RELATO
DE CASOS
Efeitos
da associação da Terapia Assistida por Animais com o tratamento fisioterápico
na funcionalidade e humor de indivíduos com demência
Effects of the association of Animal Assisted Therapy with
physiotherapeutic treatment on the functionality and mood of individuals with
dementia
Bianca Márcia
Gonçalves*, Rafaela Cristina de Abreu Martins*, Thaiane
Félix Cardoso*, Renata Cristina Magalhães Lima, Ft. D.Sc.**
*Acadêmica
do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Newton Paiva, Belo
Horizonte/MG, **Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Newton
Paiva, Belo Horizonte/MG
Recebido em 21 de
agosto de 2018; aceito em 14 de janeiro de 2019.
Endereço
de correspondência:
Rafaela Cristina de Abreu Martins, Rua Paulo do Couto e Silva, 208, 31741-530
Belo Horizonte MG, E-mail: martins.rafa66@gmail.com; Bianca Márcia Gonçalves:
fisioterapicbianca@gmail.com; Thaiane Félix Cardoso:
thaianefelix@yahoo.com; Renata Cristina Magalhães Lima:
renatalima.prof@newtonpaiva.br
Resumo
Introdução: A população idosa
tem crescido de forma significante no mundo. Uma das doenças comuns dessa faixa
etária é a demência. Segundo estudos, a fisioterapia convencional associada a
modalidades inovadoras como a Terapia Assistida por Animais (TAA) pode gerar
resultados satisfatórios. Objetivo:
Avaliar se houve melhora no equilíbrio, na capacidade e desempenho funcional e
no humor de dois idosos dementes, de sexo distinto, e moradores da Instituição
de Longa Permanência localizada em Belo Horizonte/MG, após as sessões de
fisioterapia associadas à TAA. Métodos:
Foi aplicada uma avaliação inicial para coleta de dados pessoais e clínicos de
dois indivíduos em estudo e posteriormente foram aplicados os testes de Alcance
funcional, Timed up and Go, Índice de Barthel e Escala de depressão geriátrica. Os escores dos
testes aplicados foram analisados por meio de comparações pré
e pós-intervenção, sendo calculada a porcentagem de mudança. Ambos os
participantes realizaram atividades funcionais e físicas. Resultados: Os idosos em análise obtiveram melhora de equilíbrio e
capacidade funcional nos resultados dos testes de Alcance funcional e TUG,
mantiveram o desempenho funcional pelo Barthel e
houve piora do humor. Conclusão: A
fisioterapia em associação com a TAA trouxe um resultado considerado favorável,
tratando-se de equilíbrio, capacidade e desempenho funcional.
Palavras-chave: idoso, demência,
terapia, cães.
Abstract
Introduction: The elderly population has grown significantly in the world. One of
the common diseases of this age group is dementia. According to studies,
conventional physical therapy associated with innovative modalities such as
Animal Assisted Therapy (TAA) can give satisfactory results. Objective: To evaluate if there was an
improvement in the balance, capacity and functional performance and the mood of
two demented elderly people of different genres who live at The Long Stay
Institution located in Belo Horizonte/MG, after physical therapy sessions
associated with TAA. Methods: An
initial evaluation was made to collect personal and clinical information of the
two individuals under study, and then, the Functional Range, Timed up and Go, Barthel Index and Geriatric Depression Scale tests were
applied. The scores of the applied tests were analyzed by pre and post
intervention comparisons, and the percentage of change was calculated. Both
participants performed functional and physical activities. Results: The analyzed elderly presented improvement in the balance
and functional capacity in the results of the Functional Reach and TUG tests,
kept the functional performance in the Barthel’s, and
the mood got worse. Conclusion:
Physical therapy associated with TAA brought a favorable result, when it comes
to balance, capacity and functional performance.
Key-words: elderly,
dementia, therapy, dogs.
A população idosa tem
crescido de forma significante mundialmente. De acordo com a projeção do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil teve um índice
de envelhecimento populacional de 36% no ano de 2016, valor 17,34% maior do que
no ano de 2000. Estima-se que no ano de 2050 esse número aumentará para 76,39%
[1]. O aumento de doenças crônicas é uma das consequências da longevidade
comprometendo o bem-estar social e a funcionalidade do idoso [2]. O
envelhecimento pode fazer com que o sujeito apresente déficits cognitivos,
ocasionando dificuldades para realização de atividades de vida diária, quadros
de confusão e perda de memória. Uma das doenças frequentes nessa faixa etária é
a demência [3]. Demência é definida por perda da capacidade cognitiva e
intelectual adquirida ao longo dos anos levando o indivíduo a desestabilização
na vida social [4]. Os tipos de demência mais comuns são: demência de
Alzheimer, demência com corpos de Lewy, demência
vascular e demência frontotemporal [5].
A doença de Alzheimer
é o tipo de demência mais comum caracterizada pela perda progressivada
memória além de diminuição das
funções de cognição. Com a
progressão da
doença, o indivíduo se torna cada vez mais dependente
para realização das
tarefas básicas [6]. A demência com corpos de Lewy,
também se caracteriza com perda/rebaixamento da área da cognição além de
delírios visuais, flutuação cognitiva, traços parkinsonianos e aumento da
sensibilidade quando utilizados medicamentos neurolépticos
[7]. A demência vascular é resultante de doenças que comprometem o sistema
vascular do sistema nervoso central como, acidente vascular encefálico
hemorrágico, alterações crônicas da circulação cerebral, grandes lesões da
substância branca e tromboembolíticas [8]. A demência
frontotemporal é caracterizada pela mudança prematura
(antes dos 65 anos de idade) da personalidade e modo de agir do indivíduo. As
funções cognitivas podem permanecer preservadas [9].
Dentre os tipos de
demência, vê-se necessário o acompanhamento multidisciplinar ao indivíduo
demente, visando melhora ou manutenção cognitiva, física, nutricional, ambiental
e psicológica [10]. A prática de exercícios fisioterapêuticos é de suma
importância para manter o maior tempo possível na funcionalidade do idoso [11].
Por vezes, a fisioterapia convencional pode ser maçante com exercícios
repetitivos durante a sessão. Ao associar modalidades inovadoras como a Terapia
Assistida por Animais (TAA), os resultados podem ser mais satisfatórios além de
mais animador para os pacientes.
A TAA é um tipo de
tratamento direcionado e específico no qual o animal é a parte principal do
tratamento. O contato com o animal torna o tratamento mais agradável além de o
animal se tornar um companheiro na sessão. A interação homem-animal também tem
grandes ganhos fisiológicos,
como redução da
frequência cardíaca, redução da
pressão sanguínea e liberação de endorfina,
isso permite que o paciente tenha um melhor bem-estar. A
utilização do animal
como recurso terapêutico na saúde surgiu em 1792, na
Inglaterra, quando William
Tuke usava os animais como coadjuvantes terapêuticos
no tratamento de pacientes com problemas mentais no centro “York Retreat”. No Brasil, a pioneira da TAA foi à psiquiatra
Dra. Nise da Silveira. Em 1955 após encontrar uma cadela abandonada no pátio do
Centro Psiquiátrico Pedro II junto a um paciente esquizofrênico, Nise além de
adotar a cadela, percebeu que poderia haver uma sinergia entre os pacientes e
os animais. A TAA em associação com a fisioterapia resulta em uma mudança
comportamental nas necessidades pessoais de cada paciente, porém o animal não
substitui a presença do fisioterapeuta, somente auxilia no tratamento [12].
Com a melhora do
desempenho físico, emocional e psicológico após a intervenção com a TAA, o
idoso pode se tornar mais independente e bem-disposto. Assim, o objetivo do
presente estudo foi avaliar se há melhora no equilíbrio, na capacidade e
desempenho funcional e no humor do indivíduo com demência após as sessões de
fisioterapia associadas à TAA.
Trata-se de um estudo
de caso com amostra de conveniência, realizado na Instituição de Longa
Permanência (ILP) Clotilde Martins, ligada à rede São Vicente de Paulo, em Belo
Horizonte, no período de abril a junho de 2017. O estudo foi submetido e
aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do Centro Universitário Newton
Paiva em 13/03/2017 sob Parecer Nº: 1962741.
Para seleção da
amostra, foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: ter algum tipo de
demência; ser morador da ILP há mais de seis meses; ser capaz de se manter
assentado e de pé sem auxílio externo. Seriam excluídos aqueles que tivessem
demência em estágio avançado (relatado pelo prontuário do idoso
e profissionais de saúde da ILP); acamados e os que necessitassem de
auxílio para assumir ortostatismo; com doenças de
pele; que possuíssem outras doenças neurológicas ou ortopédicas incapacitantes.
Foram selecionados
dois participantes diagnosticados com demência para o estudo. Os participantes
selecionados aceitaram participar do estudo e concordaram em assinar o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que também teve assinatura pelo
responsável pela ILP.
Antes
dos testes
específicos, foi aplicada uma avaliação inicial
para coleta de dados pessoais e
clínicos dos indivíduos em estudo. O Mini Exame do Estado
Mental (MEEM), que
visa avaliar o nível de cognição do
indivíduo analisado foi aplicado para
caracterização da amostra dos idosos analisados. O teste
consiste em questões
relacionadas à orientação de tempo e
espaço, registro e lembrança de três
palavras, atenção e cálculo,
construção visual e linguagem. A pontuação
máxima
do teste é de 30 pontos. Segundo Bertolucci et al. [13], responsável pela tradução do teste no Brasil, a
pontuação mínima para analfabetos é de 13 pontos, com escolaridade baixa/média,
18 pontos, e alta escolaridade, 26 pontos. Os testes utilizados no presente
estudo estão descritos abaixo.
Teste
de Alcance funcional
é usado para identificar alterações dinâmicas de controle postural. Elaborado
por Duncan et al. [14], em 1991, o teste é feito pelo
terapeuta que solicita que o paciente fique posicionado de pé com os pés juntos
e alinhados e, sem efetuar estratégias compensatórias durante a tentativa de
alcance, com o ombro direito ao lado de uma parede, realizando uma flexão de
90°, com os dedos das mãos estendidos, o paciente tente alcançar algum objeto a
frente sem deslocar os pés do chão e encostar o braço na parede, apenas levando
o braço à frente. A medida deverá ser feita com fita métrica antes do paciente
se deslocar à frente, e após o deslocamento são registrados quantos centímetros
o paciente deslocou-se. O paciente teve três tentativas para a realização do
teste. Indivíduos que apresentam valores de deslocamento menores que 15 cm
indicam predisposição à queda até quatro vezes maior do que o indivíduo que
apresenta deslocamento superior a 25 cm. O teste de alcance funcional possui
validação para a população brasileira, publicado por Silveira et al. [15] no ano de 2006.
Timed up and go
(TUG)
avalia o equilíbrio sentado, sentado para de pé, estabilidade durante a marcha
sem estratégias de compensações. Desenvolvido em 1991 por Podsiadlo
e Richardson, e validado para a população brasileira em 2016, com valores
adequados de confiabilidade por Dutra et al. O
terapeuta instrui o paciente, que se mantém sentado com as costas apoiadas na
cadeira, que se levante após o comando “vai”. Deve-se caminhar em um ritmo
cômodo e seguro, semelhante ao ritmo de caminhada do seu dia a dia, alcançar
uma distância de três metros, virar-se e retornar ao assento. O tempo é
cronometrado pelo terapeuta e tem início a partir do comando “vai”, e fim no
momento em que o paciente encosta as nádegas na cadeira. É realizada a
aplicação do teste uma primeira vez para familiarização; a segunda,
cronometrada pelo terapeuta e a terceira, cronometrada por um colaborador,
todas com intervalo de um minuto sentado. Pacientes que realizam a tarefa com
no máximo 10 segundos, não apresentam alterações, 11 a 20 segundos,
predisposição baixa para queda e mais de 20 segundos, indicam aumento da chance
de queda e comprometimento da independência funcional [16,17].
Índice
de Barthel avalia dependência nas atividades de vida
diária. Criada por Barthel em 1965 e adaptado para a
versão brasileira por Cincura et al. [18], o teste consiste em dez itens, sendo dividido em
dependência e dificuldade como: alimentação, higiene pessoal, continência do
esfíncter anal e vesical, subir e descer escadas, transferências, deambulação,
vestir-se, caso o paciente utilize cadeira de rodas (manuseio). No quesito
dependência, o indivíduo será classificado em: 1 - dependência total; 2 -
dependência severa; 3 - dependência moderada; 4 - dependência ligeira; 5 -
independência total. No quesito dificuldade, o indivíduo é graduado com
pontuação de 0 a 4, sendo zero, nenhuma dificuldade e 4,
dificuldade completa. É classificado indivíduo dependente total aquele que alcançar
10 pontos; entre 11 e 30 pontos, dependente severo; dependência moderada de 31
a 45 pontos; pouco dependente de 46 a 49 pontos; indivíduos que alcançarem 50
pontos tem grau de independência total. Foi utilizada a versão modificada do
teste [18].
Escala
de depressão geriátrica (GDS) utilizada para rastrear transtornos de humor no
idoso e possível quadro de depressão. A GDS-15, utilizada no presente estudo, é
uma versão reduzida escrita por Yesavage [19] e
adaptada para a versão portuguesa por alguns autores como Almeida [20] e Paradela [21]. O questionário é composto por perguntas de
fácil entendimento, com pouca variedade de respostas e pode ser aplicado pelo
terapeuta ou autoaplicado. A pontuação varia de zero
a 15 pontos. É dado zero na questão, quando a resposta for diferente do exemplo
entre parênteses; 1 - quando a resposta for igual ao exemplo entre parênteses.
Se o valor total do teste aplicado for maior que cinco pontos, existe suspeita
de depressão [19-21].
Protocolo
de treinamento
O treinamento
(fisioterapia e TAA) foi realizado uma vez por semana com duração de oito
semanas, obtendo um total de oito sessões. Após o término das oito sessões,
foram feitas visitas com diminuição gradual de frequência a fim de promover o
“desmame” lento da relação criada entre o idoso e o cão. O projeto teve
parceria do psicólogo e técnico em intervenções assistidas por animais,
Leonardo Barbosa Curi, que ficou responsável pela disponibilidade, transporte e
acompanhamento dos cães do presente estudo. Os cães utilizados durante as
sessões foram de raças distintas pelo fato de cada um possuir uma
particularidade diferente favorecendo o melhor empenho dos idosos durante as
sessões. Foram utilizadas as seguintes raças com as suas particularidades:
Golden Retriever, utilizado para estimulação
sensorial, atividades físicas e busca e suporte; Sem raça definida (SRD),
utilizada para saltos, escovação e colo; Shar Pei, para estimulação sensorial e por serem filhotes e
peludos, estreitam laços afetivos entre o idoso e o animal; Boiadeiro Bernês e
Pastor Australiano para suporte das pernas do idoso, carinho e escovação. Os
exercícios propostos foram efetuados em todas as sessões havendo adequação do
treino de acordo com os cães utilizados.
Os idosos tiveram
contato com os cães individualmente durante a sessão, realizando exercícios
funcionais e físicos guiados pelas pesquisadoras. Na primeira sessão
especificamente houve familiarização dos idosos aos cães de forma positiva,
guiados pelas pesquisadoras na área externa do Lar Clotilde Martins. Nas
sessões posteriores os exercícios foram conduzidos com objetivo de melhora
funcional e física.
Os exercícios foram
variados, mas em geral as sessões consistiram em exercícios (três séries de dez
repetições) de: extensão de joelho com salto do cão sobre as pernas (Figura 1);
dorsiflexão e flexão plantar, encostando e afastando
a ponta dos pés no cão (Figura 2); flexão de quadril com extensão de joelho
apoiando o tornozelo sobre o cão (Figura 3); treino de marcha deambulando com o
cão pelo pátio da ILP; treino de equilíbrio em marcha Tandem
(três metros) com um cão a cada extremidade do circuito (Figura 4); agachamento
ao final da marcha Tandem com alcance anterior e lateral para acariciar os cães
(Figura 5). Ressalta-se que os idosos em análise seguiram um protocolo
individual a fim de melhorar os quesitos considerados frágeis na avaliação
realizada.
Figura
1 – Idoso realizando extensão de joelho para o
cão pular por suas pernas.
Figura
2 – Idoso realizando dorsiflexão
e flexão plantar encostando e afastando o pé no cão.
Figura
3 – Idoso realizando extensão de quadril com
extensão de joelho apoiando o calcanhar. no cão.
Figura
4 – Idosa realizando treino de equilíbrio (com
Marcha Tandem) de um cão ao outro.
Figura
5 – Idosa realizando agachamento e alcance
frontal ao passar a mão no cão.
Os dados clínicos e sociodemográficos foram descritos individualmente, e os
escores dos testes aplicados foram analisados por meio de comparações pré e pós-intervenção, sendo calculada a porcentagem de
mudança.
A amostra foi
composta por dois participantes, um do sexo feminino e um do sexo masculino.
Ambos os participantes compareceram as oito sessões propostas e foi executada,
ao final das sessões, a reavaliação dos idosos.
Participante 1: Idosa R.B., 83 anos, sexo feminino, solteira, analfabeta,
institucionalizada há cinco anos com diagnóstico de demência não especificada,
apresentou escore de 15 pontos no MEEM. Segundo relato dos responsáveis da ILP,
as doenças associadas são: diabetes mellitus, transtorno depressivo maior,
hipertensão arterial, transtorno bipolar, anemia e incontinência urinária. Os
medicamentos em uso são: Enalapril 20 mg, Amlodipina 5 mg, Glifage XR 500 mg, Aas 100 mg, Diamicron
MR 30 mg, Quetiapina 25 mg, Torval
CR 300 mg, Alendronato de sódio 70 mg, Carbonato de
cálcio 1,25 g + Colecalciferol vit
D, Noripurum 100 mg, Sorbitol
70%, Donepezila 10 mg. Participante 2: Idoso P.P., 74 anos, sexo masculino, divorciado,
alfabetizado, institucionalizado há cinco anos, com diagnóstico de demência
vascular, apresentou escore de 29 pontos no MEEM. Segundo relato dos
responsáveis da ILP, as doenças associadas são: diabetes mellitus, hipertensão
arterial, dislipidemia, alteração na vesícula biliar e insuficiência vascular
periférica. Os medicamentos em uso são: Insulina Humana NPH, Ácido
acetilsalicílico 100 mg, Carbonato de cálcio + Colecalciferol, Enalapril 5 mg,
Sinvastatina 40 mg, Glifage XR 500 mg.
Após a reavaliação,
os idosos apresentaram melhora no teste de alcance funcional. Sendo 20% de
ganho no participante 1 e 9,5% de ganho no
participante 2. No TUG, os participantes tiveram diminuição do tempo para
realização da tarefa, com melhora de 20% no participante 1
e 23,5% no participante 2. Na escala de depressão geriátrica houve piora em
ambos os participantes, 7,1% no participante 1 e 300%
no participante 2. No Índice de Barthel, os
participantes não obtiveram melhora já que ambos tiveram pontuação máxima no
teste, ou seja, mantiveram o melhor escore para grau de independência. Os dados
de comparação estão apresentados na tabela I.
Tabela
I - Pontuações dos participantes na avaliação
inicial e na reavaliação após as sessões.
*Escala de depressão
geriátrica.
Gráfico
1 - Gráfico ilustrativo com pontuação inicial e
final do participante 1.
Gráfico
2 - Gráfico ilustrativo com pontuação inicial e
final do participante 2.
Segundo os resultados
encontrados, a associação da fisioterapia com a TAA, apresentou ganhos
satisfatórios na capacidade e desempenho funcional, porém o humor piorou ao
decorrer das sessões, o que pode ter sido ocasionado por fatores externos a que
diz respeito ao estudo em questão.
Cechetti et al. [22] realizaram um trabalho clínico não controlado, do tipo
antes e depois que teve como objetivo avaliar os efeitos da TAA em relação à
marcha e ao equilíbrio do idoso institucionalizado. Foram escolhidos nove
idosos voluntários de ambos os sexos, excluindo idosos que tivessem qualquer
alteração osteomuscular, neurológica ou cognitiva. O estudo consistiu em quatro
semanas de fisioterapia associada à TAA, totalizando 10 sessões. Dentre os
testes aplicados para análise e comparação da marcha e equilíbrio dos idosos,
foi utilizado o Alcance Funcional que, através de seus parâmetros demostrou uma
melhora significativa após as sessões de TAA [22]. Esses resultados corroboram
o presente estudo, no qual obtivemos melhora nos resultados do teste de Alcance
funcional podendo indicar uma mudança positiva no perfil epidemiológico dos
idosos em questão, com redução do risco a queda, sendo assim melhorando sua
funcionalidade.
O estudo de Alfieri et al. [23] consistiu em um ensaio clínico
que teve como finalidade analisar o uso de testes clínicos de medidas indiretas
para averiguar as alterações sobre o controle postural de idosos saudáveis
submetidos a programas de exercício físico. Participaram da pesquisa 46 idosos,
entre 60-80 anos, com condições de chegar ao local de treinamento de maneira
independente. Foram divididos em dois grupos, compostos por 23 idosos cada, um
grupo realizava treino resistido (GR) e o outro grupo, exercícios
multissensoriais (GMS). Ambos os grupos realizaram o treinamento durante doze
semanas, duas vezes na semana, totalizando 24 sessões. Para avaliação do
monitoramento postural foram utilizados os testes: Timed
up and Go
(TUG), teste de apoio unipodal, bateria de testes de Guralnik e Escala de equilíbrio funcional de Berg. Os
idosos apresentaram melhora significativa nos testes TUG e Bateria de testes de
Guralnik [23]. O presente estudo também indicou que
houve melhora no TUG dos dois participantes, diminuindo o escore subsequente às
sessões realizadas. Por meio desta melhora, os idosos conseguem manter um bom
desempenho no equilíbrio durante a realização de atividades rotineiras do dia a
dia. A manutenção do equilíbrio viabiliza aos idosos a manter sua independência
na efetividade de suas atividades de vida diária e consequentemente reduz a
incidência de quedas nesta população, já que com o processo do envelhecimento
esperam-se alterações estruturais, funcionais e sensoriais, sendo a perda da
estabilidade postural um fator impactante na vida dos idosos [24]. O estudo de
Alfieri acredita que este seja o melhor teste para mensurar o controle postural
de idosos e até mesmo verificar alterações promovidas pelos exercícios físicos
[23].
Figliolino et al. [25] realizaram um estudo transversal no qual investigavam a
probabilidade de quedas, o nível de equilíbrio, marcha e realização das
atividades de vida diária de idosos praticantes e não praticantes de atividade
física. Participaram do estudo, 40 idosos com idade entre 60 e 90 anos, de ambos
os sexos. Os idosos foram divididos em dois grupos de 20 pessoas. Um grupo que
realizava atividade física como hidroginástica, caminhada ou aeróbico pelo
menos três vezes por semana e outro grupo era composto por sedentários. Foram
aplicados os seguintes testes para os participantes do estudo: Escala de
avaliação de equilíbrio e marcha de Tinetti, Escala
de atividades básicas de vida diária (Katz) e atividades instrumentais de vida
diária de Lawton.
Em relação aos
resultados do grau de independência avaliados pela escala de Katz e Lawton, na primeira escala não houve diferença entre os
grupos, ambos alcançaram a pontuação máxima no teste, indicando grau de
independência máxima seja ela para vestir-se, transferência, higiene pessoal,
continência e alimentação [25]. Mesmo utilizando escalas diferentes no presente
estudo e no estudo citado acima (Índice de Barthel e
Escala de Katz, respectivamente), ambos investigavam grau de independência para
determinadas tarefas.
O resultado dos
testes nos dois estudos constatou que os participantes tem total independência
para as AVDs. Para os dois participantes do estudo em
questão, obteve-se manutenção do grau de independência máxima mesmo com um
número reduzido de sessões oferecidas, o que é de suma importância sabendo-se
que com o envelhecimento, o declínio funcional é esperado. Segundo Ferreira et al. [26], o nível de independência interfere diretamente
na melhora da qualidade de vida do idoso e a prática de atividade seja ela
física ou não, auxilia na manutenção ou ganho de capacidade funcional. Isso
possibilita maior inserção à comunidade, intensificando vínculos que promovem
mudanças na vida cotidiana e consequentemente na melhora da qualidade de vida
[26].
O estudo experimental
de Nascimento et al. [27] teve como objetivo analisar os
efeitos de exercícios físicos generalizados sobre componentes da capacidade
funcional, aptidão funcional geral e sintomas depressivos em idosos sem
patologias durante 16 semanas. Participaram do estudo 55 idosos a partir de 60 anos,
divididos em dois grupos de acordo com a atuação no protocolo proposto: a)
grupo treinado (GT), constituído por 27 participantes que realizaram três
sessões semanais de exercícios físicos generalizados, em um total de 16
semanas; b) grupo controle (GC), integrado por 28 participantes que não
participaram de nenhum tipo de programa regular de atividades físicas.
A capacidade
funcional foi avaliada através da bateria de testes para idosos da AAHPERD que
é instituída por cinco testes: coordenação, flexibilidade, resistência de
força, agilidade, equilíbrio dinâmico e resistência aeróbia geral. Os indícios
depressivos foram calculados por intermédio da Escala de Depressão Geriátrica-
versão reduzida (GDS-15). Os resultados evidenciaram que os idosos do GT tiveram
melhor desempenho nos testes motores. Os indícios depressivos não sofreram
modificações em ambos os grupos. Portanto os resultados indicaram que 16
semanas são capazes de promover benefícios na aptidão funcional geral de
idosos, ao mesmo tempo em que idosos que permanecem sedentários podem
apresentar decréscimo em sua aptidão física geral [27].
O presente estudo
obteve uma melhora dos testes de capacidade funcional, mas houve piora na GDS
dos dois participantes analisados, aumentando o escore no término das oito
sessões. A participante 1, já apresentava quadro de
depressão na avaliação inicial, fazendo inclusive uso de medicamentos para
tratamento da doença. Após reavaliação, a pontuação aumentou um ponto (7,1%). A
participante relata sentir saudades de casa e da família, o que pode ter
ocasionado agravamento do quadro. Já segundo relato do participante 2, que teve piora significativa de 300% na GDS, ele foi
deslocado do seu quarto em virtude de reforma durante o período das sessões, o
que ocasionou em mudança na rotina dos idosos e implicou em insatisfação e
maior irritabilidade do mesmo ao final das sessões. De acordo com estudo de Porcu et al. [28], o idoso institucionalizado
vê-se obrigado a se adaptar a rotinas impostas pela instituição, como rotina de
horário, compartilhamento do ambiente com pessoas desconhecidas e convivência
com a distância da família, ocasionando um possível quadro depressivo [28]. A
mudança na rotina do participante do estudo pode ter ocasionado à grande piora
da pontuação na Escala de Depressão Geriátrica, já que o idoso deixou de
residir em seu quarto para dividir um alojamento com desconhecidos.
Cabe ressaltar que o
presente estudo teve como principais limitações o número reduzido da amostra e
tempo restrito de intervenção. Porém, houve melhora da maioria dos quesitos
analisados de ambos os participantes. A associação da TAA com a fisioterapia
teve ação satisfatória sobre a funcionalidade e equilíbrio dos idosos
analisados.
A TAA tem ganhado espaço
no meio fisioterapêutico por utilizar o animal como um estímulo a mais nas
sessões, tornando as atividades mais lúdicas e prazerosas, proporcionando
melhor desempenho das tarefas propostas. O animal nunca substitui o
fisioterapeuta, mas tem papel fundamental no desempenho do indivíduo em
intervenção.
Conclui-se que mesmo
com número de sessões restrito e amostra pequena, os participantes obtiveram
melhora de equilíbrio e capacidade funcional observadas nos resultados do teste
de alcance funcional e TUG, mantiveram o desempenho funcional pelo Barthel e houve piora somente do humor (parâmetro mais
variável conforme o contexto em que se vive, podendo, talvez, ter sido
influenciado por fatores que não puderam ser controlados pelo estudo). Devido
ao declínio funcional natural da evolução da idade, a fisioterapia em
associação com a TAA trouxe um resultado considerado favorável, em se tratando
de equilíbrio, capacidade e desempenho funcional. Mais estudos se fazem
necessários para confirmar os efeitos dessa associação em amostras maiores em
que seja possível a realização de cálculos estatísticos e com protocolos
diversificados para assim corroborar os achados nesta pesquisa.