ARTIGO
ORIGINAL
Funcionalidade
dos músculos do assoalho pélvico de idosas fisicamente ativas
Pelvic
floor muscle functionality of physically active elderly women
Ana
Paula Ziegler Vey, Ft., M.Sc.*, Giovana Zarpellon Mazo, D.Sc.**, Melissa
Medeiros Braz, Ft., D.Sc.***, Hedioneia
Maria Foletto Pivetta, Ft.,
D.Sc.****, Caroline Silva de Freitas, Ft., M.Sc.*****, Janeisa
Franck Virtuoso, Ft., D.Sc.******
*Professora
da Universidade Federal de Santa Maria, **Educadora Física, Professora da
Universidade do estado de Santa Catarina, ***Professora da Universidade Federal
de Santa Maria, ****Professora da Universidade Federal de Santa Maria,
*****Universidade Federal de Santa Maria, ******Professora da Universidade do
estado de Santa Catarina
Recebido em 8 de julho
de 2018; aceito em 26 de junho de 2019.
Correspondência: Ana Paula Ziegler Vey, Rua João Lobo Davila, 125,
97043195 Santa Maria RS, E-mail: aninhaziegler@hotmail.com; Giovana Zarpellon Mazo:
giovana.mazo@udesc.br; Melissa Medeiros Braz: melissabraz@hotmail.com; Hedioneia Maria Foletto Pivetta: hedioneia@yahoo.com.br; Caroline Silva de Freitas:
carolfisio.88@gmail.com; Janeisa Franck
Virtuoso: jneisa.virtuoso@ufsm.br
Resumo
Introdução: As atividades físicas
leves ou moderadas e as vigorosas podem impactar nos distúrbios do assoalho
pélvico de maneira bidirecional, uma vez que podem exercer papel protetor para
perdas urinárias, bem como constituir-se em fator desencadeador. Estudos
voltados à funcionalidade do assoalho pélvico e ao nível de atividade física de
mulheres idosas ainda são escassos. Objetivo:
Analisar a funcionalidade dos músculos do assoalho pélvico (MAP) de idosas
ativas fisicamente. Métodos: Pesquisa
descritiva com 51 idosas (67,8 ± 5,2 anos) praticantes de atividade física.
Inicialmente as idosas responderam a questões de uma ficha diagnóstica. Para
avaliação funcional dos MAP foi utilizado o Esquema PERFECT. A avaliação do
nível de atividade física foi realizada através do acelerômetro. As variáveis
estudadas neste estudo foram analisadas descritivamente por meio de medidas de
tendência central (média e desvio padrão ou mediana, conforme a natureza dos
dados), frequência simples e porcentagem. Para comparar a funcionalidade do
assoalho pélvico com a atividade física das idosas foi utilizado o teste ANOVA one-way. O nível de significância adotado foi de 5%. Resultados: As idosas praticam atividade
física em média há 10 ± 9,24 anos, 2 vezes na semana.
As medianas dos componentes do assoalho pélvico foram: 3 para força, 2 segundos
para resistência, 3 para repetição e 4 para fibras rápidas. Conclusão: Apesar de a força dos MAP ser
considerada boa, não há relação entre atividade física e a funcionalidade do
assoalho pélvico.
Palavras-chave: assoalho pélvico,
atividade motora, idosas.
Abstract
Introduction:
Mild or moderate and vigorous physical activities can affect pelvic floor
disorders in a bidirectional way, since they may play a protective role for
urinary losses, as well as being a triggering factor. Studies on the
functionality of the pelvic floor and the level of physical activity of elderly
women are still scarce. Objective: To
analyze the functionality of the pelvic floor muscles (MAP) of physically
active elderly women. Methods:
Descriptive research with 51 elderly women (67.8 ± 5.2 years) practicing
physical activity. Initially, the elderly answered questions on a diagnostic
record. For functional evaluation of the MAP, the PERFECT Scheme was used. The
assessment of the level of physical activity was performed through the
accelerometer. The variables studied in this study were descriptively analyzed
using central tendency measures (mean and standard deviation or median,
according to the nature of the data), simple frequency and percentage. One-way
ANOVA test was used to compare pelvic floor functionality with physical
activity in the elderly. The level of significance was 5%. Results: The elderly practiced physical activity on average 10 ±
9.24 years, 2 times in the week. The medians of the pelvic floor components
were: 3 for strength, 2 seconds for resistance, 3 for repetition and 4 for fast
fibers. Conclusion: Although the MAP
strength is considered good, there is no relationship between physical activity
and pelvic floor functionality.
Key-words: pelvic floor,
motor activity, elderly.
Com o envelhecimento
populacional intensificaram-se pesquisas sobre as particularidades envolvidas
neste processo, uma vez que o aumento da idade traz consigo a degeneração
celular e o decréscimo da função dos sistemas musculoesquelético e o geniturinário.
Observa-se, com o envelhecimento, a redução da atividade eletromiográfica
dos músculos do assoalho pélvico (MAP), o que pode estar associada a desordens
como a incontinência urinária (IU) [1].
Na mulher as condições
do envelhecimento do sistema geniturinário e estruturas adjacentes tendem a ser
mais intensas devido a uma série de fatores, como paridade, tipo de parto,
menopausa, além das cirurgias ginecológicas realizadas [2]. Uma vez que na
mulher existam mais fatores de risco que propiciem a falha nos MAP, a prática
de atividade física regular se mostra capaz de melhorar esta condição, pois,
fisiologicamente, espera-se que ocorra a contração reflexa desta musculatura no
momento em que deflagra o aumento da pressão intra-abdominal, como no caso da
atividade física, situação esta que promove controle
funcional e manutenção das estruturas da cavidade abdomino-pélvica
[3].
Pesquisas demonstram
que atividades físicas leves e moderadas possuem papel importante não apenas
como tratamento da IU [4,5], mas também como prevenção [6], por manter a força
e funcionalidade dos MAP [7]. Pesquisa realizada no sul do Brasil identificou
que idosas praticantes de atividade física regular relatam menos sintomas da IU
quando comparadas às não praticantes [8]. Vale ressaltar que atividade física
pode ser definida como qualquer movimento corporal, que resulte em gasto
energético maior do que os níveis de repouso diferindo do exercício físico (um
dos seus principais componentes), que é uma atividade física planejada que tem
como principal objetivo aumentar ou manter a saúde/aptidão física.
Baseando-se na lacuna
existente na literatura quanto à função dos MAP em idosas fisicamente ativas e
na evidente importância dos cuidados de saúde a esta população, verifica-se a
necessidade de produzir conhecimento dentro dessa área. Frente à importância do
tema, o objetivo do presente estudo é analisar a funcionalidade do assoalho
pélvico de mulheres idosas fisicamente ativas.
Constituiu-se em uma
pesquisa descritiva exploratória comparativa, aprovada pelo Comitê de Ética
(CEP) institucional sob número de CAAE 42357515.1.0000.5346. Após aprovação do
CEP, as idosas foram convidadas a participar da pesquisa e as que aceitaram
assinaram o termo de consentimento livre esclarecido (TCLE).
Fizeram parte da
população pesquisada idosas praticantes de atividade física de qualquer
modalidade. Uma amostra de 42 mulheres foi estimada para obtenção de um nível
de significância de 5% e poder de 80%, com base no estudo de Virtuoso et al.
[7]. Estimando-se uma perda de 10%, foram recrutadas para participar do estudo
50 mulheres idosas, de acordo com os critérios de inclusão e exclusão elencados
para essa pesquisa. A amostra constituiu-se de 51 mulheres, com mais de 60
anos, com média de idade de 67,8 ± 5,2 anos, participantes do programa de
atividade física da instituição.
Foram incluídas idosas
com capacidade cognitiva preservada; independentes funcionalmente; que
aceitassem fazer uso do acelerômetro por pelo menos 5 dias na semana, com
mínimo de uso de 10 horas/dia. As mulheres excluídas do estudo foram aquelas
que estavam realizando terapia de reposição hormonal; com tosse crônica
referida; deficiência física ou sequelas de patologias neurológicas declaradas
ou constatadas; tratamento medicamentoso para incontinência urinária e mulheres
que realizassem atividade física na água (natação, hidroginástica,
hidroterapia), o que inviabilizaria o uso do acelerômetro.
Após aplicação dos
critérios de inclusão/exclusão a amostra compôs-se de 61 mulheres idosas ativas
fisicamente, com idade entre 60 e 77 anos. Ressalta-se que houve perda amostral
de 10 mulheres por desistência espontânea e também pelo uso inadequado do
acelerômetro. A figura 1 apresenta o diagrama referente ao processo de seleção
das participantes do estudo.
Figura 1 - Diagrama referente à definição das participantes do estudo.
Para a coleta de dados,
primeiramente utilizou-se uma ficha diagnóstica com dados de identificação, características
sociodemográficas, aspectos uroginecológicos e
prática de atividade física (avaliada através do acelerômetro), por meio de
entrevista.
O acelerômetro foi
utilizado para definir o nível de atividade física (AF) ativo das mulheres
idosas, sendo utilizado como base o ponto de corte os valores de referência de
intensidade da AF moderada diária, igual ou superior a 1.041 counts por
minuto. Os acelerômetros são dispositivos eletrônicos, sensíveis à aceleração
corporal, capazes de medir de forma direta e objetiva a frequência, intensidade
e duração da atividade física oferecendo uma vantagem notória sobre o método do
questionário.
Em seguida foi
realizada a avaliação funcional do assoalho pélvico, por meio do Esquema
PERFECT [9,10].
O nível de atividade
física foi avaliado através do uso do acelerômetro, durante sete dias da
semana, em leve, moderado, vigoroso e muito vigoroso [11]. Cada idosa recebeu
um documento com explicações sobre a utilização do equipamento. Ainda assim,
durante a semana de uso, as pesquisadoras realizaram duas ligações no segundo e
quinto dia de uso para verificar o uso correto do aparelho. A idosa utilizou o
acelerômetro por sete dias de uma semana normal. Após este período a idosa
entrou em contato com as pesquisadoras para fazer a devolução do equipamento.
Para a análise dos
dados, foi considerado como dia válido o uso do equipamento por no mínimo 600
minutos (10 horas) [11], não sendo contados os períodos de não uso (nonwear) para
dormir e para o banho. Este estudo incluiu os resultados das participantes com
pelo menos cinco dias válidos de utilização do equipamento, sendo um dia de
final de semana. Foi utilizado como ponto de corte o valor de referência de
intensidade da atividade física (AF) moderada diária igual ou superior a 1.041 counts por minuto
[12,13].
Para inicialização,
download e filtragem dos dados foi utilizado o software ActiLife,
versão 6.11.4. Os counts
por minuto do vetor magnitude foram considerados como o resultado do nível de
atividade física habitual. Fizeram parte do estudo as idosas que utilizaram o
acelerômetro por pelo menos cinco dias na semana, com mínimo de uso de dez
horas/dia.
As entrevistas foram
realizadas em uma clínica de fisioterapia, devidamente climatizada em 24ºC. A
coleta foi realizada por pesquisadoras previamente treinadas e com cegamento,
sendo que uma pesquisadora aplicou os instrumentos de pesquisa em forma de
entrevistas e a outra realizou a avaliação do assoalho pélvico (PERFECT). A
avaliação ocorreu com a paciente em litotomia, e foi
realizada a palpação intravaginal introduzindo-se o
2º e 3º dedos a 3-4 cm do introito vaginal com a mão devidamente enluvada e
untada com gel lubrificante a base de água. Os membros inferiores da idosa
foram abduzidos e apoiados em uma almofada para garantir uma posição mais
confortável e evitar a contração da musculatura adutora. No momento da
solicitação de contração do assoalho pélvico foi observada se havia a presença
de contração dos músculos abdominais e glúteos. Se identificada a presença de
contração de tais músculos, imediatamente buscou-se isolar a contração dos
músculos do assoalho pélvico mediante orientação, comando verbal e estímulo
proprioceptivo local.
As variáveis estudadas
neste estudo foram analisadas descritivamente por meio de medidas de tendência
central (média e desvio padrão ou mediana, conforme a natureza dos dados),
frequência simples e porcentagem. Para análise dos dados, a força foi
classificada em fraca (0-1), mediana (2-3) e forte (4-5). A endurance
(manutenção) foi classificada como insuficiente (0 a 2 segundos), suficiente (3
a 4 segundos) e boa (acima de 5 segundos). As repetições foram avaliadas em
insuficiente (0 a 1 contrações mantidas), suficiente (2 a 3 contrações
mantidas) e bom (4 ou mais contrações mantidas). A rapidez, da mesma forma, foi
classificada em insuficiente (0 a 2 contrações rápidas), suficiente (3 a 4
contrações rápidas) e bom (5 ou mais contrações rápidas).
Para
comparar a
funcionalidade do assoalho pélvico (Esquema PERFECT) e seus
componentes (força,
resistência, número de repetição das
contrações lentas e contrações
rápidas)
com a atividade física das idosas foi utilizado o teste ANOVA one-way. O nível de significância adotado foi de 5%.
As idosas deste estudo
apresentaram média de idade de 67,8 ± 5,2 anos. Com relação aos aspectos uroginecológicos das participantes do estudo, essas tiveram
em média 3 gestações, 3 partos, destes, 2 foram partos vaginais e um parto
cesáreo. O peso do maior nascido foi de 3,3 kg. As pesquisadas apresentaram
média de 18 anos de menopausa. Das 51 idosas 49% já haviam realizado cirurgia
ginecológica e 52,9% apresentam perda urinária frequentemente.
Com relação à prática
de atividade física, 100% das idosas fazem atividade física regulamente.
Verifica-se também que realizam exercício físico de forma coletiva, com
exercícios variados, duas vezes na semana, com duração de 72 minutos cada
encontro e há 10 anos.
Quanto à intensidade da
atividade física praticada durante a semana, avaliada pelo acelerômetro,
verificou-se que a maioria caracteriza-se como de
intensidade leve (88,27%).
A tabela I apresenta os
dados da avaliação funcional da musculatura do assoalho pélvico das idosas
ativas fisicamente, por meio do esquema PERFECT.
Tabela I - Avaliação do assoalho pélvico pelo PERFECT.
f = força muscular; s =
segundos; nºx = número de vezes de contrações
mantidas; nºc = número de vezes de contrações
rápidas.
A funcionalidade do
assoalho pélvico, mediante análise de seus componentes, assim como o nível de
atividade física das mulheres idosas estão apresentados na tabela II.
Tabela II - Comparação entre a funcionalidade da musculatura do assoalho pélvico e
a atividade física de idosas (n=51).
DP = desvio padrão; f =
frequência; % = porcentagem; p = nível de significância (p<0,05); *ANOVA one-way (p < 0,05); f = força muscular; s = segundos; nºx = número de vezes de contrações mantidas; nºc = número de vezes de contrações rápidas.
Verifica-se que a
funcionalidade da musculatura do assoalho pélvico das idosas ativas
fisicamente, por meio do esquema PERFECT e seus componentes não apresentaram
associação com atividade física (counts/minutos) das idosas (p < 0,05).
O perfil etário da
amostra estudada caracteriza-se por idosas jovens, de acordo com o Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada [14], uma vez que a média encontrada neste estudo
foi de 67,8 anos, ou seja, na faixa etária de 60 a 70 anos, bem como no estudo
de Machado et al. [15] que supõem que
o elevado número de idosos jovens nos grupos de convivência pode estar
relacionado a maior independência funcional destes, pois com o passar do tempo
a tendência é a diminuição da autonomia funcional, levando o idoso ao
afastamento de atividades fora do lar.
Estudo com idosos do
programa do GETI (Grupo de Estudos da Terceira Idade) realizado na Universidade
do Estado de Santa Catarina (UDESC) apresentou que o perfil de seus
participantes é em sua maioria do sexo feminino, idoso jovem (60 a 65 anos),
tem ensino médio, é casado, é aposentado, é da religião católica e possui renda
familiar superior a 6 salários mínimos [16]. Os dados do perfil das mulheres
idosas do presente estudo vão ao encontro aos achados do programa do GETI que
também é um programa de extensão universitária para pessoas idosas.
A IU foi um achado de
grande prevalência, o que pode ser justificado pelo fato da
composição da amostra ser estritamente feminina, já que esta patologia tem sido
referenciada na literatura como mais prevalente neste sexo. Este achado
corrobora Carvalho et al. [17] e Melo
et al. [18].
Nesta pesquisa 52,9%
das idosas relatam perdas urinárias frequentes. Este achado também foi
encontrado no estudo de Patrizzi [19], em que 42% das
mulheres praticantes de atividade física sofrem de perdas involuntárias de
urina. Este fator pode estar associado ao tempo de menopausa, que neste estudo
foi de 18 anos, ou seja, o hipoestrogenismo na
pós-menopausa predispõe a mulher à IU [20]. Também um fator de risco para a IU
pode ser as cirurgias ginecológicas [21,22]. Entre a população do presente
estudo, 49% das idosas já havia feito algum tipo de cirurgia ginecológica, bem
como o fato de todas as mulheres da amostra terem tido filhos [23].
Outro aspecto é quanto
à intensidade da atividade física realizada pelas idosas, que na maioria das
vezes é considerada leve. Resultado semelhante foi encontrado no estudo de
Bueno et al. [24] que avaliou o
perfil da prática de atividade física em 568 idosos do município de São Paulo,
utilizando-se da acelerometria como instrumento de
investigação, em que a AF leve também teve a maior média de tempo por dia.
Já na análise dos dados
da avaliação funcional do assoalho pélvico pelo Esquema PERFECT permitiu
identificar neste estudo que a mediana da força muscular foi de 3,0, da
manutenção foi de 2 segundos, do número das repetições foi de 3,0 contrações
mantidas com força satisfatória e das fibras rápidas foi de 4,0 repetições.
Estes resultados foram similares aos escores encontrados no estudo de Virtuoso et al. [7], em que a avaliação pelo
esquema PERFECT das idosas ativas fisicamente demonstrou mediana da força de 4,
enquanto a mediana da resistência foi de 5,5 segundos, o número de repetições
com força satisfatória 5 e contrações de fibras rápidas 10 repetições.
Observa-se que a força
foi considerada boa em ambos os estudos, porém a capacidade de manter esta
força é baixa. Do mesmo modo, o número de vezes de repetição da contração,
tanto das fibras lentas quanto das rápidas também se mostrou baixo, o que pode
predispor que estas mulheres apresentem disfunções no assoalho pélvico [2,25].
Embora o grupo de
idosas analisado realize atividade física orientada há bastante tempo e se
caracterize como um grupo de idosas jovens, não se pode estimar os efeitos
dessa atividade sobre a funcionalidade do assoalho pélvico, porque apenas o
valor da força foi considerado satisfatório. Isso pode ser comprovado pela
análise estatística realizada, uma vez que não há relação entre os componentes
do esquema PERFECT com o nível de atividade física das idosas.
Virtuozo e Mazo
[26] encontraram em seu estudo uma prevalência menor de IU entre idosos quanto
maior era seu nível de atividade física, sugerindo que a atividade física
orientada pode prevenir a ocorrência de perdas urinárias. Os resultados dos
componentes da funcionalidade do assoalho pélvico encontrados nesta amostra
podem ser relacionados às morbidades presentes na amostra, bem como às
cirurgias ginecológicas e infecções urinárias recorrentes, assim como a multiparidade, o que já está bem descrito na literatura
como fatores que interferem sobre a funcionalidade de assoalho pélvico [27].
Porém,
pela IU ser uma
condição crônica de etiologia multifatorial
torna-se difícil a identificação de
um único fator causador da mesma. Dentre as idosas fisicamente
ativas um
percentual importante apresentou IU. Por isso a relevância de
estratégias de
educação em saúde sobre os músculos do
assoalho pélvico, já que a contração
voluntária e eficaz do assoalho pélvico pode contribuir
na melhora da percepção
e consciência corporal; no aumento da
vascularização na região, bem como na
melhora do tônus e da hipertrofia da musculatura do assoalho
pélvico [28,29].
Apesar disso, ainda com
relação à função muscular do assoalho pélvico, observou-se que as variáveis
referentes tanto às fibras lentas quanto às fibras rápidas, no esquema PERFECT
tanto no presente estudo quanto no estudo de Virtuoso et al. [7], apontaram medianas inferiores quando comparadas ao
escore máximo. Isso pode estar relacionado ao envelhecimento natural das fibras
musculares, onde há uma diminuição lenta e progressiva da massa muscular, sendo
o tecido nobre, lentamente, substituído por colágeno e gordura (adipócitos),
com diminuição de aproximadamente 50% (dos 20 aos 90 anos) ou 40% (dos 30 aos
80 anos), o que pode levar ao enfraquecimento do assoalho pélvico [30].
Quanto à funcionalidade
do assoalho pélvico e o nível de atividade física das mulheres idosas,
verificou-se que média de AF foi de 674,00 counts/minutos aparentando que as
idosas desse estudo têm um baixo nível de atividade física. É importante
salientar que não há um ponto de corte específico de nível de atividade física
para idosos, pois, no estudo base de Freedson et al. [31], os dados (contagens de
atividade e consumo de oxigênio no estado) foram obtidos a partir de 50 adultos
jovens (25 homens com idade média de 24,8 anos, 25 mulheres com idade média de
22,8 anos) e não idosos. Com o aumento da idade há decréscimos nas funções dos
sistemas, o que pode diferenciar na resposta do organismo ao exercício [29].
As idosas deste estudo
parecem ser similares as do estudo realizado por Carrasco et al. [32] que analisou o nível de atividade física por meio do
acelerômetro em 24 mulheres com mais de 65 anos, e verificaram que a média dos counts por minuto
por dia foi de 770,2 ± 300,1 para um grupo e 745,2 ± 179,9 para o outro grupo
de idosos. Esta semelhança pode se dar por ambos os estudos serem realizados
com idosas jovens.
Verifica-se, também,
que a funcionalidade da musculatura do assoalho pélvico das idosas ativas
fisicamente, por meio do esquema PERFECT e seus componentes não se relacionou
com atividade física (counts/minutos)
das idosas. Possivelmente isso tenha ocorrido em vistas de que o grupo de
mulheres idosas estudadas se mostrou muito homogêneo quanto à musculatura do
assoalho pélvico e o nível de atividade física, ou seja, o grupo como um todo é
ativo fisicamente e apresenta força mediana na funcionalidade do assoalho
pélvico.
A força foi considerada
satisfatória neste estudo, porém a capacidade de manter esta força é pequena.
Do mesmo modo, o número de vezes de repetição da contração, tanto das fibras
lentas quanto das rápidas também se mostrou baixo, o que pode predispor essas
mulheres a disfunções do assoalho pélvico.
Diante
do exposto,
pode-se inferir que a funcionalidade pélvica avaliada mediante
seus componentes
força, resistência, repetição de
contrações de fibras lentas e rápidas não
mantém relação com a atividade física de
baixa intensidade de idosas fisicamente
ativas.