ARTIGO
ORIGINAL
Avaliação
da funcionalidade de pacientes com sequelas de acidente vascular cerebral por
meio da escala MIF
Evaluation of the functionality of patients with stroke sequel using the
MIF Scale
Lidiane dos Santos
Araújo*, Samara Campos de Assis**, Aucélia Cristina
Soares de Belchior***
*Discente
do curso de Fisioterapia das Faculdades Integradas de Patos (FIP), **Fisioterapeuta
especialista em saúde pública e docência do ensino superior, docente do curso
de Fisioterapia das faculdades Integradas de Patos (FIP), ***Fisioterapeuta
mestre e doutora em Bioquímica e Fisiologia pela Universidade federal de
Pernambuco (UFPE), especialista em Educação Inclusiva pela Faculdade São
Francisco da Paraíba (FASP), docente das Faculdades Integradas de Patos (FIP) e
Faculdade Santa Maria (FSM)
Endereço
para correspondência:
Aucélia Cristina Soares de Belchior, E-mail: crisbelchior@hotmail.com
Resumo
O Acidente Vascular
Cerebral (AVC) é definido por um conjunto de sinais e sintomas neurológicos,
com distúrbios focais, ou globais, da função cerebral com uma provável origem
vascular, que pode levar a morte, e possui uma duração maior que 24 horas. Objetivo: Avaliar a funcionalidade de
pacientes com sequela de AVC, em duas cidades no interior da Paraíba. Metodologia: Pesquisa do tipo descritiva
e quantitativa com uma amostra de 50 indivíduos, com idade acima de 18 anos,
com o diagnóstico clínico de AVC, realizada no período de
fevereiro de 2017. Utilizou-se um questionário sociodemográfico
com perguntas sobre idade, gênero, profissão e ocupação, tipo de AVC, hemicorpo afetado e realização de fisioterapia, e a medida
de independência funcional (MIF) para análise da funcionalidade desses
pacientes. Resultados: A maioria dos
indivíduos deste estudo possui faixa etária de 67 anos ou mais, do gênero
feminino e alfabetizado. São casados e possuem renda mensal familiar de um
salário mínimo. A maioria não soube informar o hemicorpo
acometido, porém informaram a etiologia do AVC. Conclusão: Verificou-se que a maioria dos indivíduos apresenta
independência moderada na realização de suas atividades diárias, não havendo
diferença significativa entre os indivíduos com sequela nos lados dominantes e
não dominantes.
Palavras-chave: acidente vascular
cerebral, déficit neurológico, incapacidade funcional.
Abstract
Stroke is defined by a set of neurological signs and symptoms with focal
or global disturbances of brain function with probable vascular origin that can
lead to death and lasts longer than 24 hours. Objective: To evaluate the functionality of patients with sequelae of stroke in two cities in the interior of Paraíba. Methods:
Descriptive and quantitative study with a sample of 50 individuals, aged over
18 years, with clinical diagnosis of stroke, performed in February 2017. A sociodemographic questionnaire was used with questions
about age, gender, occupation and type of stroke, affected body and physical
therapy, and functional independence measure (MIF) to analyze the functionality
of these patients. Results: The
majority of the individuals in this study are female, aged 67 or over. They are
married and have a monthly family income of a minimum salary. Most did not know
to report the affected body side, but they informed the etiology of the stroke.
Conclusion: We verified that the
majority of individuals presented moderate independence in performing their
daily activities, and there was no significant difference between individuals
with sequelae on the dominant and non-dominant sides.
Key-words: stroke,
neurological deficit, functional disability.
As doenças crônicas
não transmissíveis vêm liderando as principais causas de morte no mundo. Entre
as mais importantes doenças crônicas está o Acidente Vascular Cerebral (AVC),
que é uma das principais causas de internações e mortalidade no Brasil,
causando nos indivíduos acometidos algum tipo de sequela, seja ela parcial ou
completa [1].
Segundo os dados do
Ministério da Saúde, as doenças cerebrovasculares são responsáveis por 32% dos
óbitos. Atualmente, o Brasil vem sendo considerado um líder de causas de morte
por AVC. O mesmo atinge preferencialmente pessoas com idade avançada, período
da vida em que observam as maiores taxas de óbitos e sequelas [2]. Segundo
Pires [3] o AVC pode ocorrer em todas as idades, porém a incidência dobra a cada
década, após os 65 anos de idade, e os homens são os mais acometidos.
Conforme a
Organização Mundial de Saúde (OMS), 15 milhões de pessoas apresentam AVC por
ano, destas cinco milhões morrem em decorrência do
evento e grande parte dos sobreviventes apresenta sequelas físicas e/ou mentais
[1].
O AVC é definido como
uma síndrome neurológia com grande prevalência em adultos e idosos, sendo
também umas das maiores causas de mortalidade no mundo, e uma das principais
causas de internações [4]. Segundo o Ministério da saúde, refere-se a um rápido
desenvolvimento de sinais clínicos de distúrbios focais com a apresentação de
sintomas iguais ou superiores há 24 horas, consequentemente provocando
alterações nos planos cognitivo e sensório-motor [5].
Segundo Botelho [6] o
AVC se dá pelo extravasamento de sangue ou pela restrição do fluxo sanguíneo
dentro do vaso em determinada área do cérebro. Os sinais e sintomas dependem do
local da lesão, podendo ser encontrados vários tipos de acometimentos.
Existem dois tipos de
AVC, isquêmico, que é o mais comum, pois ocorre devido a
obstrução (trombose ou embolia) de uma artéria. E hemorrágico, que acontece
devido a uma ruptura de vasos sanguíneos cerebrais, sendo considerado
a doença vascular que mais acomete o sistema nervoso central [7].
Uma das sequelas mais
importantes do AVC é a dificuldade que os indivíduos possuem na realização dos
movimentos, que está relacionada com a diminuição da função cognitiva.
Dependendo do local, tamanho da lesão cerebrovascular e a
quantidade de fluxo sanguíneos e que vão determinar o grau de déficit
motor, desse modo a gravidade das sequelas desses indivíduos comprometem seu
nível de independência funcional nas atividades cotidianas, tais como
alimentar-se, tomar banho, vestir-se, deambular, deitar-se e levantar-se,
necessitando assim auxilio de outra pessoa para a realização das atividades de
vida diária (AVD’s) [8].
Cruz [1] complementa
dizendo que o AVC provoca alterações e deixa sequelas relacionadas a espasticidade, ao controle esfincteriano, aos cuidados
pessoais, à atividade profissional, à condução de veículos e às atividades de
lazer. Dessa forma o AVC pode comprometer a vida dos indivíduos de forma
intensa e global.
Para que se possa compreender
o impacto dessa doença, a fisioterapia e amplamente usada nesse processo de
reabilitação dos indivíduos acometidos por AVC, tendo como os principais
objetivos melhorar a mobilidade funcional, a forca muscular, o equilíbrio e a
qualidade de vida dos pacientes. Assim como, várias escalas que são utilizadas
para avaliar o comprometimento sensório-motor após um AVC [9]. Desta forma, os
instrumentos que avaliam a capacidade funcional desses indivíduos acometidos
são aqueles que medem através de itens de assistência do indivíduo em aspectos
quantitativos, fornecendo assim informações sobre a qualidade ou a melhora da
função do indivíduo [10].
Os indivíduos com AVC
são atingidos em múltiplos âmbitos da sua vida, encarando desafios para
adaptar-se a sua nova condição e muitas vezes de incapacidades permanentes.
Sendo assim, a maioria destes indivíduos apresentam
alguma limitação funcional imposta pela lesão. Diante disso, sabendo que o AVC
é uma doença altamente incapacitante e que deixa sequelas de ordem física, de
comunicação, funcionais, emocionais, entre outros, que interferem diretamente
nas atividades de vida diária e no convívio social deste pacientes, surgiu a
seguinte indagação: Como avaliar a funcionalidade de pacientes com sequelas de AVC?
O presente estudo tem
como objetivo primária avaliar funcionalidade de pacientes com sequelas de AVC
no interior da paraíba e como objetivo secundário
definir o perfil sócio demográfico de pacientes com sequelas de AVC; traçar o
perfil clínico destes pacientes; analisar o grau dependência funcional dos
referidos pacientes, usando a escala MIF e observar a prevalência do hemisfério
cerebral mais comprometido.
Diante do exposto o
presente estudo justifica sua importância, devido ao grande número de
indivíduos acometidos de disfunções cinético-funcionais pós
AVC, que acarretam transtornos cognitivos, motores e comportamentais,
pelo oneroso gasto com tratamentos destes pacientes e por limitar a
independência destes indivíduos, acometendo de certa forma não só eles, mas
também as pessoas de seu convívio, prejudicando assim, a qualidade de vida e a
independência desses indivíduos.
Trata-se de uma
pesquisa de campo com características descritivas, de caráter quantitativo e do
tipo observacional. Cuja pretensão foi avaliar a funcionalidade de pacientes
acometidos por acidente vascular cerebral (AVC) e suas disfunções associadas,
por meio de um questionário sociodemográfico e da
escala MIF.
A população para o
desenvolvimento da pesquisa foi composta por 50 pessoas residentes nas cidades
de São Mamede e Condado no interior da Paraíba, com diagnóstico clínico de AVC.
Amostragem foi do tipo não probabilístico, e a seleção dos participantes foi
feita por acessibilidade, sendo a amostra composta por 100% da população. A
pesquisa foi realizada no período de janeiro e fevereiro de 2017.
Como critérios de
inclusão da pesquisa, estiveram aptos a participar pessoas de ambos os gêneros,
portadores de sequelas neurológicas de AVC, com idade superior a 18 anos e que
não apresentassem alterações cognitivas que comprometesse a pesquisa, e que
concordaram em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram
exclusos da pesquisa, os indivíduos que tinham alguma patologia associada que
pudesse interferir com os resultados desta pesquisa.
Foi aplicado um
questionário sóciodemográfico contento perguntas
sobre idade, gênero, profissão e ocupação, tipo de AVC, hemicorpo
afetado e questionamento sobre realização de fisioterapia. Além do
questionário, foi utilizada a medida de independência funcional (MIF) para
análise da funcionalidade desses pacientes acometidos, pela pesquisadora na
população em questão.
Os dados obtidos
foram analisados no programa estatístico SPSS (Statistical Package
for the Social Sciences)
versão 22, para analisar as variáveis sóciasdemográficas,
também para a análise dos dados foram utilizados o recurso da estatística
descritiva (média, desvio padrão e percentual). Os
resultados foram apresentados em figuras e tabelas, através do programa
Microsoft Excel 2013 e discutidos usando a literatura pertinente ao tema da
pesquisa.
Este estudo foi
conduzido com base na Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e a
sua execução teve início somente após a aprovação pelo comitê de Ética em
pesquisa (CEP), com o parecer 1.866.122. Vale ressaltar que todos os sujeitos
envolvidos na pesquisa assinaram o TCLE, que foi impresso em duas vias: uma
para o paciente e outra para o pesquisador.
A tabela I traz a
distribuição sociodemográfica dos pacientes com
diagnóstico clínico de AVC, no qual participaram do estudo 50 indivíduos, sendo
27 (54%) do gênero feminino; a idade variou entre 39 a 88 anos, com predomínio
da faixa etária entre 69 a 78 anos (40%); o estado civil também é um grande
marcado no contexto desse estudo, no qual 56% eram casados. Quanto a raça, observou-se que a predominância foi da raça branca
com 48%. Ainda na tabela I, percebe-se no que diz respeito a
escolaridade (46%) dos pacientes não ultrapassaram o ensino fundamental. Com
relação à profissão que já foram exercidas por estes pacientes 38% eram agricultores(as) e 34% do lar.
Tabela
I – Distribuição sociodemográfico
de pacientes com sequelas de AVC, quanto a idade,
gênero, escolaridade, estado civil, raça e profissão.
Na tabela II,
observou-se uma predominância (84%) dos pacientes eram aposentados e percebe-se
também que a maioria dos entrevistados (72%) possui uma renda familiar até um
salário mínimo para manutenção de toda a família. Em relação as
condições de moradia, na pesquisa mostra que 60% tinham casa própria. Ainda na
tabela II, percebe-se que 52% dos indivíduos foram acometidos por AVC e
realizavam alguma atividade antes da doença e 82% dos pacientes realizavam uma
atividade laboral fora de casa na época desta pesquisa.
Tabela
II –
Distribuição sociodemográfico
de pacientes com sequelas de AVC, quanto a ocupação, renda familiar, condição
de moradia , Atividade antes da doença, pratica
atividade fora de casa.
Quanto ao tipo de AVC
verificou-se que 28% dos acometidos tiveram AVC do tipo isquêmico, como mostra
a tabela III. Quanto ao hemisfério cerebral acometido, percebe-se que houve uma
proporção de 50% lado direito e 50% lado esquerdo, não havendo diferenças de prevalência de lado acometido. No que diz
respeito a realização de fisioterapia, observa-se que
56% dos indivíduos realizaram tratamento fisioterápico depois que sofreram AVC.
Já nas sequelas imposta pelo AVC a maioria dos pacientes (50%) possuíam uma
incapacidade motora. Ainda na tabela III, houve uma predominância de 26% dos
indivíduos que adquiriram o AVC entre 2 a 4 anos. Quanto a realização da
fisioterapia, (32%) dos indivíduos entre 15 dias a 3
meses realizaram o tratamento fisioterapêutico e 44% nunca realizaram
fisioterapia devido à falta de informação.
Tabela
III
– Características clínicas do AVC de
pacientes com sequelas de AVC.
Na tabela IV foi
observado que na dimensão autocuidados, na categoria alimentação 84% apresentou
escore 7, o que corresponde a independência completa.
Na categoria higiene pessoal 10% apresentou escore 4,
que significa que necessita de ajuda mínima para desempenho desta atividade e
no banho (lavar o corpo) 54% apresentou escore 7, o que corresponde
independência completa. Ainda na tabela IV, na categoria vestir-se metade
superior 48% possuía escore 7 com independência
completa. Tanto na categoria vestir-se metade inferior (52%), no uso do vaso
sanitário (58%), no controle da urina (74%) e na categoria controle das fezes
(78%) dos indivíduos apresentou escore 7
correspondendo a independência completa nessas atividades. No que diz respeito a marcha e o uso de cadeira de rodas 38% dos indivíduos
apresentaram escore 7, que corresponde a independência completa e no uso da
escada 34% apresentou escore 1, que significa dependência total do indivíduo
para realização desta atividade.
Tabela
IV –
Medida de independência funcional.
Na tabela V,
observou-se na categoria compressão e expressão 80% dos indivíduos apresentou
escore 7, no que refere a independência completa. O
que corresponde a interação social 70% apresentou escore 7,
com independência completa nesta atividade. Ainda na tabela V, na resolução de
problemas foi relatado que 38% apresentaram escore 1,
que significa dependência total do indivíduo, necessitando de outra pessoa para
resolver os problemas de rotina. O que corresponde a memória 72% apresentaram
escore 7 o que corresponde a independência completa.
Tabela
V – MIF Cognitivo.
Na avaliação dos
dados sócio demográficos dos pacientes entrevistados nesse estudo, observou-se
que a maioria (54%) era do gênero feminino, não indo de encontro com a literatura
que tem mostrado que a ocorrência de AVC e mais predominante em pessoas do
gênero masculino. Entretanto, as mulheres quando acometidas apresentam
qualidade de vida pior, possivelmente devido ao comprometimento funcional que
limitam as atividades domésticas como mostra também no estudo de Araújo [11]
que o uso de contraceptivos orais, de um modo geral, aumenta o risco em cerca
de seis vezes, especialmente em mulheres com antecedentes de doenças
tromboembólicas, enxaqueca, hipertensão arterial, diabetes mellitus ou
dislipidemia.
A faixa etária
predominante foi 68 a 78 anos (40%). Estes achados são corroborados por outros
estudos que também observaram uma maior incidência com o aumento da idade, e
que dobra a cada década de vida após os 55 anos. Sendo cerca de (19%) maior em
homens, em comparação com as mulheres [12] e também indo ao encontro da
pesquisa de Falcão [13] que observou-se nas últimas
décadas o aumento da expectativa de vida e consequentemente da quantidade de
pessoas idosas sequeladas por AVC, identificando que
a faixa etária acima de 60 anos é a mais acometida (20%), o que corrobora com
os achados desta pesquisa.
O estado civil também
é um grande marcador no contexto desde estudo, onde percebe-se
a alta frequência (56%) de pessoas casadas, quando comparado às pessoas que
vivem sem companheiro. Isso mostra que a presença do parceiro é fundamental no
compartilhamento das situações geradoras de conflito, bem como no lidar com o
impacto físico, social e psicológico que a doença traz. Assim, vai ao encontro
do estudo de Escarcel [14] que mostra que a presença
do companheiro está relacionada à melhoria e continuidade dos cuidados em
saúde, pois o ajustamento da família, o apoio e a compreensão dispensada ao
paciente são fatores fundamentais para sua adaptação após o AVC.
Quanto à incidência,
neste estudo foi maior em pessoas brancas, não indo ao encontro da literatura
que fala que é mais prevalente em pessoas negras, o que pode refletir as
características da população do local do estudo. Este tipo de patologia
acomete, em sua maioria, indivíduos negros com idade média superior a 65 anos,
provavelmente por ter uma maior tendência genética ao desenvolvimento da
hipertensão arterial e do diabetes mellitus [2].
Neste estudo, (46%)
dos pacientes não ultrapassaram o ensino fundamental. Diante disto, é
importante conhecer a escolaridade, pois são eles que recebem as informações e
orientações da equipe de saúde, e a educação em saúde neste ponto está muito
ligada à capacidade de aprendizagem das pessoas, revelando-se como ligação
entre o seu cuidado e o cuidado ao outro [15]. O baixo nível de escolaridade
associado aos fatores socioeconômicos e culturais pode contribuir para o
aparecimento das doenças cardiovasculares, além de dificultar a conscientização
dos cuidados com a saúde, aderência ao tratamento e manutenção de estilo de
vida, muitas vezes necessárias para o estabelecimento de condutas saudáveis no
decorrer da vida [16].
Com relação à
profissão que já foram exercidas por estes pacientes, a maioria (38%) eram agricultores(as). Hoje a maioria destes indivíduos são incapacitados de trabalhar, devido às sequelas
neurológicas que os apresentam. Observando que (84%) dos pacientes eram
aposentados. Segundo o estudo de Scalzo [17], 36
(76,6%) dos pacientes eram aposentados devido aos comprometimentos neurológicos
que os impedem de trabalhar, corroborando com este atual estudo, aonde verificou-se na população estudada a maioria era aposentado
e alguns ficaram restritos em suas profissões devido ao fato de apresentarem
disfunções motoras, cognitivas e psicológicas, sendo um fator limitante em suas
atividades profissionais.
Neste estudo, a
maioria possui uma renda familiar até um salário mínimo (72%) para manutenção
de toda a família. A situação socioeconômica também desempenha um papel
determinante na saúde dos indivíduos e populações, sendo a renda familiar baixa
associada a condições de vida inadequadas e, consequentemente, a elevadas taxas
de mortalidade por problemas cardiovasculares [18]. Em relação às condições de
moradia, na pesquisa mostra que 60% tem casa própria. Igualmente demonstrado no
estudo de Ribeiro [18], aonde os entrevistados também relataram morar com a
família e em casa própria, favorecendo assim a qualidade de vida desses
indivíduos.
A amostra estudada,
(52%) dos indivíduos acometidos realizavam algumas atividades antes da doença e
(82%) possuíam uma atividade laboral fora de casa. Um dos eventos que pode
comprometer de forma substancial a vida das pessoas e a satisfação de viver é a
ocorrência do AVC, por apresentar potencial limitante tanto nos aspectos
físicos quanto nos emocionais [16]. Quanto ao tipo de AVC analisou-se que 28%
tiveram AVC do tipo isquêmico, indo de acordo com a maioria dos estudos que
relatam uma incidência no AVC isquêmico de (80 %) dos casos [19].
A literatura cita que
cerca de (80%) dos casos de AVC podem ser diagnosticados como isquêmicos
decorrentes de obstruções dos vasos arteriais, por placas de ateroma ou
embolias secundárias, de maneira que alterações no hemisfério direito
repercutem na sustentação dos movimentos e da postura, e no hemisfério esquerdo
na inicialização e execução dos movimentos voluntários. E hemorrágico quando
ocorre um rompimento de um vaso, acarretando extravasamento de sangue no
parênquima cerebral. Ambos os tipos ocasionam disfunção cerebral, porém os
mecanismos de lesão são diferenciados [19,20].
Outro fator
importante no presente estudo e relacionado aos indivíduos que não souberam informar
o tipo de AVC, demonstrando que (56%) dos sujeitos não sabia o tipo que lhe
tinha acometido. Tal fato certamente tem impacto negativo sobre o tratamento e
bem como sobre a possibilidade de orientar adequadamente o paciente do ponto de
vista da profilaxia de novos eventos [18].
Foi observado neste
estudo, que a maioria tinha o AVC a mais ou menos 4
anos, correspondendo a (50%) da amostra. Esses dados corroboram com os estudos
elaborados por Scalzo [17], que em sua pesquisa o
tempo de AVC oscilou entre um mês e dez anos.
Na tabela III,
demostra que o hemisfério cerebral acometido foi uma proporção de (50%) lado
direito e (50%) lado esquerdo, não havendo diferença de
prevalência de lado acometido, correlacionando com o estudo de Rodrigues [21]
onde ambos os hemicorpo foram acometidos com
frequência semelhantes. Ainda na tabela III, foi observado que a maioria dos
indivíduos (50%) tem incapacidade motora.
Grande parte da
amostra (56%) dos pacientes realizavam fisioterapia
desde o início, fato que pode justificar o grande número de independência
funcional na realização das AVD’s observadas no
presente estudo. Segundo rosa [22] e O’Sullivan
[23], quando iniciada precocemente a reabilitação após o AVC pode aumentar os
processos de recuperação e minimizar incapacidades funcionais, favorece a
capacidade de realizar outras tarefas, eleva a autoestima, e, concomitantemente
colabora com a recuperação motora, funcional e da autonomia do paciente.
Na tabela IV
avaliamos os quesitos autocuidados, controle de esfíncteres e locomoção,
através da escala para Medida de Independência Funcional - MIF. A MIF foi
elaborada para mensurar a capacidade funcional por meio de uma escala de sete
níveis que representam os graus de funcionalidade, variando da independência à
dependência. A classificação de uma atividade em termos de dependência ou
independência é baseada na necessidade de ser assistido ou não por outra pessoa
e, se a ajuda é necessária, em qual proporção [24].
Esse instrumento
serve para avaliar as capacidades funcionas desses indivíduos, visto que, o AVC
é uma doença incapacitante que causa repercussões serias na vida destas pessoas
e de seus familiares. Um meio para avaliar o grau de função cognitiva e motora
em relação à qualidade de vida. A MIF é amplamente utilizada nos Estados Unidos
e foi validade no Brasil em 2002 [25].
Relata o mesmo autor
que a MIF enfoca seis áreas de funcionamento: autocuidado, controle dos
esfíncteres, mobilidade, locomoção, comunicação e convivência social, e em cada
uma delas o sujeito é avaliado sobre sete índices numéricos: 7-independência
completa, 6-independência modificada, 5-dependência modificada supervisionada,
4-ajuda mínima, 3-ajuda moderada, 2-dependência máxima ou 1- dependência total.
A MIF mostra-se mais amplo nesse aspecto, pois engloba a mobilidade,
transferência e locomoção, o cuidado pessoal e relações e interações pessoais.
Neste estudo a MIF
mostrou que (38%) dos indivíduos possuía dependência total no uso das escadas e
na dimensão social em resoluções de problemas necessitando de ajuda de outra
pessoa, indo de acordo com os resultados obtidos no estudo de Vianna [26]. Já
na MIF motora, a maioria dos pacientes obteve o escore 7
que diz respeito a independência completa nas categorias dimensões, autocuidado
e controle de esfíncteres. No estudo de Lucena [27], onde foi composta por 12
pacientes com diagnóstico de AVC, a maioria dos indivíduos obteve um escore de 7 na MIF motora, corroborando com este atual estudo.
Ainda nos estudos de
Vianna [26], a MIF demonstrou que (57,1%) dos indivíduos apresentaram
dependência modificada e apenas (21,4%) de independência completa. Pode-se
concluir que a maioria possuía dependência significativa para a realização das AVD’s, não indo de encontro com este atual estudo, que
demostra que a maioria tem independência nas suas atividades.
Este estudo,
realizado com pacientes portadores de sequelas de AVC, demostrou que a
população pesquisada é, em sua maioria, composta de indivíduos do gênero
feminino com predomínio da faixa etária elevada.
A maior parte dos
indivíduos acometidos apresentou alguma limitação funcional imposta pela lesão,
além de dificuldades em realizar suas atividades de vida diária (AVD’s). Apesar de observarmos que boa parte deles é
independente no desempenho de algumas funções, no que diz respeito aos
autocuidados. Um fator que pode ter influenciado para a maioria dos pacientes
possuírem independência e ter iniciado a fisioterapia precocemente.
No item locomoção
apresentaram dependência moderada, os indivíduos que não faziam uso de bengala,
andador e cadeira de rodas. Não havendo diferença significativa entre os
indivíduos com sequela nos lados dominante ou não dominante. O que pode
justificar uma independência moderada é o fato de 56% da
amostra realizar o tratamento fisioterapêutico desde o início da doença.
Com os dados
expostos, fica claro que a MIF é um utensílio de diagnóstico de utilização
relativamente fácil e ao mesmo tempo de qualidade comprovada, sua divulgação é
de grande importância para o conhecimento e futura aplicação por parte da
fisioterapia e demais profissionais de saúde.