ATUALIZAÇÃO
Importância
do teste cardiopulmonar para a fisioterapia cardiovascular
Importance
of cardiopulmonary testing for cardiovascular physical therapy
Rafael Santiago
Floriano*, Marco Orsini**, Michel Silva Reis***
*Grupo
de
pesquisa em Avaliação e Reabilitação
Cardiovascular (GECARE), Departamento de
Fisioterapia da Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio de
Janeiro
(UFRJ), Rio de Janeiro/RJ, Programa de
Pós-Graduação em Cardiologia/ Instituto
do Coração Edson Saad, Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), Rio de
Janeiro/RJ, **Programa de Mestrado em Ciências Aplicadas em
Saúde, Universidade
de Vassouras; Universidade Iguaçu - UNIG, Programa de Mestrado
em Mapeamento Cerebral e Funcionalidade - UFPI, ****Grupo de pesquisa
em
Avaliação e Reabilitação Cardiovascular
(GECARE), Departamento de Fisioterapia da
Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
Rio de
Janeiro/RJ, Programa de Mestrado e Doutorado em Educação
Física e Cardiologia,
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro/RJ
Recebido 10 de
fevereiro de 2019; aceito em 14 de maio de 2019.
Correspondência: Prof. Michel Silva
Reis, Grupo de Pesquisa em Avaliação e Reabilitação Cardiorrespiratória
(GECARE), Departamento de Fisioterapia da Faculdade de Medicina, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rua Prof. Rodolpho Paulo Rocco, s/n, 2° andar,
Laboratório de Fisioterapia Cardiovascular, Ilha do Fundão 21941-913 Rio de
Janeiro RJ, E-mail: msreis@hucff.ufrj.br; Rafael Santiago Floriano:
rafael_floriano@hotmail.com; Marco Orsini:
orsinimarco@hotmail.com
Resumo
O teste de exercício
cardiopulmonar (TECP) é um método não invasivo de avaliação global da
integridade dos ajustes fisiológicos no organismo humano durante a execução do
exercício físico. Na prática clínica, o TECP tem sido utilizado com as mais diversas
finalidades. O profissional capacitado pode utilizá-lo principalmente para
avaliar a capacidade funcional dos indivíduos submetidos ao teste, mas também
pode ser realizado com a finalidade diagnóstica, prognóstica e principalmente
para a reabilitação, na qual a prescrição de exercícios é determinada de forma
segura e individualizada. Nos últimos anos este teste tem se tornado uma
importante ferramenta para os fisioterapeutas e educadores físicos para a
prescrição de exercício físico. Os índices de limitação funcional mais
observados são: 1) o consumo de oxigênio pico (VO2pico) ou consumo
máximo de oxigênio (VO2máx); 2) limiar anaeróbico ventilatório (LAV)
em níveis de exercício físico submáximo. Desta forma, o objetivo do nosso
trabalho foi disseminar o conhecimento sobre o TECP entre os nossos pares e
outros profissionais da saúde. Neste sentido, promovendo a possibilidade de
discussão sobre a potencial inserção do TECP nos programas de reabilitação
cardíaca ambulatorial de forma precisa e segura, para melhora da capacidade
funcional e a qualidade de vida dos pacientes.
Palavras-chave: teste de esforço,
consumo de oxigênio, desempenho físico funcional, liminar anaeróbio.
Abstract
The
cardiopulmonary exercise test (CPT) is a noninvasive method of evaluating the
overall integrity of the physiological adjustments in the human body during the
execution of the physical exercise. In clinical practice the TECP has been used
for a wide range of purposes. The trained professional can use it mainly to
evaluate the functional capacity of the individuals submitted to the test. But
it can also be performed for diagnostic purposes, prognosis and mainly for
rehabilitation, in which the prescription of exercises is determined in a safe
and individualized way. In recent years this test has become an important tool
for physiotherapists and physical educators to prescribe physical exercise. The
most observed functional limitation indices are: 1) peak oxygen consumption (VO2peak)
or maximal oxygen consumption (VO2max); 2) Ventilatory threshold
(VT) at submaximal physical exercise levels. In this way, the objective of our
work was to disseminate the knowledge about CPT among our peers and other
health professionals. In this sense, promoting the possibility of discussing
the potential insertion of CPT in ambulatory cardiac rehabilitation programs is
a precise and safe way to improve functional capacity and quality of life of
patients.
Key-words: exercise test,
oxygen consumption, functional capacity, anaerobic threshold.
O teste cardiopulmonar
(TECP) também conhecido como teste de esforço ou teste ergoespirométrico ou
cardiorrespiratório é uma metodologia não invasiva de avaliação global da
integridade dos ajustes cardiovasculares, respiratórios, musculares periféricos,
neurofisiológicos, humorais e hematológicos do organismo humano durante a
execução do exercício físico [1-3]. Na prática, a grande utilidade do TECP é a
determinação da capacidade funcional [4-6] ou potência aeróbia pela obtenção de
dois índices de limitação funcional mais empregados, que são: 1) o consumo do
oxigênio no pico do exercício (VO2pico); 2) Consumo máximo de
oxigênio (VO2máx). Além disso, o TECP permite a identificação do
limiar anaeróbico ventilatório (LAV) e o ponto de compensação respiratório
(PCR) em níveis de exercício físico submáximo ou pico, respectivamente [7].
Embora as indicações deste teste sejam as mais variadas e crescentes [2-5], a
sua aplicação tem sido realizada em algumas manifestações clínicas não
explicadas totalmente pelos dados da anamnese, exame físico, exames de imagem,
teste de função pulmonar e eletrocardiografia convencional, como o exemplo na
constatação e avaliação do fator etiológico, assim como o grau de intolerância
ao esforço [2,4,5,8]. É válido salientar que atletas, indivíduos saudáveis e
pacientes têm se beneficiado do TECP independente da finalidade para que o
teste seja realizado [2,4,5]. No entanto, para a Fisioterapia Cardiovascular,
este teste possui uma finalidade peculiar quando se trata da prescrição
individualizada de exercícios físicos [2,3] e grande valia no processo de
reabilitação. A determinação da capacidade funcional, através do TECP, traz
informações precisas da capacidade de transporte e utilização do oxigênio, isto
é, da capacidade dos pulmões e do sistema cardiovascular, muscular e
metabólico, combinados para tentar garantir a homeostase durante o exercício
[2].
A utilização do TECP
tem natureza limitada, por exigir um local em condições e com características
apropriadas (laboratório próprio, refrigerado com a temperatura entre 22 e 24°C
e com a umidade relativa do ar entre 50 e 70%), equipamentos caros e complexos,
equipe de pelo menos três profissionais bem capacitados para a realização deste
teste [2,3,8]. Hoje, o TECP ainda é considerado a melhor alternativa
disponível, denominado, ainda nos dias atuais, como o padrão ouro [2,3,9].
Existem condições necessárias para a realização do teste e estas devem ser
seguidas para que seja possível sua boa execução [1]. Um bom ambiente para a
realização deste teste preza por uma sala de exames que deverá conter espaço
suficientemente amplo para acomodar todo o equipamento necessário à realização
dos testes, além de todo o material a ser usado durante eventuais emergências
médicas, como uma maleta ou carrinho pequeno com medicações e equipamento para
possível ressuscitação elétrica cardíaca. No ambiente de testes é necessário um
suporte de emergência calibrado e testado previamente a realização dos testes
(contendo: desfibrilador, ambu, oxigênio e
medicamentos), que devem estar à disposição para o rápido manuseio, caso seja
necessário [3].
Sendo assim, essas
exigências restringem a realização somente do teste máximo [10] por outros
profissionais da área de saúde não médicos, todavia estes mesmos profissionais
de saúde não médicos (fisioterapeutas e educadores físicos) poderão utilizar
esta importante ferramenta para subsidiar a prescrição do exercício físico. A
área livre da sala deve permitir no máximo a circulação de três pessoas, para
que não sature demais o ar daquele ambiente com dióxido de carbono [2].
Ergômetros
Os ergômetros
utilizados na execução do TECP devem ser, preferencialmente, eletrônicos ou
eletromagnéticos e dispor de interface de comunicação com o computador central,
através de saída analógica ou digital, para onde deverão ser enviados os dados
de velocidade, inclinação, ciclos, sinais vitais, assim como as variáveis
ventilatórias e metabólicas e recebidos os comandos de variação de carga. Como
dito anteriormente, existem alguns tipos de ergômetros para a realização do
TECP, como a cicloergômetro, esteira rolante, escada,
ergômetro de membros superiores e remoergômetro [2].
Os dois mais comumente utilizados são o cicloergômetro
e a esteira rolante [2,9], todavia devemos salientar que a escolha do ergômetro
deve ser feita através da atividade que o indivíduo que será submetido ao teste
tenha mais familiaridade.
É fundamental que os
ergômetros também disponibilizem: 1) controle manual ou automático, através de
comando próprio ou de interface com um computador (no caso de sistema de
ergometria computadorizado); 2) programação, através do comando da esteira ou
do computador (no caso de sistema de ergometria computado), de protocolos em
rampa com indicação da velocidade inicial e final, inclinação inicial e final,
tempo de exame, sexo do paciente, coeficiente de aumento de carga e consumo em METs previsto [3]. As esteiras ergométricas devem ser
equipadas com chave de desligamento de emergência, devendo a mesma ser de fácil
acesso tanto para o operador quanto para o paciente. Para maior segurança é
fundamental o equipamento possuir chaves de desligamento automático. Essas
chaves ficam conectadas ao paciente por um pequeno cabo, que desliga o sistema
caso o mesmo se afaste demasiadamente do braço frontal da esteira, sofra uma
queda ou não consiga vencer a velocidade imposta pelo protocolo escolhido, além
de ser útil em caso de ocorrer algum mal súbito que determine a imediata parada
da esteira.
Já os cicloergômetros podem ser uma alternativa à esteira quando
se realiza o exame em pacientes com limitações ortopédicas, neurológicas ou
vasculares periféricas. Além disto, a qualidade do traçado eletrocardiográfico
e a medida da pressão arterial tendem a ser melhores do que na esteira [2]. O cicloergômetro utilizado deverá apresentar a capacidade de
incrementos no trabalho, seja de forma automática ou manual, deverá apresentar
guidom e selim ajustáveis de acordo com a altura do paciente; além disso,
quanto mais confortável for melhor para o indivíduo realizar o teste, já que
uma das maiores queixas durante o teste é a dor provocada pelo selim.
No entanto, torna-se
importante ressaltar que as respostas fisiológicas e o estresse metabólico ao
exercício em cicloergômetros diferem daqueles do
exercício em esteira [2,3]. Adicionalmente, os ergômetros possuem vantagens e
limitações que possam comprometer a interpretação desejada dos testes. Neste
sentido, antes da realização do exame, há necessidade de se ter claro os
objetivos para a sua execução.
Analisador
de gases
O aparelho para a
medida da ventilação deverá ter acurácia suficiente para medidas de diferentes
volumes e velocidades de fluxos e baixa resistência e inércia. Além disso, é
desejável que o aparelho permita sua conexão ao computador para maior
facilidade da correlação dos dados obtidos. A medida da ventilação durante o
exercício requer que o indivíduo testado tenha suas narinas fechadas por um
clipe nasal e que o bocal não permita qualquer escape de ar [2]. Atualmente são
utilizadas máscaras de um tecido conhecido como neoprene
que engloba tanto o nariz quanto a boca (material usado em nosso trabalho),
sendo neste segundo caso desnecessário a utilização de clipe nasal, porém a
vedação dessa interface deve ser suficientemente justa no contorno da face
(Figura 1 e Figura 2), vedando de tal forma que não haja, em hipótese alguma,
escape de ar durante a realização do teste. Por este motivo que indivíduos de
barba deverão ser submetidos a tricotomia, enquanto os que tiverem somente
bigode poderão realizar o teste normalmente. O espaço morto do equipamento
também é importante (máximo =100 ml) [2]. Atualmente, com os dispositivos mais
modernos a análise de gases é realizada on-line.
Vários tipos de fluxômetro podem ser utilizados:
transdutores de massa, pneumotacômetros de Fleish ou de Pitot [1,2,3,9] e
anemômetro. Esses sistemas permitem medidas de trocas gasosas a cada ciclo
respiratório [4] (respiração por respiração - do inglês breath-by-breath).
Figura 1 - Montagem e execução do teste de exercício cardiopulmonar.
Figura 2 - Montagem e execução do teste de exercício cardiopulmonar.
Como os sistemas
disponíveis apresentam diferentes especificações para a realização da
calibração dos gases, deve-se sempre seguir o protocolo de calibração indicado
no manual do equipamento [1-3]. Para garantir a exatidão dos valores medidos, o
analisador deve prover meios de executar sua calibração tanto por meios
automáticos quanto por meio de misturas de gases para a calibração [2]. Para
prevenir a contaminação entre os pacientes, as peças que entram em contato com
os pacientes devem ser descartáveis ou serem adequadamente preparadas, com a
utilização de soluções enzimáticas desinfetantes.
Tipo de
protocolo para o TECP
Existem dois tipos
básicos de protocolos, dos quais as respostas do TECP podem ser obtidas, eles
são: 1) incremental, com aumento progressivo da carga em períodos
predeterminados, e 2) protocolo de carga constante, em que a carga é mantida
estável por um tempo fixo definido previamente, ou sustentada até o limite da
tolerância (resistência). A escolha do protocolo depende do objetivo do teste
[1-3].
Os protocolos
incrementais podem ser em rampa ou degraus; importante ressaltar que em
protocolos do tipo rampa, o VO2 obtido está sempre atrasado em relação a carga
imposta naquele momento. Este atraso pode ser explicado pelo retardo dos gases
no trajeto músculo-alveolar até serem captados em nível da boca e,
adicionalmente, devido à difusibilidade do oxigênio e
do dióxido de carbono. Felizmente este atraso é constante e corresponde a
aproximadamente 40-60 segundos (seg); logo, a carga
correspondente ao limiar de anaerobiose ocorreu há 40-60 seg
atrás [2].
Um protocolo adequado
para pacientes deve corresponder: 1) uma fase inicial de repouso (2-3 minutos
[min] ou mais), no qual se verifica a ausência de hiperventilação antes do início
do teste; 2) um período de aquecimento em carga zero (2-3 min.); 3) um período
de incrementação (8-12 min.); 4) um período de recuperação ativa na carga
próxima ao zero (3-6 min.) para que o indivíduo recupere seus níveis
pressóricos diastólicos gradativamente para que não ocorra uma síncope por
baixo débito; e, 5) um período de recuperação passiva em repouso final (2-3
min.). Neste sentido, embora a estimativa da carga de incremento durante o
protocolo de rampa (com duração entre 8-12 min) [2,4,9] possa ser realizada
pela fórmula proposta pelo American College Sport of Medicine
(ACSM), em 1980, carga (watts) = [(altura-idade)*12] – [(150+6*peso)]/100.
Torna-se importante ressaltar que tal proposição se aplica de forma mais
adequada a indivíduos saudáveis e ativos, sugerindo que a incrementação por
meio da dedução da carga a partir da capacidade funcional relatada, somada a
sensibilidade dos avaliadores, tem se mostrado mais adequada para exames em
indivíduos sedentários e com disfunções.
Variáveis
do TECP
Durante o TECP serão
fornecidas algumas variáveis como a carga ou potência (cicloergômetro),
em que a potência do cicloergômetro representa a
quantidade de trabalho (força aplicada x à distância) que é realizada num dado
período de tempo. A potência geralmente é expressa em Watts (1 W=1 J/s) ou (1
W=6,12 kpm/min – kilopondsmetro
por minuto). Vale ressaltar que a velocidade (km/h) é a medida utilizada como a
potência na esteira rolante. Valores bastante diferentes podem ser obtidos num
mesmo indivíduo, caso se usem incrementos mais rápidos (geralmente valores de
incremento de cargas maiores) ou mais lentos (incrementos de cargas com menores
valores).
Principais
parâmetros obtidos no TECP
Consumo
de oxigênio (VO2)
Constitui o volume de O2
extraído do ar inspirado pela ventilação pulmonar num determinado período de
tempo, para em seguida ser difundido, perfundido e
extraído do sangue pelos músculos para ser utilizado. Calculado, portanto, como
a diferença entre o volume de O2 inspirado e expirado (Figura 3). É
uma das variáveis mais importantes do TECP [1,3,9].
Em protocolo de carga
constante, após considerarmos o tempo de atraso músculo-pulmão [2] (carga
incremental), o VO2 pode ser uma estimativa confiável da taxa
periférica de troca de O2. Expresso em ml/min ou L/min (STPD);
correções para a massa corporal total devem ser interpretadas com cautela,
principalmente nos indivíduos em sobrepeso. E, como seria de se esperar, o VO2
depende da intensidade do exercício realizado [1,2] e da quantidade de massa
muscular que um determinado indivíduo possua (massa magra).
O VO2 pode
ser analisado através de duas unidades de medidas, em valores absolutos (L/min)
e também pode ser expresso em valores relativos (ml/kg/min). Durante o TECP, o
voluntário pode alcançar o VO2máx, que seria o consumo máximo de
oxigênio alcançado, mesmo que a carga de trabalho continue sendo aumentada.
Podemos afirmar que um indivíduo alcançou o VO2máx [10] quando: 1)
Ocorre um platô na curva do VO2 (aumento ≤ 150 ml/min-1 ou 2
ml/kg1min-1); 2) Quando o quociente respiratório (R) ≥ 1,15 FCMax ≥ 90% da prevista pela idade (220-idade [10]);
3) Quando o índice de percepção de esforço ≥ 18 (Escala de BORG [11]) e
fadiga voluntária máxima com incapacidade de manutenção do ritmo
preestabelecido. É importante salientar que o VO2máx pode ser
atingido mesmo que não apareça o platô na curva do VO2, pois este
momento pode corresponder ao início da formação do platô. Nos casos de
pacientes que tenham uma ou mais engrenagens do metabolismo (pulmão, coração,
cérebro e músculos) comprometidos, o maior valor obtido no final de um
exercício exaustivo é caracterizado como VO2pico. O VO2pico
reflete a capacidade de uma pessoa absorver, transportar e consumir O2
até ser interrompido por algum fator limitante, que pode ser o sedentarismo ou
até mesmo estados fisiopatológicos (ex. DPOC, IC e doenças musculares
periféricas). Esta limitação não permitirá que o indivíduo alcance o seu VO2máx.
Na prática clínica os voluntários destreinados e sedentários geralmente também
não alcançam o VO2máx e por conta disto utilizam o VO2pico como
parâmetro para a finalidade que o avaliador necessite. O VO2máx ou pico é
influenciado por alguns fatores como: idade, peso, herança genética,
condicionamento físico, altura, treinamento, etnia. O VO2pico
interpretado como anormal quando estiver abaixo de 15% do valor predito, ou
seja, quando for 85% do predito [12]. É considerado o marcador padrão ouro na
literatura [9,13-15] e por ter a capacidade de demonstrar a gravidade de
doenças como cardiopatias [16] (IC, miocardiopatia hipertrófica) e pneumopatias (hipertensão pulmonar, DPOC e doença pulmonar
restritiva), assim como pode inferir o nível de aptidão física [9,13-15,17]. O
VO2 medido no primeiro limiar ventilatório (LA) é determinado pelo
momento em que passa a haver um aumento não linear da ventilação pulmonar (VE)
em relação ao VO2 (logo após o 1°LA).
Figura 3 - Variáveis cardiorrespiratórias e metabólicas obtidas durante o teste
cardiopulmonar com protocolo do tipo rampa em cicloergômetro
(foto do autor).
Logo, a inclinação da
relação linear entre o VO2 e a potência (DVO2/DW)
oferece importantes informações relativas à capacidade em suprir, através de
vias predominantemente aeróbias, as demandas metabólicas (Figura 4).
Potência (preto),
Cadência da pedalada (verde); Consumo de O2 (vermelho) e Produção de CO2
(azul)
Figura 4 - Variáveis cardiorrespiratórias e metabólicas obtidas durante o teste
cardiopulmonar com protocolo do tipo rampa.
Produção
de dióxido de carbono (VCO2)
A VCO2 pode
ser definida como o volume de CO2 adicionado ao ar inspirado pela
ventilação pulmonar num dado período de tempo, calculado, portanto, como a
diferença entre o volume de CO2 expirado e inspirado. No exercício
de carga constante, após considerarmos o tempo de atraso músculo-pulmão (carga
incremental), o VCO2 pode ser uma estimativa confiável da taxa
periférica de troca de CO2 (QCO2) [1,2]; no entanto, o CO2
é cerca de 20 vezes mais difusível que o O2 (ou seja, tem vastos
depósitos corporais), uma dada mudança na QCO2 demora mais tempo de
ser refletida na VCO2 do que variações na QO2 modificam o VO2.
O VCO2, tanto no exercício máximo como no submáximo, apresentam
escassa importância prática. Podemos ver algumas dessas variáveis diretamente
na tela do programa do analisador de gases (Figura 5).
Quociente
respiratório (RQ ou R)
A taxa de troca gasosa
(R) ou quociente respiratório reflete a razão entre a liberação de CO2 e a
captação de O2 pulmonares medidos no ar expirado (VCO2/VO2).
Embora o R tenha sido tradicionalmente utilizado como um indicador de exercício
máximo (Rmáx > 1.15 ou 1.20), deve-se também
analisar criticamente este conceito, considerando que quanto mais rápida for a
incrementação para a aptidão de um indivíduo ou maior for a utilização de
carboidrato, o R será substancialmente maior. Entretanto, os valores de R ao
repouso tem significativa importância na identificação de hiperventilação
voluntária (R > 0,9 no repouso, na ausência de hipoxemia): nenhum TECP deve
iniciar em tais condições [2,3].
Limiar
anaeróbio ventilatório (LAV) ou 1° limiar ventilatório
Caracteriza-se por marcar o início do acúmulo sustentando
de lactato na corrente sanguínea, comparados aos valores de repouso. É
percebido pela perda da linearidade entre a ventilação (VE) e o VO2
(primeiro ponto de inflexão - Figura 6). Isso se traduz na prática pelo
equivalente de oxigênio mais baixo (VE/VO2) antes de seu aumento
progressivo ou pelo início do aumento no VE/VO2 em desproporção ao
VE/VCO2. Além disso, observa-se o aumento na razão de trocas respiratórias
(R= VCO2/VO2) e um aumento progressivo da pressão
expirada de oxigênio (PETO2) [2,3,18]. O LAV também pode ser
identificado por intermédio de equações de regressão pelo método
computadorizado V-Slope [2,19,20] (técnica que
permite a identificação não invasiva do início da lactacidose
durante um teste incremental), devendo este sempre ser comparado àquele
observado pela análise visual.
(A) V-slope. VO2 = consumo de oxigênio, VCO2
= produção de gás carbônico; (B) Variáveis VE/VO2 (equivalente ventilatório
de oxigênio), VE/VCO2 (equivalente ventilatório de gás carbônico),
PETO2 (pressão expirada de oxigênio) e PETCO2 (pressão
expirada de gás carbônico) plotadas em função do tempo utilizadas. LAV, limiar
anaeróbio; PCR, ponto de compensação respiratória. (Adaptado de Reis MS, Quitério RJ. Teste Cardiopulmonar. Sociedade de Cardiologia
do Estado de São Paulo, Departamento de Fisioterapia 2015).
Figura 6 - Determinação dos limiares metabólicos pelo método visual gráfico.
Diversas metodologias
têm sido utilizadas na determinação do LA [21] tais como a análise da lactacidemia, na qual o LAV é determinado pelo ponto onde o
acúmulo de ácido lático no sangue é de 2 mmol/L [22,23], análise das variáveis
ventilatórias. Os estudos referem o LAV como ponto onde ocorre um aumento
desproporcional da ventilação pulmonar (VE) e da produção de dióxido de carbono
(VCO2) em relação ao VO2 pela perda da linearidade do
comportamento dessas variáveis, apesar da manutenção da linearidade do VO2,
pela análise do comportamento da frequência cardíaca (FC) e pelo estudo da
eletromiografia [22,24] (EMG).
A
Potência Circulatória (PC)
É obtida pelo produto
da pressão arterial sistólica (PAS) pico pelo VO2 pico e a Potência
Ventilatória (PV), que é PAS pico dividida pelo VE/VCO2 slope [25,26].
Mais recentemente, Forman et al. [27]
introduziram e avaliaram o uso de um novo índice obtido por meio da divisão da
PA sistólica pico pelo índice VE/VCO2 slope, sendo denominada como
Potência Ventilatória (PV). Ambas têm valor prognóstico na IC. Baixos valores
da PC prevê um pior prognóstico da doença [28-30]. De acordo com os autores, um
melhor prognóstico é refletido quando a PV apresenta maior valor, ou seja,
maior PA e/ou menor VE/VCO2 slope.
Ponto de
compensação respiratória (PCR) ou 2° limiar ventilatório
O segundo limiar
ventilatório ou ponto de compensação respiratório (PCR) é caracterizado pela
perda da linearidade da relação entre a VE e o VCO2 (VE/VCO2
mais baixo, antes do aumento progressivo), queda da PETO2 (PETO2
mais alta, precedendo sua queda abrupta). Além disso, é o ponto na qual a VE
passa a aumentar em desproporção ao aumento no VCO2
(hiperventilação) [2,3]. Durante o TECP, com o aumento progressivo da carga, a
VE progride de maneira numérica até poder alcançar um platô máximo, o qual se
caracteriza por uma grande produção de CO2. Esse processo de
incremento ventilatório serve como marcador de limitação do esforço.
Ventilação
pulmonar (VE)
O VE é o resultado do
produto do volume corrente (VC) pela frequência respiratória (FR). A avaliação
isolada destes parâmetros, muitas vezes, pode ser útil. Cabe ressaltar que a FR
durante o TECP dificilmente ultrapassa 50 irpm
(incursões respiratórias por minuto) [2]. Já o VC, que representa de modo
parcial a capacidade de expansibilidade pulmonar, em repouso pode variar de 300
a 600 ml por incursão respiratória por minuto (irpm),
podendo aumentar em até 70% da capacidade vital quando o indivíduo é exposto ao
esforço. Ainda em relação à ventilação, sabemos que alguns equipamentos
fornecem dados da afinidade entre o espaço morto (VD) e o VC. O comportamento
normal do chamado VD/VT diminui durante o esforço em indivíduos normais. O
incremento poderá significar modificações significativas na relação VE/perfusão
pulmonar, devendo o paciente ser observado com maior atenção nessas situações.
Quando os indivíduos estão em repouso, geralmente são ventilados de 7 a 9
ml/min. Entretanto, dependendo da necessidade ou da demanda, alguns atletas
podem atingir o incrível valor de 200 ml/min no esforço máximo [12]. A
ventilação aumenta continuamente até alcançar valores em torno de 50irpm
durante o esforço progressivo no TCPE e sofre aumentos adicionais influenciados
pelo metabolismo anaeróbico resultante do acúmulo de ácido lático bem definido
no primeiro e segundo limiares.
Pressão
expirada de O2 (PETO2) ou fração expirada de O2
(FEO2)
Diminui
transitoriamente logo após o início do exercício, desde que o aumento na VE
seja mais lento do que o incremento no VO2. Ao ser atingido o LAV, a
PETO2 aumenta 10 a 30 mmHg até se alcançar o esforço máximo. Esse
aumento se deve à hiperventilação provocada pela diminuição do pH (acidose
metabólica a ser compensada); a FEO2 tem o mesmo comportamento,
diminuindo no início do esforço e atingindo um valor mínimo, aumentando de
maneira progressiva com o aumento na carga até o pico do esforço [2].
Pressão
expirada de CO2 (PETCO2) ou fração expirada de CO2
(FECO2)
Na qual o valor ao nível
do mar varia de 36 a 42 mmHg e eleva-se 3 a 8 mmHg durante o exercício de
intensidade leve a moderada e atinge um valor máximo, quando é caracterizado o
PCR e pode em seguida diminuir [2,3]. FECO2 tem o mesmo
comportamento durante exercícios com cargas crescentes.
Pulso de
oxigênio - PuO2 (VO2/FC)
Considerada uma das
mais importantes variáveis utilizadas pela ergoespirometria,
pois demonstra a quantidade de O2 que é transportada/consumida a cada sístole
cardíaca pela musculatura periférica. Uma diminuição do desempenho do
ventrículo esquerdo pode ser detectada pelo TECP, mediante observação da curva
do pulso de O2. Para entendermos melhor o VO2/FC, precisamos
recordar da equação de Fick: VO2 = FC x
volume sistólico (VS) x diferença arteriovenosa de oxigênio (Dif. A-VO2).
Considerando que a Dif A-VO2 em diversas
situações clínicas não se altera de forma importante no exercício incremental,
o PuO2 representa o VS e, por este motivo, podemos extrapolar o PuO2
como o desempenho ventricular esquerdo. Desta forma, VO2 ≅
FC x VS ou VO2 /FC ≅ VS. Pensando com este
racional, podemos verificar, em algumas circunstâncias, que a forma da curva do
PuO2 poderá auxiliar no diagnóstico de disfunção ventricular e
isquemia miocárdica induzida por esforço importante [9,12,14-16].
Reserva
ventilatória (VE/VVM)
Comumente,
a avaliação
da limitação ventilatória tem se baseado na
reserva ventilatória, ou seja, na
razão entre a ventilação máxima de
exercício (VE) e a ventilação voluntária
máxima (VVM). Representada tradicionalmente pela
ventilação máxima alcançada no
exercício (VEmax) em relação à ventilação
máxima voluntária (VVM). A ventilação voluntária máxima (VVM) normalmente é
determinada com o indivíduo em repouso. É considerada o limite da ventilação
máxima atingida em condições fisiológicas. Pode ser determinada de forma direta
ou indireta (calculada de forma indireta através da fórmula entre o produto do
Volume Expiratório Forçado no primeiro segundo por uma constante – FEV1 (FEV1 ×
37,5). Em condições normais, a ventilação no exercício máximo (VEmax) atinge valores que não ultrapassam 70% da
VVM. Uma reserva ventilatória (VVM-VEmax/VVM)
reduzida ou ausente é um dos critérios usados para estabelecer a limitação
ventilatória ao exercício. O seu valor normal vai de 20 a 40%, mas considera-se
o valor de normalidade acima de 20%. Todavia, tanto em atletas quanto quando se
realizam exercícios extenuantes, uma maior fração da reserva ventilatória pode
ser utilizada de maneira fisiológica. É útil no diagnóstico diferencial de
dispneia relacionado ao mecanismo pulmonar [12].
Relação DVO2/DWR
É uma variável oriunda
do VO2 (eixo y em mL/min) dividido pela
carga de trabalho (eixo x em Watts). Medida somente durante o exercício em cicloergômetro com protocolo do tipo rampa. Esta variável
tem utilidade [3] diagnóstica em pacientes com suspeita de isquemia miocárdica
com disfunção ventricular esquerda desencadeada pelos esforços. O valor de
referência considerado dentro da normalidade em adultos é de 9 mL/min/W (sendo aceito como limite inferior o valor de 8,6 mL/min/W).
A
inclinação da eficiência da captação do oxigênio – oxygen
uptake efficiency slope (OUES)
A eficiência
ventilatória no consumo de oxigênio (OUES em inglês) vem firmando sua utilidade
na estratificação de risco a partir do TECP. Trata-se de uma variável
dependente da análise logarítmica entre o VO2 e a VE, de grande
valor prognóstico, independentemente da realização de um esforço máximo ou não.
O valor de corte para normalidade é ≥ 1.400 mL/
min, embora exista fórmula de predição baseada na idade, gênero e superfície
corporal, ou seja, quanto mais íngreme essa relação maior seria a eficiência
pulmonar na captação de oxigênio [25]. Foi devidamente estudada e é medida pela
relação entre o VO2 e o logaritmo na base 10 da VE. O OUES consegue
informar sobre a gravidade dos pacientes com IC [14]. Assim como o VE/VCO2
slope, não
requer que o teste seja máximo para sua obtenção [32].
Nesse sentido, podemos
utilizar teste de exercícios físicos denominado de exercício máximo, no qual
será observado pelo menos um dos critérios [3]. Para os exercícios considerados
submáximos, o parâmetro de avaliação é o percentual de oitenta e cinco por
cento da FCmáx, como limite máximo em que a FC poderá
chegar durante a execução do exercício [2]. Como por exemplo: 1) TC6M [31,32];
2) Teste de degrau de seis minutos (TD6M) [32-34]; 3) SWT [35-38]. Por outro
lado, os testes de exercícios considerados máximo seriam: o teste de exercício
cardiopulmonar (TECP), considerado amplamente na literatura como o padrão ouro
[2,8,9]. Uma observação relevante sobre o SWT, é que dependendo da intensidade
alcançada durante a realização do teste, este poderá ser considerado um teste
de exercício máximo [37].
TECP máximo ou
sintoma-limitado está associado ao sistema de ergometria e será realizado com
objetivo de avaliar a capacidade funcional [39] dos indivíduos submetidos ao
teste [3]. Existem alguns tipos de ergômetros para a realização do TECP, como a
bicicleta, esteira, escada, ergômetro de membros superiores e caiaque [2].
O exercício físico
desencadeia ajustes complexos e imediatos nos sistemas: cardiovascular,
ventilatório, no metabólico e em sintomas subjetivos [6], a fim de manter o
melhor funcionamento dos órgãos e sistemas dessa maquinaria praticamente
perfeita que é o corpo humano. A integração harmônica desses ajustamentos [40]
mostra que o nosso organismo está sempre tentando compensar situações adversas
da forma mais eficiente possível e com o menor dispêndio energético [2]. Desta
forma é possível inferir que o exercício físico não é tão simples quanto
parece. Principalmente quando são analisadas as repercussões sofridas pelo
corpo e suas compensações, através de um aparato tecnológico que permite
observar importantes marcadores e variáveis que irão fornecer informações
valiosas para o melhor entendimento dessa máquina complexa.
Durante os testes
ergoespirométricos, é impossível a comunicação verbal do paciente com o
avaliador [9], pois isso acarretaria em alterações nos gases respirados, sendo
assim e por conveniência foi criada uma escala de percepção subjetiva do
esforço ou dispneia, que determina a taxa de esforço percebido. Também
conhecida como escala de BORG [11]; onde um pôster com as escrituras desta
escala (0-20) é utilizada para a indicação manual da sensação subjetiva de cansaço
[11]. No entanto, a taxa de esforço percebido pode ainda ser avaliada através
da escala de BORG modificada, category-ratio (CR-10), mais concisa (0 – 10) e parece ser
mais pragmática e objetiva. Essa ferramenta utilizada na ergoespirometria
deverá ser explicada ao paciente antes do início do teste. Poderá ser aplicada
antes, durante e depois do TECP. É imprescindível que a escala de BORG esteja
legível, no campo visual e ao alcance das mãos do paciente durante o teste,
pois assim ele poderá apontar o nível de cansaço com mais facilidade durante a
realização do exame (Figura 7).
(Borg
G. Borg's perceived exertion and pain scales. Humankinetics, 1998.modificada
CR-10).
Figura 7 - Escala de BORG modificada.
Equações
de predição
Conforme discutido
anteriormente, o padrão ouro para avaliação da capacidade cardiorrespiratória é
a medida do VO2 pelo TECP. Quando tais medidas não são acessíveis,
alguns procedimentos indiretos como as fórmulas de predição têm sido utilizados
para calculá-los. Estas equações de predição são aceitas no cotidiano e
validadas pelas correlações existentes entre o VO2 medido no TECP
como estimado através de equações ou testes de desempenho [41]. O método padrão
ouro será sempre a primeira escolha, mas a decisão entre usar teste máximo
(TECP) ou a fórmula de predição (método indireto) dependerá das
disponibilidades inerentes à realização deste exame, como disponibilidade de
equipamento ou pessoal treinado apto para realizar o procedimento, além é
claro, do indivíduo a ser avaliado.
O TECP proporciona uma
determinação mais fidedigna; entretanto, como é sabido, é mais dispendioso,
necessita de equipe especializada e tende a ser mais demorado [2]. Em vista
disso, a medida direta do VO2 normalmente é reservada para a
pesquisa, para uso no treinamento desportivo ou é utilizada em ambiente clínico
específico [1,3]. Outro método utilizado e considerado o mais próximo do TECP
seria a estimativa do VO2 por intensidade de esforço, que tem como
desvantagem conduzir o indivíduo até a exaustão máxima com controle limitado
das variáveis ventilatórias e metabólicas que possam garantir maior segurança.
O teste de esforço
máximo, quando comparado ao teste de esforço submáximo, tem grande valor e
utilidade clínica para o diagnóstico de cardiopatia isquêmica em indivíduos
assintomáticos [2]. Em alguns cenários o teste de esforço (ergometria) pode não
ser usado para avaliação da capacidade
cardiorrespiratória máxima [2,3]. Nesse caso, foram desenvolvidos testes de
esforço submáximo com o objetivo básico de estimar a relação entre a resposta
da frequência cardíaca de um indivíduo e seu VO2 durante o exercício
progressivo e usá-lo para prever o VO2máx.
Para determinar com
exatidão esta relação, é preciso medir a frequência cardíaca e o VO2 pelo
menos duas ou mais intensidades de esforço submáximo [2]. É um método mais
prático quando comparado ao TECP, relativamente simples, menos dispendioso,
mais célere e de baixo risco [1], embora não tenha a mesma precisão que o
padrão ouro [9].
A escolha mais
corriqueira do ergômetro para este teste submáximo tem sido o cicloergômetro, apesar disso alguns locais realizam este
tipo de teste utilizando também a esteira rolante [2], provavelmente pela
semelhança biomecânica entre a marcha e a atividade física realizada na esteira
para este tipo de teste. Mas o cicloergômetro tem a
vantagem de ser mais preciso em relação à carga oferecida ao indivíduo, ocupa
menos espaço no ambiente de testes e mantém os sinais vitais coletados durante
o teste com maior estabilidade [2]. Nos testes submáximos realizados em esteira
rolante, geralmente terminam com a frequência cardíaca, em regra, 85% da
frequência cardíaca máxima prevista ([FC máxima –FC em repouso] x [0,85] + FC
repouso), determinada previamente ao início do teste [2].
Os protocolos de Bruce
e Ellestad são os mais frequentemente utilizados com
ergômetros como esteira rolante [42]. No protocolo de Bruce se preconizam
incrementos da carga de forma progressiva a cada três minutos (protocolo de
rampa), de modo que, a cada minuto, corresponda ao incremento de 1 MET. Se um
indivíduo atingiu 10 minutos no protocolo de Bruce, podemos inferir que atingiu
10 METS ou 35 mL.kg-1.min-1. Já no protocolo de Ellestad, preconiza-se aumentos maiores de velocidade a
cada 2 minutos, além disso é utilizado a inclinação fixa até o oitavo minuto e,
a partir desse ponto, passa inclinar-se 15%.
Este estudo foi
desenvolvido e realizado com o intuito de facilitar o entendimento do TECP e
suas mais diversas formas de utilização e fins propostos. Conquanto, esta
ferramenta tem grande valia e sensibilidade na área de treinamento e
reabilitação. Utilizando este recurso de forma preventiva, estaremos voltando a
nossa atenção para a área de treinamento físico, na qual os resultados acurados
do TECP serão utilizados de forma precisa e mais célere. Todavia, poderemos
utilizar este teste no tratamento de diversas cardiopatias. Neste contexto, o
trabalho de reabilitação será mais seguro e encorajador.