ARTIGO
ORIGINAL
Efeitos
a curto prazo da aplicação de radiofrequência hexapolar sobre a fadiga de mulheres fibromiálgicas:
um estudo piloto
Short-term effects of the application of hexapolar
radiofrequency on fatigue in fibromyalgic women: a
pilot study
Adriana Guidi*, Rosana Ribeiro**, Fabiano Moura Dias***, Sabrina
Cunha Vargas*, Hércules Lázaro Morais Campos****
*Centro
Universitário São Camilo, Cachoeiro de Itapemirim/ES, **Faculdade Multivix, Cachoeiro de Itapemirim/ES, ***Centro
Universitário Vila Velha, Vila Velha/ES, ****Professor Assistente A do curso de
Fisioterapia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) – Instituto de Saúde e
Biotecnologia (ISB)
Recebido em 12 de
janeiro de 2018; aceito em 1 de outubro de 2018.
Endereço
para correspondência:
Adriana Guidi, Rua Teotonio
Machado, 129/301, Ibitiquara, 29307-200 Cachoeiro de
Itapemirim ES, E-mail: adriana.emcal@gmail.com; Rosana Ribeiro:
rosanaribeiroestetica@hotmail.com; Fabiano Moura Dias:
fabianodias@saocamilo-es.com; Sabrina Cunha Vargas:
sabrinavargas@saocamilo-es.com; Hércules Lázaro Morais Campos: herculeslmc@hotmail.com
Resumo
Introdução: A fibromialgia (FM)
é definida como uma síndrome multifatorial que acomete principalmente mulheres
e possui características de dor musculoesquelética em pelo menos 11 dos 18
pontos sensíveis descritos pelo American College of Rheumatology.
Sabe-se que a dor provocada pela FM não possui somente componentes físicos, mas
características afetivas e emocionais. Depois da dor, a fadiga é a queixa mais
comum de mulheres com FM, uma das causas é a sua correlação com a má qualidade
do sono. Objetivo: Investigar através
de um estudo piloto a aplicação da radiofrequência hexapolar (RF) em aliviar a fadiga em mulheres fibromiálgicas. Métodos:
Participaram deste estudo sete mulheres com diagnóstico de FM de acordo com os
critérios do ACR. Para avaliação da fadiga antes e após aplicação da RF usou-se
a Escala de Fadiga de Chalder. Resultados: A média de idade das mulheres foi 51 anos; apresentaram
níveis elevados de fadiga antes do tratamento (42,143 ± 6,768) e após a
aplicação da RF apresentaram fadiga igual a 22,143 ± 6. Conclusão: A aplicação da RF mostrou-se eficaz em diminuir a queixa
de fadiga nesse grupo de mulheres fibromiálgicas.
Faz-se necessário a aplicação da RF em um número maior de mulheres para
verificar a sua real eficácia.
Palavras-chave: fibromialgia,
fadiga, radiofrequência.
Abstract
Introduction: Fibromyalgia (FM) is defined as a multifactorial syndrome that affects
mainly females and has characteristics of musculoskeletal pain in at least 11
of the 18 sensitive points described by the American College of Rheumatology.
It is known that the pain caused by FM does not have only physical components,
but affective and emotional characteristics. After pain, fatigue is the most
common complaint of women with FM, one of the causes is their correlation with
poor sleep quality. Objective: To
investigate, through a pilot study, the application of hexapolar
radiofrequency (RF) in relieving fatigue in women with fibromyalgia. Methods: Seven women with FM diagnosis
according to the ACR criteria participated in this study. To evaluate the
fatigue before and after RF application, the Chalder
Fatigue Scale was used. Results: The mean age of the women was 51 years; they
presented high levels of fatigue before treatment (42,143 ± 6,768) and after
the application of RF they showed fatigue equal to 22.143 ± 6. Conclusion: The application of RF was
effective in reducing the fatigue complaint in this group of women with
fibromyalgia. It is necessary to apply RF in a larger number of women to verify
its real effectiveness.
Key-words:
fibromyalgia, fatigue, radiofrequency.
A fibromialgia (FM)
pode ser definida como uma síndrome complexa e multifatorial com
características de dor musculoesquelética em pelo menos 11 dos 18 pontos
sensíveis descritos pelo American College of Rheumatology
[1]. Sabe-se que a dor provocada pela FM não possui somente componentes
físicos, mas características afetivas e emocionais também podem afetar esses
pacientes [2-4].
Dentre as
sintomatologias mais descritas na FM estão a dor, a
fadiga e como consequência, a capacidade de perda funcional [2,5]. Isso
acontece porque nem sempre o tratamento proposto consegue controlar todos os
sintomas da FM, aumentando o grau de incapacidade dessas pacientes aumenta [5].
Os poucos estudos
epidemiológicos publicados no Brasil mensuram a prevalência da FM em torno de
2,5% na população adulta. Sabe-se ainda que a maioria é
do sexo feminino e possui idade entre 35 e 44 anos [5,6].
A fadiga é uma queixa
frequente em mulheres com diagnóstico de FM [7], apresentada como um sintoma
universal em humanos e pode estar secundária a muitas doenças entres elas a FM. As pacientes podem ser acometidas por dois
tipos dessa fadiga, mental ou física que pode levar a dificuldades cognitivas,
perda da motivação e do interesse, sonolência, perda da força e da resistência
[8].
A radiofrequência RF
surge como uma possibilidade de alívio dos sintomas da fadiga na FM. Trata-se
de uma terapia segura e aplicável a todos os fototipos
cutâneos, faz parte dos recursos fisioterapêuticos da eletrotermofototerapia,
oferece muitas vantagens por não ser invasiva e rápida de administrar [9]. O
objetivo é o de aumentar a temperatura dérmica e induzir os conceitos
terapêuticos consequentes. Esta nova tecnologia não invasiva, é uma corrente
usada para tratamentos de linhas de expressão facial, fibroses recentes e
tardias, cicatrizes e aderência, celulite, gordura localizada, contratura
muscular, entre outras funções [9]. Com os benefícios do calor na aplicação da
RF tem-se uma cascata de efeitos fisiológicos, tais como elevação da
temperatura tecidual, aumento da circulação com consequente aumento da
permeabilidade da membrana celular, aumento do metabolismo tecidual, alterações
físicas nos tecidos fibrosos, alterações enzimáticas, melhora da rigidez articular e consequente relaxamento muscular
moderado [10].
Considerando o
impacto que a fadiga causada pela FM tem na vida das pacientes procurou-se com
este estudo piloto verificar se a aplicação da RF seria eficaz em diminuir os
sintomas da fadiga.
Trata-se de um estudo
piloto, exploratório e de série de casos. Foi realizado conforme a resolução do
Ministério da Saúde nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e aprovada pelo
Comitê de Ética em pesquisa do Centro Universitário São Camilo/ES (CEP nº 702.179).
Busca-se com este
estudo piloto conhecer os efeitos da RF em aliviar a fadiga em mulheres fibromiálgicas. Não há descrição na literatura científica
do uso da RF em aliviar a fadiga em mulheres fibromiálgicas.
As participantes eram mulheres com diagnóstico clínico de fibromialgia há mais
de um ano e com idade a partir dos 25 anos de idade.
Compõe este estudo 7 mulheres com diagnóstico clínico de FM. Os critérios de
inclusão estabelecidos foram: mulheres com idade entre 20 e 65 anos e com
diagnóstico clínico de FM há mais de um ano. Os critérios de exclusão
estabelecidos foram pacientes que tivessem: déficit cognitivo, implantes
metálicos no local da aplicação, alteração de sensibilidade no local da
aplicação, próteses siliconadas, marca-passo cardíaco, neoplasias, processos
inflamatórios agudos, tecidos isquêmicos, lesões tuberculosas, trombose venosa
profunda recente, pacientes com condições hemorrágicas ou probabilidade de esta
ocorrer, pacientes com doenças cardíacas e ou com pressão arterial
descompensada, pacientes grávidas e que faltaram 2
vezes ao tratamento.
Aplicou-se um
questionário de características sociodemográficas e a
escala de Fadiga de Chalder, que se trata de um
questionário de origem britânica que mede a fadiga física e mental; foi
traduzido para o português, adaptado e validado no Brasil pelo estudo em
cuidados primários. É um questionário de 11 itens sobre questões que abordam
sintomas de fadiga tanto físico como mental e constitui uma escala de pontuação
de 0 a 3 para cada item [11].
As pacientes foram
avaliadas em dois momentos: 1) avaliação inicial; 2) avaliação final (logo após
a aplicação da RF). As pacientes receberam o tratamento 2
vezes por semana no período de um mês ininterrupto, com a mesma frequência
utilizada no aparelho para todas as participantes. O aparelho de
radiofrequência utilizado foi o da marca Tonederm Spectra G2®. Os parâmetros de uso da RF foram a temperatura entre 380C e 400C sobre a superfície da pele
no local de maior dor. A temperatura foi monitorada com um termômetro digital
de alta sensibilidade (termômetro infravermelho). Ao atingir a temperatura
desejada, o tempo de exposição no local da dor foi de 4 minutos consecutivos
após marcar 38 ºC, expandindo a área para não
aumentar a temperatura do local ora aferido, tendo uma variação até 40 ºC durante esse período. A aplicação da RF pode trazer
alguns riscos para a paciente como queimadura pela radiofrequência pelo mau uso
do terapeuta.
As pacientes chegaram
para o tratamento através de uma divulgação local feita pelo Centro
Universitário São Camilo/ES. As primeiras pacientes que chegaram foram
selecionadas de forma aleatória e por conveniência até que se percebeu a
repetição das respostas, todas as pacientes assinaram o termo de consentimento
livre esclarecido (TCLE).
Espera-se com os
resultados deste estudo piloto usar ou não dessa ferramenta para alívio da
fadiga em mulheres com FM. Pretende-se a partir desses resultados aplicar a RF em um número de mulheres com FM.
Realizou-se uma
análise descritiva (médias, desvios-padrão) e inferencial da variável estudada:
através do Excel versão 2010.
A média de idade do
grupo da FM foi de 51 anos. Os demais dados sociodemográficos
das pacientes estão descritos na tabela I.
Tabela
I – Características sociodemográficas
das pacientes do estudo.
Os resultados obtidos
com o uso da RF para diminuir a dor e fadiga estão descritos na tabela II.
Tabela
II –
Resultados do impacto da fadiga obtida
antes e após o tratamento com a RF.
*Escala de Fadiga de Chalder
Antes da aplicação da
RF as pacientes apresentavam o nível de fadiga igual a 42,143 ± 6,768, o
resultado após a aplicação foi igual a 22,143 ± 6,040 (p valor = 0,001).
A fadiga é um
fenômeno bastante complexo quando se discute qualidade de vida em mulheres com
FM, associada com a dor e a incapacidade funcional [12]. Uma queixa bastante
comum em mulheres com FM é a de acordar sempre cansadas, como se o sono não as
descansasse, isso está relacionado também com a presença de distúrbio do sono e
do sono não reparador, leve e que acaba sendo fragmentado durante a noite,
levando-as a desenvolver o estágio de fadiga crônica [13].
No grupo de
sintomatologias da FM sabe-se que juntamente com o estado de tensão muscular,
que já aumenta a sensibilidade da dor, aparece também a fadiga, que pode levar
inclusive a transtornos de ansiedade generalizada [14]. Nesse estudo as
mulheres apresentavam um índice de fadiga em torno de 42,143 ± 6,768, o que
justifica o risco de ansiedade. Após o tratamento esse índice baixou para
22,143 ± 6,040 com relato da melhora de qualidade de vida feito pelas
pacientes.
As alterações do sono
estão frequentemente relacionadas com episódios de fadiga e aumento das dores
musculares, pois, sabe-se que, quando a mulher com FM não adentra as fases profundas do sono não-REM,
isso pode acarretar uma fadiga ao acordar, durante o período da manhã [13].
A fadiga e o estresse
aparecem concentrados na fase intermediária (resistência e quase exaustão)
presente na FM. Esses sintomas podem prejudicar o funcionamento psicossocial e
alertam para evolução do estresse que pode chegar à exaustão em 4% desta
população [14].
Um estudo apontou que
mulheres que tinham ocupação formal de trabalho apresentavam níveis de fadiga
muito maior do que aquelas mulheres que não tinham nenhuma atividade laboral,
talvez porque esses níveis de fadiga possam estar associados das demandas de
trabalho juntamente com os sintomas da FM, que acaba acentuando a percepção de
fadiga [7,12,8,13].
A fadiga é descrita
como um grau de apatia, esgotamento, baixa demanda de
energia, alterações na memória e na concentração, aumento do nível de
irritabilidade, piora da qualidade do sono e levando até a desordens psíquicas
[7,8,12,13].
Por causa da fadiga,
comumente a paciente fibromiálgica relata a sua
interferência negativa no desempenho de diversas atividades diárias e
dificuldade em trabalhar. Os sintomas da fadiga e da fraqueza subjetiva
(agravado pelo sedentarismo) levam à perda de função, da capacidade laboral, o
que diminui a renda familiar, afetando diretamente a qualidade de vida dessas
pessoas [15].
Mulheres com FM
sentem dor e fadiga em mais de 90% do tempo de vigília, e aquelas que possuíam
algum trabalho reduziram o tempo do mesmo, mas em contrapartida, estavam menos
exaustas nas atividades de lazer e relataram melhor satisfação com a vida
diária [7,8,12,13].
Pacientes com
fibromialgia gastam grande parte de seu tempo com comportamentos sedentários,
os quais têm efeitos na fibromialgia [16]. Faz-se necessária a prática regular
de atividade física que contribui ativamente para a prevenção e redução da dor
assim como da fadiga [17].
O sedentarismo já representa
um problema global de saúde pública, sendo associado a diversas doenças
crônicas não transmissíveis. Nos últimos anos o sedentarismo é considerado como
um dos hábitos de vida de maior causa de doenças incapacitantes, aumento de doenças crônicas, taxas de mortalidade, riscos
de hospitalizações e de problemas psicossociais onerando o sistema de saúde
pública. Faz-se, então, necessário incentivar a prática da atividade física,
pois a mesma é considerada um fator de proteção contra várias doenças e agravos
a saúde e resulta numa melhora da qualidade de vida [18,19].
O uso da eletrotermofototerapia na fisioterapia já foi comprovado
quando se pensa nas desordens osteomioarticulares,
porém ainda não há nada específico quando se trata da FM. Aplicar a RF em
pacientes fibromiálgicos parte do princípio que os
recursos térmicos são usados de maneira geral na reabilitação para alívio da
dor. Sabe-se, então, que se há redução da dor, há aumento na amplitude do
movimento, melhora da força muscular, boa mobilidade, maior resistência física,
melhora da habilidade de andar e de todo estado funcional [20], como percebido
no autorrelato das pacientes tratadas neste estudo.
Acredita-se que um
dos benefícios da aplicação da RF neste estudo foi porque a RF é indicada em alguns
processos degenerativos que levam à redução do metabolismo, bastante
característico da FM [21]. O aumento da vasodilatação e da irrigação abaixo do
local tratado leva à melhora da oxigenação e nutrição dos tecidos levando à
melhora da dor.
A aplicação da RF,
neste estudo piloto, mostrou-se eficaz em diminuir a fadiga e suas
sintomatologias em mulheres com FM. Porém faz-se necessário o desenvolvimento
de um ensaio clínico para comprovar a real eficácia da RF.
Fundação de Amparo à
Pesquisa e Inovação do Estado do Espírito Santos
(FAPES- 2014/ 67678416).
Ao professor Dr.
Richard Eloin Liebano da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) que voluntariamente deu dicas
preciosas para esse estudo.