ARTIGO
ORIGINAL
Associação
da aptidão física de idosos saudáveis com o desempenho na tarefa de levantar-se
do solo
Association of physical fitness of healthy elderly with performance in
the task of getting up from the floor
João Vitor Leme da
Costa*, Maria Teresa Cattuzzo, D.Sc.**, Frederico Santos de Santana***, Feng Yu Hua***,
Marisete Peralta Safons, D.Sc.****
*Mestrando
em Educação Física, Departamento de
Pós-graduação em Educação
Física da
Universidade de Brasília, Brasília/DF, **Docente da
Universidade de Pernambuco,
***Doutorando em Educação Física, Departamento de
Pós-graduação em Educação
Física da Universidade de Brasília, Brasília/DF,
****Docente do Departamento de
Pós-graduação em Educação
Física da Universidade de Brasília, Brasília/DF
Recebido em 2 de julho de 2018; aceito em 30 de outubro de 2018.
Endereço
de correspondência:
João Vitor Leme da Costa, Universidade de Brasília, Campus Darcy Ribeiro,
Faculdade de Educação Física, 70910-900 Brasília DF, E-mail: joaovitorleme@hotmail.com;
Maria Teresa Cattuzzo: mtcattuzzo@hotmail.com;
Frederico Santos de Santana: fredericosantosdesantana@gmail.com; Feng Yu Hua:
fengbr2@gmail.com; Marisete Peralta Safons: mari7ps@gmail.com
Resumo
O objetivo deste
estudo transversal foi examinar a associação da aptidão física com o desempenho
na tarefa de levantar-se do solo em indivíduos idosos saudáveis. Cinquenta e
seis voluntários (71,8 ± 6,96 anos; 68,8 ± 14,02 kg; 1,60 ± 0,97 cm) foram
classificados de acordo com o índice de massa corporal. A avaliação da aptidão
física foi feita por meio dos seguintes testes funcionais: Timed Up and Go; Teste de apoio unipodal;
Teste de sentar e alcançar e o Teste de sentar e levantar. O tempo e o número
de tentativas para a tarefa de levantar-se do solo foram verificados
utilizando-se o Software Kinovea.
Para verificar a associação entre as variáveis, foi utilizado o teste de
correlação de Spearman. O nível de significância
adotado foi de p < 0,05. Os resultados mostraram que houve associação entre
o desempenho na tarefa de levantar-se do solo com o IMC (p < 0,009),
equilíbrio dinâmico/mobilidade (p < 0,001) e força muscular de membros
inferiores (p < 0,001). Dessa maneira, é plausível admitir que a tarefa de
levantar-se do solo mostrou ser uma medida resumo da saúde física na amostra
estudada.
Palavras-chave: aptidão física,
desempenho psicomotor, envelhecimento.
Abstract
The objective of this cross-sectional study was to examine the
association of physical fitness with performance in the task of getting up from
the floor in healthy elderly individuals. Fifty-six volunteers (71.8 ± 6.96
years, 68.8 ± 14.02 kg, 1.60 ± 0.97 cm) were classified according to the body
mass index. Physical fitness assessment was performed using the following functional
tests: Timed Up and Go; Unipodal support test; Sit
and reach test and Sit and stand test. The time and number of attempts for the
task of getting off the ground were checked using the Kinovea
Software. To verify the association between the variables, the Spearman
correlation test was used. The level of significance was set at p <0.05. The
results showed that there was an association between the performance in the
task of getting up from the ground with BMI (p <0.009), dynamic balance /
mobility (p <0.001) and lower limb muscle strength (p <0.001). Thus, it
is plausible to admit that the task of getting up from the floor proved to be a
summary measure of physical health in the sample studied.
Key-words: physical
fitness, psychomotor performance, aging.
O processo de
envelhecimento está associado a mudanças importantes em vários sistemas
fisiológicos e com a capacidade de desencadear alterações na aptidão funcional
em diversas tarefas de movimento. Consequentemente, aspectos relacionados à
diminuição de força muscular, alterações de equilíbrio postural e de
coordenação motora podem ser de tal magnitude a ponto de impactar negativamente
a vida cotidiana dessa população [1-3].
Essas alterações
fisiológicas, em especial, podem influenciar a performance
motora em levantar-se do solo a partir da posição em decúbito dorsal. Esta
habilidade é essencial para uma vida independente [4,5], além de ser uma tarefa
funcional básica para a obtenção da autonomia na gestão de suas atividades
básicas da vida diária [6]; sendo um pré-requisito para a performance
de outras ações motoras, como deambular, a qual requisita principalmente a
habilidade de assumir a posição ortostática [7]. A incapacidade de realizar
esta e outras ações semelhantes está intimamente relacionada com o risco de
quedas, morbidade e perda da capacidade funcional [8,9], uma vez que voltar à
posição vertical, após uma queda, pode ser uma ação difícil e desafiadora [6].
O ato de levantar-se
do solo envolve um mecanismo de mudanças de segmentos corporais [10], por
intermédio do controle do equilíbrio estático e dinâmico. Tal ação está
relacionada com a capacidade do indivíduo manter seu centro de massa sobre uma
determinada base de suporte, seja ela móvel ou imóvel. Para que essa ação
motora ocorra, o mecanismo perceptivo-motor promove a sensação de
posicionamento e de movimento, proveniente de informações visuais, somatosensoriais e vestibulares [11]. Nessa perspectiva,
assumir a posição ortostática representa um marco desenvolvimental
na busca pela estabilidade, atrelados a inúmeros benefícios com melhoras
(evoluções) metabólicas [12], biomecânicas e musculoesqueléticas e, ao realizar
a troca postural de supino para ortostatismo, estudos
evidenciam melhora comportamental, bem como no nível de consciência [13].
O ato de levantar-se
do solo representa uma habilidade motora que emerge no início da infância e
cessa com a morte [14]. Nesse sentido, alguns estudos apontam que a performance (tempo) e o padrão motor em realizar esta ação
motora se divergem em crianças [15], jovens adolescentes [8], adultos [6] e
idosos [4]. Nessa perspectiva, as razões para estudar a capacidade do idoso em
levantar-se do solo são de suma importância na avaliação geriátrica e,
preservar essa habilidade, é fundamental para a capacidade funcional do idoso
[4, 14].
O desempenho na
tarefa de levantar-se do solo tem sido estudado em associação com diversas
variáveis. Tal desempenho tem mostrado divergências, conforme a fase do desenvolvimento [15], atreladas a fatores
antropométricos como: a estatura [16] , o índice de massa corporal (IMC) [4,17]
e, principalmente, com o estilo de vida [18]. Nessa linha de pensamento,
estudos com idosos têm sugerido que variáveis da aptidão física, como a aptidão
musculoesquelética e composição corporal, podem estar associadas ao desempenho
nesta tarefa [17,19,20].
Recentemente, Klima et al. [17] afirmaram que o equilíbrio
dinâmico e mobilidade podem predizer em 48% a performance em levantar-se do solo.
No entanto, esse estudo não verificou a associação desta tarefa motora com a
força muscular de membros inferiores e com a flexibilidade. Já Bohannon et al. [19] observaram
que a força muscular de membros inferiores está fortemente correlacionada com
desempenho (tempo) para levantar-se do solo.
Alguns testes
funcionais são usualmente aplicados à população idosa no intuito de avaliar a
capacidade funcional e aptidão musculoesquelética. Tais testes podem ser assim
elencados: o Timed Up and Go - TUG, Teste de apoio unipodal, Teste de sentar e levantar e o Teste de sentar e
alcançar. O TUG [21] consiste em avaliar a mobilidade e o equilíbrio dinâmico;
o teste de apoio unipodal [22] avalia a integridade
do equilíbrio estático. Já o teste de sentar e levantar, objetiva avaliar a
força e a potência dos membros inferiores, além de possuir uma forte relação
com o risco de quedas e desordens posturais [23]. O teste de
sentar e alcançar é aplicado para avaliar a amplitude articular de
movimento da cadeia muscular posterior dos membros inferiores [24]. A tarefa de
levantar-se do solo, por sua vez, parece reunir todos estes itens e, portanto,
é plausível conjecturar que esta tarefa motora pode ser uma técnica alternativa
econômica e ecológica apropriada para rastrear a flexibilidade, força e
equilíbrio de idosos.
Considerando que a
tarefa de levantar-se do solo é um marcador útil para medidas de saúde física e
também um preditor significativo de lesões graves
causadas por quedas [4,25], deveria ser melhor investigada
como um marcador da capacidade funcional de idosos. Teoricamente, os
componentes da aptidão física (forca, equilíbrio e flexibilidade), as quais
aparecem em cada um dos testes funcionais, também são os componentes básicos
que fundamentam o desempenho na tarefa de levantar-se do solo. Portanto, seria
plausível esperar que tais variáveis estivessem relacionadas.
Assim, o objetivo do
presente estudo foi examinar a associação da aptidão física com o desempenho na
tarefa de levantar-se do solo em indivíduos idosos saudáveis.
Delineamento
do estudo
Trata-se de um estudo
transversal, cujos procedimentos foram aprovados pelo Comitê de Ética da
instituição (Protocolo: 18.830.185).
População
e amostra
Idosos saudáveis,
provenientes de um programa de atividade física orientada para idosos da
Universidade de Brasília, foram recrutados por meio de convite verbal. A
amostra não-probabilística e intencional foi composta
por 56 idosos saudáveis, ativos e independentes, com idade entre 61 a 90 anos.
Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Para serem incluídos, os idosos deveriam ser voluntários, ativos há pelo menos
seis meses, estáveis hemodinamicamente e não fazer uso de dispositivo locomotor
(órtese/prótese). Os idosos com restrições cognitivas em atender aos comandos
verbais e com patologias de origem musculoesquelética, neurológica e
cardiopulmonar que os impedissem de levantar-se do solo não foram incluídos no
estudo.
Variáveis
e método de aquisição de dados
Para aquisição dos
dados, os voluntários do estudo atenderam a um protocolo de avaliação, estando
com vestimenta esportiva e confortável, dentro de uma sala silenciosa, com piso
antiderrapante e com condições ergonômicas para a realização dos testes.
Inicialmente foi feito um exame físico para verificar os critérios de
elegibilidade e, neste momento, também foram coletadas informações sociodemográficas para a caracterização da amostra.
O exame físico
verificou os sinais vitais (pressão arterial, frequência cardíaca e saturação
de oxigênio). A mensuração da pressão arterial foi feita com um Estetoscópio
Premium Rappaport (fabricado na china - 2009) e de um Esfigmomanômetro
Aneróide (fabricado na China - 2009).
Na avaliação
antropométrica, a massa corporal foi medida em balança digital portátil (Accumed-Glicomed, Brasil) com precisão de gramas e a
estatura foi medida em estadiômetro de parede Wood
2,20 m (fabricante Cardiomed- Brasil) com precisão de
milímetros. A partir dos valores de massa corporal e estatura foi calculado o
índice de massa corporal (IMC = massa corporal (kg)/estatura2
(m) e foram classificados de acordo com os pontos de corte da Organização
Mundial de Saúde, que classifica eutrofia IMC entre
18,5 e 24,9 kg/m2; sobrepeso, IMC entre 25 e 29,9 kg/m2,
obesidade grau I IMC entre 30 e 34,9 kg/m2; obesidade grau II, IMC entre 35 e
39,9 kg/m2; e obesidade grau III, IMC > 40 kg/m2 [26].
A mensuração de
variáveis da aptidão musculoesquelética foi executada por meio de testes
funcionais, sendo eles: Timed Up and Go (TUG), Teste de apoio unipodal, Teste de sentar e levantar e o teste de sentar e
alcançar. O TUG avalia a mobilidade geral e mede o tempo de execução em
levantar de uma cadeira com braços, caminhar três metros à frente, virar,
caminhar de volta e sentar na cadeira [21].
No teste de apoio unipodal, o indivíduo foi orientado a equilibrar-se em
apenas um dos pés, inicialmente com olhos abertos e, posteriormente, com os
olhos fechados por no máximo 30 segundos ou até o indivíduo desequilibrar-se. O
tempo em que o participante conseguiu ficar sobre o apoio unipodal
foi cronometrado nas duas condições, com e sem informação visual. O tempo de
permanência no apoio unipodal, nas duas condições,
foi anotado e representa o melhor desempenho, nesta tarefa [22].
O
teste de sentar e levantar foi utilizado para estimar a força e potência
muscular dos membros inferiores. O referido teste consiste em verificar o tempo
que o participante gasta para levantar-se cinco vezes de uma
cadeira estofada, sem apoio, para antebraços, cujo ponto de partida surge a
partir da posição em sedestação [23].
O teste de sentar e
alcançar consiste em orientar o indivíduo a sentar-se sobre uma cadeira com os
joelhos estendidos; o participante é orientado a realizar uma flexão de tronco
com os membros superiores projetados à frente em direção à ponta do pé. A
avaliação da amplitude foi medida (cm) com uma fita métrica metálica e, em
seguida, é anotada a distância da ponta dos dedos das mãos até a ponta do dedo
do pé. Caso o avaliado não consiga alcançar a ponta do pé, o resultado é
negativo; se o avaliado ultrapassar a ponta do pé o resultado será positivo,
uma vez que a ponta do pé é igual a zero [24].
Na medida do
desempenho da tarefa de levantar-se do solo foi utilizado o tempo total de
execução em segundos. O protocolo da coleta orientava o participante a realizar
a troca postural de sair da posição de decúbito dorsal para a posição ortostática,
o mais rápido possível, até tocar um alvo anexado na parede a
frente de seu campo visual. As tentativas foram filmadas por uma câmera digital
Nikon D3300A, fixada em um tripé (Nest KT-311). Os
voluntários iniciavam o teste a partir da posição em decúbito dorsal em um
tapete de EVA de 60 cm de largura e 200 cm de comprimento e eram orientados a
realizar o movimento de saída do solo para qualquer lado e poderiam realizar
estratégias de apoios caso houvesse necessidade para manter-se estável. A obtenção
do tempo gasto para levantar-se do solo foi feita mediante a contagem do número
de quadros utilizando-se o Software Kinovea 0.8.15 (França 1991). Foram filmadas de uma a cinco
tentativas, sendo que 67,9% deles completaram as cinco tentativas consecutivas.
A tentativa usada para análise foi a de melhor desempenho (menor tempo). Em um
estudo piloto, dois decodificadores fizeram a análise de imagem de forma
independente para determinação da confiabilidade dos dados foi confirmada pelo
coeficiente de correlação intra-classe,
r = 0,99; p ≤ 0,001 [27].
Análise
dos dados
As variáveis
descritivas foram expressas em média e desvio padrão e em frequência absoluta e
relativa. Para verificar a distribuição dos dados, aplicou-se teste de
normalidade Kolmogorov-Smirnov e, para verificar se
as variáveis de aptidão física se relacionam com a ação de levantar-se do solo,
utilizou-se o teste de correlação de Spearman. O
nível de significância adotado foi de 5% (p < 0,05). Todas as análises
estatísticas foram conduzidas no software Statistical
Package for Social Sciences
(SPSS), versão 20.0.
Participaram do
estudo 56 idosos praticantes de atividade física (idade = 71,8 ± 6,96 anos;
estatura = 1,60 ± 0,097 m; massa corporal = 68,8 ± 14,02 kg). Destes 71,4% eram
do sexo feminino. A maioria dos participantes (66,7 %) relatou uma renda mínima
de seis salários mínimos; além disso, o grau de escolaridade de 78,9 %
correspondeu ao nível superior completo.
Dos participantes
avaliados, 96,8% realizavam musculação e 3,2% realizam modalidades
alternativas, tais como: dança, pilates,
hidroginástica e caminhada. Da amostra total, 78,9% dos idosos relataram não
possuir dificuldade de locomover-se e 75,4% relataram não ter vivenciado um
episódio de quedas no último ano.
Todos os
participantes que se voluntariaram a participar dos testes completaram as
tentativas sem relato de qualquer desconforto e/ou instabilidade hemodinâmica.
Entretanto, dos idosos avaliados, 12,3% não conseguiram realizar de três a
cinco tentativas de levantar-se do solo, sendo que 67,9% realizaram as cinco
tentativas com sucesso.
No que diz respeito
ao estado nutricional dos idosos avaliados, 78,6% foram classificados em eutróficos e sobrepesados e, 21,5% eram obesos
grau I - OMS. A Tabela I apresenta característica da amostra e
desempenho dos idosos nos testes funcionais.
Tabela
I - Desempenho nos testes de aptidão física e na
tarefa de levantar-se do solo em idosos (n=56). Dados apresentados em média e
desvio padrão.
A Figura 1 apresenta
os resultados da associação das variáveis da aptidão física com o desempenho na
tarefa de levantar-se do solo. Notavelmente houve correlação moderada e
significativa do IMC (r = 0,345; p = 0,009), equilíbrio dinâmico/mobilidade (r
= 0,416; p = 0,001) e força muscular de membros inferiores (r = -0,416; p =
0,001) com o desempenho na tarefa de levantar-se do solo.
Figura
1 - Correlação entre o desempenho da tarefa de
levantar-se do solo e a aptidão física. A) Equilíbrio estático. B) Equilíbrio
dinâmico/modalidade. C) Flexibilidade cadeia posterior de membros inferiores.
D) Força muscular de membros inferiores. E) Índice de Massa corporal.
O presente estudo objetivou
verificar a associação das variáveis de aptidão física e o desempenho na tarefa
de levantar-se do solo. Observou-se que essa tarefa se correlacionou como o
IMC, equilíbrio dinâmico/mobilidade e força muscular de membros inferiores, o
que pode ser explicado pelo fato de que a tarefa de levantar-se do solo
necessita da ação multissistêmica do corpo.
O IMC, por exemplo,
trata-se de um componente da aptidão física que se associa a esta tarefa motora
[4,17]. Green e Willians [18] destacaram que o biótipo do indivíduo pode
influenciar o padrão motor no desempenho desta ação. De maneira complementar, Vant Sant [16], esclareceu que quanto maior for a estatura e menor for a massa corporal, melhor desempenho o
indivíduo terá em levantar-se do solo. No presente estudo, 78,6% dos idosos
foram classificados em eutróficos e sobrepesados.
Isso, notoriamente, pode ter interferido o desempenho dos idosos na tarefa de
levantar-se do solo, uma vez que o aspecto nutricional influencia esta ação e,
ainda, devido a amostra do estudo ser constituída por
idosos saudáveis. Isso, teoricamente, também resultou no sucesso na tarefa de
levantar-se do solo.
Realizar a tarefa de
levantar-se do solo depende de uma boa capacidade de equilíbrio, pois, ao
realizar a troca de postural de uma posição estável de base ampla para uma
menos estável de base menor, o equilíbrio tem ação primordial para regular a
transferência do centro de massa [28]. Para Bergland
e Laake [4], o bom desempenho na tarefa de
levantar-se do solo está associado com a estabilidade do equilíbrio dinâmico e
mobilidade. No atual estudo, os idosos apresentaram média 5,57s no teste de
equilíbrio dinâmico/mobilidade, o que representa um estado de equilíbrio
postural.
Os achados de Klima et al. [17] afirmam que a tarefa de
levantar-se do solo está associada com idade, velocidade da marcha, com a
atividade física e, em especial, com o equilíbrio dinâmico. Após recrutarem 53
idosos saudáveis, os autores concluíram que o equilíbrio dinâmico e a
mobilidade podem predizer em 48% o tempo em que o indivíduo leva para lentar-se
do solo e, segundo Manckoundia et al. [29], a ação do equilíbrio postural no desempenho de
levantar-se do solo pode ser influenciado pela idade e fatores antropométricos
do indivíduo.
As demandas impostas
ao sistema musculoesquelético são determinantes na tarefa de levantar-se do
solo e, para que haja sucesso na execução desse movimento, são necessários
níveis adequados de força muscular, pois levantar-se do solo envolve a ativação
de grandes grupos musculares para alcançar a meta de assumir a posição
ortostática [6,28].
Schwickert et al. [30] destacaram que a potência muscular dos membros inferiores
e a flexibilidade estão associadas ao desempenho funcional em levantar-se do
solo. Corroborando com esses achados, Bohannon et al. [19] ratificaram que a força muscular dos membros
inferiores trata-se de um marcador importante para a capacidade de levantar-se
do solo. Após recrutarem 52 adultos idosos, os resultados evidenciaram uma correlação
forte entre força muscular de membros inferiores e desempenho na tarefa de
levantar-se e, em associação com a idade, essas variáveis podem predizer a performance do indivíduo nesta tarefa motora.
No mesmo estudo [19],
em contrapartida, o equilíbrio estático não foi fortemente correlacionado com a
performance de levantar-se do solo e não foi um preditor significativo para o desempenho dessa ação. Isso,
potencialmente, pode ser explicado pelo fato de que a ação do equilíbrio
estático necessita da manutenção do centro de massa sobre uma base de suporte
pequena e fixa e, ao levantar-se do solo, fazem-se necessários ajustes
posturais dinâmicos à medida que o centro de massa se move sobre uma base de
apoio em transição. Nossos achados evidenciam que a força muscular de membros
inferiores está moderadamente correlacionada com a ação de levantar-se do solo
e à flexibilidade dos membros inferiores, bem como ao equilíbrio estático não
se associando, significativamente, com o desempenho desta ação.
Em suma, pode-se
notar que a performance (tempo) de levantar do solo
pode ser influenciada por diversas variáveis. No atual estudo, o tempo médio
para realizar a troca postural de supino para ortostatismo
foi de 5,63 ± 3,83 s. No estudo de Ulbrich et al. [9], a média de idade dos idosos
foi de 80 anos e o tempo para levantar-se do solo foi de 17,1 s. Já para
Alexander et al. [8], a média de
ascensão foi de 6,7 s para idosos saudáveis (µ = 73 anos) e de 15,5 s mais
velhos (µ = 80 anos). No presente estudo trouxe valores relativamente mais
baixos; isso pode ser influenciado pelo estilo de vida dos participantes,
especificadamente por serem fisicamente ativos. Na amostra dos estudos
supracitados os idosos eram classificados como saudáveis e independentes, entretanto
tais estudos não controlaram o nível de atividade física.
Este estudo apresenta
pontos fortes e limitações. A originalidade e a utilização de uma tarefa
motora, as quais reúnem inúmeros componentes da aptidão física, são os pontos
fortes. O fato da amostra ter sido composta apenas por
idosos ativos e por possuir um tamanho amostral de pouca extensão, não permitem
a inferência dos resultados para a população idosa em geral. Além disso, o
delineamento da pesquisa transversal não permite estabelecer relações de causa
e efeito. Novos estudos sobre esta temática são necessários para validar esta
tarefa como uma medida resumo dos componentes da aptidão física.
Com base nos
resultados apresentados, é possível concluir que os componentes da aptidão
física (equilíbrio dinâmico, mobilidade, força muscular e IMC) estão associados
ao desempenho na tarefa de levantar-se do solo. Portanto, é plausível admitir
que a tarefa de levantar-se do solo mostrou ser uma medida resumo de saúde física
na amostra estudada. Dessa forma, nossos estudos precisam ser investigados para
validar essa ação motora como uma medida útil de saúde física e de capacidade
funcional para idosos.
Os autores agradecem
à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).