REVISÃO
Intervenções
fisioterapêuticas e sua efetividade na reabilitação do paciente acometido por
acidente vascular cerebral
Physiotherapeutic
interventions and their efficacy in the post-stroke rehabilitation
Sandro Siqueira, Ft.*,
Paloma de Borba Schneiders**, Andréa Lúcia Gonçalves
da Silva***
*Fisioterapeuta
da Empresa Fisioterapia Hospitalar CCGS, Santa Cruz do Sul/RS, **Acadêmica do
Curso de Fisioterapia da Universidade de Santa Cruz do Sul, (UNISC), Santa Cruz
do Sul/RS, ***Professora do Curso de Fisioterapia, Departamento de Educação
Física e Saúde, Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), Santa Cruz do Sul/RS
Recebido em 26 de
setembro de 2018; aceito em 4 de julho de 2019.
Correspondência: Sandro Siqueira, Rua
Castro Alves, 589, 96845-100 Santa Cruz do Sul RS, E-mail:
sandrofisio14@gmail.com; Paloma de Borba Schneiders:
pb-schneiders@hotmail.com; Andréa Lúcia Gonçalves da Silva: andreag@unisc.br
Resumo
Introdução: Pelo fato do período
pós Acidente Vascular Cerebral requerer de uma série de cuidados especiais, os
profissionais da saúde atuantes em sua reabilitação devem apresentar adequado
tratamento ao paciente e para isto deve atualizar-se dos métodos existentes.
Por apresentar maior número de sequelas sensório motoras, o fisioterapeuta é um
dos profissionais indispensáveis para o devido tratamento. Objetivo: Apresentar uma revisão sistemática de literatura sobre os
métodos fisioterapêuticos e a sua efetividade na reabilitação de sequelas após
AVC. Métodos: Revisão sistemática de
literatura na qual se utilizou para busca, as bases de dados Pubmed, Bireme, Scielo, Lilacs e Medline, no
período de janeiro de 2008 a janeiro de 2018. Resultados: Foram encontrados 1.913 estudos com as palavras-chave
selecionadas, e destes foram mantidos 15 estudos relevantes para o tratamento
fisioterapêutico na reabilitação de sequelas após AVC. Conclusão: Evidenciou-se vasto campo de métodos fisioterapêuticos
eficazes para a reabilitação após AVC, que irão auxiliar de forma objetiva e
construtiva na abordagem do fisioterapeuta.
Palavras-chave: acidente vascular
cerebral, fisioterapia, modalidades da fisioterapia.
Abstract
Introduction:
Patient post-stroke period requires special care, health professionals working
in their rehabilitation should provide appropriate and updated therapies. As it
presents a greater number of sensorimotor sequences, the physiotherapist is one
of the indispensable professionals for the due treatment. Objective: To present a systematic review of the literature on
physiotherapeutic methods and their effectiveness in the rehabilitation of
sequels after stroke. Methods: A
systematic review of the literature in the databases Pubmed,
Bireme, Scielo, Lilacs and Medline databases from
January 2008 to January 2018. Results:
We selected 1,913 studies and 15 of these studies were relevant for the
physical therapy of stroke sequel and rehabilitation. Conclusion: A large and effective physiotherapeutic methods are
efficient for stroke rehabilitation, which will help in the objective and
constructive approach of the physiotherapist.
Key-words: stroke,
physical therapy, physical therapy modalities.
O Acidente Vascular Cerebral
(AVC), como o próprio nome diz consiste no resultado de um dano celular devido
à isquemia ou hemorragia no tecido encefálico. Desta forma, é a principal causa
de deficiência no mundo em adultos, resultando em situações clínicas altamente
complexas envolvendo frequentemente o sistema sensório-motor [1].
Com o crescimento da
população idosa a cada década, segundo o IBGE, até 2025 o número de idosos será
15 vezes maior, e consequentemente haverá aumento nos casos de AVC [2]. Esta
doença é responsável por 10% de todas as mortes no mundo, ocorrendo 85% em
países em desenvolvimento, sendo que nos Estados Unidos e Europa há uma
prevalência de 200 a 300 novos casos em cada 100,000 habitantes por ano
respectivamente [3,4].
No Brasil, há alta
prevalência de casos, na qual atinge com maior frequência pessoas com idade
superior a 65 anos [5]. Em 2003 o AVC causou 51,66% das internações [2], e
posteriormente, em 2005 foi responsável por 10% de todas as mortes e
internações hospitalares públicas [4]. Para a Sociedade Brasileira de
Neurologia são aproximadamente 100 mil óbitos por ano devido ao AVC, onde a
cada 5 minutos morre um indivíduo em decorrência deste evento, sendo 87%
isquêmicos, 10% hemorrágico intracerebral e 3% hemorrágico subaracnóide
[6].
Assim como outras
doenças, o AVC pode ser desencadeado por fatores de risco divididos em não
modificáveis (etnia, baixo peso ao nascer, idade, sexo e doenças hereditárias)
e modificáveis (síndrome metabólica, tabagismo, hipertensão, diabetes mellitus,
doenças cardíacas, abuso de álcool e drogas, reposição hormonal, doença
arterial coronariana, estenose carotídea, dislipidemia e outros) [4]. Pacientes
acometidos pelo AVC necessitam de ventilação mecânica por tempo prolongado,
levando a complicações como pneumonias e atelectasias alterando a mecânica
respiratória, sendo a mesma avaliada pelas complacências dinâmica, estática e
resistência pulmonar [7].
Portanto, o tratamento
para o AVC consiste em dois modelos, sendo estes de prevenção (estabelecendo um
estilo de vida saudável e mantendo distância dos fatores de risco) ou
reabilitação (pós evento) no qual necessita de abordagem multiprofissional, com
ênfase no tratamento fisioterapêutico para as sequelas sensório-motoras.
O acompanhamento da
fisioterapia, tanto respiratória como motora para pacientes acometidos pelo AVC
faz-se de extrema importância para o alcance de uma boa funcionalidade e
melhora da sua qualidade de vida (QV). A abordagem respiratória atua otimizando
a ventilação mecânica (VM) e favorecendo a oxigenação alveolar e higiene
brônquica. Desta forma, pode-se auxiliar na retirada da VM, diminuindo seu
tempo e custos da internação [7]. A fisioterapia motora proporciona melhora da
mobilidade, flexibilidade e coordenação motora, influenciando de forma positiva
na independência funcional dos pacientes [8].
Neste sentido, o
objetivo do estudo foi apresentar uma revisão sistemática de literatura sobre
os métodos fisioterapêuticos e a sua efetividade na reabilitação de sequelas
após AVC.
Trata-se de uma revisão
sistemática de literatura na qual utilizou-se para busca as base de dados Pubmed, Bireme, Scielo, Lilacs e Medline, no
período de janeiro de 2008 a janeiro de 2018, usando as seguintes
palavras-chave em inglês e português respectivamente: “Stroke AND physical therapy”,
“Stroke AND physical therapy modalities”, “Stroke AND Kinesiotherapy”,
“Stroke AND respiratory physiotherapy” e “Stroke AND motor physiotherapy”; “Acidente
vascular cerebral AND Fisioterapia”, “Acidente vascular cerebral AND
Modalidades da fisioterapia”, “Acidente vascular cerebral AND Cinesioterapia”,
“Acidente vascular cerebral AND Fisioterapia respiratória” e “Acidente vascular
cerebral AND Fisioterapia motora”.
O recorte temporal
inicial justifica-se por ser o instante em que os cuidados especiais na
reabilitação do paciente após o AVC apresentaram-se na literatura com maior
entusiasmo e esclarecimento. Referente ao recorte temporal final deu-se devido
ao limite de tempo estabelecido para uma revisão atual.
Os estudos encontrados
foram devidamente revisados e avaliados de forma minuciosa de acordo com os
critérios de inclusão e exclusão apresentados na Figura 1, adotados para este
estudo. Completado o processo de busca dos artigos, foram encontrados 1.913
estudos com as palavras-chave selecionadas, e destes foram mantidos 15 estudos
relevantes para o tratamento fisioterapêutico na reabilitação de sequelas após
AVC. Os artigos escolhidos seguiram prudentemente os critérios de seleção
(Figura 1), sendo 7 deles internacionais e 8 nacionais.
AVC: Acidente vascular
cerebral.
Figura 1 - Critérios de Inclusão e Exclusão adotados para este estudo.
Através da estratégia
de PICO elaboramos a pergunta direcionadora para esta pesquisa: “Quais as
intervenções fisioterapêuticas e seus benefícios no processo de reabilitação
das sequelas de pacientes pós-AVC?”.
As intervenções
fisioterapêuticas, variáveis analisadas, bem como os métodos de avaliação
destas, e os desfechos positivos encontrados em 15 estudos selecionados (Tabela
I). Observamos que os estudos apresentam diversificados métodos
fisioterapêuticos para a reabilitação de pacientes após AVC.
São diversos os
recursos eficazes propostos pela fisioterapia na recuperação do AVC, entretanto
esses devem sempre respeitar as limitações do paciente, sendo de total
responsabilidade do profissional elaborar um programa de tratamento atrativo e
adequado ao caso de acordo com a sua avaliação. Portanto, deve-se determinar
metas capazes de serem alcançadas com comprometimento e dedicação, e explorar
diferentes intervenções e adaptá-las ao paciente [21].
As abordagens
apresentadas pelos estudos selecionados alternaram-se em, crio estimulação,
descompressão, fisioterapia respiratória, hidroterapia, entre outras, sendo as
mais frequentes a fisioterapia convencional para reabilitação de AVC e a
eletroestimulação. A eletroterapia na reabilitação pós AVC é o recurso mais
utilizado até o momento, sendo este apresentado em estudos com uso concomitante
a outras terapias como cinesioterapia, treinamento funcional, por consistir de
estimulação e facilitação do movimento através da emissão de sinais elétricos
para os músculos, que proporcionam uma contração eficaz [3,13,15].
Como intervenção
fisioterapêutica mais recente apresentou-se a terapia do espelho que trata-se de uma terapêutica não invasiva em que realiza-se
movimentos com o membro saudável em frente a um espelho para que haja estímulo
da movimentação do membro hemiparético. Contudo, há
poucos estudos controlados com amostras representativas. Entretanto, Mota et al. [18] em seu estudo demonstram
positivamente que a terapia do espelho combinada à fisioterapia convencional
contribui amplamente para a recuperação do membro superior afetado.
Identificamos que a
terapia de constrição com indução do movimento, terapia de uso forçado e
terapia de restrição e indução do movimento são cada vez mais utilizadas e
apresentadas na literatura de forma eficaz para esta população de doentes, uma
vez que esta terapêutica consiste em uma reabilitação motora intensiva que
proporciona a facilitação de mudanças no sistema neuromuscular através de um
treinamento de tarefas repetidamente. Estas influenciam no aumento da
velocidade da marcha proporcionando melhora no desempenho da função motora dos
membros inferiores, resultando em aprimoramento do padrão motor apresentado
pelos indivíduos hemiparéticos [11,19].
Da mesma forma que as
abordagens motoras, a fisioterapia respiratória é indispensável para o período
pós AVC, sendo primordialmente adotado pelos profissionais o treinamento
muscular respiratório, devido ao fato de que pacientes neurológicos necessitam
da otimização da função e da força pulmonar de forma confortável sem
proporcionar possível fadiga aos pacientes. Desta maneira a fisioterapia
respiratória busca melhorar a ventilação pulmonar, e muitas vezes auxilia na
retirada da ventilação mecânica desses pacientes, reduzindo tempo e o custo da
internação [7,14,16,17]. Além da evolução da mecânica respiratória, como
desfecho positivo destacaram-se nos estudos analisados o aumento do equilíbrio,
a redução da espasticidade, bem como o a melhora da ADM, da QV e da
independência na prática de AVDs.
Em nosso estudo também
observamos predominância das seguintes variáveis: equilíbrio e função pulmonar
(33%), espasticidade, ADM, funcionalidade e marcha (33%), e QV e independência
nas atividades de vida diárias (AVDS) (20%). As ferramentas mais utilizadas
para avaliação destas variáveis foram Escala de Berg, Goniometria,
Escala de Ashworth, Mini Exame do Estado Mental,
Espirometria, Teste de caminhada de seis minutos, entre outras.
Fuzaro et al. [11] destacam em seu estudo que o método de avaliação por
escalas pode ser muitas vezes considerado como fator limitante de fidedigna
mensuração da função motora. No entanto, em 60% dos 15 estudos analisados,
identificamos que quando utilizadas concomitantemente a outras ferramentas de
medições exatas, as escalas auxiliam de modo eficaz por serem de fácil
entendimento do paciente e de baixo custo [2,3,9,11,14,15,18-20].
Através deste estudo
evidenciou-se vasto campo de métodos fisioterapêuticos eficazes para a
reabilitação após AVC. Desta forma, os estudos apresentaram-se com amplas
informações sobre a abordagem em sequelas deste evento sendo estas motoras,
sensoriais, pulmonares, comportamentais e de qualidade de vida.
O estudo oferece de
forma objetiva e construtiva a evolução dos tratamentos fisioterapêuticos,
sendo eles de forma isolada ou combinados contanto que respeitem o limite do
paciente e priorizando seu bem-estar e máxima aderência ao tratamento.