REVISÃO
Possíveis
impactos do transtorno de ansiedade social no processo de envelhecimento
Possible impacts of social anxiety disorder in the aging process
Newton Almeida Lima
Junior*, Daiana Greice Lopes Paes**, Giovanna Cristine Belchior Pontes**,
Alexandre Gomes Sancho*, João Luiz da Silva Rosa***, Álvaro Camilo Dias Faria*
*Professor
da Universidade do Grande Rio (Unigranrio),
Pesquisador do Grupo de Estudos em Fisioterapia (GEFISIO) da Unigranrio, Laboratório de Instrumentação Biomédica da UERJ
(LIB/UERJ), **Fisioterapeuta formada pela Unigranrio,
***Professor da Universidade do Grande Rio (Unigranrio),
Pesquisador do Grupo de Estudos em Fisioterapia (GEFISIO) da Unigranrio
Recebido em 23 de
março de 2018; aceito em 30 de julho de 2018.
Endereço
de correspondência:
Newton Almeida Lima Junior, Rua Conselheiro Zenha,
54/401, 20550-090 Rio de Janeiro RJ, E-mail: newtonjuniorft@gmail.com; Daiana
Greice Lopes Paes: paes.daiana@yahoo.com.br; Giovanna Cristine Belchior Pontes:
giovanna.belchior@hotmail.com; Alexandre Gomes Sancho:
alexandresancho.fisio@bol.com.br; João Luiz da Silva
Rosa: joao.rosa@unigranrio.edu.br; Álvaro Camilo Dias Faria: alvaro.camilo@unigranrio.edu.br
Resumo
Há uma tendência ao
aumento do envelhecimento populacional no Brasil e no mundo, assim como do
Transtorno de Ansiedade Social, que compromete a qualidade de vida dos
indivíduos, tornando-se um fator de risco para processos demenciais e limitação
funcional. Este estudo teve como objetivo descrever possíveis impactos deste
transtorno no processo de envelhecimento, buscando saber qual será o futuro
dessa população idosa convivendo com as incapacidades características da idade
e possivelmente potencializadas pela fobia social. Trata-se de uma revisão
integrativa da literatura, utilizando artigos que envolvem a fobia social e
depressão em idosos. A pesquisa de artigos foi realizada em bases de dados da
Biblioteca Virtual de Saúde e nos portais indexados como: Bireme,
Lilacs, Scielo e Pubmed, compreendendo o período de agosto de 2002 a março
de 2018. Observou-se na literatura que entre as diversas modalidades de
psicoterapia, a terapia cognitiva comportamental é o tratamento mais eficaz
para a fobia social; por outro lado, a psicodinâmica em grupo apresentou-se
como um tratamento viável para indivíduos que experimentam fobia social
generalizada. Acreditamos que novos estudos comprovarão a piora das funções em
idosos que sofram de Transtorno de Ansiedade Social.
Palavras-chave: envelhecimento,
fobia social, transtornos motores, depressão, transtornos de ansiedade,
fisioterapia.
Abstract
There is a trend of progressive aging of population in Brazil and in the
world, as well as the Social Anxiety Disorder, which compromises quality of
life and becomes a risk factor for dementia processes and collaborates with
functional limitation. This study aimed to describe possible impacts of this
disorder in the aging process, seeking to know the future of this elderly
population living with disabilities characteristics of age and possibly
potentiated by social phobia. This study consisted of an integrative review of
the literature, using articles that involve social phobia and depression in the
elderly. The research of articles was carried out in databases of the Virtual
Health Library and in the portals indexed as: Bireme, Lilacs, Scielo, and Pubmed, in the period
from August 2002 to March 2018. We observed in literature that among the
psychotherapy modalities, the cognitive-behavioral therapy is the most
efficient treatment for social phobia; on the other hand the psychodynamic
group psychotherapy show signs of being a viable treatment for individuals that
experience generalized social phobia. We concluded that new studies will prove
the deterioration of elderly functions with Social Anxiety Disorder.
Key-words: aging,
phobia social, motor disorders, depression, anxiety disorders, physical therapy
specialty.
O envelhecimento é
definido como um processo multidimensional que apresenta três indicadores que
caracterizam o envelhecimento saudável, sendo eles: baixo risco de doenças e de
incapacidades funcionais; funcionamento mental e físico
excelentes
e envolvimento ativo com a vida [1]. Esse processo é
praticamente comum a todos os seres vivos que no seu transcorrer
provoca
modificações de ordem somática e psíquica
que determinam alterações da relação
do indivíduo com o meio que o cerca.
Segundo o IBGE, já em
2030, o Brasil irá se tornar um país de idosos. Essa tendência de
envelhecimento populacional já foi observada no Censo em 2002 e ganhou força
nos últimos 10 anos. Ao encontro desta afirmativa, temos os dados da Secretaria
de Direitos Humanos que apontam que em 2050 pela primeira vez haverá mais
idosos do que crianças menores de 15 anos. Associado a este aumento
significativo do número de idosos no Brasil, temos também uma progressão do
número de morbidades, como as doenças psíquicas, relacionadas a fatores
sociais, ambientais e culturais. A autopercepção
negativa de saúde entre os idosos guarda forte associação com gênero feminino,
baixa renda, comorbidades, depressão, incapacidades,
inatividade física, acesso e uso deficitário de serviços de saúde e isolamento
social; insatisfação com os relacionamentos pessoais [2]. Particularmente uma
doença vem afetando comumente a população atual, conhecida como transtorno de
ansiedade social (TAS), que não se dá pela idade, porém esse tipo de transtorno
associado à velhice causa diversos outros tipos de comorbidades
que poderão prejudicar a vida desse idoso.
O
TAS
é também conhecido como fobia social, sendo um dos transtornos de ansiedade
mais comuns e tem sido considerado um grave problema de saúde mental e pública,
chamando atenção pela alta prevalência e características incapacitantes, com
estimativas entre 2,6 e 16% [3]. Esta condição clínica comumente vem
acompanhada por outras comorbidades como a depressão.
Este transtorno é caracterizado pelo medo acentuado e persistente de situações
sociais ou de desempenho em tarefas, pelo medo da humilhação e embaraço durante
a interação social ou performance frente aos outros
[4].
O surgimento da
depressão está relacionado a vários fatores biológicos e psicossociais, tais
como histórico depressivo ao longo da vida, perda de suporte social e familiar,
doenças físicas ou incapacitantes, além do uso de alguns medicamentos que podem
desencadear perturbações do humor [4]. Existem outros medos que são
relacionados à exposição que, quando não podem ser evitados, são vivenciados
com grande ansiedade tais como: parecer ridículo, dizer tolices, ser observado
pelas outras pessoas, interagir com estranhos ou pessoas do sexo oposto, ser o
centro das atenções, comer, beber ou escrever em público, falar ao telefone e
usar banheiros públicos. Esses medos podem ser acompanhados por sinais e
sintomas como: palpitações, tremores, sudorese, desconforto gastrointestinal,
tensão muscular, rubor facial e confusão [5].
Existem poucos
estudos que falam sobre a prevalência de transtorno de ansiedade generalizada
para populações acima de 65 anos. Entre os idosos acima dessa faixa etária,
mais frequentemente entre os sexagenários, existem casos que os gerontólogos denominam como "frágeis" [6].
Frente às situações percebidas
ocorrem problemas muito frequentes em idosos como o distanciamento das relações
pessoais, as dificuldades na participação em atividades profissionais, sociais,
de lazer e de autocuidado, evoluindo para as restrições de contatos e
atividades. Todas estas constituem prejuízos funcionais que interferem nas
atividades de vida diária e na participação na vida cotidiana, com implicações
para as condições de saúde do indivíduo. A depressão é uma das comorbidades mais comuns na fobia social e também no envelhecimento,
podendo se dar pelo fato do idoso não se sentir mais “útil” para a sociedade em
que vive. Ela é vista como um transtorno afetivo caracterizado pela falta de
controle sobre o próprio estado emocional, apresentando humor deprimido,
diminuição do interesse pelas atividades e prazeres da vida. Esta doença é
conhecida por uma condição mental de difícil diagnóstico, que se caracteriza
como uma síndrome que abrange diversos aspectos clínicos e etiopatogênicos
e favorece desgastes psíquicos do idoso, resultando em agravos de doenças
orgânicas, aumentando a morbidade e o risco de morte [7]. A depressão pode
causar perda de massa óssea e em consequência levar principalmente a
osteoporose e fraturas. Outros sintomas presentes descritos em literaturas são a
perda ou aumento do apetite, insônia e sentimentos de culpa [2].
A prevalência mundial
para a depressão varia de 0,9% a 9,4% em idosos vivendo na comunidade e de 14%
a 42% em institucionalizados [7]. De acordo com as evidências apresentadas
referentes à depressão, percebe-se que ela ocorre com grande frequência no
processo do envelhecimento em que o idoso se distancia da vida social, da
família, se retraindo com tristeza, apresentando baixa autoestima e
desesperança. Seu tratamento com medicação farmacológica antidepressiva
apresenta influências positivas no tratamento da depressão, porém muitos
pacientes não aderem ou não persistem a este tipo de tratamento devido aos seus
efeitos colaterais e ao seu alto custo levando à procura por tratamentos antidepressivos
alternativos, como eletroconvulsoterapia,
psicoterapia e atividade física [2]. Dentre os efeitos colaterais das drogas
antidepressivas destacam-se como efeitos mais comuns a astenia (perda ou
diminuição da força muscular), letargia e sensação de lentidão de movimentos,
tremor, ansiedade.
Este estudo tem como
objetivo tentar relacionar o impacto do TAS no
processo de envelhecimento, como fator potencializador
das incapacidades funcionais que acometerão a população idosa no futuro.
Trata-se de uma
pesquisa de revisão integrativa com abordagem qualitativa acerca da temática
escolhida, que consiste na análise de informações pré-existente sobre o tema
pesquisado, bem como contribuir na produção da fonte de conhecimento atualizada
sobre a problemática levantada.
A pesquisa foi
desenvolvida no período de agosto de 2002 a março de 2018, sendo realizada uma
busca de artigos nas bases de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e nos
portais indexados como: Bireme, Lilacs,
Scielo e Pubmed. Os
descritores utilizados na pesquisa foram: envelhecimento populacional,
transtornos motores, transtorno de ansiedade, depressão, idoso e fisioterapia.
Como critérios de
inclusão buscaram-se trabalhos originais ou de revisão, completos, disponíveis
em língua portuguesa ou inglesa, que foram publicados em revistas nacionais e
que abordassem: fobia social, depressão em idosos, transtornos mentais e função
pulmonar. Como critérios de exclusão pontuaram-se artigos com publicação
inferior ao ano de 2002 no formato de resumo simples.
No presente trabalho
foram identificados inicialmente 42 estudos referentes à temática pesquisada,
aos quais foram aplicados os critérios de inclusão e exclusão, restando 14
estudos que foram utilizados no corpus deste estudo.
O produto final deste
estudo oportunizou sua inserção no Programa Institucional Iniciação Científica (PIIC) da Unigranrio
2018/1, com objetivo de despertar vocação científica entre estudantes de
graduação, mediante suas participações em projetos de pesquisa.
A fobia social é um
transtorno psiquiátrico bastante comum na infância e na adolescência. Dados
epidemiológicos sugerem que adolescentes têm maiores prevalências de TAS que
crianças com algumas características peculiares nessa faixa etária, e tem sido
associado com importantes prejuízos sociais, ocupacionais e familiares, além de
predispor ao uso de drogas e ao desenvolvimento de depressão e de outros
transtornos de ansiedade [8]. Estima-se que aproximadamente 10% de todas as
crianças e adolescentes preencherão critérios diagnósticos, em algum momento,
para ao menos um transtorno ansioso e destas mais de 50% experimentarão um
episódio depressivo como parte de sua síndrome ansiosa. Estudos sugerem que
algumas formas de ansiedade infantil podem estar relacionadas a transtornos
ansiosos na vida adulta e possivelmente no idoso [9]. Um estudo chinês observou
a prevalência e distribuição de transtornos psiquiátricos em mais de 17 mil
crianças de 6 a 16 anos. Houve uma prevalência de transtornos psiquiátricos em
12 meses de 9,74% na população estudada, os mais comuns foram o transtorno do
déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) (4,96%), transtorno desafiador
opositivo (TDO) (2,98%) e transtorno de ansiedade generalizada (TAG) (1,77%)
[10]. Apesar de não ser objetivo de nosso estudo, essa relação de transtornos
psiquiátricos comuns em crianças e adolescentes nos faz pensar sobre como estes
jovens poderão ter suas funções fisiológicas afetadas quando na vida adulta.
Em todo o mundo, o
número de pessoas acima dos 60 anos vem crescendo mais rapidamente do que o de
qualquer outra faixa etária e apesar da probabilidade de desenvolver certas
doenças com o avançar da idade é importante esclarecer que não se pode imaginar
que envelhecer seja sinônimo apenas de adoecer, especialmente quando as pessoas
desenvolvem hábitos de vida saudáveis. Porém, este aumento da população idosa
pode estar associado à prevalência elevada de doenças crônico-degenerativas,
dentre elas aquelas que comprometem o funcionamento do sistema nervoso central,
como as enfermidades neuropsiquiátricas, na qual se faz presente a depressão em indivíduos com transtorno de ansiedade social
(TAS) [2]. Um consórcio europeu agrupou doze sintomas comportamentais em quatro
subsíndromes: hiperatividade (agitação, euforia,
desinibição, irritabilidade e comportamento motor aberrante); psicose
(alucinação, delírios e distúrbios do sono); sintomas afetivos (depressão e
ansiedade); apatia (distúrbio da alimentação) [11]. Segundo a Organização
Mundial de Saúde, estima-se que 350 milhões de pessoas em todo o mundo
apresentem sintomas depressivos [12].
A presença de
prejuízos funcionais ou de incapacidades é comumente referida, nos estudos
sobre o TAS, como uma forma de manifestação dos
prejuízos associados ao transtorno e relacionadas a alterações nas atividades
de vida diária [5]. O TAS associado a uma depressão já
instalada na população idosa só intensifica os déficits que já ocorrem devido
ao avançar da idade. Esse quadro depressivo diminui a preocupação com o
autocuidado, fazendo com que o mesmo recuse alimentar-se, sair do leito,
reduzindo assim sua mobilidade e imunidade, tornando-o mais suscetível aos
processos infecciosos [13].
As causas de
depressão no idoso configuram-se dentro de um conjunto amplo de componentes nos
quais atuam fatores genéticos, eventos vitais, como luto e abandono, e doenças
incapacitantes, entre outros. Cabe ressaltar que a depressão no idoso
frequentemente surge em um contexto de perda da qualidade de vida associada ao
isolamento social e ao surgimento de doenças clínicas graves [14].
Devido ao uso de
medicamentos e suas repercussões no organismo alguns estudos mencionam que
apesar do tratamento com medicamentos ainda ser muito utilizado, a psicoterapia
pode também auxiliar pessoas com fobia social. Esse tratamento oferece algumas
vantagens a esses pacientes, já que muito do que se aprende durante a
psicoterapia pode ser usado no decorrer da vida do paciente e acaba funcionando
como um modo de prevenir que os sintomas voltem, porém não podemos esquecer que
o tratamento farmacológico causa alterações funcionais que poderão talvez
potencializar as limitações funcionais do idoso [4].
Entre as diversas modalidades
de psicoterapia, a terapia cognitiva comportamental (TCC) é o tratamento mais
eficaz para a fobia social. Porém, alguns estudos referem que mesmo os
pacientes não apresentando critério diagnóstico para fobia social, ainda
apresentam dificuldades significativas em situações sociais, podendo ser
consideradas manifestações subsindrômicas desse
transtorno [15].
Alguns estudos
referem que a TCC é superior ao tratamento com placebo com credibilidade em
pacientes com fobia social. Outra modalidade é a terapia psicodinâmica em grupo
(TPG) que parece ser um tratamento viável para indivíduos que experimentam
fobia social generalizada. Em uma avaliação notou-se que a TPG produz redução
na ansiedade fóbica social, em especial nos sintomas que a evitam, enquanto
outras modalidades de tratamento como a TCC e farmacoterapia
produzem apenas diminuição na ansiedade [4].
Não é possível fazer
comparações diretas entre TPG e TCC no tratamento de fobia social, pois tal
estudo ainda não foi realizado. Com os dados atuais, no entanto, os resultados
sugerem que, ao selecionarem-se tratamentos de grupo de curto prazo para fobia
social, apesar de a TCC apresentar melhores resultados, a TPG também deve ser
considerada como modalidade terapêutica [4].
Tornam-se necessários
mais estudos para corrigir as lacunas do conhecimento em relação à melhor forma
de auxiliar os pacientes idosos que sofrem desse transtorno. É importante
ressaltar que envelhecimento não é uma fase e sim um processo que se inicia
desde a concepção. Diante do exposto, a adoção de estratégias e políticas
preventivas da senescência poderão permitir um
envelhecimento saudável.
A fobia social ou
transtorno da ansiedade social está muito presente na população adolescente e
possivelmente em idosos, que convivem cada dia mais com o medo e com a
insegurança, apresentando assim os sintomas que poderão levar o indivíduo a
este diagnóstico no futuro.
Sabe-se que o Brasil
irá se tornar um país de idosos conforme apontam as pesquisas que abordam o
envelhecimento populacional. Questiona-se qual será o futuro dessa população
idosa convivendo com as incapacidades funcionais inerentes à idade e
possivelmente potencializadas pela fobia social. Como a fisioterapia poderia
agir de forma preventiva mediante esta possibilidade, já que esta especialidade
tem seu foco voltado para a funcionalidade?
Acreditamos que
estudos futuros comprovarão a piora das funções em idosos que sofram de TAS.