ARTIGO
ORIGINAL
Avaliação
das habilidades funcionais e independência de crianças com distúrbios neuromotores: estudo preliminar
Evaluation of functional skills and independence of children with neuromotor disorders: preliminary study
Edna Karla Ferreira
Laurentino*, Renan Alves da Silva Junior**
*Discente do Curso de
Fisioterapia nas Faculdades Integradas de Patos – FIP, Patos/PB, **Mestre e
Professor do Curso de Fisioterapia das Faculdades Integradas de Patos – FIP,
Patos/PB
Endereço
para correspondência:
Renan Alves da Silva Júnior, Rua Leonizia M Leite
167, 58428-153 Campina Grande PB, E-mail: renanasjr@hotmail.com; Edna Karla Ferreira
Laurentino: ednakarlaferreira@hotmail.com
Resumo
O desenvolvimento
motor atípico acomete a criança na aquisição e refinamento de habilidades motoras
e cognitivas, podendo leva-las a necessidade de uma maior atenção e conduta
especifica. Objetivos: Avaliar as
habilidades funcionais e independências de crianças com distúrbios neuromotores. Métodos:
Trata-se de um estudo aplicado, transversal e descritivo, realizado com
pacientes do setor de pediatria de uma Clínica Escola, dentre eles foram
avaliadas 9 crianças. Foi utilizado o instrumento WeeFIM, atribuídos os escores de
acordo com os dados obtidos com os cuidadores, associada a observação durante a
avaliação do paciente realizando tarefas designadas. Resultados: Há variantes e heterogeneidade de funcionalidade entre
as crianças com distúrbios neuromotores, com
diferentes níveis de comprometimento da função nos domínios da WeeFIM. Foi observado que existe
ligação entre a variedade de escores e as idades das crianças, as diferentes
patologias envolvidas e seus níveis, além do uso de dispositivos auxiliares ou
não. Ainda foi verificado que habilidades motoras e cada domínio da escala
estão ligados diretamente, influenciando no desenvolvimento neuropsicomotor
da criança. Conclusão: Com tais
informações, é possível reconhecer as necessidades neuromusculares de cada
indivíduo e traçar o plano terapêutico mais eficiente para a criança.
Palavras-chave: avaliação,
habilidades motoras, crianças, distúrbios neuromotores.
Abstract
The atypical motor development affects the child in the acquisition and
refinement of motor and cognitive abilities which may lead to greater attention
and specific conduct. Objectives: To
evaluate the functional abilities and independence of children with neuromotor disorders. Methods:
This is an applied study, transversal and descriptive, performed with patients
of the pediatrics sector of a School Clinic, among them were evaluated 9
children. WeeFIM instrument was used, assigning the
scores according to the data obtained with the caregivers, associated with
observation during the evaluation of the patient performing assigned tasks. Results: There are variants and
heterogeneity of functionality among children with neuromotor,
disturbances with different levels of impairment of function in the WeeFIM domains. We observed a connection between the
variety of scores and the ages of the children, the different pathologies involved
and their levels, besides the use of auxiliary devices or not. We also verified
that motor skills and each domain of the scale are directly linked, influencing
the neuropsychomotor development of the child. Conclusion: with such information, it is
possible to recognize the neuromuscular needs of each individual and to draw up
the most effective therapeutic plan for children.
Key-words: evaluation,
motor skills, children, neuromotor disorders.
O ponto de partida de
todo desenvolvimento motor na criança é o aprimoramento motor, todo decurso do
desenvolvimento é caracterizado por mudanças complexas e interligadas as quais
desencadeiam todos os aspectos de crescimento e maturação dos sistemas do
organismo, sendo processos de alterações no comportamento motor, relacionado a idade, tanto na postura quanto no movimento da criança
[1,2,3].
A aquisição e
maturação das habilidades motoras ocorrem de maneira diferente para cada
indivíduo, sendo um processo particular, de grande variedade entre os
desempenhos na primeira infância, que deriva do desenvolvimento do Sistema
Nervoso Central (SNC), responsável pela capacidade de adquirir idiossincrasia
nas tarefas e oportunidades no estimulo ambiental [4,5].
O desenvolvimento motor
é caracterizado pelo ganho de uma grande variedade de movimentos, motivando a
aquisição de um amplo arbítrio dos elementos motores, como a motricidade global
e fina, organização corporal espaço-temporal, equilíbrio e coordenação e
lateralidade, para que possam ser usadas nas atividades de vida diária [6].
Muitos fatores podem
influenciar no desenvolvimento motor, pois o processo não acontece de forma
estática, podendo ser o produto de condições biológicas, ambientais, sócias e
genéticas, que podem interferir na obtenção das habilidades motoras e
funcionais da criança, dentre os fatores que podem influenciar negativamente o
desenvolvimento neuropsicomotor está o nível
socioeconômico da família e a escolaridade da mãe, aumentando o risco de
déficits no desenvolvimento do sujeito [7].
Assim, indivíduos com
desenvolvimento atípico ou que apresentam atraso no desenvolver neuropsicomotor precisam de uma maior atenção e conduta
especifica, já que as sequelas bem como de coordenação e controle da motricidade
podem se estender até a idade adulta [8].
Podendo esses
prejuízos motores estar comumente associados a danos secundários de graus
psicológicos e sociais, tais como isolamento, baixa autoestima, hiperatividade,
entre outras dificuldades de socializar que afetam o desempenho escolar da
criança [9].
A habilidade motora
une três categorias de movimento, são elas, a locomoção, a manipulação e o
equilíbrio. O estudo da aptidão motora se dar pela observação da mecânica
motora e a investida em compreender as causas de sua alteração. Sendo assim, a
avaliação ou pesquisa pode estar voltada ao aspecto patológico do sujeito, o
que deve ser relacionado ao seu desempenho motor e habilidades motoras a idade,
sexo ou classe social, além da patologia em si [7].
O comprometimento neuropsicomotor da criança pode acarretar déficits em
partes variadas do corpo, resultando nas classificações topográficas:
monoplegia, hemiplegia, paraplegia, triplegia, e quadriplegia. A classificação segundo as
alterações clinicas apresentadas pelo indivíduo dar-se pelo tipo de
tônus muscular e desordens de movimentos, que podem ser espástico,
discinético ou atetóide, atáxico,
hipotônico e misto [10]. O comprometimento também pode ser classificado pela
gravidade quando se dá pela Encefalopatia Crônica não Progressiva da Infância
(ECNPI) [11].
O desenvolvimento motor anormal não está
ligado somente à presença de distúrbios neuromotores
ou anatômicos. Sendo assim até indivíduos que não apresentam grandes sequelas
podem ter comprometimento em algum ramo do seu desenvolvimento neuropsicomotor, com danos mais frequentes á memoria, a
coordenação motora e a linguagem [12]
Muitos estudos na
área da saúde são realizados com base nos atrasos do desenvolvimento motor, o
que ressalta a importância da avaliação e identificação precoce das alterações
de comportamento motor. Através do diagnóstico precoce, se propicia a
intervenção ainda no primeiro ano de vida, se beneficiando da plasticidade
neural como fator de aprimoramento das aquisições motoras [13,14]. Entretanto,
tem sido um desafio para os profissionais da saúde e/ou pesquisadores [15,16].
O instrumento Pediatric Functional
Independence Measure (WeeFIM) é uma escala de ordem, que envolve atividades
de múltiplas áreas: autocuidado, mobilidade/transferências, controle de
esfíncteres, locomoção, comunicação e interação social. Sua versão para
adultos, traduzida e validada no Brasil como Medida de Independência Funcional
(MIF) é a avaliação mais utilizada em reabilitação no mundo todo, se aplicando
a uma gama de circunstancias de incapacidades [17,18]. Sendo a WeeFIM um instrumento a ser
considerado na avaliação das mesmas condições em crianças [19].
A conveniente
avaliação da funcionalidade nos primeiros anos de vida é de extrema relevância pois favorece o traçado de um quadro de estratégias
terapêuticas adequadas a cada paciente e suas incapacidades, com foco em suas
maiores necessidades, porém depende do uso de instrumentos como escalas, que,
de modo especifico, são escassos para a primeira infância, principalmente no
Brasil [15,20]. A escala WeeFIM,
embora muito utilizada no exterior, na avaliação e reabilitação em várias áreas
da saúde, no pais é pouco estudada e evidenciada [21].
Diante do que foi
exposto, o estudo teve como objetivo primário: avaliar as habilidades
funcionais e independências de crianças com distúrbios neuromotores.
Assim como, objetivos secundários: identificar alterações nas habilidades e
independências de crianças com distúrbios neuromotores;
comparar os escores obtidos, identificando as variantes e semelhanças dentre as
alterações em cada um dos distúrbios neuromotores e
compreender as variações obtidas nas avaliações de crianças que fazem uso de
algum dispositivo auxiliar.
Trata-se de um estudo
de natureza aplicada, classificado como transversal e descritivo de abordagem
quantitativa, que foi realizada em uma Clínica Escola de Fisioterapia,
localizada no sertão da Paraíba. Sendo o procedimento de coleta de dados
realizado entre os meses de agosto de 2017 e setembro de 2017.
Os participantes
foram pacientes atendidos no setor de pediatria da Clínica Escola de
Fisioterapia, entre as idades de 11 meses e 7 anos,
apresentando distúrbio neuromotor diagnosticado, os
quais os responsáveis aceitaram sua participação na pesquisa e assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido da pesquisa.
Com relação aos
instrumentos, foi utilizado uma Ficha de Avaliação desenvolvida especificamente
para este estudo pelos pesquisadores envolvidos e é composta de três partes:
identificação e dados pessoais do paciente; Data de nascimento; Idade; Sexo;
Naturalidade e Filiação (em sigla). A segunda parte tem o objetivo de coletar
os aspectos clínicos da patologia que o participante apresenta, como:
Diagnóstico (médico); Diagnóstico Funcional e o Uso de dispositivos auxiliares
(cadeira de rodas, órtese, prótese, andador, etc.). A terceira e última parte
da ficha é uma avaliação da funcionalidade do participante contendo cinco
níveis de atividades que o mesmo irá realizar no momento da aplicação do
instrumento, são elas: Ficar de pé; sentar; subir degraus; Correr e Pular.
Também foi utilizado
como instrumento a escala WeeFIM,
que é uma adaptação da Medida de
Independência Funcional (MIF) desenvolvida
para avaliação das capacidades e independências de
crianças, pouco evidenciada
no Brasil, apesar de muito aceita na literatura internacional. A sua
aplicação
foi realizada a partir de informações fornecidas pelo
próprio paciente,
cuidador ou familiar disponível, sobre um conjunto de 18 itens
que identifica o
desempenho funcional em três domínios: autocuidado
(alimentação, higiene,
banho, vestir parte superior e inferior do corpo, ir ao banheiro,
controlar a
bexiga), mobilidade (transferência, cadeira de rodas, caminhada,
escada) e
cognição (compreensão, expressão,
interação, memoria, comunicação). Cada item
é
avaliado com um escore, que tem uma variação de 1 a 7,
onde 1
e 2 indicam dependência completa, 3, 4 e 5 indicam independência modificada (dependência
moderada ou mínima, ou ainda supervisão na realização da atividade) e os
escores 6 e 7 indicam independência, onde 6 indica o uso de algum dispositivo
auxiliar na independência e 7 é a independência completa e sem auxílio. Cada
item contém o escore, a descrição da realização da atividade e o uso ou não de
algum dispositivo de auxílio. A pontuação máxima é 126 pontos, e quanto maior a
soma dos escores, menos funcional o participante é, e consequentemente, mais
dependente, assim como quanto menor for a soma, mais
independente esse participante é [22].
Em um primeiro
momento, foi apresentado o TCLE ao responsável pelo participante e feita a leitura acompanhado de uma breve explicação de como seria
realizada a pesquisa e os objetivos do estudo, bem como os benefícios
envolvidos. Logo após a assinatura permitindo que o participante faça parte da
amostra, foi realizada a aplicação da Ficha de Avaliação, com perguntas
direcionadas ao cuidador, e ao final, a avaliação da funcionalidade, onde foi solicitado
que o paciente realize as atividades com os braços para cima: “fique de pé, com
as mãos para o céu”, “ok, agora sente-se”, assim como
subir 3 degraus, correr de um lado ao outro da sala e pular sem sair do lugar.
Logo após foi aplicado o instrumento WeeFIM
através de perguntas relacionadas ao ambiente de casa e a realização das AVD’s associando a observação do participante reproduzindo
a atividade como ela seria realizada em casa, exemplo: “Você consegue escovar
os dentes? Sozinho? Sem ajuda de nada? Como consegue? Mostre-me” ou, no caso do
cuidador “Ele (a) consegue comer sozinho (a) à mesa? Quem prepara o pratinho?
Ele (a) precisa de algum instrumento que ajuda a segurar o talher, ou levar a
comida a boca? Você precisa ficar observando ele (a) comer? Como isso ocorre?
”. O escore é atribuído de acordo com a configuração de atividade mais próximo
a realidade do participante, como: 7 se ele realiza toda a atividade, sem ajuda
ou supervisão, 6 se ele necessita de algum dispositivo, porém realiza a atividade
completamente, 5 se precisar de uma supervisão ou apoio na realização da
tarefa, 5 se ele realiza pouco mais da metade da atividade, mais precisa de
ajuda para completar a ação, 4 se ele realiza metade da atividade completa e
precisa de ajuda na outra metade, 3 se ele realiza menos de 50% da tarefa, 2 se
ele realiza 25% ou menos e 1 se ele depende totalmente do cuidador para
realizar a atividade.
Após a coleta de
dados, os mesmos foram tabelados a fim de observar e colher
resultados de acordo com a coerência interna de cada item do instrumento,
comparando as pontuações obtidas na avaliação do pesquisar e os dados
apresentados na entrevista. Ao termino da coleta, com a amostra total,
será realizada a análise estatística com auxílio do software estatístico Statistical Package for the Social Science (SPSS Statistics
for Windows, Versão 22.0. Armonk, NY: IBM Corp. lançado em 2013).
Foram avaliados 9 participantes, que resultou em dados acerca da análise
descritiva dos escores da WeeFIM, de acordo com o
diagnóstico clínico e fisioterapêutico de cada um, assim como a idade e o uso
de dispositivos auxiliares, descrição e comparação das habilidades motoras
adquiridas por cada participante e seu respectivo escore da escala e médias dos
escores de cada domínio da escala WeeFIM distribuídos
de acordo com cada indivíduo da pesquisa (Tabela I).
Podemos observar que 4 (44,4%) dos participantes apresentaram escores mínimos
(18) que indicam dependência total, dentre eles diagnósticos de Síndrome de
Down e de West, Encefalocele associado a Microcefalia
e Encefalopatia Crônica não Progressiva da Infância, 2 (50%) delas são
distúrbios associados, um agravante ao prognóstico dos indivíduos acometidos
pela soma de déficits. Outras 3 (33,3%) crianças
apresentaram destaque em algumas modalidades da WeeFIM,
deixando seus escores um pouco acima do ponto de corte mínimo da escala, entre
elas, também, a Síndrome de Down, ECNPI e encefalocele
associado a Microcefalia. Apenas o participante 01 (11,1%), apresentando
Distrofia Muscular de Cintura obteve escore máximo na escala, indicando
independência total (Tabela I).
Tabela
I - Análise descritiva dos escores da WeeFIM, de acordo com o
diagnóstico Clínico e Fisioterapêutico de cada participante.
Fonte: Dados da
pesquisa
Verificou-se que há
diferença considerável entre a média dos escores de cada patologia, que nos
leva a discutir as relações entre o diagnóstico e seus níveis de
comprometimento, bem como a sua funcionalidade afetada, e as necessidades de
cada distúrbio de acordo com as modalidades afetadas na escala WeeFIM.
De acordo com a
idade, tido que 6 (66,6%) dos indivíduos apresentavam
idades entre 11 meses e 3 anos, de acordo com a avalição com a escala WeeFIM, esses obtiveram escores entre 18 e 43 pontos. Os
outros 3 (33,3%) dos participantes tinham idades entre
5 e 7 anos, obtendo escores de 18 a 126 pontos na escala (pontos de corte da
escala). Considerando os extremos de idades, temos o participante 04 (11 meses)
apresentando escore mínimo de 18 pontos na escala, enquanto o indivíduo 01 (7 anos) apresentou escore máximo de 126 pontos na WeeFIM (Tabela II).
Tabela
II –
Descrição dos dados da escala WeeFIM de acordo com a idade e o
uso de dispositivos auxiliares pelos participantes.
Fonte: Dados da
pesquisa
Quanto ao uso de
dispositivos auxiliares, verificou-se que o participante 01, não faz uso de
nenhum aparelho, o que pode se justificar, de acordo com sua alta pontuação da
escala WeeFIM, pela sua
independência total e consequentemente, irrelevância da utilização de tais
elementos. Pôde-se constatar que 33,3% dos indivíduos fazem uso de algum tipo
de dispositivo auxiliar incluindo cadeira de rodas e órteses, desses nenhum
apresentou escore mínimo (18) na escala de funcionalidade, indicando alguma
independência mesmo que modificada, os outros 66,6 % totalizando 6 indivíduos, não fazem uso de nenhum elemento de auxilio,
desses 4 (66%) apresentaram escore mínimo na WeeFIM,
o que representa dependência total (Tabela II).
Acerca das
habilidades motoras, em destaque: ficar de pé, se sentar, subir degraus, correr
e pular, constatou-se que 5 (55,5%) crianças não
realizam nenhuma dessas atividades, dessas 3 (60%) obtiveram escore mínimo na
escala WeeFIM, caracterizando dependência total, e 2
(40%) receberam entre 29 e 30 pontos. Apenas 1 (11,1%)
das crianças avaliadas realiza todas as atividades, essa obteve escore máximo
na escala (126) que se refere a independência total, somente 4 (44,4%) ficam de
pé e se sentam, 2 (22,2%) conseguem subir degraus, e 1 (11,1%) realizam o
correr e o pular (Tabela III).
Tabela
III –
Descrição e comparação das habilidades
motoras adquiridas por cada participante e seu respectivo escore da WeeFIM.
Fonte: Dados da
pesquisa
Com relação ao grau
de comprometimento funcional, sabe-se que pode-se
variar de acordo com a abrangência topográfica, a fisiologia dos tônus e o grau
de acometimento, se apresentando na pesquisa entre quadriparesia,
hipotonia e paraparesia de acordo com o que for mais explícito na avaliação
funcional, dessa forma, cerca de 5 (55,5%) crianças apresentaram quadriparesia, 3 (33,3%) hipotonia e 1 (11,1%) paraparesia.
Fonte: Dados da
pesquisa (2017)
Figura
1 - Participante 1
realizando comando "se sentar" da Ficha de avaliação.
Fonte: Dados da
pesquisa (2017)
Figura
2 - Participante 9
realizando comando "se sentar" da Ficha de avaliação.
O grau de
comprometimento, que pode ainda ser leve, moderado ou grave, implica
diretamente na independência do indivíduo, assim como a abrangência
topográfica, quando se expande aos quatro membros temos uma área maior de
comprometimento de função, visto no participante 09 (Figura 2) que apresenta quadriparesia, fato que não se aplica quando se trata de
paraparesia, observado no participante 01, afetando unicamente os membros
inferiores, em grau leve (Figura 1).
Deve-se considerar,
entretanto que a escala WeeFIM
dispõe de modalidades variadas de funcionalidade (Autocuidado, Transferência,
Controle de Esfíncteres, Locomoção, Comunicação e Cognição
social) abrangendo a independência motora e também as habilidades
comunicativa e expressiva da criança.
No geral, levando em
consideração apenas os aspectos que unem todos os indivíduos, obtendo-se um
grupo de crianças com distúrbios neuromotores, no que
diz respeito ao ganho e refinamento das capacidades motoras atribuídas a fase
da infância, destaca-se a grande deficiência na obtenção dessas habilidades
nesses indivíduos. Portanto, no que se refere as
modalidades que a escala WeeFIM apresenta, temos o
indivíduo 01 apresentando escore máximo (7) atingido em todas elas, que diz
respeito a independência completa e sem auxilio, já os participantes 02, 03 e
04 apresentaram escores mínimos (1) em todas as modalidades, o que indica
dependência completa (Figura 1).
As modalidades de
destaque positivo foram: locomoção, comunicação e cognição social, com pelo
menos 3 (33,3%) crianças apresentando escore acima de
1 nas modalidades supracitadas, já nas modalidades de destaque negativo,
apresentam-se: autocuidado, transferência e controle de esfíncteres, onde
nenhuma dessas tiveram mais de 1 (11,1%) criança ultrapassando o escore mínimo
(1) (Figura 3).
Fonte: Dados da
pesquisa (2017)
Figura
3 - Médias dos escores de cada domínio da escala
WeeFIM distribuídos de
acordo com cada participante da pesquisa.
Com relação a cada
modalidade da escala WeeFIM,
7 indivíduos (77,7%) não realizaram, seja parcialmente ou totalmente, as
atividades de autocuidado, 8 (88,8%) dos participantes são totalmente
dependentes quanto a transferência e controle de esfíncteres. No que diz
respeito a locomoção 3 (33,3%) dos indivíduos
obtiveram escore acima do mínimo (1), desses, 1 indivíduo é totalmente
independente, 1 obteve escore 6 na escala, que se refere ao uso de dispositivo
auxiliar, referindo uma independência modificada, e 1 necessita de ajuda máxima
(escore 2) nessa modalidade. Relacionado a comunicação
e cognição social, 4 (44,4%) participantes obtiveram escores acima do mínimo
(1) dentre eles o indivíduo 01 é independente, o 07 necessita de algum estimulo
para realizar comunicação, e ajuda mínima quanto a interação social, já os 08 e
09, ambos com diagnostico de ECNPI, patologia com predominância motora,
apresenta algum desempenho em se expressar, se comunicar e criar vinculo,
dentro de suas limitações (Figura 1).
que ocorre de maneira
linear durante a maturação e desenvolvimento do SNC no decorrer dos primeiros
anos, o que nos leva a idade como uma variável influente no ganho de
habilidades motoras e independência dos indivíduos, entretanto, tais aspectos
do desenvolvimento são influenciados por diversos outros fatores que podem se
sobrepor ao fator da idade. A respeito do ganho das habilidades motoras,
pode-se observar através de seus marcos (ficar de pé, se
sentar, subir degraus, correr e pular) comuns a infância, que são
fatores indispensáveis a funcionalidade e independência do indivíduo [20].
No tocante a
funcionalidade em crianças com síndrome de Down, visto que das duas crianças
presentes na pesquisa, uma com 11 meses apresentou escore mínimo na WeeFIM (18), enquanto a outra com
2 anos apresentou uma pontuação bem acima da mínima (43), com destaque para as
modalidades de comunicação e cognição social, o que se justifica pelo atraso
motor indicado pela idade e fase de desenvolvimento da criança, visto que na
fase de desenvolvimento motor essa criança vai apresentar melhor escore na
parte cognitiva, ainda não desenvolvida, pois o retardo da síndrome vai afetar
a parte motora, que pode ser revertida e desenvolvida na fase escolar ,o que
corrobora com Leonard et al. (2002) que mostraram em seu estudo que 89% das
crianças necessitam de ajuda para caminhada e transferência, em comparação com
64% e 35% que não necessitaram de ajuda nos domínios de autocuidado e cognição,
respectivamente, havendo a correlação entre os domínios e a idade, pois quanto
mais baixa, mais comprometimento para a caminhada e transferência de cadeira,
sugerindo que essas duas habilidades são totalmente desenvolvidas pela idade
escolar [21]. Porém, quando associada a Síndrome de
West, patologia caracterizada por crises de convulsão generalizada, que se
inicia entre 4 e 7 meses de idade e tem prognóstico reservado, apresenta
déficits adicionais, com complicações pelas lesões causadas pelos espasmos que
dificulta a aquisição de habilidades motoras [23].
Paralisia Cerebral,
em virtude de lesão no sistema nervoso central, apresentam grande impacto no
ganho motor e de habilidades das crianças, com perdas de capacidades essenciais
como andar, sentar e falar, que afetam a funcionalidade, como visto nos escores
atribuídos a essas crianças na pesquisa (18-30 pontos na WeeFIM), fato que corrobora com um estudo de Morais e
Viana (2012) que obtiveram resultados com pontuações abaixo de 100 na escala
PEDI, indicando funcionalidade abaixo do normal em 77,7% (7) das 9 crianças com
PC [24].
A utilização de
dispositivos auxiliares é uma variável peculiar a cada indivíduo, uma vez que
seu uso depende de vários fatores, tais qual: a necessidade do uso pela
criança, a conscientização dos cuidadores quanto a
importância dessa necessidade, a disponibilidade do acessório por terceiros, ou
ainda a condição socioeconômica da família. Por esse motivo, torna-se difícil a
descrição e comparação do uso aos resultados da avaliação da funcionalidade dos
participantes. Podemos verificar que, o uso de dispositivos auxiliares,
principalmente em crianças com Paralisia Cerebral teve impacto nos escores da WeeFIM, onde das 9 crianças
avaliadas, 3 (33,3%) fazem uso de dispositivos auxiliares (cadeira de rodas ou
órtese) e nenhuma delas apresentou escore mínimo (18) na escala. Em semelhança
a tal resultado, a pesquisa de Cury et al. [25] que
obteve como resultado que crianças portadoras de PC apresentaram melhor
desempenho nos aspectos qualitativos da marcha na condição com órtese,
comparada com a condição sem órtese, e a de Glumac et al. [26], no qual pais de
crianças com PC da República da Guatemala consideraram o uso do equipamento
como elemento crucial para a promoção da participação da criança na vida
familiar e comunitária, proporcionando-lhes maior liberdade e tempo para realização
de suas atividades.
A partir desse estudo
concluímos que há variantes e heterogeneidade de funcionalidade entre as
crianças com distúrbios neuromotores, com diferentes
níveis de comprometimento da função nos domínios de autocuidado, transferência,
controle de esfíncteres, mobilidade, comunicação e cognição social. Foi
observado que existe ligação entre as habilidades motoras, os domínios de
mobilidade, autocuidado e cognição social, onde uma habilidade é fundamental ao
bom funcionamento da outra, influenciando diretamente nas atividades de vida
diária, demonstrando o impacto no desenvolvimento neuropsicomotor
da criança.
Com tais informações,
é possível reconhecer as necessidades neuromusculares de cada indivíduo e
traçar o plano terapêutico, incluindo no planejamento uma intervenção mais
eficiente para a criança, desenvolvendo seus potenciais, e orientando os pais a
os estimular de acordo com suas peculiaridades, focando nas funções e
atividades do dia-a-dia, permitindo a melhora da sua qualidade de vida.
Referindo importância a avalição através da escala WeeFIM, que pode definir perfis de funcionalidade
para as crianças, demonstrando a necessidade de ser traduzida e adaptada ao
pais, uma vez que já é utilizada e evidenciada com sucesso internacionalmente,
além de alimentar as literaturas e automaticamente facilitar o estudo acerca de
várias patologias e suas consequências.
Portanto, a pesquisa
apesar dos dados preliminares, teve resultados quanto a
avaliação das habilidades motoras e independências de crianças com distúrbios neuromotores, destacando variantes de tais habilidades e
funcionalidades nos participantes da pesquisa de acordo com idade, diagnostico
clinico e fisioterapêutico e uso de dispositivos auxiliares, sendo maior o
comprometimento motor ou cognitivo em alguns indivíduos de acordo com cada uma
das variante, e que o conhecimento acerca dos níveis funcionais da criança são
relevantes a avaliação dos profissionais envolvidos em sua terapêutica, o que
facilitaria no traçar dos objetivos e condutas de acordo com as maiores
necessidades do indivíduo, levando em consideração suas limitações e
dependências.