ARTIGO ORIGINAL
Terapia
combinada de fotoativos com a LED terapia em manchas hipercrômicas
de queimaduras
Combined photoactive therapy with LED therapy in hyperchromic
spots of burns
Lana Mara Dantas da Silva*,
Rubia Karine Diniz Dutra**
*Discente
do Curso de Fisioterapia das Faculdades Integradas de Patos – FIP, **Mestra e Docente
do Curso de Fisioterapia das Faculdades Integradas de Patos – FIP
Endereço
de correspondência:
Lana Mara Dantas da Silva, La São Francisco, S/N, Zona Rural, 58884-000 Catolé do
Rocha PB, E-mail: lana.mara20@hotmail.com
Resumo
Introdução: As queimaduras são entendidas
como uma ação direta ou indireta no nosso organismo, e o processo inflamatório gerado
por essa lesão podem gerar hipercromias. Os diodos emissores
de luz (LEDs) associados a fotoativos, surgem como uma técnica inovadora para esse problema. Objetivos: Identificar os efeitos da terapia
combinada de fotoativos associado aos LEDs na redução
de hipercromias. Material
e métodos: A pesquisa trata-se de um estudo de caso, do tipo exploratório e
experimental com abordagem qualiquantitativa. A amostra
foi constituída de um homem portador de hipercromia advinda
de queimadura. O tratamento foi realizado em 15 sessões, sendo 5
semanais, com duração de 30 minutos. Foram tiradas fotos
antes
e após a 15ª sessão. Ao final da última
sessão foi aplicado um questionário de
satisfação
quanto ao tratamento. Resultados: O questionário
de satisfação mostrou que o paciente notou mudança na aparência das hipercromias partindo de insatisfeito, com escore 1, para pouco satisfeito pontuando com 3 no final da intervenção,
e a comparação fotográfica mostrou efeitos pouco significativos na atenuação das
hipercromias. Conclusão:
A terapia combinada apresentou efeitos positivos, porém pouco significativos, para
a redução das hipercromias, esse fato pode ter ocorrido
devido a quantidade insuficiente de sessões.
Palavras-chave: queimaduras, hiperpigmentação, fototerapia.
Abstract
Introduction: Burns are understood as a direct or indirect action in our body, and the
inflammatory process generated by this injury can generate hyperchromias.
Light emitting diodes (LEDs) associated with photoactive appear as an innovative
technique for this problem. Objectives:
To identify the effects of combined photoactive therapy associated with LEDs in
reducing hyperchromias. Material and methods: The research is a case study, exploratory and
experimental type with a qualitative approach. The sample consisted of a man with
hyperchromia from burning. The treatment was performed
in 15 sessions, of which 5 were weekly, lasting 30 minutes. Photos were taken before
and after the 15th session. At the end of the last session, a satisfaction questionnaire
was applied. Results: The satisfaction
questionnaire showed that the patient noticed a change in the appearance of the
hyperchromias from unsatisfied, with a score of 1, to
a poor satisfaction score with 3 at the end of the intervention, and the photographic
comparison showed little effect on the attenuation of hyperchromias.
Conclusion: Combination therapy had positive
but not significant effects on the reduction of hyperchromias,
which may have occurred due to insufficient number of sessions.
Key-words: burns, hyperpigmentation,
phototherapy.
As queimaduras são entendidas
como traumas, de diversas origens, sobre os tecidos orgânicos, e dependendo do seu
grau de acometimento, podem afetar desde estruturas superficiais a segmentos mais
profundos. O grau de extensão da lesão é dada pela regra
do nove de Walace, que ao somar os seguimentos corporais
tem-se a porcentagem da área queimada [1].
Após a perca do tecido
cutâneo e\ou adjacentes, se iniciará o processo de reparo das estruturas lesionadas,
onde há inicialmente uma seleção dos tecidos viáveis ainda presentes na região afetada,
e posteriormente ocorrerá uma cascata de processos vasculares e celulares com migração
de leucócitos, macrófagos, fibroblastos dentre outros, culminando ao final do processo,
a presença de uma camada de colágeno, no qual proporciona uma
certa flexibilidade a cicatriz [2].
Pigmentações anormais
e escurecidas após algum episódio de queimadura podem enquadrar-se como hipercromias pós-inflamatórias [3] isso ocorre por que os mediadores
inflamatórios da lesão são capazes de estimular a ativação dos melanócitos [4].
A melanina produzida em
excesso é fagocitada pelos macrófagos e transportada para
a derme, até ser degradada, isso faz com que o pigmento persista na derme por um
bom tempo após a lesão, apesar dele proporcionar certa
proteção contra os raios ultravioletas, essa estimulação exacerbada da melanogênese pode levar a um descontrole na produção de melanoma,
ocasionando as hipercromias [5].
Os diodos emissores de
luz (LED’s) surgem como uma inovação em tratamentos no
âmbito da fisioterapia dermatofuncional, seus semicondutores
convertem energia elétrica em feixes luminosos incoerentes e incapazes de danificar
os tecidos [6,7]. Sua irradiância é absorvida por difusão
mediante receptores presentes na pele, como a melanina e os aminoácidos, levando
à uma bioestimulação tecidual,
fazendo com que as mitocôndrias produzam mais energia, estimulando a síntese de
colágeno e eslastina [8,9].
Dentre os vários comprimentos
de ondas de LED’s, o espectro na luz vermelha apresenta
uma das maiores penetrações tissulares, cerca de 2 a 3mm,
com isso as possibilidades de tratamentos tornam-se mais amplas, pois proporciona
inibição das prostaglandinas e cicloxigenase, auxilia
na cicatrização de feridas, dentre outros [10,11].
Atualmente há no mercado
cosmecêutico substâncias
denominadas fotoativas capazes
de potencializar a luz do LED para obter o máximo de
aproveitamento benéfico de
sua luz e essa utilização em conjunto é denominada
terapia fotodinâmica. Após a
exposição à luz, irá ocorrer uma
transferência de energia para as moléculas de
oxigênio
gerando um processo citotóxico que pode levar apoptose ou morte
de células selecionadas
de acordo com o objetivo do tratamento e fotossensibilizante utilizado
[12].
Então, mediante aos fatos
expostos, a utilização da terapia fotodinâmica pode servir como uma possibilidade
terapêutica na amenização de manchas decorrentes de queimaduras.
Este estudo tem por objetivo
identificar os efeitos da terapia combinada de fotoativos associado aos LEDs na redução de manchas hipercrômicas
decorrentes de queimadura no tórax e na região infraumbilical
do abdome, e essa terapia poderá interferir positivamente na vida dos indivíduos
acometidos, proporcionando satisfação não somente no âmbito estético, como também
no psicológico.
Foi realizado um estudo
de caso, do tipo exploratório e descritivo, utilizando-se do processo dedutivo para
correlação de achados e inferência de discussões. Para isto o método adotado foi
o quantitativo. Está aprovado no comitê de ética da instituição sob o protocolo
de número 1.915.980. Todos os procedimentos foram realizados em uma Clínica Escola
de Fisioterapia das Faculdades Integradas de Patos (FIP), em uma cidade situada
no interior da Paraíba, no qual todos os custos foram de responsabilidade da pesquisadora.
A amostra foi constituída
por critérios de acessibilidade, onde o mesmo deveria apresentar como critérios
de inclusão, manchas hipercrômicas provenientes de queimaduras,
pele íntegra e assinatura do TCLE. Já nos critérios de exclusão deveria constar
ausência de irritabilidade ao fotoativo utilizado, bem como histórico de câncer
de pele ou uso de outro algum cosmecêutico durante a pesquisa.
O paciente apresenta diversas manchas pelo corpo, porém foi escolhida a região infraumbilical do abdome, por apresentar um aspecto mais escurecido
que as demais.
O procedimento iniciou-se
com o paciente deitado em uma maca, decúbito dorsal, em seguida, para permitir uma
maior permeabilização do fotoativo, foi feita a higienização
da pele utilizando o sabonete glico-ativo da ADCOS, em
movimentos circulares, com auxílio de algodão perdurando 6 minutos, logo após foi
aplicada uma fina camada do fluido fotopermeável CLARILED
(ácido mandélico + hexylresorcinol) da Bel Col e posteriormente foi feito
o posicionamento dos LED’s, marca AVS – modelo HF – 052,
que emite luz vermelha (630 nm ou 660 nm), permanecendo por 20 minutos, sendo 10 minutos em cada quadrante
(direito e esquerdo) da região infra umbilical do abdome. Ao final do procedimento,
após ser retirado o excesso do produto com algodão umedecido (2 minutos), foi feita
a aplicação de protetor solar da ADCOS fator 40 (2 minutos).
Foi realizado um protocolo
com 15 sessões ao todo, sendo cinco aplicações semanais, somando no total três semanas. Cada sessão teve 30 minutos de duração.
Para uma melhor avaliação
dos resultados, foi aplicado um questionário de satisfação do paciente quanto as
suas manchas, variando de muito satisfeito a insatisfeito, incluindo também um escore
de 0 a 10, onde: 0-2 = péssimo; 3-4 = ruim; 5-6 = regular; 7-8 = bom e 9-10 = excelente.
Posteriormente foi feita a captura de imagens fotográficas utilizando-se a câmera
Sony Cyber-Shot 7.2 mega pixel.
As imagens foram obtidas antes do início do tratamento e também ao final das 15
sessões, sendo reaplicado o questionário de satisfação.
Na avaliação, o sujeito
da pesquisa apresentava 24 anos de idade, gênero masculino, pele branca, manchas
hipercrômicas, cicatrizes hipertróficas e queloides, relatou
que teve 3º grau de queimadura (em alguns locais do corpo sem necessidade de enxertia),
com 73% do corpo queimado aos 4 anos de idade, e atualmente
com 34%, tendo o álcool como agente, declarou também que não havia feito qualquer
tratamento anterior para nenhuma das afecções citadas acima.
Objetivando expor os resultados
obtidos com o tratamento, foi aplicado um questionário com o grau de satisfação
do paciente antes e após o tratamento representado no quadro 1.
Quadro 1 - Grau de satisfação das hipercromias
*0-2 = péssimo; 3-4 = ruim;
5-6 = regular; 7-8 = bom e 9-10 = excelente.
Foram também capturadas
fotos antes e após a intervenção, onde na imagem A, observa-se a presença de cicatrizes
hipercrômicas predominantes na região infra umbilical. Logo ao lado é exibida a imagem B, representando
o final do tratamento.
O questionário satisfação
das hipercromias
apresentou inicialmente uma alta insatisfação,
e o paciente pontuou como “1” (péssimo), antes do
procedimento. Já após a intervenção
o mesmo se declarou “pouco satisfeito” e pontuou com
“3” (ruim), indicando assim
que, de acordo com sua percepção, houve mudanças
na aparência das hipercromias, porém pouco significativas.
Figura 1
– Pré tratamento (A) e pós tratamento (B)
Mediante a comparação
fotográfica do antes e depois na presente pesquisa, podemos observar que não houve
alterações significativas na aparência das hipercromias,
sendo portanto diferente quanto ao resultado da pesquisa
realizada com células in vitro e in vivo, onde afirmou que após a aplicação do LED
de 660 nm houve uma redução significativa dos teores de
melanina, por diminuição de sua síntese, mostrando eficácia do LED em casos de hiperpigmentação [13]. Em concordância com a afirmação anterior,
[14] discorre que a hipercromia é melhor
tratada inibindo a atividade dos melanócitos e a síntese
de melanina, no entanto utilizando uma terapia combinada que remova a melanina por
destruição de seus grânulos.
Atualmente há um vasto
número de fotoativos para serem usados na terapia fotodinâmica, dificultando assim
a escolha do produto mais adequado para determinada doença ou afecção [12], porém,
demonstrou-se que quando utilizado o produto apropriado, a ação fotodinâmica localizada
desencadeia uma morte celular focalizada nas áreas irradiadas, de maneira mais fácil
[15], mediante necrose, se houver maior acúmulo de fotossensibilizante na membrana
plasmática, ou através de apoptose, se essa concentração for mais proeminente nas
mitocôndrias [16].
Esse
processo ocorre após
exposição ao feixe luminoso, a partir daí
haverá a ativação da molécula de
fotossensibilizante,
passando para um estado excitado chamado singleto, que pode retornar ao
estado de
repouso ou evoluir para o tripleto [17,18]. Quando esse tripleto entra
em contato
com o oxigênio, haverá uma transferência de energia,
dando origem a um agente altamente
reativo, o oxigênio singleto, que reagirá imediatamente
com as estruturas que formam
as membranas das células, dos núcleos e das
mitocôndrias, destruindo-as, culminando
assim na morte celular [9].
Um estudo revela que a
melanina é um fotossensibilizante natural e um de seus constituintes, a pomomelanina, tem capacidade de produzir oxigênio singleto de
forma contínua ao ser exposta a luz visível [19]. Após outros estudos, os mesmos
pesquisadores concluíram que, quanto maior o teor de melanina, maior será a geração
de oxigênio singleto, resultando assim em um aumento da fototoxicidade
após serem submetidas a uma irradiação visível [20].
Apesar de inúmeros estudos
em TFD, ainda há uma escassez relacionada as mudanças funcionais
das células quando induzidas à fotooxidação e aos alvos
biológicos mais importantes desse processo, dificultando assim encontrar um método
efetivo para alcançar a morte celular [18].
Apesar de diversas pesquisas
apontarem efeitos benéficos para a utilização da terapia combinada na redução de
hiperpigmentações, os resultados obtidos com o presente
estudo não foram de encontro com tais hipóteses, esse fato pode ser justificado
pela melanina ser capaz de exercer funções distintas, sendo protetora contra a luz
visível tornando-se mais resistente, como poder absorve-la,
e gerar um processo citotóxico em seu interior, culminando em sua morte celular.
Mas, por se tratar de
pesquisas aplicadas maioritariamente em cultura de células, devem-se realizar mais
estudos, utilizando um maior número de indivíduos, para obter resultados mais representativos.