ARTIGO
ORIGINAL
Avaliação
da psicomotricidade em crianças com encefalopatia crônica não progressiva da
infância com uso da suit terapia (Pediasuit)
Psychomotor assessment in children with chronic and no progressive
childhood encephalopathy with use of suit therapy (Pediasuit)
Ellen Lima Xavier*,
Renan Alves da Silva Júnior, M.Sc.**,
Thaís Sttephane Alves Maia*, Luciana Maria de Morais
Martins Soares, D.Sc.***, Manuela Carla de Souza Lima
Daltro, D.Sc.****, Rodrigo Farias Herculano Mendes, M.Sc.*****
*Fisioterapeuta
graduada pelas Faculdades Integradas de Patos – FIP, Patos/PB, **Mestre, Clínica
de Reabilitação Infantil Espaço Fisiokids em Campina
Grande/PB, Professor das Faculdades Integradas de Patos – FIP, Patos/PB,
***Doutora, Professora do Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ, João
Pessoa/PB e das Faculdades Integradas de Patos – FIP, Patos/PB, ****Doutora, Professora
Faculdades Integradas de Patos – FIP, Patos/PB, *****Mestre, Professor das
Faculdades Integradas de Patos – FIP
Endereço
para correspondência:
Renan Alves da Silva Júnior, rua Leonisia
Martins Leite, 167, 58428-153 Campina Grande, PB, E-mail: renanasjr@hotmail.com
Resumo
Introdução:
A Encefalopatia
Crônica Não Progressiva da Infância (ECNPI) é
uma alteração neurológica crônica
e não progressiva, que ocorre com o cérebro em
maturação. O desenvolvimento neuropsicomotor de crianças com ECNPI é lento e
desordenado. O protocolo PediaSuit
é uma terapia intensiva utilizada para tratamento de indivíduos com alterações
neurológicas. Objetivo: Avaliar a
psicomotricidade em crianças com ECNPI com utilização da Suit
Terapia. Metodologia: Estudo do tipo
aplicado, descritivo de abordagem quantitativa, realizado em uma Clínica-Escola
de Fisioterapia em Patos/PB. Foram avaliadas 05 crianças, com idade entre 05 e
11 anos de ambos os gêneros. Como instrumento utilizou-se a Bateria
Psicomotora. Os dados foram tabulados e analisados no Microsoft Excel e SPSS
20. Resultados: O sujeito 1 (quadriparético) obteve perfil dispráxico nas duas primeiras avaliações, e na terceira, um
perfil normal. O sujeito 2 (quadriparético)
apresentou perfil normal em todas as avaliações. O participante 1 (diparético) alcançou perfil
normal nas primeiras avaliações, e bom na última. No participante 2 (diparético), observou-se perfil
dispráxico na primeira avaliação, e nas demais,
perfil normal. O sujeito 3 (diparético)
adquiriu perfil normal na primeira análise, e bom nas duas últimas avaliações. Conclusão: A Suit
Terapia contribui positivamente para a psicomotricidade de crianças com ECNPI.
Palavras-chave: ECNPI,
psicomotricidade, Suit Terapia.
Abstract
Introduction: Chronic Encephalopathy no Progressive Childhood (ECNPI) is a chronic
neurological disorder and not progressive, what happens to the brain
maturation. The psychomotor development of children with ECNPI is slow and
cluttered. The PediaSuit protocol is an intensive
therapy used for treatment of patients with neurological disorders. Objective: Evaluate the psychomotor
skills in children with use of ECNPI Suit Therapy. Methodology: Study of the type applied, descriptive quantitative
approach, performed in a Clinic-School of Physiotherapy, Patos/PB.
05 children were evaluated, aged between 05 and 11 years of both genders. As a tool used to Psychomotor Battery. The data were
tabulated and analyzed in Microsoft Excel and SPSS 20. Results: Subject 1 (quadriparético)
obtained profile dyspraxic in the first two
evaluations, and the third, a normal profile. Subject 2 (quadriparético)
showed normal profile in all evaluations. Participant 1 (diparético)
reached the normal profile in the first evaluations, and good at last.
Participant 2 (diparético), there was dyspraxic profile in the first evaluation, and in the
other, the normal profile. The subject 3 (diparético)
acquired the normal profile in the first analysis, and good in the last two
reviews. Conclusion: Suit Therapy
contributes positively to the psychomotor skills of children with ECNPI.
Key-words: ECNPI,
psychomotor, Suit Therapy.
Denomina-se Paralisia
Cerebral (PC) ou Encefalopatia Crônica Não Progressiva da Infância (ECNPI), a
condição clínica caracterizada por déficits predominantemente motores, com
variadas causas e prognósticos, que são totalmente dependentes da extensão da
lesão, e da área cerebral envolvida [1].
A lesão ocorre com o
cérebro ainda em processo de maturação e desenvolvimento no que diz respeito à
estrutura e funcionamento, e pode ser desencadeada em três períodos: no período
gestacional (pré-natal), durante o trabalho de parto (período perinatal) e após
o parto (período pós-natal). A ECNPI pode ser classificada de acordo com o
quadro clínico (atetóide, espástico,
atáxico ou misto), e de acordo com o comprometimento
motor (tetraplegia ou quadriplegia, monoplegia,
paraplegia ou diplegia e hemiplegia) [2,3]
O desenvolvimento neuropsicomotor de crianças que apresentam ECNPI é bem mais
lento e desordenado que em crianças que não apresentam nenhuma alteração neuromotora, o que não depende da inteligência da criança,
é consequência da lesão [4]. A psicomotricidade relaciona o pensamento e o
movimento, e surgiu em 1920 quando foi descrito por Dupré.
Através dela, a criança expressa sua afetividade sendo capaz de manter-se em
equilíbrio com o ambiente externo, portanto, a mesma se torna essencial para
qualquer criança, seja ela com desenvolvimento motor normal, ou alterado [5,6].
A mesma baseia-se em um bom desempenho no desenvolvimento motor e cognitivo,
observados nos elementos psicomotores, são eles: Coordenação motora,
lateralidade, equilíbrio, organização espaço-temporal, e esquema corporal [7].
O Protocolo PediaSuit caracteriza-se por ser
um método de reabilitação intensiva, onde utiliza-se vestes ortopédicas com a
finalidade de tratar crianças com ECNPI. Com o passar do tempo, foi ampliada a
área de atuação da terapia, incluindo: Síndrome de Down, atraso no
desenvolvimento cognitivo ou motor, déficits neurológicos ou ortopédicos,
transtornos vestibulares, entre outros [8].
Para o
desenvolvimento da terapia, faz-se necessário o uso da vestimenta ortopédica
(chapéu, colete, calção, joelheiras e sapatos adaptados) que auxiliam no
alinhamento corporal, bem como na organização do tônus, permitindo que a
criança se posicione da maneira mais próxima do adequado, através do auxílio de
elásticos que ligam os trajes [9].
Diante disso, esse
estudo visa mostrar os efeitos da Suit Terapia na psicomotricidade
dessas crianças, bem como, identificar quais elementos psicomotores se
apresentam mais comprometidos, e quais são mais facilitados com uso do macacão PediaSuit. Sobretudo, pretende-se
também aprimorar os conhecimentos dos profissionais da área acerca desta
intervenção, já que a mesma trata-se de algo novo na Fisioterapia.
Estudo do tipo
observacional, transversal e descritivo, com abordagem quantitativa, com três
análises distintas em um mesmo grupo. O mesmo foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa das Faculdades Integradas de Patos-FIP, (CAAE Nº
51266915.4.0000.5181). A execução foi de acordo com a resolução 466/12 do
Conselho Nacional de Saúde.
Participaram do
estudo cinco crianças, com diagnóstico clínico de Encefalopatia Crônica Não
Progressiva da Infância (ECNPI), com classificação topográfica de quadriparesia e diparesia, com
presença de marcha ou não, e com ou sem auxílio de aditamentos/órteses.
A pesquisa teve
início após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, pelos
pais ou responsáveis das crianças, onde continham explicações sobre o estudo e
suas finalidades.
Para a coleta dos
dados, foi utilizado como instrumento a Bateria Psicomotora (BPM), desenvolvida
por Vítor da Fonseca em 1995, para avaliar os elementos psicomotores dos
participantes da pesquisa. Os materiais necessários foram de fácil acesso, tais
como: colchonete, papel sulfite, telefone de brinquedo, palitos de fósforo,
lápis, tesoura sem ponta, bola de tênis, clipes, folha de papel quadrada, fita
métrica e goniômetro e cada avaliação durou cerca de 40-60 min.
Inicialmente foi
observado o aspecto tipológico de cada criança. Caracteriza-se como endomorfo, o tipo corporal com formato arredondado, que dá
aspecto de uma pêra (largo em baixo e mais estreito
em cima), já o ectomorfo é o que não apresenta muita
gordura e músculo, e mesomorfo o aspecto tipológico
musculoso, com abdome pequeno e ombros e peitos alargados. Estes, são considerados os tipos corporais básicos do ser humano
[10]. Realizou-se uma fase de preparação, com movimentos passivos das
articulações, e exercícios respiratórios. Logo após, foi deixado claro à mesma
como seriam realizados os conjuntos de testes, e foram posicionadas de forma
adequada, de acordo com o que seria realizado à
princípio. A partir daí, foi dado início à avaliação psicomotora sem a traje (Figura 1).
A avaliação baseou-se
na análise de todos os elementos psicomotores (tonicidade, equilíbrio,
lateralidade, noção corporal, organização espaço-temporal, praxia
global e praxia fina) e seus respectivos subelementos (extensibilidade, passividade, paratonia, diadococinesia, sincinesia, imobilidade, equilíbrio estático e dinâmico,
lateralidade ocular, auditiva, manual e pedal, sentido cinestésico,
reconhecimento direita/esquerda, auto-imagem,
imitação de gestos, desenho do corpo,
organização, estruturação rítmica,
estruturação dinâmica, representação
topográfica, coordenação óculo-manual,
óculo-pedal, dismetria, dissociação, agilidade,
coordenação dinâmica manual, tamborilar e velocidade-precisão). Após a primeira
avaliação, foi realizada uma nova, onde a criança utilizou a parte de cima da
veste terapêutica da marca PediaSuit
(colete e calção) e os mesmos testes foram realizados (Figura 2).
Em uma nova
oportunidade, a avaliação foi realizada com a criança trajada da completa
vestimenta terapêutica, onde constaram: colete, calção, joelheiras, e calçados
adaptados, interligados por uma variedade de bandas elásticas e anzóis (Figura
3). Ao final dos testes, foi identificado o perfil psicomotor de cada criança,
de acordo com a classificação do instrumento de avaliação da seguinte forma:
perfil deficitário (7 a 8 pontos), dispráxico (9 a
13), normal (14 a 21), bom (22 a 26) e superior (27 a 28).
A análise dos dados
foi através da estatística descritiva, onde identificou-se
a média das avaliações de cada sujeito da pesquisa. Os dados foram analisados e
tabulados no programa Statistical Package
of Social Sciences (SPSS
20) e Excel (2013)
Figura
1 – Análise da psicomotricidade sem uso do
macacão PediaSuit.
Figura
2 – Avaliação da psicomotricidade com uso
parcial do macacão PediaSuit.
Figura
3 – Análise da psicomotricidade com uso total do
macacão PediaSuit.
A análise dos
resultados foi realizada mediante a pontuação obtida por cada participante nas
três avaliações, de acordo com a classificação da Bateria Psicomotora. A
amostra do estudo apresentou-se com características biodemográficas
e clínicas heterogêneas. Com relação aos dados biodemográficos,
o sujeito 1 era do gênero masculino apresentando 11
anos de idade, já o sujeito 2 era do gênero feminino, com 06 anos. Os sujeitos 3 e 4 também eram do gênero feminino, sendo caracterizadas
respectivamente com 09 e 05 anos. Já o sujeito 5,
gênero masculino e com 09 anos de idade.
No que diz respeito
aos dados clínicos, todos os participantes envolvidos tinham diagnóstico
clínico de ECNPI do tipo espástico, e classificação topográfica variadas. Os sujeitos 1
e 2 enquadraram-se em quadriparesia e os demais em diparesia. Com relação a
utilização de aditamentos/órteses, apenas o sujeito 5 não fazia uso, e os
sujeitos 1 e 2 não realizavam deambulação. Observou-se pouca diversidade no que
se refere ao aspecto tipológico das crianças, sendo 20% (n=1) classificado como
endomorfo, e 80% (n=4) como ectomorfo.
Durante a fase de
observação, foi possível constatar que 60% das crianças (n=3) realizaram as
quatro inspirações e expirações completas, alcançando uma pontuação 3 (perfil eupráxico), 20% (n=1)
conquistou pontuação 2, realizando as quarto inspirações e expirações sem
controle e com fraca amplitude ou sinais de desatenção (perfil dispráxico), enquanto 20% da amostra (n=1) alcançou
pontuação máxima, realizando os quarto ciclos respiratórios corretamente e
controladamente (perfil hiperpráxico).
Observou-se que 80%
da amostra (n=4) manteve um bloqueio torácico entre 10 e 15 segundos,
resultando numa classificação 2, e 20% (n=1) um
bloqueio abaixo de 10 segundos, enquadrando-se na classificação 1. Conforme
critérios estabelecidos pela BPM, foi possível quantificar o desempenho das
crianças em todos os elementos psicomotores nos três momentos (Tabela I).
Dados da pesquisa,
2016.
A partir da avaliação
individual de cada elemento da psicomotricidade, realizou-se um somatório
total, que resultou no perfil psicomotor final de cada criança, nos três
momentos. O sujeito 1 (quadriparético)
considerado o de maior faixa etária da amostra, obteve um perfil dispráxico nas duas primeiras avaliações, já na terceira,
trajado da completa vestimenta terapêutica, apresentou-se com perfil psicomotor
normal, apesar do nível de comprometimento motor da criança.
Ao analisar os
resultados adquiridos pelo sujeito 2 (quadriparético), constatou-se que o mesmo apresentou perfil
normal em todas as avaliações realizadas. Já o participante 1
(diparético), alcançou perfil psicomotor normal nas
duas primeiras análises, evoluindo para perfil bom no terceiro momento,
apresentando um dos resultados mais significativos da pesquisa.
Com relação ao
participante 2 (diparético),
identificou-se um perfil dispráxico na primeira
avaliação, e nas duas últimas, uma significativa evolução para perfil normal,
com particularidades já descritas anteriormente. E, identificado como o mais
funcional do estudo, o sujeito 3 (diparético)
apresentou-se com perfil psicomotor normal na primeira análise, progredindo
para perfil bom nas duas últimas avaliações. Ao término da organização de
dados, constatou-se que nenhum dos participantes obteve perfil psicomotor
deficitário ou superior.
Observou-se através
dos resultados, que 100% da amostra possuíam a mesma classificação quanto ao
tônus (espástico), corroborando com Leite e Prado
[11] que ao realizarem uma revisão sistemática acerca dos aspectos
fisioterapêuticos e clínicos da Paralisia Cerebral, constataram que este é o
tipo mais comum, frequente em 88% dos casos de ECNPI.
Levando em
consideração que foram realizadas três avaliações, as crianças se comportaram
de forma diferenciada na segunda e terceira avaliações, comparando com a
primeira. Os elementos psicomotores tonicidade, equilíbrio e praxia global se mostraram com baixos escores na primeira
avaliação. Em uma pesquisa realizada por Gorlla et al. [12] onde avaliou-se a
psicomotricidade utilizando a Bateria Psicomotora em nove sujeitos com
Paralisia Cerebral, um sujeito que apresentava tanto as habilidades motoras
gerais, como as específicas ruins, com falta de equilíbrio, lateralidade,
domínio de força, com dificuldade de marcha e base de sustentação larga,
apresentou escore 2 (realização com dificuldade de controle) nos elementos
equilíbrio, praxia global e lateralidade.
No mesmo estudo foi
identificado que o maior déficit foi encontrado na praxia
fina, divergindo com a presente pesquisa, onde os menores escores foram obtidos
pelas crianças quadriparéticas, no elemento
psicomotor equilíbrio.
Evoluções
significativas foram evidentes, com o uso do macacão PediaSuit, estas informações corroboram com o estudo
realizado por Neves et al. [13] os
quais realizaram um estudo de caso em uma criança diplégica,
utilizando o protocolo PediaSuit, que mostrou
melhoras na função motora, composição corporal e amplitude de movimento de
tornozelo no paciente com diplegia espástica.
A praxia
global foi um elemento que destacou evoluções significativas com uso do
macacão, tanto nas crianças quadriparéticas, quanto
nas diparéticas, visto que as mesmas ao serem
posicionadas com a veste, ganharam um melhor tônus e postura, facilitando as
atividades que envolvem função motora grossa. Estes achados estão de acordo com
o estudo desenvolvido por Oliveira et al. [14] onde
avaliou-se o controle de tronco de crianças com Paralisia Cerebral, utilizando
esta terapia. A mesma foi capaz de promover melhoras na função motora de tronco
das crianças envolvidas no estudo.
Concluiu-se que as
crianças com Encefalopatia Crônica Não Progressiva da Infância apresentam
perfis psicomotores variados, e foi possível identificar que os elementos
psicomotores mais comprometidos nessas crianças são tonicidade, equilíbrio, praxia global e fina, e os mais facilitados pelo uso do
macacão PediaSuit foram
tonicidade, equilíbrio e praxia global.
Mediante os dados obtidos, percebeu-se que a Suit
Terapia (PediaSuit) é capaz
de proporcionar a estas crianças, evoluções significativas no que diz respeito
às habilidades psicomotoras.