ARTIGO
ORIGINAL
Os
benefícios da eletroestimulação transcutânea via nervo tibial posterior e parassacral no tratamento de bexiga hiperativa
The
benefits of transcutaneous electrostimulation via the posterior tibial and parasacral nerves in the treatment of overactive bladder
Bruna Ribeiro dos
Santos*, Júlia Leite Gomes*, Raquel Coutinho Luciano Pompermayer**,
Gracielle Karla Pampolim
Abreu**
*Docente
do curso de Fisioterapia da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de
Misericórdia de Vitória (EMESCAM), Vitória/ES, **Professora Mestre do curso de
Fisioterapia da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de
Vitória (EMESCAM), Vitória/ES
Recebido 26 de junho de
2018; aceito 15 de março de 2019.
Correspondência: Bruna Ribeiro dos
Santos: ribeirobbruna@gmail.com; Júlia Leite Gomes: julia.lgomes@hotmail.com;
Raquel Coutinho Luciano Pompermayer:
raquel@pelvic.com.br; Gracielle Karla Pampolim Abreu: gracielle.pampolim@emescam.br
Resumo
Introdução: A fisioterapia é uma
das possibilidades de tratamento para hiperatividade do detrusor e um dos
recursos que se destacam é a eletroestimulação transcutânea. Objetivos:
Comparar os benefícios da eletroestimulação transcutânea via nervo tibial
posterior com a via parassacral na sintomatologia e
na qualidade de vida. Métodos:
Trata-se de um ensaio clínico randomizado com amostra de 15 mulheres,
subdivididas em dois grupos, realizado na clínica escola de fisioterapia da
EMESCAM, duas vezes por semana, totalizando vinte sessões. Resultados: Observou-se relevância estatística em ambos os grupos
nos itens qualidade de vida e frequência miccional diurna. No entanto, quando
avaliados os sintomas de urge-incontinência somente o grupo de
eletroestimulação transcutânea do nervo tibial posterior apresentou melhora
significativa e quando comparados entre si não houve diferença estatística. No
que diz respeito ao sintoma de noctúria,
estatisticamente não houve melhora nos dois grupos. Conclusão: Conclui-se que os resultados obtidos com esse estudo
foram estatisticamente relevantes na melhora sintomatológica e qualidade de
vida de ambos os grupos, no entanto o grupo ETNTP obteve resultados mais
satisfatórios quando comparado ao grupo ETP.
Palavras-chave: bexiga urinária,
estimulação elétrica nervosa transcutânea, bexiga urinária hiperativa.
Abstract
Introduction:
One of the possibilities of treatment for detrusor hyperactivity is
physiotherapy, and one of the features that stands out is transcutaneous
electrostimulation. Objectives:
Comparing the influence of electrostimulation transcutaneous posterior tibial
nerve with parasacral transcutaneous
electrostimulation in symptomatology and quality of life. Methods: This is an applied, explanatory and experimental study
with a sample of 15 women, subdivided into two groups, performed at the clinic
physiotherapy school of EMESCAM, twice a week, totaling twenty sessions. Results: We observed a statistical
relevance in both groups in the items of quality of life and diurnal voiding
frequency. However, when the urge-incontinence symptoms were evaluated, only
the transcutaneous electrostimulation group of the posterior tibial nerve
showed a significant improvement and when compared (with each other) there was
no statistical difference. Regarding the nocturia symptom, we did not observe
statistically improvement in the two groups. Conclusion: We concluded that the results obtained with this study
were statistically relevant in the improvement of the symptoms and quality of
life of both groups, however the TSPTN group obtained more satisfactory results
when compared to the PTS group.
Key-words: urinary
bladder, transcutaneous eletric nerve stimulation,
urinary bladder overactive
A bexiga hiperativa
(BH), também denominada hiperatividade do músculo detrusor é uma disfunção do
trato urinário inferior que acomete tanto homens como mulheres em diferentes
fases da vida e, por manifestar sintomatologia como urgência,
urge-incontinência, aumento da frequência urinária diurna e noctúria,
torna-se um fator limitante do convívio social e do rendimento laboral,
desencadeando situações de estresse, frustrações e ansiedade interferindo
drasticamente na qualidade de vida desses indivíduos [1].
Estima-se que no ano de
2018, aproximadamente 546 milhões de indivíduos possam apresentar essa
disfunção [2]. Já no Brasil, a sua prevalência é de 18,9% e o sexo feminino é o
mais acometido, principalmente após a menopausa, mas apesar de sua alta
prevalência, poucos são aqueles que buscam por tratamentos especializados
[3,4].
Uma das alternativas
para o tratamento de bexiga hiperativa que os estudos trazem é a
eletroestimulação transcutânea do nervo tibial posterior (ETNTP) ou da região parassacral (ETP) realizada através da fisioterapia, e por
ser uma técnica não invasiva, de fácil aplicação e segura, facilita a aceitação
do paciente ao tratamento [5].
Atualmente, poucos
estudos cientificamente relevantes foram realizados, mas, estes apresentam bons
resultados após a aplicação do protocolo de inibição do detrusor. Em estudos
distintos, após o término do protocolo de tratamento, a ETNTP e ETP foram
significativamente relevantes em relação à sintomatologia e qualidade de vida
[6,7]. No entanto não é possível comparar esses estudos devido a diferença
metodológica utilizada.
Vale ressaltar que até
o presente momento não há estudos cientificamente relevantes que comparem a
aplicação de tais técnicas e que comprovem a influência da ETP na qualidade de
vida e sintomatologia de bexiga hiperativa em mulheres adultas, justificando a
realização da presente pesquisa, que tem como objetivo comparar os benefícios
da eletroestimulação transcutânea do nervo tibial posterior com a
eletroestimulação transcutânea parassacral na
sintomatologia e qualidade de vida.
O presente estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Superior de Ciências da
Santa Casa de Misericórdia de Vitória, cadastrado com o número 2.299.135 e
foram respeitadas todas as diretrizes da resolução 466/12.
Trata-se de um ensaio
clínico randomizado. Foram recrutadas trinta mulheres do ambulatório de
disfunções do assoalho pélvico do Hospital Santa Casa de Misericórdia de
Vitória/ES, no entanto ocorreram dez desistências e cinco exclusões, por
incompatibilidade de horários e faltas consecutivas sem justificativa prévia,
resultando em quinze participantes para a pesquisa.
Foram incluídas nesse
estudo mulheres com diagnóstico clínico de bexiga hiperativa residentes da
Grande Vitória, com idade superior ou igual há dezoito anos e que aceitaram
assinar o Termo De Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídas mulheres
que apresentaram infecção do trato urinário, possuíam marca-passo cardíaco,
implantes metálicos na região do pé e tornozelo direito, amputação de membro
inferior direito, doenças neurológicas de base e qualquer outro distúrbio
neurológico, história de neoplasia geniturinária, incapacidade em responder os
questionários adequadamente e/ou preencher corretamente o diário miccional.
Foram excluídas também gestantes em qualquer período gestacional, além das
pacientes que estivessem utilizando outros recursos para o tratamento de bexiga
hiperativa.
No primeiro momento foi
aplicada uma ficha de avaliação elaborada pelas alunas pesquisadoras,
contemplando os dados socioeconômicos, demográficos e clínicos e o estilo de
vida, a fim de caracterizar o perfil das participantes estudadas, e em seguida
foram randomizadas de forma aleatória para um dos dois grupos de tratamento:
grupo ETNTP (8 participantes) que recebeu a eletroestimulação transcutânea no
trajeto do nervo tibial posterior (eletrodo positivo quatro dedos acima do
maléolo medial e eletrodo negativo dez centímetros acima do eletrodo positivo)
e o grupo ETP (7 participantes), que recebeu a eletroestimulação transcutânea
na região parassacral (entre a região de S2 a S4,
simetricamente e paralelamente ao eixo mediano).
Logo após, foi aplicada
a escala International Consultation on Incontinência Questionnaire Overactive Bladder (ICIQ-OAB)
para avaliar o impacto da sintomatologia na qualidade de vida, o PadTest e o diário miccional de vinte e quatro horas, o
qual foi preenchido e entregue pela paciente no primeiro dia de tratamento.
O protocolo de
tratamento foi o mesmo para ambos os grupos, consistindo em: vinte sessões de
tratamento, duas vezes por semana com duração de trinta minutos cada. A
aplicação da eletroestimulação transcutânea foi através do aparelho Dualpex 961 da marca Quark, com uma corrente do tipo
monofásica, largura de pulso de duzentos microssegundos, frequência de 10 Hz e
intensidade de acordo com o limiar da dor de cada indivíduo. Após as vinte
sessões de tratamento as pacientes foram reavaliadas com os mesmos instrumentos
da avaliação inicial.
A análise descritiva
foi feita através de tabelas de frequências e medidas de resumo de dados como
média, mediana e desvio padrão. Para as análises inferenciais, inicialmente foi
verificada a normalidade da distribuição da amostra através do teste de
Shapiro-Wilk. Uma vez identificada a assimetria da
amostra, foi realizado o método estatístico não-paramétrico de Wilcoxon a fim de verificar o efeito antes e depois de cada
intervenção (withineffect) e a para verificar a
diferença de efeito entre os dois grupos de tratamento foi utilizado o método
também não paramétrico de Mann-Whitney. A análise foi conduzida utilizando o
software SPSS (IBM 22). Adotou-se nível de significância de p < 0,05, com
seu Intervalo de Confiança de 95%, para todas as análises.
A amostra deste estudo
foi composta por 15 mulheres, com idade média de 53,7 ± 15,3 anos, apresentavam
1,60 ± 0,1 centímetros de estatura e peso médio de e 71,8 ± 14,1 quilogramas. A
partir desses dados, foi possível calcular o IMC da amostra, que apresentou uma
média de 28,6 ± 6,7, caracterizando sobrepeso. Quanto à renda familiar mensal
em salários mínimos, a média da amostra recebia 1,6 ± 1,3 salários.
As pacientes estudadas
foram caracterizadas quanto ao estado civil, número de filhos, raça, escolaridade
e profissão, conforme representa a tabela I.
Tabela I - Caracterização das variáveis qualitativas.
Com relação ao estilo
de vida adotado pela amostra, representado na Tabela II, 93,3% nunca fumaram,
80% não fazem consumo de bebidas alcoólicas e 60% são sedentárias. Quanto à
presença de morbidades 46,7% negou a presença de uma ou mais. A respeito dos
procedimentos cirúrgicos uroginecológicos, 86,6% da
amostra já realizaram um ou mais procedimentos.
Tabela II - Estilo de vida.
RGE = refluxo
gastroesofágico; HAS = hipertensão arterial sistêmica.
Na tabela III estão
representados os resultados dos dados obtidos pela avaliação do diário
miccional antes e após o tratamento, no qual foi observada uma redução
significativa na frequência miccional diurna em ambos os grupos após o
tratamento, ETNP (p = 0,042) e ETP (p = 0,043), e quando comparados entre si
não foram diferentes estatisticamente (p = 0,336).
Quanto à presença de noctúria, no grupo ETNTP a média dos episódios passou a ser
zero e no grupo ETP houve redução média de um episódio de noctúria,
no entanto o resultado não foi estatisticamente relevante, e quando comparados
entre si, também não apresentou diferença estatística (p = 0,397).
Em relação ao número de
perdas urinárias devido à urgência miccional, no grupo ETNTP verificou-se uma
redução significativa (p = 0,042). No grupo ETP a média manteve-se a mesma
quando comparado os momentos pré e pós-tratamento (p = 0,435). Apesar de o
grupo ETNTP apresentar uma redução significativa, quando comparado com o grupo
ETP, não houve diferença estatística (p = 0,536).
Tabela
III - Avaliação e comparação do habito urinário
através do diário miccional.
p*Comparação entre
grupos; p**Comparação intergrupo.
O resultado demonstrado
na tabela IV mostra que a média de peso do absorvente no grupo ETNTP obteve uma
redução estatisticamente relevante (p = 0,027). No entanto, no grupo ETP a
média de peso do absorvente não foi estatisticamente relevante (p = 0,553),
assim como também não foi, quando comparados os grupos entre si (p = 0,232).
Tabela IV - Avaliação da severidade da incontinência urinária através do PadTest.
p*Comparação entre
grupos; p**Comparação intergrupo.
Os achados na Tabela V
mostram que existe diferença estatística (p = 0,018) entre os momentos pré e
pós-tratamento dos dois grupos, quanto à melhora na qualidade de vida após a
aplicação dos protocolos de tratamento, além disso, não houve diferença
estatística entre o grupo ETNP com o ETP (p = 0,094).
Tabela V - Qualidade de vida: Questionário ICIQ-OAB.
p*Comparação entre
grupos; p**Comparação intergrupo.
A presença de bexiga
hiperativa tem se tornado cada vez mais comum entre os indivíduos e é
considerado um problema importante de saúde pública, pois influencia
negativamente a qualidade de vida [8]. No presente estudo, foi comparada a
ETNTP com a ETP para o tratamento de bexiga hiperativa e seus respectivos benefícios
na sintomatologia e na qualidade de vida.
Considerando as
variações individuais de cada mulher com BH e que a sua manifestação não está
diretamente relacionada ao envelhecimento fisiológico, os sintomas, no entanto,
prevalecem em mulheres com idade superior a 40 anos, que tenham tido mais de um
filho, que estejam no período da menopausa e que já foram submetidas a
procedimentos cirúrgicos uroginecológicos [9-11].
Podemos observar que o
perfil submetido a este estudo corrobora com as diversas características que
podem predispor a BH, uma vez que, a média de idade da amostra foi de 53,7 ±
15,3 anos, 73,3% tiveram dois ou mais filhos e 86,6% da amostra foram
submetidas a um ou mais procedimentos cirúrgicos uroginecológicos.
Da mesma forma, estudos
evidenciaram que o estilo de vida adotado pelos indivíduos pode influenciar na
manifestação da sintomatologia de BH, entre eles estão, o sobrepeso, o consumo
exagerado de álcool e tabaco, o sedentarismo e a presença de morbidades, como
HAS e diabetes [10,12]. Neste estudo, o consumo de álcool e tabaco não foi
prevalente, porém o sedentarismo, o sobrepeso e HAS caracterizaram a amostra.
Matsuo et al. [13] observaram que a obesidade é um potencial fator de
risco para a manifestação de BH, fato esse que também foi observado por outros
autores [12-15]. Além disso, a manifestação dos sintomas pode estar associada
ao tratamento de hipertensão arterial sistêmica, uma vez que, para controle da
pressão arterial são utilizados medicamentos anti-hipertensivos e diuréticos
que aumentam o débito urinário, influenciando no ciclo miccional [16].
Durante as sessões, as
pacientes foram questionadas sobre a percepção de mudanças nos sintomas e
observou-se que em todas as vezes que se queixavam de aumento da frequência
diurna e ou de noctúria, estavam vivenciando períodos
de estresse ou de ansiedade. Nesse contexto, estudiosos sugeriram que
transtornos psicossomáticos, como a ansiedade, podem desempenhar um papel
importante para o surgimento ou agravo dos sintomas de BH [17-19]. No entanto,
não se pode concluir se a ansiedade é a causa ou a consequência da BH, mas
sugere-se que há uma relação entre elas.
Considerando que quase
todas as pacientes foram submetidas a procedimentos cirúrgicos uroginecológicos, como a colocação de sling,
cesariana e histerectomia, pressupõem-se a correlação com o surgimento ou
agravo dos sintomas de BH. Corroborando a esta hipótese, alguns estudos
evidenciaram que há uma alta taxa no surgimento da urgência miccional após a
colocação de sling [20,21]. Em contrapartida, em uma
revisão sistemática e metanálise, evidenciaram que
não há aumento do risco e em alguns casos houve melhora da função urinária após
o procedimento de histerectomia [22].
Os sintomas miccionais,
comprometem consideravelmente a qualidade de vida, incentivando a busca de
tratamentos que auxiliassem no condicionamento fisiológico do ciclo miccional.
A fisioterapia é considerada a primeira escolha para o tratamento das
disfunções urinárias, principalmente a BH [5].
Entre os recursos
utilizados, na literatura, o nível A em evidência cientifica é a ETNP, porém na
prática clínica a ETP também proporciona bons resultados as pacientes adultas.
Mas para o sucesso do tratamento, independente do protocolo utilizado, as
pacientes devem ser assíduas, dedicadas, perseverantes e após o término do
protocolo, dar continuidade as orientações domiciliares.
Nesse contexto, a
presente pesquisa, utilizou o diário miccional de vinte e quatro horas, que
está de acordo com o estudo de Mesquita et al. [23], possibilitando identificar
se houveram mudanças na sintomatologia de BH, como a frequência miccional, noctúria e as perdas urinárias decorrentes da urgência
miccional.
No que diz respeito à
frequência miccional diurna, tendo conhecimento de que a frequência fisiológica
é de no máximo oito vezes, observa-se que em ambos os grupos o número de idas
ao banheiro reduziu estatisticamente, no grupo ETNTP (p = 0,042) e no grupo ETP
(p = 0,043), quando comparados entre si não houve diferença estatística (p = 0,336),
sugerindo que ambos os protocolos são eficazes para a redução da frequência
miccional.
Não foram encontrados
estudos de ETP em mulheres adultas, no entanto, resultados similares à nossa
pesquisa foram obtidos em um ensaio clínico randomizado que comparou o efeito
da ETP e da Oxybutynin em crianças [24]. Bem como,
Monteiro et al. [5] através de uma revisão sistemática, analisaram o efeito da
ETNTP na frequência miccional diurna de mulheres adultas e comprovaram sua
eficácia.
Outro parâmetro
extraído do diário miccional é a presença de noctúria,
tendo conhecimento de que não é fisiológico ocorrer uma ou mais interrupções do
sono, a presente pesquisa encontrou resultados satisfatórios em ambos os
grupos, porém, não foram estatisticamente relevantes. Acredita-se que se a
amostra fosse maior haveria significância, uma vez que após o tratamento, no
grupo ETNP não ocorreram mais episódios de noctúria e
no grupo ETP houve uma redução.
Shereiner et al. [25], realizaram um ensaio clínico randomizado com 51
mulheres, aplicaram ETP uma vez por semana durante doze semanas e obtiveram um
resultado estatisticamente relevante em relação à noctúria,
assim como no estudo de Manríquez et al. [26], que também encontraram
resolução completa dos episódios de noctúria, no
ensaio clínico randomizado com uma amostra de 64 pacientes subdivididos em dois
grupos, em que um deles recebeu a ETNTP duas vezes por semana, com duração de
trinta minutos. Corroborando aos resultados obtidos nos estudos citados
anteriormente, Veiga et al. [27],
obtiveram resolução completa do sintoma de noctúria
em alguns pacientes após a aplicação de três sessões de ETP e após as vinte
sessões, 55,1% da amostra obteve o mesmo resultado.
E por fim, em relação
ao número de perdas urinárias devido à urgência miccional, no grupo ETNTP
verificou-se uma redução significativa (p = 0,042) e antes mesmo do término do
protocolo as pacientes já relatavam diminuição desse sintoma. O mesmo foi
observado através da revisão sistemática [25], sugerindo que a ETNTP é
eficiente para resolução do quadro sintomatológico, incluindo a
urge-incontinência.
No grupo ETP a média
manteve-se a mesma quando comparado os momentos pré e pós-tratamento. No
entanto, Veiga et al [27] obtiveram resolução completa de todos os sintomas,
inclusive de incontinência por urgência, após a aplicação de vinte sessões de
ETP. E apesar do ETNTP apresentar uma redução significativa, quando comparado
ao grupo ETP, não houve diferença, este resultado pode ser decorrente a amostra
pequena.
Sabe-se que a presença
de perda urinária pode estar associada à urgência miccional, diante disso,
utilizamos o PADTEST para avaliar a incontinência urinária e quantificar a
severidade da perda [28]. Os resultados encontrados na presente pesquisa
mostraram uma redução significante quanto ao peso do absorvente do grupo ETNTP
(p = 0,027), mas no grupo ETP a média em gramas não foi estatisticamente
relevante (p = 0,553). Não foram achados estudos equivalentes para possíveis
comparações, mas segundo a classificação do PadTest,
a severidade da IU em ambos os grupos no momento pré tratamento era moderada e
após o tratamento passou a ser uma incontinência urinária leve.
Observou-se uma
diminuição considerável do peso do absorvente (em gramas) nos dois grupos e
quando comparados entre si não houve uma diferença estatística. No entanto,
quando se fala em diminuição das perdas urinárias, sejam elas, mínimas, podemos
correlacionar com a diminuição do número de absorventes ou fraldas utilizadas e
consequente redução dos gastos financeiros.
Com relação ao método
avaliativo da qualidade de vida, apesar de existirem diversos tipos de
questionários os quais vão dos genéricos aos específicos, estes, refletem
melhor a mudança na resposta ao tratamento, e o questionário ICIQ-OAB é
totalmente qualificado para avaliar o impacto que tais sintomas geram na
qualidade de vida.
Neste último, há uma
pontuação mínima de zero e máxima de dezesseis pontos, quanto maior a
pontuação, maior o comprometimento da qualidade de vida. Além disso, cada
pergunta possui uma escala que varia de zero (nada de incômodo) a dez (muito
incômodo), permitindo a análise da relação dos sintomas com os incômodos [29].
Diante da análise
comparativa, ambos os grupos de tratamento obtiveram uma redução significante
no escore médio geral (p = 0,018). Quando comparados entre si, não houve
diferença estatística, sugerindo assim, que ambos os protocolos são eficazes na
redução da sintomatologia e consequente melhoria na qualidade de vida.
Entre os sintomas
miccionais já relatados no ICIQ-OAB, a urgência e a noctúria
foram os sintomas de maior incômodo quando comparados aos outros sintomas
miccionais. Em estudos anteriores a urgência também foi a que mais proporcionou
incômodo, no entanto, em outras pesquisas, a noctúria,
apesar de altamente frequente em mulheres com BH, não incomodou com a mesma
intensidade que a urgência [30,31]. Entretanto, sabemos que a noctúria tem sido apontada como a causa mais comum de
distúrbios do sono, piora no rendimento diário e no estado geral de saúde,
diminuindo assim, a qualidade de vida [32-34].
Com relação ao aumento
da frequência miccional diurna e a presença de urge-incontinência na amostra
estudada, foram apontadas como potenciais sintomas que interferem de forma
negativa a qualidade de vida, no entanto, não foram a principal queixa. O
oposto foi evidenciado em outros estudos, em que tanto a frequência miccional
diurna aumentada quanto a urge-incontinência são os sintomas que mais geram
impacto negativo no dia a dia e consequente piora na qualidade de vida [31,35].
Conclui-se que os
resultados obtidos com esse estudo foram estatisticamente relevantes em ambos
os grupos. Em relação ao grupo da ETNTP todos os parâmetros analisados, com
exceção da noctúria, foram estatisticamente
relevantes. Em contrapartida, ao analisar a eficácia da ETP, somente a
frequência miccional diurna e a qualidade de vida obtiveram diferença
estatística entre os momentos pré e pós-tratamento. Não houve diferença
significativa entre os grupos, porém os resultados obtidos no grupo da ETNTP
foram melhores quando comparados aos resultados do grupo da ETP. Sugere-se que
novos estudos sejam realizados com uma amostra maior, a fim de agregar
conhecimento científico a respeito dos benefícios das técnicas de
eletroestimulação transcutânea para o tratamento de BH em mulheres adultas.