ARTIGO
ORIGINAL
Estresse
em agentes de trânsito de um município paraibano
Stress in traffic agents at a city of Paraiba state, Brazil
Thyago de Sousa Botelho*, Hênio Ramalho Batista**, Manuela Carla de Souza Lima Daltro***
*Fisioterapeuta,
Mestrando em ciências da saúde pela FCMSCSP, **Tecnólogo em Segurança do
trabalho pelo Instituto Federal da Paraíba-IFPB, ***Fisioterapeuta, Doutora em
ciências da Saúde pela FCMSCSP e professora do Departamento de Fisioterapia das
Faculdades Integradas de Patos
Endereço
para correspondência:
Manuela Carla de Souza Lima Daltro, Rua Misael de Sousa, 991Jardim
Guanabara Patos PB, E-Mail: manucacarla@hotmail.com; Thyago
de Sousa Botelho: thyagofisioterapia@gmail.com; Hênio
Ramalho Batista: heniorb@hotmail.com
Resumo
Os agentes de
trânsito estão comumente expostos a situações de agressões verbais e físicas.
Esta pesquisa teve como objetivo avaliar a ocorrência de estresse em agentes de
trânsito de um município Paraibano. O presente estudo trata-se de pesquisa de
campo, de natureza aplicada, de abordagem quantitativa e com objetivos
exploratórios. Contou com uma amostra de 23 sujeitos. A coleta de dados foi
através de uma entrevista e aplicação do Inventário de Sintomas de Stress para
adultos (LIPP-ISSL). Os resultados mostraram presença de estresse e sobrecarga
entre os agentes, sendo que alguns estressores têm afetado vários aspectos,
principalmente na sua qualidade de vida tanto profissional quanto pessoal. As
conclusões apontaram para a implementação de políticas
e práticas de gestão que visem a melhores condições de trabalho para a
categoria estudada.
Palavras-chave: agentes de
trânsito, qualidade de vida; estresse.
Abstract
Traffic agents are commonly exposed to situations of verbal and physical
aggression. The objective of this study was to evaluate the occurrence of
stress in traffic agents of a city of Paraiba state, Brazil. The present study
was a applied field research with a quantitative
approach and exploratory objectives. 23 agents participed. Data collection was through an interview and
application of the Stress Symptom Inventory for Adults (LIPP-ISSL). The results
showed presence of stress and overload work among the agents, and some
stressors have affected several aspects, mainly in their professional and
personal quality of life. The conclusions pointed to the implementation of policies
and management practices aimed at improving working conditions for the category
studied.
Key-words: traffic
agents, quality of life, stress.
De acordo com o
Código de Trânsito Brasileiro [1] o agente de trânsito é a o indivíduo que possui
as funções de: fiscalização, operação, policiamento ostensivo de trânsito ou
patrulhamento. Segundo orientação do Departamento Nacional de Trânsito
(Denatran), o número ideal de agentes de trânsito numa cidade deve ser
proporcional à frota de veículos, sendo em torno de um agente para cada mil
veículos. Na cidade pesquisada seriam necessários 43 agentes de trânsito, uma
vez que, até outubro de 2015, ela possuía 42.846 veículos [1], no entanto, a
cidade possui apenas 33 agentes.
São observadas principalmente
nos grandes centros, a presença de situações de agressões verbais e físicas
afetando a saúde mental dos agentes de trânsito. Outro conceito importante e
que pode ser fator gerador de estresse em agentes de trânsito é a sobrecarga
uma vez que pode afetar diversos domínios da sua vida pessoal e de seus
familiares e, muitas vezes, se manifesta por meio de estresse, medo e ansiedade
[2].
O estresse no
trabalho é um problema cada vez mais expressivo e global [3]. É crescente em
nível mundial em todos os países, organizações, profissões e entre empregados,
empregadores, famílias e sociedade em geral [4]. O estresse ocupacional
apresenta conflito negativo no funcionamento das organizações. Os custos
psicológicos, físicos e econômicos desse estresse já podem ser calculados e
diretamente inter-relacionados com os aspectos econômicos das próprias
organizações, ao ocasionar perda de produtividade, diminuição da qualidade dos
produtos e dos serviços prestados [5]. Além de colocar em risco a saúde dos membros
da organização, tem como outras consequências, por exemplo, o desempenho ruim,
baixo moral, alta rotatividade e absenteísmo [6].
Uma vez observada a circunstância da cidade investigada, em que o número de
agentes é inferior ao indicado pelo Denatran e os resultados das pesquisas que
mostram situações de agressão e violência em relação a esses agentes, a atual
pesquisa teve como objetivo: avaliar a ocorrência de estresse em agentes de
trânsito de um município paraibano.
O presente estudo
trata-se de pesquisa de campo, de natureza aplicada, de abordagem quantitativa
e com objetivos exploratórios. A pesquisa foi realizada na Superintendência de
Trânsito e Transportes Públicos (STTRANS), localizada em uma cidade do alto
sertão paraibano. A coleta de dados foi realizada durante o primeiro semestre
de 2016, após aprovação do trabalho pelo Comitê de Ética sob número1.479.925.
A cidade pesquisada conta com 33 agentes de trânsito. A amostra foi composta
por todos agentes que aceitarem participar da pesquisa, correspondendo a 23
agentes de trânsitos. Para serem inclusos na pesquisa, os indivíduos deveriam
ser agentes de trânsito da cidade pesquisada e assinar o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídos da pesquisa os agentes de trânsito
afastados ou aposentados e os que se negaram a responde o questionário.
Para a coleta de
dados foi utilizado o Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos (ISSL)
[7]. O inventário foi validado por Lipp e Guevara em
1994 e permite a identificação da presença de estresse, além da fase de
estresse em que a pessoa se encontra (alerta, resistência, quase exaustão ou
exaustão). O ISSL apresenta quadros que contêm sintomas físicos e psicológicos
de cada fase do estresse.
No ISSL, há instrução
sobre o questionário e o preenchimento dos dados de caracterização do sujeito,
como sexo, idade, local de trabalho, função exercida e escolaridade. O
inventário contém também um total de 53 questões fechadas, divididas em três
quadros, sobre os sintomas físicos (34 itens) e psicológicos (19 itens). No
total, o ISSL inclui 37 itens de natureza somática e 19 de psicológica, sendo
os sintomas muitas vezes repetidos, diferindo somente em sua intensidade e
seriedade. Ele é composto de três quadros que se referem às quatro fases do
estresse (alerta, resistência, quase exaustão e exaustão) sendo o quadro 2 utilizado para avaliar as fases 2 e 3 (resistência e quase
exaustão). Os sintomas listados são os típicos de cada fase. O quadro 1 corresponde à fase de alerta. Ele é composto de 12
sintomas físicos e três psicológicos, nos quais o respondente assinala F1 ou P1
para os sintomas físicos ou psicológicos que tenha vivenciado nas últimas 24
horas. O quadro 2 é dividido em duas partes mostrando
a divisão entre as fases de resistência e de quase exaustão. Este quadro é
composto de dez sintomas físicos e cinco psicológicos, em que o respondente
assinala com F2 e P2 os sintomas experienciados na
última semana. O quadro 3, que corresponde à fase de
exaustão, é composto de 12 sintomas físicos e 11 psicológicos, e o respondente
assinala com F3 ou P3 os sintomas experienciados no
último mês.
Em relação à correção
e avaliação do ISSL, para verificar se a pessoa apresenta sintomas
significativos de stress, deve-se verificar primeiramente o escore bruto total
das respostas P e F no quadro. Pode-se concluir que a pessoa tem stress se: a)
no quadro 1 a soma de P+F é maior do que 6, ou; b) se
P+F no quadro 2 é superior a 3, ou ainda; c) se P+F no quadro 3 é superior a 8.
Para verificar em que fase do stress a pessoa se encontra, deve-se procurar na
tabela de correção 1 os resultados brutos (somas de
P+F por quadro) para chegar as porcentagens correspondentes. A porcentagem mais
elevada indicará a fase do stress em que a pessoa se encontra. O quadro 2 oferece a divisão entre as fases de resistência e de
quase-exaustão. No quadro 2, porcentagens até 50,
inclusive (parte I), indicam que a pessoa se encontra na fase de resistência,
enquanto porcentagens superiores a 50 (parte II) indicam a fase de
quase-exaustão.
Os dados da
caracterização da amostra foram obtidos através de um formulário semi estruturado,
com questões objetivas direcionadas aos Agentes de Trânsito, tendo as seguintes
questões: Identificação, Idade, Sexo, Estado Civil, o Número de Filhos, Tempo
de Serviço como Agente de Trânsito, Carga horária semanal e perguntas diretas
relacionadas à atividade: (“Além de Agente de Trânsito exerce outro cargo na
STTRANS?”, Exerce Outra profissão?”, “Está satisfeito com seu trabalho?”, Você
já teve Algum Afastamento do trabalho por motivo de saúde?”) E aos hábitos (“Se
bebe, fuma e/ou realiza atividade física”).
Os dados foram
analisados, discutidos e armazenados em um programa editor de planilhas –
Microsoft Excel versão 2013. Para a análise estatística os resultados foram
obtidos com a ajuda do programa Software Statistical Packege for the Social Sciences (SPSS - versão 22.0) para Windows.
Foram incluídos no
estudo 23 agentes de trânsito que consecutivamente tiveram disponibilidade para
participar do estudo durante o período de coleta dos dados. A idade dos agentes
variou de 28 a 42 anos (média = 35 anos; desvio padrão = 4,18 anos), com tempo
de serviço variando de 3 a 12 anos (média = 8 anos; desvio padrão = 2,77 anos).
Tabela
I - Distribuição dos agentes de trânsito.
Os resultados obtidos
das fases do estresse através do inventário de Stress para adultos de Lipp-ISLL (Gráfico 1) mostra que
48% dos agentes de trânsito não apresentavam fase de estresse, 4% dos
entrevistados estavam numa fase de alerta, 44% apresentaram a fase de
Resistência, 4% dos participantes pode-se considerar que estão numa zona de
perigo apresentado uma fase de exaustão. Com isso mais de 50% dos agentes de
trânsito apontam para o estresse, o que torna o quadro bastante preocupante do
ponto de vista da Gestão de Pessoas e da Saúde Ocupacional.
Gráfico
1 - Resultado obtido das fases do estresse
através do inventário de Stress para adultos de Lipp-ISLL,
nos agentes de trânsito no ano de 2016.
A Tabela II descreve
os sintomas físicos e psíquicos nas últimas 24 horas, em que: 60,9% das pessoas
apresentavam tensão muscular, 30,4% tinham suadeira,
dificuldade de dormir e mudança de apetite 34,8% das pessoas declararam ter
vontade de iniciar projetos.
Tabela
II -
Sintomas físicos e psíquicos nas últimas
24 horas relatados pelos agentes de trânsitos.
Os sintomas físicos e
psíquicos na última semana (Tabela III) que mais foram relatados pelos agentes
de trânsito foram: desgaste físico (56,5%), problema de memória (39,1%),
nervosismo (34,8%), irritabilidade (30,4%) e cansaço constante (26,1%).
Quanto aos sintomas
físicos e psíquicos no último mês (tabela IV), verifica-se que os sintomas mais
citados pelos agentes de trânsito foram: insônia (34,8%), náusea (21,7%),
vontade de fugir (21,7%), cansaço excessivo (43,5%), irritabilidade sem causa e
perda de humor (30,4%).
Tabela
IV -
Sintomas físicos e psíquicos no último
mês relatado pelos agentes de trânsitos.
Ao decorrer das
últimas décadas, as mulheres vêm ocupando espaços sociais, profissionais,
culturais e políticos que tradicionalmente eram reservados apenas aos homens.
No entanto, as diferenças ainda são marcantes no universo profissional: há
assimetrias sistemáticas entre oportunidades e ganhos salariais de homens e
mulheres em cargos similares [8].
A satisfação no
trabalho é “um sentimento agradável que resulta da percepção de que nosso
trabalho realiza ou permite a realização de valores importantes relativos ao
próprio trabalho”. Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), os
riscos psicossociais no trabalho consistem, por um lado, na interação entre o
trabalho, seu ambiente, a satisfação no trabalho e as condições de sua
organização [9].
O contato direto com
o público, sem intermediários ou anteparos, acaba deixando os agentes
susceptíveis a agressões, sejam elas físicas ou morais. Nessas condições, os
agentes estão quase que inexoravelmente sozinhos, não têm a quem recorrer, a não
ser a outros munícipes [2].
Outro agravante
relatado pelos agentes é que, por vezes, eles devem retornar ao mesmo local
onde foram agredidos, o que aumenta a sensação de
vulnerabilidade. Isso ocorre independentemente do abalo diante da violência sofrida
e do medo de reencontrar o agressor [10].
Em relação dos
hábitos de vida dos agentes de trânsito, 52% praticavam atividade física, 39%
consumiam bebidas alcoólicas e 4% fumavam.
Os trabalhadores que
não costumam praticar exercícios físicos com frequência têm tendência a
apresentar um grau elevado de estresse [11].
Os estilos de vida
podem ser influenciados negativamente pelo stress, mas também podem, eles
próprios, ter influência na forma de com ele lidar devendo, sempre que
possível, optar-se por comportamentos saudáveis que trarão melhor bem-estar e
saúde. Na sociedade em que vivemos, é comum consumir-se em excesso. Os maus
hábitos alimentares podem conduzir a um aumento, por vezes excessivo, do
consumo de alimentos, de bebidas alcoólicas, tabaco e drogas que por si só já
são prejudiciais o que pode ainda agravar-se se associado à diminuição do
exercício físico.
O fato de 39% dos
respondentes afirmarem que faz ingestão de bebidas alcoólicas e 4% fuma é
preocupante. Pois o uso de tais substâncias é considerado de eminente risco
para a saúde física e metal desses Agentes de Trânsito.
Os resultados obtidos
das fases do estresse através do inventário de Stress para adultos de Lipp-ISLL apontam que mais de 50% dos agentes de trânsito apontam
para o estresse. Sendo que nas últimas 24 horas: 60,9% das pessoas apresentavam
tensão muscular, 30,4% tinham suadeira, dificuldade
de dormir e mudança de apetite 34,8% das pessoas declararam ter vontade de
iniciar projetos.
Na fase de alerta, a
pessoa precisa produzir uma força e uma energia maior, para fazer frente às
pressões que exigem dela um esforço maior ainda. Nesta fase, o estresse é
considerado positivo, uma vez que a produção e ação da adrenalina tornam o
indivíduo mais atento, mais forte e motivado, e preparado para a ação. Quando a
pessoa lida bem com o estresse, gerencia a fase de alerta eficientemente,
alternando entre estar em alerta e sair de alerta, ela alcança um estado
considerado de estresse ideal. Após a permanência em alerta é necessário
“oferecer” ao organismo um momento de reequilíbrio para que se recupere.
Os sintomas físicos e
psíquicos na última semana que mais foram relatados pelos agentes de trânsito
foram: desgaste físico (56,5%), problema de memória (39,1%), nervosismo
(34,8%), irritabilidade (30,4%) e cansaço constante (26,1%).
A fase de resistência
caracteriza-se pelo aumento na resistência acima do normal, pois o córtex das
suprarrenais acumula grande quantidade de grânulos de secreção hormonal, com
isso, o sangue fica mais diluído. Na resistência, há um grande desprendimento
de energia em busca do reequilíbrio, ocorre um desgaste generalizado, levando a
pessoa a dificuldades com a memória ou outras consequências. Nesta fase
observa-se uma queda acentuada na produtividade e o indivíduo se torna mais
vulnerável à ação de vírus e bactérias [12].
Quando o
acontecimento estressante demora por muito tempo, as consequências sobre o
organismo podem ser mais severas, induzindo ao desgaste progressivo e
esgotamento, comprometendo o desempenho da pessoa. Entender esses desconforto e
as queixas, como reações desse modo de viver, especialmente, dentro do
trabalho, é o primeiro passo para conhecer as necessidades como pessoa e os
limites entre capacitação, exigência de esforço físico-mental e de realização
[13].
Quanto aos sintomas
físicos e psíquicos no último mês, verifica-se que os sintomas mais citados
pelos agentes de trânsito foram: insônia (34,8%), náusea (21,7%), vontade de
fugir (21,7%), cansaço excessivo (43,5%), irritabilidade sem causa e perda de
humor (30,4%).
Foi identificada a
existência de um caso de fase de exaustão, que é considerada a fase patológica
do estresse. A fase de exaustão é aquela na qual um desequilíbrio muito grande
ocorre interiormente: a pessoa pode se deprimir, não conseguindo trabalhar.
Na fase de exaustão,
a exaustão psicológica e a física se manifestam, e, em alguns casos, pode
acontecer a morte. As doenças aparecem frequentemente
tanto em nível psicológico, em forma de depressão, ansiedade aguda, inabilidade
de tomar decisões, vontade de fugir de tudo, como também em nível físico, com
alterações orgânicas, hipertensão arterial essencial, úlcera gástrica,
psoríase, vitiligo e diabetes [14].
Os resultados mostram
que a categoria de agentes de trânsito está bastante vulnerável à presença de
estresse, mais de 50% da amostra pesquisada estão em alguma fase de estresse.
Esses resultados ratificam pesquisas anteriores que associam o estresse à ocupação
profissional e que identificam diferentes níveis de estresse em ocupações
diversas. A pesquisa também conclui que 44% dos agentes estão na fase de
resistência, o que indica que esses profissionais estão conseguindo lidar com
situações de dificuldade e conflito, embora os esforços deles sejam maiores
para continuar a manter um bom vínculo com a realidade externa. As conclusões
apontaram para a implementação de políticas e práticas
de gestão que visem a melhores condições de trabalho para a categoria estudada.