ARTIGO ORIGINAL
Correlação entre pressão plantar e força muscular
respiratória
Correlation
between plantar pressure and respiratory muscle strength
Ana
Carolina Ansaloni *, Patricia
Luciene da Costa Teixeira, M.Sc.**
*Graduada pelo Curso de Fisioterapia do Centro
Universitário de Barra Mansa/RJ, **Docente do Curso de Fisioterapia do Centro
Universitário de Barra Mansa/RJ
Recebido
em 4 de outubro de 2018; aceito em 5 de setembro de 2019.
Correspondência: Patricia
Luciene da Costa Teixeira, Curso de Fisioterapia, Centro Universitário de Barra
Mansa (UBM), Rua Ver. Pinho de Carvalho, 267, 27330-550 Barra Mansa RJ
Patricia
Luciene da Costa Teixeira: palufelix@gmail.com
Ana
Carolina Ansaloni: carol.ansaloni@hotmail.com
Resumo
Existem
evidências de que alterações posturais possam influenciar no funcionamento da
caixa torácica. Além disso, para uma respiração adequada, é necessária boa
postura e equilíbrio muscular. O objetivo do presente estudo foi verificar se
existe correlação entre a pressão plantar e a força muscular respiratória,
visto que ambas sofrem interferência das alterações posturais. Foram avaliados
30 funcionários de uma instituição de Ensino Superior do Médio Paraíba, com
idade média de 43,43 ± 13,29 anos, subdivididos em 2 grupos: Grupo experimental
(I) e Grupo Controle (II). O grupo I foi submetido a 30 sessões de treinamento
muscular respiratório; e ao final da intervenção, ambos os grupos foram
reavaliados. Os resultados mostraram que algumas pressões plantares sofreram
interferência significativa, com p < 0,05 da força muscular respiratória (PImáx e PEmáx), após o protocolo
de exercício, confirmando nossa hipótese sobre a possível associação entre a
força muscular respiratória e a pressão plantar, pela correlação positiva
apresentada por algumas variáveis avaliadas.
Palavras-chave: sistema respiratório,
pressão expiratória máxima, pressão inspiratória máxima, postura e equilíbrio.
Abstract
There
are evidences that postural alteration may influence the functioning of the
thoracic cage. However, proper breathing requires good posture and muscle
balance. The present study aim was to verify whether there is correlation
between a plantar pressure and respiratory muscle strength, as both suffer
interference of the postural alterations. We evaluated 30 employees from an a higher Education Institution with the average age
between 43,43 ± 13,29 years subdivided into two groups: Experimental group (I)
and Control group (II). Group I underwent 30 sessions of respiratory muscle
training and at the end of the intervention both groups were reevaluated. The
results showed that some plantar pressures undergo significant interference with
p < 0.05 in respiratory muscle strength (PEmáx e PEmáx) after exercise protocol confirming our hypothesis
about the possible association between respiratory muscle strength and plantar
pressure by the positive correlation presented by some variables evaluated.
Key-words: respiratory
system, maximum expiratory pressure, maximum inspiratory pressure, posture and
balance.
Segundo
Lianza [1], déficits posturais são caracterizados
pelo conjunto de alterações relacionadas com a formação e equilíbrio do sistema
locomotor, podendo acarretar em hábitos inadequados, que podem gerar um aumento
da tensão nas estruturas de sustentação [2].
O
pé é um dos componentes mais importantes, quando se trata da sustentação do
corpo humano, especialmente para o complexo postural. Podemos caracterizá-lo
como suporte final desse complexo, e o intermédio de junção com o solo; dessa
forma, ele tem que se adaptar às avarias advindas do meio interno e externo
[3].
A
respiração constitui o equilíbrio do corpo mediante as forças internas e
externas [4]. Sendo assim, a capacidade respiratória ideal depende de boa
postura e equilíbrio muscular adequado e qualquer alteração no equilíbrio pode
gerar fraqueza levando a alterações nos volumes e pressões que podem ser
obtidas e mantidas [5]. Ademais, déficits na posição corporal e na força
atuante da gravidade levam a mudanças no sistema respiratório em diferentes
intensidades, podendo estar associadas a inúmeras patologias [6].
A
baropodometria computadorizada é um dos métodos
utilizados para análise da pisada, a qual possui o intuito de avaliar a
distribuição do peso ou pressão, como também análise postural. Essa ferramenta
é precisa, quando se relaciona com a triagem adequada ao tratamento, tanto para
avaliação da pisada quanto para avaliação postural [7,8]. Já a manovacuometria é utilizada para mensuração da força dos
músculos respiratórios [9,10]. A mensuração dessas forças é dada por um teste
simples e rápido, que é avaliado por duas medidas: pressão inspiratória máxima
(PImáx), na qual verifica-se o quantitativo de força
da musculatura inspiratória, e pressão expiratória máxima (PEmáx),
em que se verifica o quantitativo de força da musculatura expiratória,
avaliando respectivamente a maior pressão gerada durante uma inspiração e
expiração máxima, contra uma via aérea que encontra-se ocluída [10,11].
Existem
evidências de que inúmeros fatores podem influenciar no funcionamento da caixa
torácica, entre eles as alterações posturais [12,13]. A capacidade respiratória
ideal depende de uma postura e equilíbrio muscular bom [5].
Almeida
et al. [14] mostraram a existência de
correlação entre as variáveis de postura e força muscular respiratória, onde os
músculos respiratórios exercem grande influência no processo de estabilização
corporal. Por outro lado, Melvin et al.
[15] comprovaram que discrepâncias na estrutura do pé evidenciam associações
com déficits de funcionalidade, quando relacionadas às posturas estáticas ou
dinâmicas da pisada.
Apesar
de vários estudos já terem mostrado a influência da postura sobre a respiração
do indivíduo, ainda não foi descrito na literatura nacional se existe
associação entre a pressão plantar e a força muscular respiratória ou vice-versa.
Assim sendo, delineamos o presente estudo, com o objetivo de verificar se
existe correlação entre a pressão plantar e a força muscular respiratória, uma
vez que ambas sofrem interferência das alterações posturais.
Estudo
transversal de natureza quantitativa. A amostra de conveniência foi constituída
por 30 funcionários de uma instituição de ensino superior do Médio Paraíba, com
faixa etária entre 18 e 70 anos, de ambos os gêneros, que concordaram em
assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), após a aprovação
do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário de Barra Mansa, sob o
protocolo n° CAAE: 59697416.1.0000.5236.
Critérios
de exclusão: indivíduos dependentes de aparelhos auxiliares da locomoção, e/ou
com déficit de equilíbrio estático; com deformidades osteoarticulares;
úlceras plantares; amputação total ou parcial dos pés; diagnóstico prévio de
doença neurológica que afetassem o equilíbrio; com doença pulmonar conhecida;
diminuição da parte cognitiva, da acuidade visual e/ou auditiva;
pós-operatórios nos últimos 12 meses; instabilidade hemodinâmica detectada
previamente à avaliação; que não assinaram o TCLE.
Inicialmente,
foi realizada uma anamnese, com o preenchimento de um questionário constituído
de perguntas abertas e fechadas, relacionadas a dados demográficos e
socioeconômicos. Após este procedimento, foi realizada a avaliação
antropométrica e avaliação postural, a qual foi constituída por avaliação da
cabeça, tronco, coluna, pelve, joelhos e pés. Dando continuidade ao protocolo,
foram realizadas avaliações através da baropodometria
e manovacuometria, descritas a seguir, e os dados
exportados para uma planilha de Excel, para posterior análise.
A
manovacuometria foi realizada por meio do manovacuômetro, equipamento que gradua a funcionalidade e
força dos músculos respiratórios [9] através das pressões inspiratórias máximas
(PImáx) e pressões expiratórias máximas (PEmáx), valores graduados em cmH2O. A PImáx
é mensurada a partir do Volume Residual (VR), ou seja, uma inspiração máxima a
partir de uma expiração máxima, enquanto a PEmáx é
mensurada a partir da Capacidade Pulmonar Total (CPT), após o indivíduo
realizar uma inspiração máxima [11]. Para a análise dos dados, foi registrado o
valor mais alto.
O
sistema de baropodometria computadorizada consiste em
mensurar as pressões exercidas na face plantar dos pés, em vários pontos
anatômicos, mostrando medidas exatas, permitindo uma avaliação concreta via
sensores pressóricos [16]. A avaliação por meio do baropodômetro
proporciona dados quantitativos, em relação às pressões que são exercidas na
face plantar [17]. O aparelho foi calibrado com tempo de tomada de 06 segundos,
para a execução dos procedimentos, os quais foram repetidos por 2 vezes em
diferentes momentos: antes e após treinamento muscular respiratório.
Para
fazer o teste acima mencionado, utilizamos Baropodômetro
Arkipélago – Footwork,
equipamento composto por uma plataforma sensível a pressão, com sensores de
alta concepção e tecnologia, que reconhecem as informações do apoio plantar
conservando a mobilidade natural. As aquisições das imagens são precisas,
instantâneas, reproduzíveis e não invasivas [18]. O aparelho foi conectado a um
computador, utilizando um software para a visualização de imagens coloridas e
dados estatísticos, medidos em superfície por cm2 e carga em %.
A
pesquisa ocorreu em três momentos diferentes: no primeiro momento, os
voluntários assinaram o TCLE, e foram submetidos à coleta de dados de forma individualizada
e em local reservado; no segundo momento, todos os indivíduos que aceitaram
participar do estudo, foram avaliados pelo sistema de baropodometria
computadorizada, manovacuometria e avaliação
postural; após a avaliação, os indivíduos da amostra de conveniência foram
alocados por meio de sorteio, em dois grupos de 15 indivíduos. Grupo I (grupo
experimental) e Grupo II (grupo controle). Os voluntários do Grupo I foram
submetidos a 30 sessões de fisioterapia respiratória em grupo. Após o término das
sessões, os mesmos foram reavaliados através do sistema de baropodometria
computadorizada, manovacuometria e avaliação
postural. Já os voluntários do Grupo II foram avaliados através da baropodometria computadorizada, manovacuometria
e avaliação postural, mas não foram submetidos ao treinamento muscular
respiratório. Ao final do tratamento do Grupo I, os voluntários pertencentes
aos dois grupos foram reavaliados.
A
avaliação por meio do baropodômetro proporciona dados
quantitativos, em relação às pressões que são exercidas na face plantar [17].
Os dados foram coletados na posição bipodálica, com o
indivíduo sobre a plataforma e os braços no prolongamento do corpo. Para esta
avaliação, o participante permaneceu descalço e foi instruído a executar o teste
com os olhos abertos. Em todos os casos, o aparelho foi calibrado com tempo de
tomada de 06 segundos para a execução dos procedimentos.
Com
o indivíduo na posição sentada, tronco em ângulo de 90º e os pés apoiados no
chão, o mesmo foi orientado a segurar com uma das mãos o manovacuômetro,
para avaliação da funcionalidade e força dos músculos respiratórios [9]. Foi
solicitado que o participante envolvesse todo o lábio no bocal, utilizando um
clipe nasal para vedar as narinas, para que as pressões respiratórias máximas
fossem determinadas. Para determinação da PImáx, foi
solicitada uma inspiração máxima a partir de uma expiração máxima, enquanto
para determinação da PEmáx, foi solicitada a
realização de uma expiração máxima [11]. Para a análise dos dados, o valor mais
alto atingido dentre as 3 medidas foi registrado.
Como
intervenção fisioterapêutica, os indivíduos passaram por 30 sessões de
fisioterapia respiratória em grupo. Estas sessões foram compostas por três
exercícios respiratórios de fácil execução, descritos a seguir, incluindo duas
técnicas de manobras reexpansivas, para aumento do
volume pulmonar [19], melhora da mobilidade da caixa torácica e do diafragma
[20], a fim de que a musculatura se alongasse anteriormente ao experimento, para
que a resposta reflexa fosse mais intensa [21]; e estímulo proprioceptivo
diafragmático para aumento da força muscular respiratória [22].
A
primeira técnica ocorreu com os indivíduos em posição sentada no tatame com o
tronco em ângulo de 90º, pés apoiados no chão e membros superiores estendidos
ao longo do corpo. Durante a inspiração, os membros superiores foram elevados
lateralmente em amplitude articular total de abdução dos ombros com cotovelos
estendidos inclinando o tronco lateralmente e, na expiração os membros
superiores e o tronco voltavam à posição de partida. Na segunda técnica reexpansiva, os indivíduos permaneceram na mesma posição
anterior, porém os membros superiores foram elevados anteriormente no momento
da inspiração, com amplitude total de movimento da flexão anterior dos ombros
inclinando levemente o tronco para trás, na expiração retornava à posição de
partida. A terceira técnica para estímulo proprioceptivo diafragmático foi
realizada com os indivíduos em decúbito dorsal num colchonete, membros
superiores ao longo do corpo, em semiflexão de
coxofemoral e joelhos, os indivíduos foram instruídos a posicionar uma das mãos
na região média do reto abdominal fazendo uma leve pressão e a outra mão sobre
a região do esterno, foi realizada uma inspiração lenta pelo nariz, para que
fosse possível sentir a mão que estava sobre a região abdominal se elevar
gradativamente. Essa técnica possui o intuito de estimular o diafragma por meio
da propriocepção, favorecendo o padrão ventilatório diafragmático [23].
Os
dados das características clínicas foram expressos por média ± desvio padrão
(DP), para variáveis contínuas e valores absolutos (n), ou percentuais (%), para variáveis categóricas. O software
utilizado para as análises estatísticas e preparação das figuras foi o GraphPadPrism
(versão 5, Califórnia - EUA). Foi utilizado o Teste t pareado, para comparação
dos momentos pré e pós-intervenção e Mann-Whitney
para comparação entre os grupos. A correlação entre as variáveis foi
verificada, com o teste de correlação de Pearson e o nível de significância
adotado foi de 5%.
Foram
selecionados inicialmente 30 indivíduos, dos quais 4 foram excluídos do Grupo
I, em função de desistência durante a intervenção. Assim sendo, apenas 26
voluntários realizaram o estudo em sua totalidade.
Para
comparação entre os dados de variáveis da força muscular respiratória, PImáx, PEmáx e baropodometria observadas nos momentos pré
e pós-intervenção, observamos que houve significância estatística com valor de
P < 0,05, nas pressões avaliadas pela manovacuometria,
como também na pressão média do pé direito e esquerdo, e pressão média da
máxima do pé direito avaliadas pela baropodometria.
Foram
observados ganhos significativos da PImáx e da PEmáx (Fig.1), bem como nas pressões médias do PD (pé
direito) e PE (pé esquerdo), e na pressão média da máxima do PD (Fig.2), após
intervenção fisioterapêutica.
A
= PImáx nos momentos pré e
pós-intervenção. B = PEmáx nos momentos pré e pós-intervenção mostrando valores estatisticamente
significativos *P < 0,05 e **P < 0,01. Fonte: Dados do estudo.
Figura 1 - Distribuição representativa das variáveis estudadas pela manovacuometria.
A
= pressão média do PD; B = pressão média do PE; C = pressão média da máxima do
PD, mostrando valores estatisticamente significativos; *P < 0,05; **P <
0,01. Fonte: Dados do estudo.
Figura 2 - Distribuição representativa dos dados avaliados pela baropodometria, nos momentos pré
e pós-intervenção.
Nossa
hipótese sobre a associação entre a força muscular respiratória e a pressão
plantar pode ser evidenciada pela correlação positiva apresentada por algumas
variáveis avaliadas.
Nos
dados correlacionados à força muscular expiratória máxima, os que apresentaram
correlação significativa foram: superfície do pé direito no momento pré-intervenção (Fig.3), correlação positiva regular r =
0,57, r2 = 0,35, p = 0,01; pressão média máxima do pé esquerdo
pós-intervenção (Fig. 4) mostrou correlação positiva forte r = 0,65, r2
= 0,42, p = 0,02 [24].
Quanto
aos dados correlacionados à força muscular inspiratória máxima, a pressão média
do pé esquerdo pós-intervenção (Fig.5) apresentou uma correlação forte r =
0,64, r2 = 0,42, p = 0,03; já a pressão média da máxima do pé
direito pós-intervenção (Fig.6), apresentou uma forte correlação com r = 0,73,
r2 = 0,53, p = 0,01.
Os
resultados obtidos também evidenciaram uma forte correlação entre a pressão
plantar e a PI máxima, quando somamos pressões médias máximas do pé direito e
esquerdo pós-intervenção (Fig.7), sendo estas respectivamente r = 0,77, r2
= 0,59, p = 0,003. Esta hipótese pode ser confirmada, quando reavaliamos o
grupo controle, composto por voluntários que não sofreram nenhum tipo de
intervenção. Nesta reavaliação não foi encontrada correlação significativa,
ressaltando a importância da intervenção fisioterapêutica, no que tange a força
muscular respiratória e a pressão plantar.
Fonte:
Dados do estudo.
Figura 3 - A associação positiva entre a PEmáx (força
muscular expiratória máxima) pré e a superfície % do
PD (pé direito) pré-intervenção.
Fonte:
Dados do estudo.
Figura 4 - Correlação forte entre a PEmáx (força
muscular expiratória máxima) pré e a pressão média da
máxima do PE (pé esquerdo) pós-intervenção.
Fonte:
Dados do estudo.
Figura 5 - Correlação forte entre a PImáx (força
muscular inspiratória máxima) e a pressão média do PE (pé esquerdo)
pós-intervenção.
Fonte:
Dados do estudo.
Figura 6 - Correlação forte entre a PImáx (força
muscular inspiratória máxima) e a pressão média da máxima do PD (pé direito)
pós-intervenção.
Fonte:
Dados do estudo.
Figura 7 - Correlação forte entre a PImáx (pressão
inspiratória máxima) e a soma das pressões média da máxima do PD (pé direito) e
PE (pé esquerdo) pós-intervenção.
Da
coleta e avaliação dos resultados, identificamos dois voluntários que não
apresentaram alterações nas pressões inspiratórias pós-intervenção. A primeira
voluntária, do gênero feminino, com 56 anos, baixo peso e tabagista; o segundo
voluntário, do gênero masculino, com 46 anos, apresentando sobrepeso; ambos
sedentários, com moderado risco para doença cardiovascular (DCV) (♀ R:
C/Q: 80 cm e ♂ R: C/Q 90 cm); ao exame postural, apresentaram hipercifose
torácica. A voluntária do gênero feminino,
também não apresentou alteração na
pressão expiratória pós-intervenção;
porém,
apresentou grande aumento em relação à
pressão média do pé esquerdo.
Quirino
et al. [25], ao realizarem um estudo
que relatou os efeitos de um protocolo de exercícios, baseados no método
Pilates, sobre as variáveis respiratórias, mostraram que os exercícios
respiratórios baseados nesse método, podem gerar um aumento significativo tanto
na PImáx quanto na PEmáx.
Já
um voluntário do gênero masculino, 21 anos, tabagista e etilista, eutrófico e moderado risco para DCV, em seu exame postural,
apresentou ombros deprimidos e hiperlordose lombar; não apresentou alterações
na pressão expiratória, bem como na pressão média do pé direito
pós-intervenção.
Alguns
estudos demonstraram diferenças nas características musculoesqueléticas entre
tabagistas e não tabagistas, como, por exemplo, a porcentagem e o diâmetro das
fibras musculares tipo I, que se encontram em menores quantidades, como também
a capacidade oxidativa dos músculos esqueléticos, tendo como característica o
decréscimo da atividade enzimática mitocondrial [26]. Apesar desses achados,
Freitas et al. [27] disseram ainda
não haver clareza na literatura, se a influência do tabagismo realmente
interfere na musculatura respiratória.
Um voluntário do gênero masculino, 24 anos,
tabagista, etilista, sedentário com obesidade grau I e alto risco DCV, nos
chamou bastante a atenção, uma vez que apresentou diminuição na PImáx, e na pressão média do pé esquerdo pós-intervenção.
Harik-Khan et al. [28] relataram que o peso tem
efeito positivo sobre a PImáx, devido a sua relação
com o comprimento dos diferentes grupos musculares em isometria, afetando assim
a massa muscular diafragmática. Alterações progressivas ocorrem na função
pulmonar, advindo do acréscimo de gordura corporal que reveste a cavidade
torácica, tanto dentro quanto sobre a cavidade abdominal [29]. No entanto, a
alteração mais importante é a que acarreta a diminuição da capacidade residual
funcional (CRF), acredita-se que a obesidade reduza a CRF à medida que algumas
vias aéreas começam a fechar [30].
Schlederer et al. [31], ao realizarem um estudo mostrando a capacidade
cardiorrespiratória de indivíduos obesos, relataram que estes possuem
tendências a apresentarem diferenças nas pressões respiratórias máximas, bem
como um padrão respiratório apical, podendo estas alterações ocorrerem devido à
compressão extrínseca de tecido adiposo, localizada em maiores quantidades nas
regiões basais em relação às regiões apicais.
Por
outro lado, o voluntário que apresentou diminuição na pressão expiratória no
momento pós-intervenção apresentou aumento na pressão média do pé direito,
sendo este também do gênero masculino, 30 anos, etilista e ex-tabagista.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia [32], quanto
maior a intensidade do tabagismo (mesmo para aqueles indivíduos ex-tabágicos), maior a tendência ao comprometimento da
função pulmonar, podendo acarretar em doenças obstrutivas que restringem o
fluxo expiratório. Em seu exame postural constatamos ombros deprimidos, tórax
assimétrico e hiperlordose lombar. Katz [33] conclui que a posição corporal influencia na fisiologia pulmonar bem como nos resultados
dos testes de função pulmonar. Em similaridade com este estudo, Milanesi [34] aponta que a ocorrência de hiperlordose
lombar está associada aos baixos níveis de atividade física, principalmente a
força de músculos que rodeiam a coluna, como os abdominais. Vale acrescentar
que este mesmo voluntário, apesar de sedentário apresentou peso normal, porém,
com risco moderado para DCV, detectado pela avaliação de seu IMC e RC/Q e CC,
que influenciam desfavoravelmente na mecânica respiratória e na postura do
indivíduo. Collins et al. [35], ao
comparar os volumes pulmonares com a RC/Q, mostraram que há uma diminuição na
capacidade pulmonar total, em indivíduos com a RC/Q elevada, ficando evidente
principalmente naqueles do gênero masculino.
Em
relação às pressões médias dos pés direito e esquerdo, um paciente do gênero
masculino, 55 anos, com sobrepeso e alto risco para DCV, também nos chamou a
atenção, pois apresentou aumento nas pressões de ambos os pés. Estudos relatam
que indivíduos acima do peso, apresentam maiores picos de pressão plantar,
quando comparados com indivíduos de peso normal; a influência do IMC em relação
à pressão plantar pode acarretar em consequências estruturais para os pés, bem
como para os membros inferiores, Hlavácek et al. [36], contradizendo o trabalho de
Filippin et al.
[37], que demonstraram que a massa corporal apresenta correlação baixa com a
pressão média, explicando pouco sobre as variações da pressão plantar, entre
indivíduos acima do peso, quando comparados com aqueles de peso normal.
Dois
outros voluntários do gênero masculino, por terem apresentado grande aumento na
pressão inspiratória no momento pós-intervenção, também mereceram destaque.
Apesar de serem de idades diferentes, ambos eram sedentários e apresentaram a
mesma alteração no exame postural, hipercifose
torácica, acarretando em leve flexão de tronco e assimetria de tórax. Um com 53
anos e eutrófico, porém com risco moderado para DCV,
e o outro com 68 anos e baixo peso. Cardoso et
al. [38] evidenciaram que podem ocorrer déficits de força muscular
respiratória, oriundos da diminuição de amplitude torácica, advindos da postura
em flexão de tronco, acarretando assim em uma limitação da elevação das
estruturas torácicas, bem como da expansibilidade pulmonar. Apesar desses
achados, vale destacar que o voluntário com baixo peso também apresentou
aumento na pressão expiratória pós-intervenção. Estes achados corroboram o que
há na literatura, mostrando que a fisioterapia respiratória tem sido cada vez
mais requisitada, para aprimorar o aumento das pressões respiratórias, uma vez
que são utilizadas técnicas capazes de proporcionar uma melhora na mecânica
respiratória, bem como na reexpansão pulmonar e no
auxílio para a higiene brônquica [39].
Analisando
conjuntamente os dados citados acima, podemos inferir que existe uma possível
associação entre a força muscular respiratória e algumas variáveis de pressão
plantar, avaliadas pela baropodometria. Além disto,
nossos resultados demonstraram que os exercícios de reexpansão
pulmonar, associados ao exercício diafragmático para aumento da força muscular
respiratória, parecem ter sido capazes de influenciar diretamente estas
variáveis. Entretanto, devemos considerar como limitação, o fato de termos
estudado uma amostra reduzida e bastante heterogênea, como também a carência de
publicações com o mesmo objetivo deste estudo, fazendo com que o caráter
exploratório deste também se tornasse outra potencial limitação. Contudo, os
estudos qualitativos envolvendo a utilização da baropodometria
são reduzidos quando comparados aos quantitativos. Assim sendo, seria
interessante que se fizessem futuros estudos sobre esta temática, com a
utilização de uma amostra mais robusta e homogênea, uma vez que há grande
divergência entre os dados secundários, os quais podem estar relacionados à
heterogeneidade da amostra estudada.