácia
do tratamento em mulheres idosas com incontinência urinária (IU). Métodos: Ensaio clínico randomizado,
cego, realizado com mulheres idosas (≥60 anos), residentes na Grande
Florianópolis/SC. Os critérios de inclusão foram: autorrelato
positivo de IU de esforço e mista; força muscular do assoalho pélvico (Oxford ≥2); e função cognitiva preservada. Foram selecionadas 31
idosas para distribuição randomizada cega entre Grupo Experimental (GE) (n =
14) e Grupo Controle (GC) (n = 17), 26 idosas concluíram o tratamento (GE = 12
e GC = 14). Foram coletados dados socioeconômicos e de fatores de risco, além
de medidas antropométricas (IMC e circunferência da cintura) e satisfação com o
tratamento. Os desfechos principais foram: International Consultation on Incontinence Questionnaire –
Short Form (ICIQ-SF); Escala de Humor de Brunel (BRUMS); Escala de Autoeficácia
para Prática de Exercícios do Assoalho Pélvico (EAPEAP). Todas as idosas
realizaram o TMAP e, no GE, foi acrescentada a musculação, durante 12 semanas
em ambos os grupos. Resultados: A
idade média foi de 64,8 (± 4,7) anos no GE e 66,5 (± 5,6) anos. Os principais
fatores de risco ginecológicos, obstétricos, histórico familiar e perfil
antropométrico foram semelhantes nos dois grupos. A comorbidade
prevalente em ambos os grupos foi a hipertensão
arterial (GE = 50,0% e GC = 64,3%). A perda urinária apresentou diferença
significativa na comparação intragrupos e entre
grupos na pré-intervenção, sem variação significativa
no estado de humor e na autoeficácia com o
tratamento. Conclusão: O TMAP,
associado ou não com musculação no tratamento da IU, foi efetivo para redução
da perda urinária, mas não teve melhora significativa no estado de humor e na autoeficácia com o tratamento.
Palavras-chave: idoso, mulheres,
incontinência urinária, treinamento de resistência, estado de humor, autoeficácia.
Abstract
Objective: To compare
the effects of pelvic floor muscle training (TMAP), associated or not to
bodybuilding, on urinary loss, mood and self-efficacy of treatment in elderly
women with urinary incontinence (UI). Methods:
Randomized, blinded clinical trial of elderly women (≥60 years old)
living in Florianópolis/SC. The inclusion criteria
were: self-report of stress and mixed UI; muscle strength of the pelvic floor
(Oxford ≥2); and preserved cognitive function. Thirty-one elderly women
were selected for randomized blinded distribution between the Experimental
Group (SG) (n = 14) and the Control Group (CG) (n = 17) 26 elderly women
completed treatment (SG = 12 and GC = 14). Socioeconomic data and risk factors
were collected, as well as anthropometric measures (BMI and waist
circumference) and treatment satisfaction. The main outcomes were:
International Consultation on Incontinence Questionnaire - Short Form
(ICIQ-SF); Brunel Humor Scale (BRUMS); Self-efficacy Scale for Exercise of the
Pelvic Floor (EAPEAP). All the elderly women underwent TMAP and, in GE,
bodybuilding was added for 12 weeks in both groups. Results: The mean age was 64.8 (± 4.7) years in GE and 66.5 (± 5.6)
years. The main gynecological, obstetric, family history and anthropometric
risk factors were similar in both groups. The prevalent comorbidities were
arterial hypertension (GE = 50.0% and GC = 64.3%). Urinary loss showed a
significant difference in the intragroup and pre-intervention groups, with no
significant variation in mood and self-efficacy with the treatment. Conclusion: TMAP, associated or not with
bodybuilding in the treatment of UI, was effective in reducing urinary loss,
but there was no significant improvement in mood and self-efficacy with
treatment.
Key-words: aged, women,
urinary incontinence, resistance training, mood, self
efficacy.
Entre as síndromes
geriátricas, a incontinência urinária (IU) é definida como perda involuntária
de urina e é frequente em mulheres idosas [1,2]. A prevalência de IU varia de
26 a 72% [3] nessa população e reflete na qualidade de vida [4].
A IU pode ocasionar
repercussões psicológicas nas mulheres, contribuindo para alteração no estado
de humor, perda da autoestima e da autoconfiança, isolamento social e depressão
[5,6]. Por medo ou vergonha da perda involuntária de urina, o isolamento social
torna-se uma estratégia de proteção, mas que compromete a qualidade de vida ao
limitar suas atividades de vida diária [4,7].
Estudos transversais
demonstraram que a prática de atividade física regular pode ser considerada
como fator protetor para IU, inclusive o treinamento resistido (musculação)
[8], cuja modalidade foi associada à menor perda urinária em mulheres idosas
[9]. Entretanto, ainda não é claro o efeito do treinamento muscular do assoalho
pélvico, recomendado como primeira escolha terapêutica [10],
associado à musculação na perda urinária e, consequentemente, nas repercussões
psicológicas em mulheres idosas, como o humor e a autoeficácia
para a prática da atividade física.
Diante disto, o
objetivo deste estudo é comparar os efeitos do treinamento muscular do assoalho
pélvico com e sem a musculação, na perda urinária, estado de humor e autoeficácia para a prática do exercício do assoalho
pélvico.
Este estudo é um
recorte da pesquisa “Mulheres idosas com incontinência urinária: avaliação e
tratamento por meio de exercício físico e fisioterapia” e trata-se de um ensaio
clínico randomizado, cego, realizado com mulheres idosas (60 anos de idade ou
mais) recrutadas na comunidade e residentes na Grande Florianópolis/SC. Os
critérios de inclusão foram autorrelato positivo de
incontinência urinária de esforço (IUE) ou incontinência urinária mista (IUM);
frequência de perda urinária de pelo menos duas a três vezes
por semana, mensurada por meio do International Consultation on Incontinence Questionnaire – Short Form
(ICIQ-SF), validado para o português brasileiro por Tamanini
et al. [11]; força dos músculos do
assoalho pélvico igual ou maior que grau 2 (presença de contração de pequena
intensidade, mas que se sustenta), conforme escala de Oxford [12]; e função
cognitiva preservada por meio do Mini Exame do Estado Mental (MEEM), tendo os
valores de referência baseados na escolaridade [13].
Foram excluídas do
estudo as idosas com intervenção fisioterapêutica para IUE ou IUM atual ou há
menos de seis meses; presença de IU de urgência (IUU) decorrente de causas
neurológicas ou por infecção do trato urinário autorrelatado;
ter praticado musculação nos últimos seis meses; e a presença de doenças que
contraindicam a prática de musculação (hipertensão arterial descompensada,
artroses avançadas, fibromialgia, cirurgias recentes, fraturas ou rompimentos
ligamentares recentes, protusão discal avançada e
desvios posturais avançados).
Inicialmente, foram
recrutadas 99 mulheres idosas. Com base nos critérios de inclusão e exclusão,
foram selecionadas 31 participantes, divididas após processo de randomização
por um pesquisador externo (em blocos de 10 participantes) entre grupo
experimental (GE = 14 mulheres idosas) e grupo controle (GC = 17). Apenas 26
participantes concluíram o ensaio clínico randomizado (GE = 12 e GC = 14). Os
profissionais responsáveis pelo treinamento nos grupos experimental e controle
foram cegados quanto à alocação das participantes da pesquisa nos grupos.
Para caracterização
das participantes selecionadas, foi aplicada uma ficha abordando dados sociodemográficos (idade, escolaridade, estado civil) e
fatores de risco para o desenvolvimento de IU, divididos em: ginecológicos,
obstétricos, clínicos, hábitos de vida e hereditários.
As medidas realizadas
antes e após as intervenções foram: antropométricas
(circunferência da cintura, massa corporal e estatura), perda urinária,
estado de humor e autoeficácia para a prática da
atividade física. A avaliação do grau de satisfação com os treinamentos
recebidos foi realizada somente após as intervenções por meio da aplicação de
uma escala de cinco itens, conforme proposto por Sherburn
et al. [14]. A escala é composta por 13
itens, divididos em três domínios: estrutura (acesso, limpeza, organização dos
materiais, manutenção), profissionais (pontualidade, assiduidade, domínio,
organização da sessão, relacionamento profissional-paciente, motivação), e
sessões (atende expectativas, sentir-se motivado, percepção de melhora da
saúde). A graduação em cada item foi: 0 = nada satisfeito, 1 = um pouco
satisfeito, 2 = moderadamente satisfeito, 3 = muito satisfeito e 4 =
completamente satisfeito.
A mensuração da
circunferência da cintura foi realizada no ponto médio entre a borda inferior
da última costela e a crista ilíaca, por meio de uma fita métrica redonda com
1,5 m da marca ISP (em cm). A massa corporal foi mensurada por meio de uma
balança digital Plenna Wind MEA 07710 (em kg); e a
estatura, pelo estadiômetro WCS 217 cm, com
plataforma da marca CARDIOMED, em metros. O IMC foi calculado dividindo-se a
massa corporal pela estatura ao quadrado (kg/m2).
Para verificar a
perda urinária, foi utilizado o escore do ICIQ-SF que é composto pelas questões
(3) “com que frequência você perde urina”, (4) “gostaria de saber a quantidade
de urina que você pensa que perde” e (5) “em geral quanto que perde de urina em
sua vida diária?” do ICIQ-SF [11].
A avaliação do estado
de humor foi realizada por meio da Escala de Humor de Brunel
(BRUMS). Foi traduzida e validada para o Brasil por Rohlfs
et al. [15]. A escala possui 24 itens,
divididos em seis subescalas: raiva (questões 7, 11,
19 e 22), confusão mental (questões 3, 9, 17 e 24), depressão (questões 5, 6,
12 e 16), fadiga (questões 4, 8, 10 e 21), tensão (questões 1, 13, 14 e 18) e
vigor (questões 2, 15, 20 e 23). As respostas para cada item segue a seguinte
escala, onde: 0 = nada, 1 = pouco, 2 = moderadamente, 3 = bastante, 4 =
extremamente. O resultado se dá pelo somatório das respostas de cada item, que
pode variar de 0 a 16.
Para avaliar a autoeficácia com o tratamento, foi utilizada a Escala de Autoeficácia para Prática de Exercícios do Assoalho Pélvico
(EAPEAP) [16], que consiste em um instrumento com 17 questões, com escore de
zero a 100. Destes itens, 13 são referentes à expectativa de desempenho e
quatro referentes à expectativa de resultados com o tratamento. Para construir
o escore de autoeficácia para prática de exercícios
do assoalho pélvico, foram somados os pontos atribuídos em cada questão e feita
a média para cada um dos domínios.
Todos os
questionários e escalas foram aplicados em forma de entrevista individual com
as idosas.
Intervenções
O período de
intervenção ocorreu de agosto de 2013 a janeiro de 2015. O grupo experimental
(GE) realizou treinamento muscular do assoalho pélvico combinado com treino de
musculação, enquanto que o grupo controle (GC) realizou apenas o treinamento do
assoalho pélvico. Ambos os grupos receberam o treinamento por 12 semanas, com
frequência de duas vezes semanais em dias alternados, totalizando 24 sessões de
treinamento.
O treinamento
muscular do assoalho pélvico (TMAP) foi realizado em encontros de 30 minutos,
em pequenos grupos de no máximo seis participantes. Os primeiros cinco minutos
iniciais foram voltados à educação em saúde sobre temas relacionados com a
incontinência urinária. Em cada sessão foram realizados três exercícios em
diferentes posições (deitada, sentada e em pé). Os exercícios foram adaptados
da proposta de Luz et al. [17], executados ao comando verbal
“segurar o xixi” e durante a expiração, totalizando oito a 12 repetições de
contrações sustentadas de seis a dez segundos, seguidas de três a cinco
contrações rápidas, com progressão do treinamento após a 8ª e 16ª sessão de
treinamento. O intervalo de repouso entre as contrações foi de seis segundos. A
partir da 8ª sessão, foi incluída a manobra “Knack”,
que consiste em uma contração da musculatura do assoalho pélvico previamente a
uma situação de aumento da pressão intrabdominal,
mantendo a contração durante essa situação [18]. As participantes também foram
estimuladas a realizarem os exercícios no domicílio.
O treino de
musculação (TP) foi realizado em encontros com duração de 50 minutos cada. O
período de familiarização com os equipamentos ocorreu na primeira semana de
treinamento, na qual foram executados os movimentos livres para aprendizado
correto do movimento e da respiração. A determinação inicial da carga foi
estabelecida a partir de um aquecimento com dez repetições com 50% da carga
prevista para 15 RM, determinada pelo avaliador e, após 30 segundos de
intervalo, o teste foi realizado com a execução do maior número de repetições
para cada exercício. A zona de treinamento consistiu na realização de três
séries de 15 RM, com intervalo de recuperação de um minuto entre as séries. A
cada duas semanas foi realizada nova determinação da
carga de treinamento. A execução dos exercícios obedeceu a uma ordem alternada, iniciando pelos maiores grupamentos musculares, sendo
trabalhados os seguintes exercícios: peitoral, grande dorsal, quadríceps
e bíceps femoral, glúteos, bíceps braquial, tríceps braquial, adutores e reto abdominal
por meio dos exercícios voador, puxada à frente fechada, leg
press, rosca polia baixa, tríceps pulley,
cadeira adutora e abdominal. A partir da 7ª sessão, as participantes foram
encorajadas a realizar a contração da musculatura do assoalho pélvico pelo
comando “segurar o xixi” durante a fase concêntrica de cada exercício.
Análise
dos dados
Foi realizada análise
descritiva das variáveis por meio de frequências absolutas e relativas (%), e
medidas de tendência central e dispersão. A normalidade dos dados foi avaliada
pelo teste de Shapiro Wilk. Para comparar as
diferenças intragrupos (antes e após intervenção),
foi utilizado o teste T de Student para amostras
pareadas ou teste de Wilcoxon, conforme a
distribuição dos dados. Para comparar as diferenças entre grupos no pré e pós-intervenção (GE e GC), foi utilizado o teste T de
Student para amostras independentes ou teste de Mann
Whitney, também conforme a distribuição dos dados. Foi considerado o nível de
significância de 5% e os respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%). Os
dados foram analisados no pacote estatístico Statistical
Package for Social Sciences
(SPSS), versão 20.0.
Aspectos
éticos
A pesquisa foi
aprovada no Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos da Universidade do
Estado de Santa Catarina (UDESC) sob CAAE n.º 14957313.9.0000.0118 e
protocolada nos Registros Brasileiros de Ensaios Clínicos (ReBEC) sob o nº U1111-1149-2398. Todas as
participantes foram informadas sobre os procedimentos e assinaram o termo de
consentimento livre e esclarecido.
A média de idade de
ambos os grupos foi semelhante (GE = 64,8 ± 4,7 e GC = 66,5 ± 5,6 anos). A
maioria das idosas era casada em ambos os grupos (GE = 75,0% e GC = 57,2%). O
nível de escolaridade predominante foi ensino médio completo no GE (54,5%) e
fundamental completo no GC (50,0%). Entre os fatores de risco para IU
(ginecológicos, obstétricos, histórico familiar de IU, hábitos de vida e perfil
antropométrico) os resultados foram semelhantes entre os grupos GE e GC no
início do tratamento. As comorbidades prevalentes
foram no GE foram a hipertensão arterial (50,0%),
obesidade e constipação intestinal (41,7%, cada), e no GC, Hipertensão arterial
(64,3%) e Obesidade (35,7%) (Tabela I).
A avaliação da satisfação
com o tratamento mostrou que as mulheres idosas de ambos os grupos tiveram
pontuação elevada (superior a nove pontos). Na análise por domínio do
instrumento, observou-se que a pontuação média das questões referentes à
estrutura e materiais das sessões foi igual a 9,0 (± 0,6) no GE e 9,4 (± 0,1)
no GC. No domínio referente aos profissionais, os itens relacionamento
profissional-paciente e domínio de conteúdo tiveram avaliação máxima, com a
pontuação média neste domínio igual a 9,9 (± 0,1) no GE e 9,4 (± 0,1) no GC. No
domínio referente às sessões, a pontuação média foi igual a 9,1 (± 0,3) no GE e
9,8 (± 0,1) no GC.
Tabela
I - Caracterização sociodemográfica
e dos fatores de risco para incontinência urinária (IU) em mulheres idosas
participantes do estudo, no grupo experimental (GE) e grupo controle (GC),
antes da intervenção. Florianópolis/SC, 2013-2015.
a = Valores absolutos
(n) e relativos (%) para dados categóricos e média (±desvio padrão) para dados
numéricos de distribuição normal. b = Não houve diferença na comparação entre
os grupos. c = GE (n=11). d = Apenas respostas afirmativas (sim). e = GC (n=13). f = IMC ≥ 30,0 kg/m2 [19].
TRH = Terapia de reposição hormonal; Fonte: Dados do estudo (2013-2015).
Na análise intragrupos (Tabela II), observou-se melhora significativa
nos grupos GE (p = 0,005) e GC (p = 0,001) apenas na perda urinária, com
redução clinicamente importante do escore ICIQ-SF (média= 2,0±2,4) após
intervenção. Com relação ao estado de humor, apesar de não ter tido diferença
significativa intragrupos e entre grupos, observou-se
diminuição no escore intragrupos dos domínios tensão
(média = 3,0 ± 2,2), depressão (média = 0,8 ± 1,64) e confusão mental (média =
2,3 ± 2,1) no GC, e no GE diminuição na confusão mental (média = 1,7 ± 1,6). O
escore do domínio vigor aumentou em ambos os grupos GE e GC. Não foram
observadas variações no escore do domínio fadiga no GE (média = 3,6 ± 3,2),
apesar de ter tido aumento do escore neste domínio no GC (média = 3,1 ± 2,6).
Quanto à autoeficácia do tratamento, apesar de não observar-se
diferença significativa intragrupos e entre grupos,
verifica-se que houve no intragrupos um aumento da
expectativa de desempenho para o GE (média = 83,5 ± 12,9) e GC (média = 90,3 ±
8,5). Também para o GC teve aumento da expectativa de resultado (média = 99,5 ±
1,3) e diminuição para o GE (média = 87,5 ± 14,2).
Na comparação entre
grupos (Tabela II), houve diferença significativa apenas no escore ICIQ-SF pré-intervenção (p = 0,015), sem diferenças nas demais
variáveis independentes do estudo.
Tabela
II -
Comparação intragrupos
e entre grupos quanto a perda urinária, estado de
humor e autoeficácia do tratamento em mulheres idosas
com incontinência urinária (IU), nos grupos experimental (GE) e controle (GC),
antes e após a intervenção. Florianópolis/SC, 2013-2015.
a = Valores expressos
em média ± desvio padrão (IC95%) e valor de p obtido pelo Teste T de Student para amostras pareadas (distribuição normal dos
dados) ou Teste de Wilcoxon (distribuição não normal
dos dados); b = Valor de p obtido pelo Teste T de Student
para amostras independentes (distribuição normal dos dados) ou Teste de
Mann-Whitney (distribuição não normal dos dados); c = GE (n=9) e GC (n=13); d =
GE (n=8) e GC (n=7); *p < 0,05; ICIQ-SF (International Consultation on Incontinence Questionnaire –
Short Form); Fonte: Dados do estudo (2013-2015).
Na análise da
satisfação com o tratamento realizado, os resultados deste estudo apontam alto
índice de satisfação em ambos os grupos. Resultados semelhantes foram
encontrados em outros estudos com mulheres com IU submetidas ao treinamento de
TMAP [14,20,21]. No presente estudo, a média da
satisfação foi discretamente maior no GE, possivelmente porque as mulheres
idosas desse grupo praticavam mais atividade física do que o GC. Em outro
estudo com protocolo de treinamento de TMAP associado com musculação, similar
ao protocolo proposto neste estudo, os autores encontraram resultados
semelhantes entre o GE e o GC na satisfação das mulheres participantes [21].
No que concerne o
estado de humor destaca-se que os sintomas depressivos, indicando um humor deprimido
e não depressão clínica, estes sintomas representam sentimentos como
autovalorização negativa, isolamento emocional, tristeza, dificuldade em
adaptação, depreciação ou autoimagem negativa [15]. Observou-se uma discreta
melhora pré e pós-intervenção entre os grupos, os
sintomas depressivos estão associados a uma baixa qualidade de vida, em que as
mulheres com IU tendem a ter um impacto negativo na qualidade de vida [22].
Assim a IU causa uma redução social das mulheres, sendo importante estimular a
participação social das idosas com IU para garantir uma melhor qualidade de
vida [23].
Em relação à autoeficácia do tratamento, o índice em ambos os domínios
foi elevado, com aumento do escore pós-intervenção no GE e no GC, exceto no
domínio expectativa do resultado do GE, em que o valor pós-intervenção
diminuiu. Porém, nenhuma das análises apontou diferença significativa na
comparação intra e entre grupos. Em outro ensaio
clínico randomizado com mulheres diagnosticadas com IU, o índice global de autoeficácia pós-intervenção foi de 80% no grupo
experimental e 82% no grupo controle [24]. Similarmente, neste estudo, foram
encontrados valores mais elevados na satisfação no GC, porém estes valores já
eram maiores antes da intervenção. Outro estudo transversal apontou que a autoeficácia é um bom preditor
para aderência ao tratamento em mulheres com IU [25]. Resultados semelhantes ao
encontrado em outro ensaio clínico randomizado, que comparou mulheres idosas
submetidas ao TMAP com mulheres não tratadas, e também constatou que índices
elevados de autoeficácia foram associados com maior
aderência ao tratamento [26].
As limitações do
presente estudo incluem a subjetividade dos instrumentos de medida utilizados,
que levam em consideração o autorrelato da perda
urina, humor e autoeficácia para o exercício do
assoalho pélvico. Além disso, a escala de BRUMS não é específica
para incontinência urinária, o que pode subestimar os resultados,
principalmente quando utilizado na população idosa. Por fim, não foi possível
avaliar os efeitos da intervenção a longo prazo.
Os resultados
comprovam os efeitos positivos do TMAP associado ou não com musculação no
tratamento da IU, reduzindo a perda urinária. Entretanto, os tratamentos
propostos não foram suficientes para produzir melhora significativa no estado
de humor e na autoeficácia, visto que a amostra do
estudo já apresentava valores elevados nessas variáveis antes da intervenção.
A musculação pode ser
associada ao TMAP para melhorar o fortalecimento da musculatura
do assoalho pélvico. Além de não interferir na perda urinária em mulheres
idosas, a musculação pode melhorar ou manter o estado de humor e a autoeficácia com o tratamento.
Sugerem-se novos
estudos experimentais, comparando também os resultados com um grupo controle
não treinado para melhor avaliação dos efeitos da musculação. Ainda, sugere-se
propor critérios de seleção de amostra, buscando variabilidade no perfil
inicial do estado de humor e da autoeficácia para
mulheres com IU. Além disso, propõe-se a avaliação a médio e
longo prazos dos resultados da musculação associada ao TMAP, buscando
verificar a durabilidade dos efeitos nessa população específica.